La Doña

#LaDoña - Capítulo 4


23 de abril de 2017 – San Angel – México

Era por volta das cinco da tarde quando a maior fazenda daquela cidade fora adquirida em um leilão, muitos fazendeiros ficaram revoltados por não conseguir que fossem deles, mas a sorte estava lançada e o grande casarão tinha sido conquistado por uma mulher e todos se perguntavam quem era essa mulher capaz de gastar 12 milhões em uma fazenda que estava abandonada há anos? O burburinho correu para os quatro ventos e logo a cidade toda sabia que logo teriam uma nova moradora e todos já queriam ver a cada da mulher em questão.

Todos tinham suas apostas feitam e que era uma velha rica que comprará a fazenda para morrer nela e que logo a fazenda voltaria a leilão, outros diziam que era mais um milionário que dava mais uma propriedade luxuosa para suas "ninfetas". Eram muitas teorias mais o que ninguém sabia era que o pior furacão estava por chegar à cidade...

[...]

UMA SEMANA DEPOIS...

Já fazia uma semana que ela estava ali andando pelos arredores da cidade, uma semana em que ela estudava tudo e a todos, vestia apenas um vestido simples e se misturava junto às camponesas para que pudesse entender o que se passava ali. Estudava todos os homens e seus comportamentos, via um a um como tratava as mulheres dentro de sua própria fazenda, sabia que quando chegasse à hora teria que tomar as devidas precauções e tomaria sem pena alguma.

Ela já conhecia um a um dos rostos dos fazendeiros vizinhos e com a ajuda de seus peões que terminavam de montar a casa para ela. Ela La Doña como gostava de ser chamada passeava pelos campos e todos que a miravam pareciam não a ver e ela gostava disso de estar na sombra no escuro como uma cobra pronta para dar o bote.

E foi num desses passeios que Cristina se deparou com gritos vindos de um dos corredores e seu instinto foi correr ate aonde vinham os gritos e ao parar se deparou com um "desgraçado" agarrando uma das mulheres da fazenda e seu sangue ferveu e sua voz ecoou pelo pequeno corredor.

‒ Solta ela agora! – apertou os dentes e viu o homem se virar.

Os olhos semicerraram e ela o olhou de cima a baixou, era grotesco e seu sorriso encardido faltando dois dentes a fez sentir nojo e ele passou a língua nos lábios como se aquilo fosse "sexy" e ela sentiu vontade de socar a cara dele.

‒ Porque não vem brincar com nós dois? Eu posso te ensinar algumas coisinhas gostosa! – segurou o membro mostrando que estava duro.

‒ Te dou exatos dez segundos para que saia daqui e nos deixe ou eu vou atirar bem ai... – apontou para o meio de suas pernas. – Se é que tem alguma coisa ai! – o homem riu. – Cinco, quatro, três...

O homem parecia não acreditar nas palavras dela e debaixo daquele simples vestido ela tirou sua arma e atirou no meio de suas pernas e o tiro ecoou por toda a fazenda despertando a curiosidade de todos que por perto passavam e o homem caiu se agonizando em sangue. Cristina se aproximou dele e o olhou nos olhos.

‒ Esse é o ultimo rosto que você vai ver antes de morrer! – os peões chegaram e ela os olhou. – Tira esse verme daqui ou eu vou terminar de acabar com a vida dele! – dois homens o tiraram dali correndo.

O capataz da fazenda se aproximou dela e arrancou a arma de sua mão e ela o encarou de cima a baixou e ele fez o mesmo e depois olhou a mulher que estava no mesmo lugar em choque chorando e voltou a olhar para Cristina que ainda não acreditava na ousadia daquele homem em pegar uma coisa que não era dele.

‒ Onde roubou essa arma sua suja? – Cristina arqueou uma sobrancelha e viu um dos peões querer tomar frente e ela o fez recuar. – Vejo que já tem protetores aqui dentro! – falou com tom de deboche.

‒ E eu posso saber quem te deu o direito de pegar a arma da minha mão? – ele riu.

‒ Você é só mais uma criada dessa fazenda, deveria estar trabalhando e não roubando coisa! – dessa vez foi Cristina que riu e num golpe só retirou sua arma da mão dele e o jogou no chão.

O homem suspirou e a olhou abaixar ao lado dele e o olhar nos olhos, ele estava atordoado e nem se quer viu como foi ao chão, mas a encarou com fúria. Cristina deu dois tapinha na cara dele e sorriu.

‒ Esta demitido! – ela levantou e saiu junto aos seus "capangas" que riam do homem estirado no chão.

A mulher que olhava tudo ali ainda paralisada correu ate Cristina e parou frente a ela com os olhos ainda banhados de lagrimas e ela parou.

‒ Muito obrigada, eu nem sei como agradecer à senhora... – ela soluçou limpando os olhos. – Me salvou de mais uma vez ser vitima daquele homem!

Cristina olhou para os três homens que estavam ao seu lado e eles saíram sem ela precisar dizer uma palavra se quer, olhou novamente para a mulher a sua frente e perguntou.

‒ Qual seu nome e quantos anos têm? – sentia seu coração acelerado, apenas em ouvir aquelas poucas palavras.

‒ Flor, e tenho vinte anos! – o primeiro instinto de Cristina foi abraçar aquela pobre jovem que mais parecia uma mulher feita com todos aqueles sinais em seu rosto.

‒ Nunca mais ninguém vai chegar perto de você! – a soltou e a olhou. – Porque não denunciou? Por quê?

‒ Eu sou pobre e "roceira" ninguém ia acreditar em mim e eu preciso do emprego! – chorava sem conseguir se controlar. – E eu sou imigrante aqui senhora e não posso voltar para o meu país ou eu serei morta, por favor, finge que não viu nada e me deixe seguir aqui trabalhando, eu não vou dizer nada a ninguém. – o desespero tomou conta dela. – Eu tenho um bebê pra cuidar!

Cristina a cada momento mais sentia seu coração desesperado e ao ver que ela queria se ajoelhar aos seus pés a segurou e a levou ate um banco e a amparou em seus braços, queria chorar mais ela não fazia isso há muito tempo e agora estava ali diante daquela menina que tinha um passado quase como o dela, ela quis sim chorar e deixar que sua dor guardada saísse de seus olhos mais não o fez.

‒ O bebê... – ela não teve tempo de completar.

‒ Eu não quis abortar, é um pedacinho de mim e é uma menina! – limpou o rosto mais uma vez. – Eu não tenho nada e nem ninguém senhora e preciso muito desse dinheiro para me manter e manter a ela que quase não tenho condições, mas eu sigo firme e antes que me pergunte. Eu não sei quem é o pai, eles me destruíram antes de chegar aqui, mas eu estou de pé não sei como mais estou.

‒ Aconteceu antes de vir para cá? – ela assentiu e as duas conversaram por mais alguns segundos e logo a deixou ir, mas fez com que ela prometesse que voltaria a noite na casa grande.

[...]

La Doña já tinha um rosto e um jeito muito peculiar de dizer que tinha chegado ao povoado, todos queriam conhecer a mulher que teve coragem de dar um tiro no "saco" de um homem, mas ela não deu a mínima para as noticias que chegavam ate seu ouvido. Apenas pegou seu cavalo branco e saiu cavalgando por aqueles longos e extensos pastos de um verde cintilante que a fazia sorrir, conhecia tudo ali mais apenas tinha andado a pé e agora em cima de seu cavalo sentia que tinha valido a pena todo o dinheiro gasto e o melhor seu objetivo chegaria ate ela mais rápido do que pensava.

Cristina parou frente a uma linda cascata de águas cristalinas e desceu de seu cavalo o amarrando na arvore e admirou aquele lindo lugar respirando fundo...

O dia estava quente e ela não pensou duas vezes, tirou sua bota e seu vestido ficando apenas de calcinha, deixou a arma ali com fácil acesso a ela se caso algum engraçadinho decidisse aparecer e mergulhou nadando ate a caída de água e sorriu a sentir a água bater em seu corpo e voltou a nadar sentindo que aquele lugar reservava muitas surpresas a ela.

Do meio da mata do lado oposto de onde Cristina veio, vinha um homem correndo dentre as muitas arvores parecia fugir de alguém, mas ele ria alto e quando se deu conta estava dentro da água com roupa e tudo com Cristina em seus braços. Ela levou um baita susto e os dois se olharam profundamente nos olhos e ele disse sem conseguir piscar para a beleza dela.

‒ Acho que pesquei uma sereia...