Kolybelnaya

The Hogwarts Express


Quando Hermione se viu saindo do orfanato para ir para King’s Cross pegar o Expresso de Hogwarts, o dia não estava claro e límpido como um bom dia de verão deveria ser. Um chuva forte caía sobre Londres enquanto o Sr. McMillan, outro funcionário do orfanato, levava ela e Tom, de carro, até a estação.Hermione permaneceu em silêncio durante toda a viagem, assim como Riddle, que nem por um minuto tirou os olhos da janela.

“Aqui estamos,” disse o Sr. Mcmillan ao estacionar em frente à King’s Cross. “É bom irem rápido para não ficarem encharcados.” O garoto concordou com a cabeça, abrindo a porta do carro e saindo. Hermione o seguiu, sussurrando um rápido ‘adeus’ para o motorista. Enquanto tentava tirar o seu malão do carro, a garota viu Riddle já se afastando. “Oi, Tom! Seja um cavalheiro e ajude a mocinha!” Ela ouviu Mcmillan gritar e riu enquanto conseguia, finalmente, tirar a mala do carro. A idéia de ter Tom agindo feito um cavalheiro com ela parecia hilária.

“Não se preocupe, senhor,” disse a menina, finalmente se afastando do carro, correndo. “Já consegui!”

Tom Riddle, apesar de não voltar para ajudá-la, parou e esperou até que a garota o alcança-se – mas apenas quando já estava seguro debaixo da cobertura da estação e não mais debaixo da chuva gelada. Como sempre, ele parecia extremamente irritado com o fato de ter que esperar e guiá-la – afinal, ele acreditava que ela fosse apenas mais uma aluna nova que não sabia nada sobre Hogwarts – e apenas se contentou em murmurar um rápido “vamos logo”, antes de voltar a andar, indo até as Plataformas 9 e 10.

“É engraçado nós pegarmos um trem para ir até lá,” ela falou baixinho, lembrando-se de como seu pai brincara com o fato de que uma escola de magia usava trens como meios de transporte. A única resposta que Riddle lhe deu fora um suspiro profundo e um revirar de olhos. “Qual é a nossa plataforma?”

“Nove três quartos,” Tom explicou, finalmente parando em frente à barreira que separava as Plataformas 9 e 10. “Vá de encontro à ela.”

“Com licença?”

“Vá de encontro a barreira e você vai estar na plataforma,” ele falou. “Olhe, o trem sai as onze hora e nós estamos quase atrasados, então, se você pudesse ir logo...”

“Calma! Não são todos os dias que alguém diz para mim correr contra uma parede de tijolos.” Hermione riu e fez como o rapaz havia lhe dito.

Um sentimento bom se espalhou pelo seu corpo assim que ela se viu parada no meio da tão conhecida Plataforma 9 ¾ . Caso não fosse por alguns pequenos detalhes, a menina poderia jurar que estava de volta em seu tempo, indo se encontrar com Harry e Ron dentro do trem... A multidão de estudantes se despedindo de seus parentes era a mesma, a estrutura da plataforma era a mesma, assim como o brilhante e vermelho Expresso de Hogwarts. A bruxa sorriu ao ver um casal de alunos que pareciam ser do primeiro ano passarem por ela, correndo para o trem e rindo. Hermione pôs-se a procurar por um compartimento vazio, mas, antes que conseguisse encontrar um, ela sentiu alguém segurando o seu braço com força e, assustada, virou-se para ver Tom Riddle puxando-a para longe da locomotiva.

“O que foi?”

“Tenho algumas coisas para lhe falar antes de entrarmos no trem,” ele sussurrou, finalmente parando ao chegarem à um canto isolado do outro lado da plataforma. “Lembra do que eu disse no orfanato? Você não me conhece, entendeu?” o bruxo perguntou, fixando os seus olhos azuis nos castanhos dela. “Entendeu! ?”

“Sim, sim, tudo bem, eu não te conheço!” A garota revirou os olhos. “O que mais eu deveria saber antes de ter a sua permissão para embarcar?”

“O professor Dippet me escreveu há alguns dias e pediu-me para lhe avisar que o professor Dumbledore estará esperando você na estação de Hogsmead. Você irá para o castelo com ele e será selecionada antes dos alunos novos. Então, assim que chegar à Hogsmead, você não irá para junto dos alunos do nosso ano, mas sim irá procurar por Dumbledore.”

“Okay. Isso é tudo?”

“Sim.”

“Então, muito obrigada, Sr. Riddle, por ser tão gentil e me mostrar o caminho para a plataforma.” Ela sorriu, sarcástica, e inclinou a cabeça em um tipo de reverência. O rapaz apenas suspirou, antes de se afastar. Caso Ron a tivesse visto, ele ficaria orgulhoso; afinal, não é todo o dia que ele teria a chance de tirar sarro do Lorde das Trevas.

Deixando seus pensamentos sobre seus amigos voltarem para o seu subconsciente, a bruxa se aproximou da locomotiva vermelha outra vez, analisando os compartimentos e, apos alguns minutos sem encontrar nenhum vazio, decidiu se aventurar em um já ocupado.

“Com licença?” disse Hermione, batendo na porta de um compartimento alheio e abrindo-a. Havia um rapaz e uma garota ali; ambos pareciam ter dezessete anos e agora a encaravam. O bruxo tinha cabelos castanhos escuros, assim como os olhos, e estava ocupado em mostrar para a outra uma miniatura do que parecia ser um jogador de Quadribol que ficava voando em círculos acima da sua mão. A bruxa que também tinha cabelos castanhos, mas com um tom levemente cobreado, presos em uma longa trança encarava a recém chegada com seus olhos azuis escuros por detrás dos óculos quadrados. “Posso me sentar aqui?”

“É claro, querida.” O menino sorriu, balançando a mão e fazendo a miniatura voar para longe, antes de apontar para o lugar ao lado da outra garota. “Aqui, deixe-me ajudá-la com o malão.”

“Obrigada,” disse Hermione enquanto ele guardava a sua bagagem.

“Olá... Eu nunca a vi em Hogwarts,” disse a outra bruxa, estreitando os olhos enquanto observava Hermione sentar-se ao seu lado.

“Vamos lá, Minnie, existem um monte de alunos em Hogswarts. Aposto que nem os professores se lembram de todos eles.” O rapaz riu, voltando a se sentar.

“Ele está certa, na verdade. Eu não... É a primeira vez que eu estou indo para Hogwarts.”

“O que?” O bruxo a encarou, antes de voltar a olhar para a outra garota, que o encarava com um olhar que dizia claramente ‘Eu te disse!’. “Não me olhe assim, Minnie.”

“Primeira vez em Hogwarts?” perguntou ‘Minnie’, sorrindo. “Isso é uma surpresa, eu nunca vi ninguém começar a estudar lá com a sua idade.”

“Eu fui educada em casa,” explicou Hermione. “Mas agora tenho que ir para Hogwarts por conta de alguns... Problemas na família. Desculpe, eu não me apresentei: sou Hermione G...” A menina teve que morder a própria língua para evitar revelar o seu verdadeiro nome. Ela achara que seria fácil mentir sobre o seu nome, mas ‘Granger’ sempre vinha quase que automaticamente à sua boca sempre que ela iria se apresentar à alguém. “Elston.”

“É um prazer, Ms. Elston,” disse o rapaz. “Sou Charlus Potter e essa é Minerva McGonagall.”

Hermione encarou os dois, surpresa. Então aqueles adolescentes com os quais ela conversava eram ninguém mais do que o avô de seu melhor amigo e a sua futura professora de Transfiguração... Desde que encontrara Tom Riddle e Ollivander, a bruxa considerara a idéia de encontrar mais conhecidos de seu tempo, mas os parentes de Harry e McGonagall eram pessoas das quais ela havia esquecido por completo.

“Você está bem?” A voz de Charlus a tirou de seus pensamentos.

“Sim, estou.” Ela sacudiu a cabeça, ignorando o olhar suspeito que Minerva lhe lançou. “Em qual casa vocês estão? Eu estava lendo sobre elas mais cedo...”

“Somos da Grifinória,” ele respondeu. “Minnie é a nossa monitora e eu sou o capitão do time de Quadribol.”

“Também estou no time, mas sou apenas uma artilheira, sem nenhum título legal como o de Charlus.” McGonagall riu, chutando a perna do amigo levemente. “Você joga?”

“Quadribol? Ah, não.” Hermione deu um risinho, nervosa. “Eu gsoto de assistir, mas não sou muito chegada em voar.”

“Eu juro que não entendo quem diz que não gosta de voar,” disse a outra menina, inclinando-se para olhar para fora da janela. “Voar é a coisa mais perto da liberdade que você pode ter... Charlus, sua mãe está tentando te chamar ali na plataforma.”

“Ela está certa, sabe? Sobre voar e liberdade,” disse Potter, acenando para alguém lá fora. “Aposto que você simplesmente não teve um bom professor de vôo, caso contrario amaria voar...”

“Não é bem assim, Charlus. Nós todos em Hogwarts tivemos aula com o Sr. Samaliot e, bom, você se lembra do que aconteceu com algumas pessoas.” Minerva riu, cobrindo sua boca com a mão e sacudindo a cabeça. “Não podemos forçar alguém a aprender a voar se ela não foi feita para isso. Mas, pelo menos, ela gosta de assistir.”

“Se você entrar na Grifinória, é bom você estar sempre nos vendo no campo,” disse Charlus, sorrindo. “Prometo que Minnie e eu lhe daremos um bom show.”

“Por favor, Charlus.” McGonagall revirou os olhos, mas o sorriso brincalhão nunca deixou o seu rosto. “Agora, Hermione, você tem alguma idéia de qual casa será a sua?”

***

Quando Tom Riddle foi liberado da rápida e entediante reunião com a menina que seria sua companheira na Monitoria, ele desejava apenas encontrar um lugar quieto no qual ele poderia se sentar e ler até chegar em Hogwarts. Infelizmente, todos os compartimentos estavam ocupados e o melhor lugar onde poderia se sentar era com um grupo de rapazes de sua casa. O garoto atravessou o trem, parando apenas alguns segundos em frente ao compartimento no qual Hermione Elston estava, conversando com o garoto Potter e McGonagall, antes de voltar a seguir o seu caminho até o lugar onde ele sabia que os garotos sonserinos estariam.

“Olha só quem finalmente apareceu!” A voz animada demais de Canopus Lestrange falou assim que ele abriu a porta e entrou no compartimento. “Pensei que não viria até nós agora que virou Monitor Chefe.”

O garoto não falou nada, apenas se sentou ao lado de um rapaz loiro que estava ocupado lendo um livro de capa vermelha escura enquanto tentava segurar uma coisa grande e peluda em seu colo. “O que é isso, Abraxas?” perguntou Tom, encarando a bola de pêlo.

“Um Jarvey,” disse o sonserino, colocando seu livro de lado e erguendo a criatura com as mãos. Agora que podia vê-la melhor, a coisa parecia um ferret gigante que parecia estar fazendo uma horrível careta para ele. “As pessoas o chamam de ‘ferrets falantes’...”

“Ele é meio grande demais para ser confundindo com um ferret.” O menino franziu o cenho para o animal, que pareceu o imitar.

“Baixinho!” uma voz baixa e rouca escapou da pequena boca do Jarvey e este sibilou. Tom franziu a testa e sentiu seu rosto esquentar enquanto a vontade de se livrar o ferret gigante de Malfoy crescia dentro de si, principalmente quando ouviu Lestrange segurar uma risada.

“Ignore-o, Tom,” disse Abraxas, colocando a criatura em seu colo novamente e acariciando a sua cabeça. “O vocabulário deles consiste em insultos e nada mais.”

“Por que diabos você arranjou essa coisa?” perguntou Riddle, cruzando os braços em frente ao seu peito e soltando um muxoxo.

“É interessante!” disse o loiro, sorrindo. “Quero ensiná-lo a falar coisas mais legais... Quero dizer, desde que o consegui, ele já me chamou de ‘pavão albino’ e Canopus, um ‘bundão’. Seria legal vê-lo ser mais gentil.”

Dessa vez fora Tom quem teve que se conter para não rir enquanto agradecia à Deus pelo fato de agora ter um dormitório só para si em Hogwarts. Caso contrário, ele teria que conviver com o Jarvey irritante chamando-o de nomes idiotas e correndo para lá e para cá no dormitório da Sonserina. Ainda assim, a idéia de ver seus colegas sendo atormentados pelo bicho era o suficiente para fazê-lo rir.

“É bom controlar essa coisa, Abraxas,” disse Canopus, encarando o animal. “Eu não quero acordar com isso na minha cama e, se isso acontecer, vou ter certeza de que ele não terá tempo de me falar nada.”

“Você não terá que fazer nada com ele.” Abraxas lançou ao amigo um olhar rápido, antes de voltar a olhar para o animal e acariciá-lo a cabeça. O Jarvey fez um barulho estranho e se enrolou feito uma bolinha, aninhando-se contra o seu dono. Malfoy sorriu e continuou fazendo carinho no animal enquanto os outros rapazes pareciam esquecer dele.

“Alguém viu Alphard?” perguntou Avery.

“Eu o vi com um grupo de corvinais quando estava vindo para cá,” disse Canopus, dando de ombros. “Você sabe que Black está se afastando.” O garoto ergueu o rosto, olhando para Tom, que continuava em silêncio. “Ano passado ele passou o tempo todo com esses corvinais... Se não me engano, tem até um sangue-ruim junto deles, alguma coisa Peters, algum nome bem trouxa.”

Riddle arrumou-se em seu lugar, sentindo-se desconfortável. Ele sabia de quem o colega estava falando... Um rapaz alto, de cabelos ruivos e rosto coberto de sardas da Corvinal. Tom sempre se lembrava dele pelo fato dos dois terem o mesmo nome e o sonserino sempre odiara encontrar outra pessoa com o seu nome. E esse era o caso de Tommy Peters, o sangue-ruim sobre o qual Lestrange estava falando. Um sangue-ruim com um nome extremamente trouxa.

“Alphard nunca foi muito útil de qualquer jeito,” murmurou Tom. “Ele não será uma perda muito grande.”

“Sim, mas ele poderia...” Avery parou de falar ao ver o sonserino menor apanhar a varinha de seu bolso e apontá-la para a porta do compartimento.

“Black pode ser ético demais para nos seguir, mas ele não é estúpido. Ele sabe do que somos capazes caso ele decida abrir a boca.” Riddle sorriu, sutil, antes de suspirar. “Alem disso, ele nunca soube muito sobre nossos planos... Digo, ele não estava presente em todos os encontros e eu nunca lhe informei das coisas mais importante.”

“Eu lembro que você disse que não confiava nele,” Abraxas falou, finalmente olhando para longe do Jarvey. “Nunca entendi a razão disso... Al parece ser digno de confiança e é um Black.”

“Ele realmente é digno de confiança e essa é a razão de eu não me preocupar com a possibilidade de ele nos denunciar,” disse Tom. “Mas, como eu disse, ele não concordava com todas as nossas idéias, isso era óbvio desde o início.” O garoto respirou fundo e olhou para os outros. Ele amava como eles o encaravam maravilhados quando ele conseguia provar algum ponto de tal maneira. Riddle nunca contara a nenhum deles sobre o fato de que ele estivera estudando a arte da Legilimência desde o seu quarto ano e que, agora, já tinha um bom controle sobre isso... E essa era a razão de ele estar, na maioria das vezes, certo sobre as pessoas. Uma rápida olhada na mente dos outros e ele já sabia tudo sobre as suas vidas. Até agora, ele conseguia contar nos dedos o número de pessoas nas quais a sua Legilimência havia falhado... Duas.

***

“Ai você está, querida, já se parecendo com uma aluna de Hogwarts!”

Hermione riu com o comentário de Charlus. Ela já era uma estudante de Hogwarts há muito tempo, mas estava se sentindo feito uma primeiranista novamente. A mesma sensação de excitação que tomara conta dela em seu primeiro ano havia se feito presente outra vez assim que a locomotiva parara na estação de Hogsmead.

“Estamos quase lá.” Dessa vez fora Minerva quem falou, apontando para fora da janela. “Olhe, Hermione, lá está Hogsmead.”

O trem começou a desacelerar ao se aproximar de pequenas luzinhas que se destacavam no horizonte escuro e, agora, eles já podiam ver parte da pequena vila. Hermione sorriu, sentindo uma sensação boa crescer dentro de si quando o trem finalmente parou.

“É isso ai,” disse Charlus, sorrindo enquanto se levantava e ajudava as garotas a pegarem as suas malas. “Bem vinda à Hogsmead, Srta. Elston, sua última parada antes de Hogwarts.”

Após alguns minutos presos no corredor do trem graças à multidão de alunos que saía ao mesmo tempo, os três finalmente desceram na estação. Era a mesma coisa que Hermione lembrava... Os alunos mais velhos carregavam os seus malões na direção das carruagens enquanto os mais novinhos esperavam por alguma orientação. Enquanto passava pelos grupos de alunos, Hermione viu, parado perto de um dos bancos da plataforma, Albus Dumbledore. Ele vestia vestes longas e roxas junto com um chapéu da mesma cor, o que lhe dava uma aparência ainda mais excêntrica quando contrastava com tanto impacto contra os seus cabelos ruivos. Sorrindo, a menina se aproximou dele depois de dar um rápido ‘adeus’ para Charlus e Minerva.

“Professor...”

“Srta. Elston,’ disse o bruxo, colocando uma mão em seu ombro. “É bom vê-la por aqui.” Dumbledore começou a andar, guiando-a através da estação. “Espero que tudo tenha corrido bem na viagem.”

“Sim, professor,” ela respondeu enquanto o professor abria uma porta e entrava na casinha da estação. Hermione nunca ficou muito tempo na Estação de Hogsmead e, por isso, nunca chegou a imaginar que havia ali um quartinho muito aconchegante (muito provavelmente utilizado pelos funcionários do local). O lugar parecia a sala comunal da Grifinória, toda decorada com cores quentes.

“Nós vamos para Hogwarts pela rede de floo,” explicou o homem, apontando para a lareira acesa. “Primeiranistas vão de barco, mas o professor Dippet quer que a senhorita seja selecionada antes deles, então vamos chegar antes.” Dumbledore lançou-lhe uma piscadela, esticando a mão para pegar um punhado de pó de floo em um pote em cima da lareira, mostrando que ela devia fazer o mesmo. “Apenas diga ‘escritório do professor Dippet’. Estarei logo atrás.”