Bellatrix Lestrange era uma mulher determinada. Quando se juntou aos comensais da morte, ela estava determinada a ser leal ao seu mestre até o fim; quando descobriu que seu primo Sirius havia fugido de casa para ir morar com o garoto Potter, ela estava determinada a fazer da vida dele um inferno e quando ouviu sobre o retorno do Lord das Trevas, ela estava determinada a fazer qualquer coisa para se juntar a ele novamente... A mulher conseguira cumprir todas essas tarefas. Agora, parada no meio da sala de visitas da casa de sua irmã, com a varinha apontada para a garota caída no chão e com gritos quase histéricos de acusação saindo de sua boca, Bellatrix Lestrange estava determinada a descobrir como aquela Sangue-Ruim havia conseguido colocar as suas mãozinhas sujas na espada de Gryffindor.

“Nós a encontramos... Nós a encontramos! POR FAVOR!” A garota soluçou, encolhendo-se no chão enquanto se recuperava da maldição Cruciatus.

A mulher respirou fundo enquanto colocava a sua varinha de volta em seu coldre e levava a mão até o cabo de uma pequena faca que estava pendurada em seu cinto. Lestrange nunca a havia usado isso antes, pois aquela arma parecia inútil ao seus olhos, quando ela poderia usar a sua varinha para torturar alguém, mas agora, enquanto ela observava a Sangue-Ruim, a bruxa pensou que, talvez, a pequena Srta. Granger fosse gostar daquela lâmina... Afinal, uma arma trouxa para uma garota trouxa.

“Você irá me dizer,” Bellatrix murmurou, aproximando-se da mais nova, os saltos de suas botas fazendo barulhos altos que ecoavam pelo cômodo quando batiam contra o chão de madeira. “Como você a encontrou.” Granger olhou para ela com seus olhos cheios de lágrimas e rosto avermelhado de tanto chorar. “Como a espada.” Ela se ajoelhou ao lado do corpo de Hermione, esticando um braço para segurar a mão da menina, erguendo-a do chão. “Parou nas suas mãozinhas sujas?”

“Por favor.” Hermione tentou puxar o seu braço para longe de Bellatrix, mas a bruxa manteu um aperto forte nela, puxando-a e pressionando-a contra o chão novamente. “Eu não sei!”

“Pequena Srta. Granger.” Lestrange riu baixinho, puxando a faca de seu cinto e aproximando-a do braço da outra. Os olhos da bruxa mais nova se arregalaram e ela tentou se afastar. “Eu ouvi muito sobre você... A Sangue-Ruim Sabe-Tudo irritante... Você sempre tem as respostas certas para todas as perguntas, minha querida.” A ponta da lâmina estava agora a apenas alguns milimetros da pele do antebraço da outra. “Então, aposto que você tem a resposta para essa pergunta. Vamos lá, deixe a Bella orgulhosa!”

“Eu não... N-Não tenho idéia!”

“Oh, resposta errada,” sussurrou Bellatrix com uma expressão desapontada em seu rosto. “Dez pontos da Grifinória.” Um sorriso perverso surgiu em seus lábios enquanto ela abaixava a lâmina, arrastando a sua ponta pelo antebraço da garota. Hermione mordeu o lábio inferior, tentando com todas as forças não chorar para não dar àquela mulher o gostinho de ouví-la gritar, mas demorou apenas alguns segundos antes que a voz saísse de sua boca de maneira quase que inconsciente. A risada de Lestrange agora estava misturada com o som de seu próprio grito em seus ouvidose a menina não sabia o que a perturbava mais: o som perturbador, a sensação de queimação em seu braço ou a proximidade da mulher. “Vamos tentar de novo?”

“P-Por favor...”

A comensal da morte suspirou, um sorrisinho pregado em seus lábios, e moveu a faca novamente, fazendo a dor voltar a correr pelo seu braço. Mais gritos e mais risadas. A bruxa mais nova agora tentava se livrar de sua carrasca, chutando e tentando acertar Bellatrix, mas a outra parecia nem perceber pela maneira que se concentrava em marcar algo em sua pele.

“Diga. Diga, Sangue-Ruim.” A mulher parou mais uma vez e Hermione virou o rosto para olhar o seu próprio braço. Havia uma marca vermelha onde a outra a havia machucado, mas a sua visão embaçada deixava impossível para que ela conseguisse identificar exatamente o que a outra havia feito ali. “Como.” A mão que estava segurando o seu pulso foi para os seus cabelos, agarrando os fios e puxando a sua cabeça para que ela agora encarasse o rosto da comensal. “Foi.” O rosto de Bellatrix estava muito perto agora. Os seus olhos negros pareciam queimar dentro dos seus. “Você.” A respiração da outra contra o seu rosto estava começando a deixá-la enjoada. “Colocou.” Uma unha longa enterrou-se em sua bochecha, deslizando lentamente pela sua pele. “A suas mãos.” Ela segurou o queixo de Hermione, deixando as suas unhas afundarem na pele ali. “Naquela espada?”

“Eu não sei,” a garota sussurrou, tentando mover a sua cabeça.

Lestrange a encarou por um momento, antes de soltar o seu rosto. A bruxa mais jovem respirou fundo ao perceber a outra se afastando, mas foi apenas uma questão de segundos para que a mão magra de Bellatrix acertasse o seu rosto. Granger soluçou ao sentir a sua bochecha ardendo.

“Chega disso.” Bella ergueu-se do chão e colocou a faca novamente em seu cinto, antes de pegar a varinha. “Diga-me como pegou a espada!”

“Eu já disse que nós a achamos!” disse a grifinória, sua voz tão baixa que era quase impossível de ser ouvida. “Não pegamos de lugar algum!”

“MENTIROSA! Você a pegou do meu cofre, é a única maneira de a espada ter chego à você!” Bellatrix gritou. Hermione pôde ver um leve movimento pelo canto do olho e finalmente percebeu que os Malfoy continuavam no cômodo, junto com Greyback, observando enquanto aquela mulher louca a torturava. “O que mais você pegou? O que mais você tem aí? Diga-me a verdade ou eu juro que vou fazer aquela faca atravessar a sua garganta!”

“Bella...” a voz fraca de Narcissa Malfoy ecoou do canto da sala, mas a mulher permaneceu em silêncio depois de receber um olhar mortal de sua irmã.

“O que mais você pegou, o que mais? RESPONDA! CRUCIO!” A bruxa ficou parada, observando enquanto a garota se contorcia no chão, gritando enquanto a maldição a atravessava dos pés à cabeça. “Como você entrou no meu cofre?” Ela gritou, finalmente encerrando o feitiço. “Foi aquele goblin nojento que a ajudou?”

“Nós só o encontramos essa noite!” Hermione soluçou. “Nós nunca estivemos dentro do seu cofre... Não é a espada verdadeira! É uma cópia, só uma cópia!”

“Uma cópia?” Lestrange riu alto. “Que história interessante!”

“Mas podemos checar facilmente!” Lucius Malfoy falou, aproximando-se delas. “Draco, vá pegar o goblin,ele pode nos dizer se a espada é real ou não!”

A garota ouviu os passos apresados de Draco e esperou. Durante os poucos minutos em que o garoto se ausentou, seus pais, Greyback e Lestrange permaneceram em silêncio, fazendo com que o único barulho no lugar fosse a sua respiração ruidosa.

“Ah, goblin!” disse Bellatrix assim que os passos do Malfoy mais jovem e de Griphook puderam ser ouvidos novamente. “Diga-me: essa é a verdadeira espada de Gryffindor? Aquela que deveria estar em meu cofre no seu banco?”

Hermione virou o rosto para acompanhar o goblin enquanto ele cruzava a sala e parava em frente à comensal da morte, segurando a espada em suas mãos pequeninas. Griphook pareceu acariciar a lâminas enquanto seus olhos a analisavam com muito cuidado. Seus dedos traçaram o nome do dono original do objeto que estava escrito o metal polido e, depois, os brilhantes rubis que adornavam o seu punho. A concentração da criatura foi interrompida por um estampido alto que viera de algum lugar abaixo deles. Draco pulou ao ouvir aquilo e os olhos de sua tia rapidamente acompanharam o som.

“O que foi isso?” gritou Lucius. “Você ouviu? O que foi esse barulho nos porões? Draco... Não, chame Rabicho! Diga para ele ir lá checar!”

Mais uma vez, o jovem e aterrorizado Malfoy deixou a sala de visitas. Bellatrix olhou para o goblin novamente.

“Bom?” disse Lestrange. “É a espada verdadeira?”

Griphook fez um barulho baixo com a garganta, acariciando a lâmina, antes de falar novamente. “Não, é uma cópia.”

“Tem certeza disso?” A mulher soou aliviada. “Mesmo?”

“Sim.”

“Bom.” Uma risada baixinha escapou de seus lábios enquanto ela movia a mão, fazendo um corte aparecer na bochecha do goblin, fazendo-o largar a espada. “E agora... Chamamos o Lord das Trevas.”

Hermione observou enquanto Bellatrix erguia a manga de seu vestido, expondo a Marca Negra em seu antebraço antes de tocá-la com o seu dedo indicador longo e pálido. Tudo estava acabado. Se nem Lestrange ou Greyback a matasse, então Voldemort o faria assim que chegasse na Mansão Malfoy... E não só ela, mas também Harry, Ron e Griphook. E ela não podia fazer nada para impedir que aquilo acontecesse.

“Eu acho,” a bruxa mais velha falou, tocando o rosto da garota com a ponta de sua bota. “Que podemos nos livras da Sangue-Ruim. Greyback, pegue-a caso queira.”

Antes que o lobisomem pudesse ao menos expressar a sua satisfação, um grito de “NÃO” foi ouvido e alguém entrou, correndo, pela porta da sala de visitas. Tudo virou uma cena borrada de clarões de luz e gritos por um tempo, antes que Hermione sentisse uma mão agarrando-a pelos cabelos e a erguendo do chão. Era Bellatrix e agora ela segurava a menina contra o seu corpo, puxando a sua cabeça para trás e pressionando a sua faca contra o pescoço desta.

“PAREM OU ELA MORRE!” A mais nova nem estava mais prestando atenção a nada agora. A sua cabeça começou a girar e suas orelhas pareciam estar tomadas por zumbidos. A única coisa que ela conseguia sentir era a lâmina de Bellatrix cortando a pele em seu pescoço. “Larguem as varinhas! Larguem ou nós vamos ver exatamente o quão sujo o sangue dela é! Eu disse larguem as varinhas!”

“Certo!” Era a voz de Harry, seguida pelo som de algo caindo no chão. As varinhas deles.

“Bom! Draco, pegue elas! O Lord das Trevas está vindo, Harry Potter! A sua morte se aproxima!” Lestrange riu. “Agora, Cissy! Acho que podemos amarrar esses dois heróis por um tempo enquanto Greyback cuida da Srta. Sangue-Ruim. Tenho certeza de que o Lord das Trevas não irá lhe recusar a garota, Greyback, depois do que você fez essa noite.”

Antes que alguém pudesse se mexer, um barulho esquisito veio de algum lugar acima deles e, de repente, Bellatrix jogou Hermione para o lado e pulou para bem longe do centro da sala. A garota, mesmo com a sua consciência diminuída, ouviu um barulho alto de algo muito pesado batendo no chão e os gritos que vieram de Lestrange, apenas momentos antes de sentir pequenos pedaços do que ela reconheceu como vidro caindo em cima de si. A movimentação começou novamente. As vozes dos Malfoy, de Bellatrix, de Greyback, de seus amigos e até uma vozinha que soava estranhamente familiar se misturaram com os sons de feitiços e maldições atingindo as paredes e o chão. Hermione abriu os olhos, mas apenas conseguiu enxergar os pés de todos que estavam no cômodo... Ela estava perto de uma das janelas do lugar agora, longe do duelo, mas, ainda assim, não longe o suficiente para escapar de algum feitiço errante que pudesse escapar daquele centro.

Um par de sapatos negros e bem polidos parou ao seu lado e, olhando para cima, ela viu um Draco Malfoy muito assustado a olhando. Seus olhos cinzentos estavam arregalados e seus lábios tremiam enquanto ele se abaixou para escapar de um feitiço que viera em sua direção e que, ao invés de atingí-lo, acertou uma peça emoldurada que estava atrás dele. Um guincho agudo escapou de sua boca enquanto ele corria daquele lugar e ia para perto de sua mãe enquanto Hermione se encolhia para se proteger dos pedaços de vidro quebrado que caiam sobre ela. Algo um pouco mais pesado do que os cacos de vidro caiu em sua cabeça e quicou no chão, fazendo um barulho alto e metálico ao atingir a madeira. Ela ainda podia sentir o que parecia ser um longo e gelado fio que agora estava preso no emaranhado de seu cabelo e ergueu o rosto para ver o que era...

Havia, realmente, um fio sobre ela... Certo, não era bem um fio, mas sim um tipo de corrente prateada e, pendurada na ponta desta, havia uma peça metálica que parecia muito familiar. A menina puxou a corrente e deu uma olhada mais cuidadosa no objeto. O design complicado deste formava dois círculos e, dentro do menor, havia uma pequena e delicada ampulheta. Na verdade, uma ampulheta quebrada cuja areia arroxeada agora escorria do seu interior.

Levaram apenas alguns segundos para Hermione notar o que estava acontecendo. Ela estava no chão, com uma corrente de um vira-tempo quebrado enroscada ao redor de si enquanto um duelo entre seus amigos e bruxos e bruxas que queriam vê-los mortos tomava conta do cômodo onde estava.

Infelizmente, levaram menos segundos para que o objeto quebrado reagisse.