Após um tempo de meditação, Tigresa acabou adormecendo com a calma da floresta. Enquanto isso, Kalu tinha visões durante sua meditação. Na visão, uma tigresa branca de olhos avermelhados que escrevia em um livro sobre dois salvadores e, logo depois, tudo ficava vermelho-sangue. As visões iam para um monte onde estavam um panda e a mesma tigresa. Kalu conseguia enxergar uma aura de dragão em volta dele. Logo depois, imagens passavam rapidamente.

Kalu saiu do seu estado de meditação respirando pesadamente. Olhou para o lado e viu Tigresa dormindo. Soltou um pequeno sorriso ao ver a irmã com uma expressão tão pacífica. Ela era menos desafiadora dormindo. Ele tirou o casaco e a cobriu com ele. Tigresa agarrou o casaco e virou-se para o lado contrário.

O tigre resolveu pegar as ataduras e ir treinar um pouco. Precisava pensar sobre as visões. Também pegou o arco e a aljava para o caso de bandidos aparecerem. Ele dirigiu-se para um lugar um pouco mais distante do acampamento. Começou a socar uma árvore com toda sua força.

– Ok. Tinha uma tigresa. Ela escrevia um livro. Depois houve sangue. Então ela apareceu em frente a um panda com aura de dragão. Eles se separaram. As outras visões são tão confusas...

Kalu desferiu chutes e joelhadas enquanto tentava colocar as visões em ordem. Tudo que conseguiu foi uma leve dor de cabeça.

– Droga! De que serve a paz interior se nem uma visão eu posso desvendar?!

Ele deu um soco mais forte e abriu um buraco na árvore. Kalu bufou e começou a desferir golpes em outra árvore. Continuou nesse ritmo durante o resto da madrugada inteira.

No acampamento (6:30 am.)

Tigresa acordou e sentiu um agasalho pesado sobre si. Só então foi ver que era o casaco de Kalu. Ela levantou-se com o casaco na mão. Tigresa observou melhor o casaco. Tinha um broche de coruja pregado nele. Os olhos eram dois rubis brilhantes e o resto era prateado e dourado. O casaco possuía dois bolsos e em uma das mangas o desenho de um tigre. Era como se Kalu fosse um senhor da guerra sofisticado.

Depois de analisar o agasalho, Tigresa passou seus olhos pelo lugar. Viu seus amigos e Li dormindo e os bandidos acorrentados, porém não havia sinal de Kalu. Ela dobrou o casaco e resolveu procurar o outro tigre para dar bom dia e agradecer pela gentileza. Então viu que o arco e a aljava de Kalu também não estavam lá. “Será que ele saiu para caçar? Ou será que fomos atacados? Bom, a primeira opção é mais positiva” pensou.

Ela saiu do acampamento e adentrou a floresta. Enxergou logo uma figura de costas para ela. Vestia uma camisa de treino como a sua, porém em um tom de azul extremamente escuro, quase preto. Tinha um arco pendurado em um dos ombros e uma aljava no outro. A nuca tinha listras pretas e os braços fortes também. Tigresa sorriu ao concluir que era Kalu.

– Bom dia. – ele sussurrou, virando-se para Tigresa e caminhou até ela. Tigresa entregou o casaco a Kalu, que vestiu-o no mesmo momento. – Obrigado.

– Por que você está sussurrando? – ela questionou em um tom de voz normal.

– Sshh! Vai espantar o nosso café da manhã! – sussurrou de volta.

– E onde estar, Senhor Supremo da Caçada? – Tigresa respondeu impaciente, mas sussurrando.

– Vem comigo. – Kalu pegou Tigresa pelo pulso e caminhou até o lugar que estava anteriormente. – Ali. – apontou para um cervo “adolescente”. – É o suficiente para oito.

Tigresa sorriu.

– Mas o que você está esperando?

– Ele entrar em posição mais favorável para meu tiro.

– E qual seria?

– Ele está de costas. Tem que ficar de lado para que eu possa acertá-lo na cabeça. – Kalu sorriu de lado, fazendo com que sua cicatriz na boca se curvasse. – Eu não vou atirar.

– Não?

– Você vai.

– O quê? Não! Eu sou melhor mirando no peito! E se eu errar, vamos perder a presa!

– Bom, acho que você vai precisar de ajuda.

Kalu chegou para traz de Tigresa, mantendo uma pequena distância, pôs o arco na mão dela. O cervo começou a virar-se. O tigre puxou uma flecha de sua aljava e a entregou para a irmã. Pôs as mãos nas dela e armou o arco.

– Você tem que levantar o arco um pouco mais do que geralmente faz. – ele levantou um pouco o arco. – Puxe a flecha. Mire um pouco mais para a direita. Atire.

Ela o fez e a flecha atravessou a cabeça do jovem cervo. Kalu saiu de traz dela sorriu para ela.

– Muito bom. – elogiou e pegou de volta suas armas.

Os dois caminharam até a presa morta. Kalu ajoelhou-se em um só joelho ao lado do cervo e tirou a flecha de sua cabeça. O tigre limpou a flecha em um pano que tirou de um bolso interno do casaco. Logo depois, pôs uma mão no peito do cervo e fechou os olhos.

– Perdoe-nos por cortar o seu curto tempo de vida. Saiba que deste tua vida por oito outras e de tais, virão várias outras. Descanse em paz e que os deuses o acolham em um lugar melhor que este.

Kalu pôs o arco no mesmo ombro que a aljava, amarrou as quatro pernas do animal morto e o jogou no outro ombro.

– Vamos?

– Sim. – respondeu Tigresa.

Os dois caminharam em direção ao acampamento lado a lado em silêncio, até que Tigresa o cortou.

– Por que o ritual?

– Bom, se eu mato para meu próprio benefício, devo pelo menos honrar a alma do ser ao qual matei. Principalmente se o benefício for usá-lo para me alimentar.

– Legal. Mas... Por que atirar na cabeça?

– Além de poupar a melhor carne para o consumo, evita o sofrimento da presa, porque a morte é imediata.

– Onde aprendeu tudo isso?

– No Vilarejo das Corujas. Além de ser um bom lugar para meditar, as corujas ensinam a lutar, caçar, pescar e ainda dão informações sobre o resto do mundo.

– Deve ser bom.

– E é. Exceto pelos grandes olhos te observando enquanto você treina.

Os dois riram alto. Continuaram a andar até o acampamento. Li era a única que já estava acordada. Kalu pôs o cervo no chão e Li caminhou até eles.

– Olá. Vejo que vamos ter comida boa hoje. – Li sorriu para eles. – Garanto que foi a Tigresa que atirou. O Ka nunca consegue acertar no meio dos olhos.

– Li, pensei que três anos fariam de você uma amiga mais carinhosa. Vi que eu estava errado.

– Que é isso? Quer morrer?

– Talvez.

– Eu vou te pegar.

– Talvez eu goste disso.

– No mal sentido, seu mente poluída dos infernos!

– Tá vendo, Tigresa? Ela me ama!

– Vou ser a madrinha do casamento. – Tigresa sorriu.

– Que casamento? – os outros dois felinos questionaram indignados. Tigresa riu a balançou a cabeça negativamente.

– Só não digo que vocês são fofos porque não faz meu tipo dizer esse tipo de coisa.

– É o seu... – Li começou, mas foi interrompida.

– Li, olhe a boca. – Kalu repreendeu. – Acho melhor começarmos a fazer o café. Li, ajude-me ajude a preparar a carne. Ti, acorde os outros.

– Ok. – disseram em uníssono.

Kalu e Li sentaram-se um de frente para o outro. O tigre sorriu para a puma e cortou a barriga do cervo. Ele tirou a carne que precisaria e enterrou a presa perto de uma árvore e marcou a madeira com as garras, para o caso de precisar de comida se for acampar na floresta de novo nesse inverno. O gelo preservaria a carne.

Tigresa acordou a todos, enquanto Li e Kalu preparavam a comida. Po não queria acordar de maneira alguma. A comida ficou pronta e Tigresa estava começando a ficar extremamente impaciente. E seguiu assim durante horas.

– PO! – ela berrou e fez alguns pássaros se espantarem e saírem voando.

– O quê? Ah, é você, Ti. Eu tive um sonho estranho. Tinha um tigre, uma puma e a gente tinha saído em uma missão. – Po coçou os olhos e bocejou. – Por que estamos na neve? Por que todo mundo tá olhando pra mim com essas caras? Como é que o tigre e a puma saíram do meu sonho e vieram parar aqui? Isso é alguma espécie de paradoxo onde eu tenho um sonho dentro do outro?

– Po, nós saímos em uma missão. Agora levanta. Até eu já estou com fome!

– Tá bom, eu já vou. Quanta violência logo de manhã.

– Já é quase meio dia! – Tigresa gritou. – O café da manhã virou almoço!

– Ah. Desculpe.

Tigresa bufou. Todos comeram enquanto conversavam e brincavam. Tigresa acalmou-se um pouco e entrou na onda das brincadeiras e zoações. Quando terminaram, eles alimentaram os bandidos e enviaram uma coruja para avisar as autoridades sobre os bandidos. Logo oficiais apareceram e levaram os malfeitores para a cadeia do Vale da Paz.

Nossos heróis aceleraram-se para chegar a pelo menos a metade do caminho. O grupo de mestres enfrentou alguns bandidos, que fugiram desesperados.

Quando chegaram ao ponto que era exatamente a metade do caminho, já era noite. Eles pararam para comer e descansar. Acamparam em um lugar que as árvores não encobriam completamente o céu. Se alguém se sentasse no lugar certo, conseguiria ver as estrelas.

Kalu fez uma sopa de legumes rapidamente. Todos comeram em silêncio, calados pela exaustão.

Quando terminaram, Tigresa foi treinar e o resto dos Cinco Furiosos resolveu ir dormir. Kalu e Li revezariam o turno da noite. Os dois meditaram lado a lado, mas logo Li adormeceu, apoiando a cabeça no ombro de Kalu.

Po ficou acordado, esperando Tigresa voltar. Eles não tinham conversado de verdade desde a discussão que tiveram na cozinha. Começou a ficar cada vez mais tarde e o panda começou a ficar preocupado. Ele resolveu ir atrás da amiga. Po encontrou Tigresa socando uma árvore com violência. Ele viu que as mãos dela estavam sangrando.

– Tigresa! – ele chamou e foi até ela. Tigresa voltou-se para ele com olhos nervosos.

– O que é? – ela questionou e voltou a socar a árvore.

– Você está se machucando!

– Você sabe que eu não estou sentindo nada.

Po pegou as mãos dela e olhou no fundo de seus olhos. Aquele gesto fez com que Tigresa congelasse.

– E você sabe que eu nunca permitirei que você agrida a si mesma desse jeito. Tigresa, você tem cicatrizes na mão! Já não é o suficiente?

– Eu gosto de treinar assim.

– Quando tem algo te chateando. O que é?

– Nada.

– “Nada” é o que você consegue esconder de mim.

– Po...

– Sem “Po”. Você sabe que eu vou insistir até você me socar.

Tigresa suspirou e soltou a mão de Po.

– Pesadelo.

– Ah. Quer falar sobre isso?

– Não.

– Mas eu quero.

– Olha, ninguém se importa. – Tigresa virou o rosto e parou de encarar o panda.

– Eu me importo. – Tigresa voltou a olhá-lo com a boca entreaberta. – Então. Vai me dizer o que diabos está acontecendo?

– Eu... Eu não costumo falar sobre meus pesadelos. Eu prefiro treinar. Kung Fu sempre fez as coisas mais fáceis pra mim até...

– Até o que?

– Esqueça.

– Mas...

– Só esqueça.

– Tudo bem. – houve um silêncio constrangedor. Tigresa cruzou os braços e Po coçou a nuca. – Você quer... hum... Treinar com algo que não te machuque tanto e que lute de volta?

– E o que seria?

– Não o que. Quem. – Po deu um sorriso misterioso. Tigresa revirou os olhos e sorriu.

– E quem seria?

– O incrível, imbatível e invencível DRAGÃO GUERREIRO!

– Tão invencível que foi derrotado em uma disputa de bolinhos de feijão. – o sorriso de Po desapareceu.

– Ei! Não foi legal!

– Vamos treinar incrível, imbatível e não tão invencível Dragão Guerreiro. – Tigresa entrou em posição de batalha e sorriu desafiadoramente. Po entrou em posição de batalha também.

Após vinte minutos de treino, os dois resolveram voltar para o acampamento. Os dois conversavam enquanto caminhavam. Quando chegaram no acampamento viram o resto dos Cinco dormindo. Viram também Kalu dormindo Li também adormecida deitada em seu ombro. Um dos braços to tigre a abraçava. Po e Tigresa sorriram um para o outro e sentaram-se.

– Parece que vamos passar a noite tomando conta do acampamento. – Tigresa afirmou.

– É mesmo. – Po olhou para os dois felinos no lado oposto do acampamento. – Acho que eles se gostam. O Kalu e a Li.

– Talvez o Kalu goste da Li. Mas acho que ela não deve gostar dele.

– Por quê? Ele é um cara legal. Luta bem. Cozinha. É engraçado.

– Bom, ele olha pra ela com um sorriso... Mas depois faz uma expressão triste e olha para o chão.

– Bem, ela tá dormindo no ombro dele...

– Eles são amigos. E durante uma missão eu dormi no seu ombro. Esse tipo de coisa não significa muito.

– É... – Po olhou para o chão. Ele levantou-se e andou até a sua mochila. Pegou algumas ataduras e um remédio e voltou para perto de Tigresa, que o olhava com curiosidade nos olhos. Po sentou-se de frente para a tigresa, pegou uma das mão dela, passou o remédio e começou a fazer um curativo.

– Po, não precisa. É sério, eu estou...

– Sshh. Deixa eu cuidar de você. Só hoje. Ninguém vai saber.

– Promete?

– Qualquer coisa que você quiser. – Tigresa sorriu para Po, que sorriu de volta. Ele finalizou um curativo e pegou a outra mão para repetir o processo. Po finalizou o outro curativo e sentou-se de volta do lado da amiga. Do lugar onde estavam, conseguiam enxergar as estrelas. – Então... Você me odiava antes quando eu cheguei no Palácio?

– Bom... Não é exatamente ódio. Eu só queria, você sabe, chutar o seu traseiro.

– Isso não ajuda muito.

– É... É, eu sei. – Tigresa abaixou a cabeça e olhou para as mãos. Outra vez o silêncio reinou no lugar, até que Po o quebrasse.

– O que você ia me dizer naquela noite?

– Que noite?

– Ah, você sabe. Antes de chegarmos em Gongmen. Você ia dizer alguma coisa importante. O que era?

– Eu ia... – Tigresa olhou para o chão.

– Exatamente assim!

– Bom, Po, eu estou severamente cansada. - Tigresa disse enquanto deitava-se no peito de Po. O panda assustou-se um pouco, mas a abraçou. – Então se você puder parar de falar um pouco... Será muito bom.

Tigresa caiu no sono imediatamente com um sorriso no rosto. E dessa vez, ela não teve nenhum pesadelo.