As horas passaram e Paola voltou pra casa, ainda com o nome de Carlos Daniel em mente. Apesar de ter um ano, Paola era muito mais inteligente do que as crianças de sua idade. Ela tirou sua roupa e colocou um vestido mais fresquinho e foi brincar no parque da sua casa. Susana foi atrás a supervisionando caso se machucasse.

—Susana, você conhece alguém que se chama Bracho? –Perguntou Paola.

—Bom.. só o Dono daquela grande fábrica de cerâmica da cidade. –Respondeu Susana.

—Ah sim... –Respondeu Paola desanimada achando que Carlos Daniel não existia.

—Porque a pergunta? –Perguntou Susana.

—Eu ouvi uma pessoa falar esse nome na rua, e achei legal. –Mentiu Paola descendo o escorregador.

Paola passou o dia todo se divertindo em casa mesmo, mas sem deixar de pensar no misterioso nome, e doida para chegar o dia seguinte na escola.

—No dia seguinte-

Paola foi uma das primeiras a chegarem na escola, e foi direto pra diretoria tirar sua dúvida.

—Sra.Isabela, eu posso saber quem é um tal de Carlos Daniel Bracho? –Perguntou Paola.

—Mas é claro minha flor! Ele é um ex-aluno daqui infelizmente! Ele saiu da escola ontem, para estudar numa escola melhor, fora da cidade. –Explicava a Diretora.- Mas porque o interesse?

—Porque ele parece ser legal! E muito rico. –Disse Paola rindo.

—Tem razão! Ele é muito rico! –Disse a diretora. – Não seria nada mal que os destinos de vocês se cruzassem...

Paola riu e saiu da sala em direção ao banheiro.

—Eu preciso conhecer ele! Eu sei que tenho apenas um ano, mas em toda a minha vida, eu não vou descansar enquanto não conhecê-lo! –Dizia Paola para si mesma.

—8 anos depois-

—Paola está na hora de acordar... –Dizia Susana batendo na porta.

—Ai já vou Susana, mas que droga de empregadinha chata em! –Reclamava Paola.

—A cada ano que passa essa menina fica mais e mais metida, o que foi que os pais dela fizeram? –Pensava Susana.

—O que está fazendo aqui ainda? Eu sei me vestir sozinha já se esqueceu? –Disse Paola estalando os dedos.

—Pois é.. eu esqueci! É porque ontem mesmo tinha um bebê nessa cama, num quarto todo decorado de bolinhas, e da noite pro dia tem outro bebê um pouco maior num quarto decorado por ela mesma! –Provocava Susana.

—EU NÃO SOU UM BEBÊ SUSANA! –Gritou Paola. –E outra meu quarto está super bem decorado! Eu tenho um ótimo gosto, diferente de você empregadinha! –Disse Paola indo pro banheiro.

Susana saiu do quarto rindo, gostava de como uma simples frase tirava Paola totalmente do sério. Mas no fundo sentia um pouco de pena, 9 anos perdendo sua vida por causa da metidez a qual era imposta.

Dez minutos depois Paola desceu as escadas pronta pra escola.

—Bom dia mãe! –Disse Paola abraçando Eleonor.

—Bom dia minha Rainha! –Disse Eleonor sem tirar os olhos do jornal.

—Bom dia pai! –Disse Paola dando um abraço em Roberto que falava ao telefone.

—Estou ocupado Paola, mas sim pode pegar o dinheiro na mesa da sala! –Respondeu Roberto uma coisa nada haver sem ouvir o bom dia.

Paola frustrada se sentou a mesa, e chamou um dos empregados para serví-la.

—Quero suco de laranja, e uma fatia de pão com pouca manteiga! –Disse Paola.

Paola prontamente foi servida, e comeu em silêncio já que Eleonor e Roberto estavam “ocupados”. Logo ela se retirou da copa, e entrou no carro no qual João já a esperava para ir a escola.

—Vamos logo João, hoje não posso chegar atrasada! –Disse Paola.

—Sabe... você tem muita sorte em ser tão rica assim, e estudar em uma das melhores escolas do país! –Disse João. –Se eu pudesse meu filho,Pedro, também estudaria com você!

—Cruzes! Eu sendo amiga do filho do meu motorista?! Nem morta João. E se ele não pode estudar comigo, ele que vá ser motorista como o pai! Imagina só: Pedro, o Motorista. –Dizia Paola rindo.

João se entristeceu com as palavras duras ditas por Paola mas deixou passar como sempre, no fundo ele sabia que a menina estava certa, ele mal podia pagar uma escola para ele, Pedro não se daria bem na vida.

Assim que chegou na escola Paola desceu da limousine, e fechou a porta. Ela pegou sua mochila vermelha com detalhes dourados, e entrou pelo portão sem cumprimentar o porteiro como sempre.

—Olá, Sara e Pietra! –Dizia ela normalmente com duas colegas de classe.

—Já está sabendo da novidade? –Perguntou Pietra.

—Não.. qual? –Perguntou Paola interessada.

—Temos um aluno novo na sala! Se chama... Carlos Daniel! –Disse ela.

Paola surtou por dentro, seria ele? Carlos Daniel Bracho, a quem a oito anos ela gostaria de conhecer?

—Qual o sobrenome dele? –Perguntou Paola arregalando os olhos.

—Carlos Daniel González. –Respondeu Sara.

Paola chegou a entristecer, não tinha nenhuma esperança mais em conhecer o tal menino riquíssimo a quem se interessara com 1 ano de idade. (convenhamos, Paola nunca foi fácil.)

—Ah, não o conheço. Mas deve ser rico como nós. –Disse Paola tentando não demonstrar sua tristeza.

O sino tocou e a professora veio buscar todos em fila. Paola detestava as filas, mas daquela vez foi numa boa até a sala, causando “espanto” da professora.

—Olha... hoje você não reclamou de ter que vir em fila! –Disse a professora em tom de deboche.

—Pois é, porque hoje eu vou te dar um dia de paz, porque se eu for reclamar mesmo, ia ignorar a fila e começaria por esse seu péssimo gosto em se vestir. –Respondeu Paola na lata e voltou a se sentar.

A professora se calou rapidamente, e avistando um sorriso desafiador no rosto de Paola começou a dar aulas normalmente. Na metade da aula Paola desinteressada pediu para ir ao banheiro, tendo seu pedido atendido pela professora. Ela saiu de fininho e foi até a diretoria se certificando que estava vazia. Paola entrou silenciosamente e abriu a gaveta de registros de alunos que era imensamente grande.

—Meu deus! Eu vou levar horas para achar o que procuro.. –Disse ela vasculhando os anos e a letra C.

De repente uma aluna de outra turma entrou na diretoria e ao ver Paola mexendo na gaveta levou um susto.

—O que faz aí, Paola? –Perguntou a garota.

—Nada que te interesse!-Disse Paola friamente.

—Se for assim, vou ter que falar para a diretora! É errado mexer nas coisas dela.. –Disse a menina.

—Quando moralismo, não acha? –Disse Paola ironicamente. –Eu sei perfeitamente que é errado, mas preciso de uma coisa que está ali! –Disse Paola.

—O que você tanto quer? –Perguntou a menina curiosa.

—Meu... meu anel que caiu ali enquanto eu procurava pela diretora! –Mentiu Paola.

—Ah sim... –Disse a menina desconfiada. –Eu não acredito em suas palavras! –Disse ela.

—Eu pago pelo seu silêncio! – Disse Paola seriamente. –Ninguém pode saber que eu estava mexendo nos registros da escola.

—E quando seria? –Disse a menina interessada.

—Cem reais está bom para você? –Perguntou Paola.

—Está ótimo!-Disse a menina.

—Na hora da saída, você os terá em mãos se mantiver o bico fechado! –Ameaçou Paola.

A menina concordou e voltou para sua sala. Paola se sentou na mesa da diretora e brincava de girar a cadeira.

—Paola Montagner tem o poder! –Dizia ela rindo maleficamente.

As atitudes de Paola já começavam a mudar, sua frieza e seus cálculos mentais já iam mudando de pouco a pouco para conseguir o que queria.

A professora entrou na diretoria e Paola rapidamente sentou na cadeira de espera.

—O que faz aqui, você não ia ao banheiro? –Disse a professora.

—Sim, mas o banheiro está sem sabonete e eu não posso ficar sem lavar minhas mãozinhas! –Mentiu Paola sorrindo com um anjo.

A professora sem dar trela, abriu a gaveta de mantimentos da escola, pegou um sabonete e entregou a Paola que foi ao banheiro rapidamente.

—Professora idiota! –Praguejava Paola jogando o sabonete no vaso e dando descarga.

Ela saiu do banheiro fingindo secar as mãos e sorriu pra professora que a esperava do lado de fora.

—Prontinho,mãos limpas! –Mentia Paola enquanto pensava “Professora idiota”.