L.A it down

Capítulo 6 - Ah, merda.


Asher estava na minha casa. Ele foi pelos fundos para não ser visto pelos jornalistas e ficou socando porta, implorando que eu conversasse com ele. Depois de quase trinta minutos ouvindo Asher gritar "por favor, Juliet" e Max resmungando em meu ouvido que não aguentava mais os jornalistas tocando a campainha e os berros de A. Bass, eu resolvi abrir a porta e ele entrou, parecendo chateado. Ele cumprimentou Max, que respondeu com um aceno de cabeça. Ele estava realmente irritado. Pedi que Ash me acompanhasse até meu quarto e fechei a porta depois que ele entrou, recostando-me nela.

— Não aguento mais esse monte de jornalista na porta da minha casa, Ash!

— Expulse-os.

— Como eu não pensei nisso antes? É tão fácil e eu sou tão burra!

Ele sorriu, mas não havia humor algum no seu ato. Ele me encarava sentando na minha cama enquanto eu comecei a andar de um lado para o outro, olhando as notificações que chegavam a cada meio segundo nas minhas redes sociais. Aquilo para mim era desesperador; eu não sabia lidar com a fama e, começar do jeito errado não ajudava nem um pouco. Tudo o que eu queria era ser reconhecida dali a alguns meses por alguma campanha do Marc ou algum desfile. Mas nããão, eu tenho que ser a namoradinha do A. Bass. A namoradinha de brincadeira do A. Bass. Maldito seja o dia em que eu me apaixonei por Summer dress.

Summer dress foi a segunda música lançada pelo Ash, postada em um site para artistas amadores. A letra conta a história de um cara que comprou um vestido de verão para a namorada e, quando foi entregar o presente, ela estava com outro na cama. O cara se revoltou, xingou o mundo todo e jogou o vestido no lixo. A garota se casou com o outro cara e se arrependeu amargamente, porque ele a traiu com outra. Em uma entrevista, ele disse que essa história foi inspirada num filme. Mas eu, como uma fã stalker, descobri em um fórum que isso aconteceu com os pais dele. Eu só queria saber se era verdade, mas aquele não era o momento apropriado para perguntar.

— Ash. — ele me olhou, sem falar nada — Por que você quer tanto que o David sinta ciúmes de nós dois? Você o odeia tanto a ponto de acabar com a minha carreira?

Ele ergueu as sobrancelhas, não surpreso, mas conformado por eu ter perguntado aquilo.

— Eu e ele vivemos em guerra desde que ele chegou aqui. Ele me roubou uma namorada. Eu roubei uma namorada dele para me vingar. E isso nunca mais acabou.

— Eu... hm... ouvi dizer que a guerra de vocês envolve cerveja, cocaína e garotas. Pode me contar?

Eu não me lembrava de ter sido tão direta como fui agora.

— Juliet, eu vim aqui para me desculpar e para encontrarmos um jeito de te deixarem em paz. Eu não vim te contar histórias.

— Mas eu mereço saber dessa, não? Afinal, eu faço parte dela agora.

Acalme-se, garota. Você não é policial.

— Tá, tudo bem. Você precisa jurar que isso não vai sair daqui. — ergui as mãos, como se fizesse aquelas "promessas de escoteiro" — David se meteu com as pessoas erradas quando chegou em Los Angeles. Eu o conheci quando fui gravar o vídeo de All I Want is Party. Ele era um dos figurantes e depois que a gravação terminou nós deixamos a festa do clipe acontecer, ou seja, houve realmente uma festa. Rush me disse que um cara muito bêbado estava tumultuando no banheiro feminino, então eu fui com ele para resolver. Ele se recusou a ir embora e, quando eu e o Rush tentamos tirá-lo à força de lá, ele jogou um copo de cerveja na minha cara. Claro que eu bati nele e a briga virou UFC.

— E a parte da cocaína? O que tem a ver com a história?

— Resumindo, ele deu um jeito de colocar cocaína no bolso do casaco do Rush. Ele não parou de fazer escândalo, até que a polícia teve que ser chamada para apaziguar as coisas. Eles revistaram todos na festa e encontraram a cocaína. Rush ficou três dias na cadeia, até que eu consegui provar que a droga não era dele, porque as digitais que estavam no pacote eram do David.

— Ele não foi preso?

— O pai dele é juiz. Isso responde sua pergunta. Bom, isso foi há um tempo e não tem por que contar essa história outra vez. Eu vou sair pelos fundos, vou dar a volta e desmentir tudo. Me desculpe, Juliet. Eu só queria jogar na cara dele que ele não é tão bom quanto imagina.

Chega de cultivar raiva, Juliet. Hora de escolher um lado que te favoreça. Hora de crescer e aceitar que a vida vai te dar porradas.

— Tudo bem, Ash. Eu vou te ajudar.

— Vai?! — ele levantou num susto.

— Vou. Nós vamos sair por aquela porta e anunciar que estamos namorando. A única coisa que eu peço em troca é que eu possa desenhar algumas camisetas para você e que os lucros venham todos para mim.

— Todos?! Lógico que não! Quarenta por cento.

— Oitenta.

— Cinquenta.

— Oitenta.

— Sessenta.

Oitenta.

— Setenta.

— Oi-ten-ta.

— Tá bom, tá bom! Oitenta!

— Noventa.

— Que droga, Juliet!

Comecei a rir.

— Oitenta está de bom tamanho. Eu só queria testar sua paciência.

— Bom, já deu pra ver que eu não tenho muita. Mais alguma coisa antes de entregarmos nossas cabeças ao TMZ e ao canal E!?

— Não, nada a declarar.

— Ótimo. Vamos, senhora Bass.

...

Namorar um rapper tem lados bons e ruins. Fingir namorar um rapper só te dá a chance de provar os lados bons: as festas, as fotos, a fama, a comida (definitivamente a comida), viagens, shows, estreias, premiações... eu estava me sentindo a Kim Kardashian, com exceção da... enorme parte traseira do corpo dela.

Entre as minhas sessões de fotos, desfiles, comerciais e entrevistas eu passava o tempo com A. Bass e o acompanhava na maioria dos seus compromissos, tirando as gravações e algumas entrevistas, porque a maior parte delas acontecia enquanto eu estava trabalhando. Nos fins de semana eu não ficava muito em casa, o que era maravilhoso, considerando que eu passava todo o tempo possível longe do David e sua TPM.

— Só mais uma pergunta, Juliet! — Amanda Skies, uma repórter de uma revista de moda me segurou antes que eu saísse da coletiva do Ash. — Você acha que esse relacionamento vai longe?

Como eu e Ash ensaiamos várias vezes, eu sorri, ele me abraçou pelo ombro e nós respondemos juntos:

— Com certeza!

— Ela é maravilhosa. — ele olhou pra mim, com o sorriso que derreteria qualquer garota.

— E você, Juliet? O que acha do Asher?

Eu olhei pra ele e os cantos da minha boca se curvaram automaticamente.

— Ele é o melhor namorado do mundo.

E foi assim que convencemos o mundo de que éramos um casal. Os únicos que sabiam a verdade eram Max e Rush. Max não concordava com isso, apenas com a parte de eu estar ganhando dinheiro. Já Rush gostava tanto da ideia que estava começando a levar a sério.

...

Depois da coletiva, Ash me levou até minha casa e foi embora. Assim que eu entrei, me deparei com David sentado no sofá, cercado de garrafas de cerveja. Ele estava com a cabeça caída no encosto do sofá e sua boca estava aberta. Precisei me aproximar para ter certeza de que ele estava respirando. Estava babando, o que deveria significar que havia algum resquício de vida dentro dele. Não que eu me importasse, digo, minha vida sem David seria muito melhor, mas se fosse pra ele morrer que pelo menos morresse na rua.

— Ele disse que iria para o quarto. — Max estava saindo da cozinha com um copo cheio de limonada na mão.

— O que aconteceu com ele?

— Bom, nós estávamos sentados aí mudando de canal até que vimos o novo casal de Los Angeles... — ele ergueu uma sobrancelha ao dizer isso — Ele perguntou se isso é de verdade e, como você me apontou uma faca para não dizer isso a ninguém—

— Eu não apontei faca nenhuma!

— É força de expressão! Enfim, como eu cumpro as minhas promessas eu disse que o namoro de vocês é serio. Ele duvidou e apostou consigo mesmo que, se ele se convencesse de que vocês estão realmente juntos, ele beberia toda a cerveja da geladeira da cozinha.

— E...?

— Preciso terminar?! O final da história está literalmente jogado na sua frente! Ele viu o jeito que vocês se olharam e quando vocês disseram "com certeza" ao mesmo tempo, foi até a cozinha e trouxe todas essas garrafas.

— Não é minha culpa se ele é um babaca. — Max deu de ombros — Então... ele vai ficar aí?

— Eu não vou levá-lo.

— Boa noite, David.

Enquanto Max ria, eu subi as escadas, me tranquei no quarto — nunca se sabe o que um David bêbado é capaz de fazer — e tomei um banho quente. Encontrei um livro da escola em cima da minha mesa, então, como não estava com sono, deitei na cama e comecei a ler. Mark Twain realmente sabia escrever um bom livro. As histórias de Tom Sawyer eram de longe as minhas histórias favoritas.

Eu percebi que havia dormido quando acordei com meu celular tocando em cima da cama. Era um número desconhecido e eram três da manhã. Só podia ser um trote, mas atendi mesmo assim.

— Alô?

Juliet Oliver?

— Sim?

Meu nome é Joseph, estou com David Chabernaud. — e o que isso me importa? — Estou te ligando porque seu número estava escrito na mão dele.

— Tá, e o que você quer?

— Ele sofreu um acidente.

Ah, merda.