Kolybelnaya

Teach us something, please


A sua primeira aula fora Poções, um horário duplo junto com a Sonserina. Hermione sempre se perguntara a razão dos professores – ou seja lá quem organizava esses horários – colocaram Grifinória e Sonserina juntas. Desde que pisara em Hogwarts pela primeira vez, as duas casas viviam em um tipo de batalha constante uma contra a outra.

“Dupla Poções com a Sonserina,” ela suspirou ao descer pelas masmorras ao lado de Minerva e Charlus.

“Não se preocupe, as aulas de Poções são legais, você nem vai notar que são dois horários seguidos.” McGonagall sorriu para ela e apontou para a porta de madeira ao fim do corredor. “Aquela é a nossa sala. Não se esqueça do caminho para cá, pois as únicas pessoas para as quais poderá pedir ajuda caso se perca nessas masmorras são os sonserinos, Pirraça e o Barão Sangrento.”

“Pirraça é o nosso poltergeist,” explicou Charlus, rindo baixinho. “Ele gosta de mandar as pessoas para os caminhos errados. Quando eu estava no primeiro ano, me perdi indo para a torre de Astronomia e fui idiota o suficiente para pedir ajuda pra ele.”

“Charlus acabou aqui nas masmorras naquele dia.” Minerva riu, sacudindo a cabeça. “Acho que essa é a sua primeira lição aqui em Hogwarts: não confie em Pirraça, ele consegue enganar todo mundo.”

“E o Barão Sangrento?” perguntou Hermione enquanto observava um grupo de meninas sonserinas passar por eles. Uma delas, uma garota baixinha com cabelos cacheados escuros e bagunçados, cujos óculos estavam quase caindo da ponta do nariz, parou no meio do caminho e olhou para trás, acenando rapidamente para eles.

“O Barão é o fantasma da Sonserina,” disse a outra grifinória, sua voz soando levemente distante e suas sobrancelhas se franzindo enquanto observava a bruxa sonserina rir e voltar para perto de suas amigas. “Ele é meio quietão, sempre sozinho. Quase nunca fala com os alunos e professores... E Nick diz que até com os fantasmas ele é assim, carrancudo.”

“Eu fico imaginando como ele morreu,” disse Potter e só agora Hermione notara como seu rosto estava levemente corado. “Digo... Ele é coberto de sangue, Hermione, você precisa ver! Sangue prateado da cabeça aos pés!”

“Sim, porque isso é muito legal, Charlus.” McGonagall faz uma careta. “Aliás, preste atenção na sua cara. Sua quedinha está a mostra.”

“É legal, Minnie... ‘Pera, o que? Pare com isso!” o rapaz falou, indignado, perdendo o sorriso de seu rosto.

“Bom, não se preocupe, a dela também está a mostra.” Minerva virou-se para Hermione e deu uma piscadela. “A sonserina era Dorea Black. Charlus é apaixonado por ela desde... Desde quando?”

Se aquela garota era a bruxa por quem Charlus Potter era apaixonado... As chances de ela ser a avó de Harry Potter eram enormes. Certo, tanto Charlus quanto a menina sonserina ainda eram adolescentes, mas Hermione sabia como era comum gente nova se casar naqueles tempos. Sem contar que, agora que ela parava para pensar, a garota a fazia pensar em Harry de certa forma. Ela tinha uma altura mediana, como seu amigo, e parecia tão tímida quando o próprio Harry. Sem contar aquela bagunça de cabelo escuro, tão diferente dos cabelos castanho claro e bem penteados de Charlus. Apesar de o rapaz lembrar seu amigo, ele era mais tagarela e solto, diferente do outro Potter, que conseguia ser até meio desengonçado dependendo da situação.

“Minerva...”

“O que? Hermione é nossa amiga e amigos devem saber tudo sobre os outros.”

“Vou indo pegar nossos lugares, Minnie, a gente se vê na sala.” O bruxo tentou parecer sério, mas deixou um risinho escapar assim que deu as costas para elas, indo na direção da sala de aula.

“Ela é uma boa garota, a Dorea. De uma boa família, também... Apesar de os Potter não prestarem muita atenção na pureza do sangue,” explicou McGonagall enquanto voltava a andar. “E hoje dia, Merlin sabe como é difícil encontrar uma família pura que não acredite nessa bobagem de pureza.”

“Sim,” sussurrou Hermione, levando sua mão direita até seu antebraço esquerdo quase que por instinto.

“Você nos disse no trem que era nascida trouxa.” O volume da voz de Minerva ficou mais baixo. “Só quero lhe dizer que, apesar de Hogwarts ter seus idiotas que acredita na teoria da supremacia bruxa, a maioria de nós não é assim. Então, se alguém te irritar com essa baboseira, não pense duas vezes antes de chamar Charlus ou eu ou qualquer outro grifinório, porque nós não vamos pensar duas vezes antes de mostrar o quão forte o sangue trouxa pode ser quando se revolta contra puristas.”

“Não se preocupe,” a menina riu, imaginando toda a casa da Grifinória encurralando um sonserino sem rosto – que, rapidamente, assumiu a forma de Tom Riddle – que havia ousado ir contra um nascido trouxa. Até mesmo Harry e Ron, que não eram daquele tempo, apareceram ali. “Farei questão de me lembrar disso.”

“Bom. Agora, vamos, antes que Slughorn chegue!”

Hermione concordou e seguiu a grifinória até a sala. A sala de aula de Poções ainda era o mesmo lugar cheio de poeira com muitas prateleiras cheias de frascos, potes e caixas de ingredientes e poções já preparadas que ela se lembrava. Minerva a levou até uma mesa onde Charlus e Septimus Weasley estavam sentados. Hermione sentou-se ao lado do ruivo e olhou em volta. Ela reconhecera a maioria dos alunos da Grifinória – menos Selina Merrick, Cecília Wyght e Hector Spinnet, mas isso não lhe chamou a atenção, já que ela sabia que poucos alunos curavam todas as aulas no último ano.

Além dos Grifinórios, Hermione não conhecia mais ninguém. Na mesa ao lado deles, todos os garotos usavam vestes da Sonserina. Um deles era um garoto alto com cabelos loiros claros, olhos azuis e um rosto bonito que lhe era estranhamente familiar. O rapaz ao lado do loiro tinha cabelos escuros e cacheados e olhos da mesma cor. O último bruxo também tinha cabelos escuros penteados para trás e olhos castanhos que pareciam brilhar com malícia enquanto ele olhava em volta e sussurrava algo aos seus colegas.

“Quem são?” sussurrou Heermione. Septimus Weasley virou o rosto para olhar a mesa dos sonserinos.

“Ninguém que valha a pena conhecer, Hermione,” disse o ruivo, dando de ombros. “Mas... O loiro é Abraxas Malfoy.” Malfoy! Então era por isso que ele lhe parecia familiar. Ela reconheceria um Malfoy em qualquer ponto no espaço e tempo. “O de cabelo cacheado é Lestrange, Canopus Lestrange. E o último é Atlas Avery.”

Malfoy, Lestrange e Avery. Que lindo grupo de amigos. A grifinória se conteve para não rir logo antes de notar o espaço vago na mesa dos rapazes, perguntando a si mesma a quem ele deveria pertencer... Ao mestre deles fora a resposta mais óbvia que lhe veio à cabeça e, alguns minutos depois, tal hipótese fora confirmada quando Tom Riddle entrou na sala e sentou-se ao lado de Avery. Riddle era o menor dos garotos e também parecia ser o mais novo, mas, ao mesmo tempo, a menina podia ver que ele inspirava respeito entre os colegas – ou seria medo?

“E aquele é Tom Riddle,” explicou Septimus. “Dos quatro, é o melhor. Digo, ele é Monitor Chefe e tem notas boas... E não sai por ai te chamando por apelidos idiotas por causa da sua família ou coisa assim.”

“Ele é um babaca,” disse Charlus. “Aposto que essa fachada de menino educado dele é uma grande mentira.”

“Charlus não gosta dele porque a Srta. Black gosta da companhia do Sr. Riddle,” brincou Minerva, rindo enquanto seu amigo lhe lançava um olhar frio.

“E Minerva não gosta dele porque ele tem notas mais altas que as dela em todas as aulas.” Potter estufou o peito e ergueu o queixo como se estivesse em uma posição de triunfo.

“Não em todas as aulas. Não em Transfiguração.”

“Minnie é o gênio da Transfiguração.” Weasley sorriu. “Ela... Oh, Slughorn chegou.”

A bruxa esticou o pescoço para conseguir ver o professor. Esse Horace Slughorn ainda tinha um bom chumaço de cabelos loiros no topo da cabeça e seu bigode ainda não havia se tornado branco. Ele também parecia mais magro, mas isso não o fazia parecer menos com o Slug que ela conhecia quando este andava por entre as mesas, dando bom dia aos alunos enquanto arrastava sua longa capa de tweed pelo chão empoeirado.

“Ora, ora, ora,” o professor finalmente falou ao chegar à sua mesa, colocando seus pergaminhos sobre ela. “Olhe só para vocês.” O homem ficou em silêncio enquanto olhava em volta, encarando os alunos. “Ainda me lembro do dia em que vocês entraram aqui pela primeira vez achando que iriam aprender a preparar uma poção que os transformaria em sapos!” A sala inteira riu, principalmente Septimus. “Sim, isso é para você, Sr. Weasley, ainda me lembro disso... Também me lembro de como alguns de vocês conseguiram explodir um número considerável de caldeirões no decorrer dos próximos seis anos.” Slughorn encarou Malfoy, que apenas deu de ombros. “Mas também me lembro como a maioria de vocês cresceu desde que entraram aqui pela primeira vez, como pararam de ser jovenzinhos sem noção alguma de magia – ou talvez, com alguma noção – e se tornaram grandes bruxos e bruxas.” Hermione não pôde deixar de notar como os olhos do professor rapidamente encontraram Riddle no meio da sala. “E agora vocês estão aqui, em seu último ano... E esse velho tolo que lhes ensinou durante todo esse tempo não conseguiu se conter e acabou fazendo esse discurso antes de começar a sua aula.”

“Como estava dizendo: todos vocês cresceram muito desde que começaram essa aula no primeiro ano e este é o último ano de vocês aqui, logo, aproveitem-no. Trabalhem duro e tentem conseguir o máximo de informações dos professores, porque, uma vez que deixarem Hogwarts, será difícil encontrar alguém que queira lhes ajudar. A vida fora do castelo não é maravilhosa, mas sim uma competição na qual você terá que dar o máximo de si para superar outros bruxos e bruxas que agora enchem o mundo bruxo. E eu sei que vocês tem o potencial para alcançar o topo.” Slughorn pigarreou e olhou em volta. “Agora, depois de tudo isso... Oh! Oh, isso é um rosto novo que eu vejo?”

Hermione sentiu seu rosto esquentar ao notar que o professor andava na sua direção. Slughorn ergueu um braço, gesticulando para que ela se levantasse. Ela o fez e olhou em volta para ver todas as cabeças dentro daquela sala viradas para ela.

“Você deve ser a mocinha que entrou na escola esse ano,” ele falou, sorrindo. “Qual o seu nome?”

“Hermione, senhor, Hermione Elston.”

“Bom, Srta. Elston, é um prazer conhecê-la. Eu sou o Professor Horace Slughorn, o Mestre das Poções de Hogwarts,” ele explicou. “Espero que goste da aula e, se precisar de algo, não hesite em dizer.”

“Sim, senhor.” Ela concordou, sorrindo, antes de se sentar mais uma vez.

“Voltando ao assunto... Antes de começarmos a aula, eu preparei uma coisinha para vocês.” O bruxo se virou e, quando voltou-se para a classe outra vez, tinha em mãos vários rolos de pergaminho. Os alunos suspiraram e resmungaram enquanto o professor apenas sorriu. Um pequeno sorriso apareceu no rosto de Hermione ao ver que ali estava a sua chance de mostrar à Slughorn que ela era uma boa aluna. Sem contar com ela, o único aluno que não parecia preocupado com a perspectiva de um teste surpresa era Riddle, que simplesmente respirou fundo e se ajeitou no banquinho no qual estava sentado, estufando o peito. “Não se preocupem, não é um teste de verdade. Considerem isso como um aquecimento.”

O bruxo mais velho começou a distribuir os pergaminhos rapidamente. Hermione logo procurou por sua pena e frasco de tinta, encontrando-os assim que o professor chegou na sua mesa.

“Como eu disse, não é um teste de verdade,” ele explicou, entregando-lhes os pergaminhos. “Nem precisam tentar colar.”

Hermione rapidamente desembrulhou o rolo e começou a ler as perguntas, ignorando a conversa que Minerva começou a desenrolar com o professor. A menina deu uma risadinha abafada enquanto lia as primeiras perguntas... Eram tão simples que até um primeiroanista conseguiria responder.

Defina os seguintes termos: fermentação, mistura, soro, elixir, encantamento, veneno e poção.

Ora, aquela era uma pergunta boba. Qualquer aluno do sétimo ano que não soubesse aquelas definições poderia muito bem ser mandado para uma turma de primeiro ano.

Descreva a Terceira Lei de Golpalott.

Oh, fácil demais! Ela mesma tinha descrito tal lei para Slughorn no seu próprio tempo.

Cite três poções que são de extrema importância para um bruxo ou bruxa trabalhando no meio da cura.

Poção antisséptica, poção Concrescentia e a poção Ponos.

Grunhilda de Gorsemoor é conhecida por uma poção em particular que ela desenvolveu em sua carreira como curandeira. Cite tal poção e a razão para esta poção, hoje, ser considerada uma das poções mais importantes do mundo bruxo.

Certo, aquilo era mais História da Magia do que outra coisa...

Hermione sorriu enquanto escrevia a resposta da primeira questão, deixando seu sorriso alargar-se a cada resposta dada. A grifinória ergueu o rosto para ver Minerva olhando para o seu pergaminho com as sobrancelhas franzidas, parecendo preocupada. Septimus batucava os dedos no próprio queixo, escrevendo as respostas com lentidão, enquanto Charlus mordia o próprio lábio e batia com a ponta da pena na mesa de madeira. Olhando em volta, Hermione viu que a maioria dos alunos parecia estar com problemas para resolver o teste, a julgar pelas suas expressões faciais. Avery, na mesa ao lado, xingava baixinho enquanto olhava seu pergaminho; Lestrange fazia uma careta enquanto escrevia, como se não gostasse da resposta que dava; Malfoy pressionava os lábios um contra o outro, fazendo um bico, enquanto encarava as questões; e Riddle... Para a sua surpresa, Tom também parecia estar achando o teste difícil. O rapaz tinha a cabeça abaixada e apoiava a testa na mão enquanto seus olhos se fechavam e ele parecia murmurar algo para si mesmo. O sorriso da bruxa aumentou ainda mais.

Explique o mecanismo de ação da Amortentia.

Outra fácil. Ela ainda se lembrava do dia em que Slughorn mostrara à sua turma um caldeirão cheio de Amortentia. A bruxa tentou ignorar o leve aperto no peito ao lembrar-se de como aquela poção cheirava para ela.

Cite pelo menos 5 efeitos colaterais do Soro de Mandrágoras.

Ela não se lembrava de nenhum efeito colateral da tal poção. Lembrando-se do dia no qual acordou do seu estado petrificado no segundo ano, Hermione não conseguia se lembrar de ter tido algum efeito adverso... Ou pelo menos ela não prestou atenção neles. A bruxa franziu o cenho. Efeitos colaterais do Soro de Mandrágoras? Ela nunca havia lido sobre isso em livros ou ouvido algum professor falar deles... Então, como eles estavam naquele teste?

Explique o mecanismo de ação da Poção do Sono Sem Sonho.

Explique o mecanismo de ação da Poção do Morto-Vivo.

Explique o mecanismo de ação do Elixir da Euforia.

Hermione mordeu o próprio lábio e respirou fundo. O que eram esses mecanismos de ação sobre os quais Slughorn queria saber? Ela sabia o efeito de cada poção, assim como sabia prepará-las, mas ela não sabia se era isso o que ele queria. Suspirando, a menina escreveu o que sabia, esperando que o bruxo mais velho considerasse suas respostas, e disse a si mesma que iria voltar para essas questões ao terminar o resto do teste.

Cite situações nas quais o uso da Felix Felicis é banido.

Cite uma situação na qual a Poção Polissuco possa dar errado.

Cite uma situação na qual o uso da Poção Polissuco não é permitido.

Como o efeito Soro da Verdade pode ser anulado?

Agora sim, as respostas para quais questões eram bem claras em sua mente. Slughorn havia dado uma boa aula sobre Felix Felicis e ela havia lido ainda mais sobre ela depois que Harry ganhara um frasco da poção. A Poção Polissuco... Bom, se ela não soubesse responder algo sobre ela, a garota poderia considerar se jogar da torre de Astronomia. E a Veritasserum... Hermione fora fascinada por ela por um longo tempo, logo, tinha um bom conhecimento sobre ela.

“Enrolem seus pergaminhos... Sr. Mafloy, pare de escrever nesse exato momento e me dê o pergaminho! Bom.” A grifinória fez uma careta, vendo suas questões ainda parcialmente respondidas. “Sr. Potter, o mesmo vale para o senhor: pare de escrever.”

Charlus bufou baixinho e entregou seu pergaminho.

“Odeio quando ele faz isso,” disse Minerva, sacudindo a cabeça. “Digo... A última vez na qual ele nos surpreendeu com um teste surpresa fora no terceiro ano! Achei que ele tinha parado com isso.”

“Professores, Minnie, você nunca sabe o que se passa na cabeça deles,” sussurrou Potter. “Aqueles mecanismos de ação!” O garoto tremeu como se um calafrio tivesse acabado de percorrer o seu corpo. “Odeio eles... Ele poderia perguntar isso? Como aqueles que não fazem as aulas extras poderiam saber as respostas?”

“Talvez ele só esteja tentando assustar todo mundo? Sabe, tentando mostrar que a matéria dele é difícil, para ser levada a sério...” Septimus deu de ombros.

“Não precisamos ser lembrados disso! Nós sabemos que Poções é difícil.”

“Pelo menos não é uma prova de verdade, Charlus,” disse Minerva, olhando para o professor novamente, que agora colocava os pergaminhos sobre a sua mesa.

“Certo, vou corrigi-los e trazer o resultado na semana que vem.” O bruxo lançou um rápido olhar para a pilha de testes, como se finalmente tivesse percebido a quantidade de trabalho que teria. “Agora, deixem-me perguntar, vocês acharam difícil?” A sala encheu-se de murmúrios. “Okay, deixem-me adivinhar... Vocês não sabiam as questões sobre o Soro de Mandrágoras, a Amortentia, o Soro da Verdade, a Poção Polissuco e a Felix Felicis, estou certo?” Slughorn riu e sacudiu a cabeça ao ver a maioria dos alunos concordar. “Esse era o objetivo. Vocês ainda não estudaram tais poções e, como podem ter notado, elas serão muito vistas durante esse sétimo ano.” O homem virou-se e andou até o quadro negro, acenando a varinha e fazendo com que o nome das poções fossem escritos lá. “Não teremos tantos projetos nesse ano como no ano passado, mas teremos um grande projeto que irá tomar a maior parte do seu tempo. Irei sortear grupos de três pessoas e cada grupo irá ganhar uma dessas poções. Até o fim do ano letivo, vocês terão preparado a poção, aprendido sobre os seus usos e serão vocês quem vão nos explicar sobre tudo isso em uma apresentação. Não se preocupem, vocês ainda terão as aulas normais, já que temos muito o que aprender, mas esperem muito trabalho vindo desse projeto... Mas, acreditem em mim, será divertido.” O bruxo deu uma piscadela para eles. “Oh, sim, Tom?”

Hermione virou a cabeça para olhar para Tom Riddle, que tinha o seu braço erguido.

“Professor, algumas dessas poções são controladas pelo Ministério...”

“Oh, muito bem notado, Tom! Alguém pode me dizer quais são as poções que tem o seu uso e preparo controlado pelo Ministério da Magia?” A grifinória ergueu o braço, ouvindo uma risada baixinho vinda de Charlus, que indicou a mesa vizinha deles. O braço de Riddle também estava esticado e o rapaz agora a encarava com um olhar confuso, como se não acreditasse que ela estava tentando responder uma pergunta do professor. “Vamos dar uma chance à Srta. Elston, Tom.”

“A Veritaseum, a Poção Polissuco e a Felix Felicis,” ela falou, sorrindo.

“Bom, você acabou de ganhar cinco pontos para a sua casa, Srta. Elston.” Slughorn sorriu, antes de olhar de volta para a classe. “Há alguma discussão sobre o uso da Amortentia, mas não irei falar sobre isso hoje, deixarei que o grupo que pegar ela aborde o assunto com mais profundidade.” O bruxo enfiou a mão no bolso de seu colete de tweed, tirando dali um relógio de bolso dourado e abrindo a tampinha deste. “Nosso primeiro horário acabou há quinze minutos, então acho que podemos partir para a aula propriamente dita... Será algo rápido, uma introdução à matéria; vocês acham que precisam de um intervalo? Não? Muito bem, juro que será rápido.”

O resto da aula consistiu em instruções sobre as aulas de Poções naquele ano. Slughorn lhes disse o que eles iriam estudar, como iriam estudar e como ele os prepararia para os NIEMs. O homem também falou sobre umas tais “aulas extras”. Hermione não entendeu muito bem do que se tratavam, só sabia que elas aconteciam depois das aulas normais e que duravam pelo menos uma hora. Nem todos precisavam comparecer, apenas aqueles interessados, e os assuntos abordados nessas aulas não seriam cobrados nas provas e nem nos NIEMs.

“E ai, o que achou? Da aula e do velho Slug, digo,” perguntou Septimus enquanto se levantava de seu lugar. A aula havia acabado e os alunos agora se ocupavam em sair da sala.

“É... Legal.” Hermione deu um sorriso forcado, tentando não demonstrar que não estava realmente muito animada com a primeira aula de Slughorn por já ter tido aulas com ele no futuro e já saber como elas funcionavam. “E o Professor Slughorn parece ser um bom professor.”

“Sim, ele é...”

“A única coisa ruim é que ele é dado ao favoritismo,” disse Charlus, alcançando os dois e sendo seguido por Minerva. “Ele é o diretor da Sonserina, então...”

“Sim, mas ele não prefere os Sonserinos tanto assim.” Dessa vez fora McGonagall quem falara. “Ele gosta de escolher os seus ‘favoritos, Hermione. Ele os escolhe pelas suas famílias e conquistas acadêmicas, como ele diria.”

“Entendo...”

“Aqueles garotos sentados no nosso lado? Eles são os favoritos do Slug,” explicou a outra bruxa. “Malfoy e Lestrange por causa da família; Avery porque o tio dele trabalhou com Slughorn em alguma pesquisa; e Riddle por causa das notas altas em Hogwarts.”

“Ele tem o que chama de Club do Slug.” Potter riu. “Eles se encontram de vez em quando para algum tipo de festinha do chá... Minnie foi convidada, mas recusou.”

“Por quê?” perguntou Hermione, olhando para a menina, que simplesmente deu de ombros.

“Por mais que eu ame chá, não iria gostar da companhia que teria no Club do Slug.” Minerva suspirou. “A maioria dos garotos vêm de famílias puristas e, bom, eu sou mestiça. Não iria funcionar.”

“Hey, saindo um pouco do assunto, alguém poderia me explicar o que são aquelas aulas extras sobre as quais Slughorn falou?” perguntou Hermione quando eles finalmente chegaram nas escadas que os levariam para fora das masmorras.

“Ah, sim, eu esqueci de te falar delas,” sussurrou Minerva. “Veja bem, aqui em Hogwarts nós temos as nossas aulas normais, como a que acabamos de ter, e as aulas extras. O que aprendemos nelas são como um... Aprofundamento da matéria normal, coisas que não serão de muito uso nesse nível de estudo, mas que pode vir a ser importante no futuro.”

“São aulas de nível pós-Hogwarts,” explicou Weasley. “Nós não temos a obrigação de aprender essas coisas aqui porque vamos acabar vendo tudo isso quando sairmos de Hogwarts, dependendo da carreira que formos seguir. Extras de Poções, por exemplo: nós aprendemos como as poções agem dentro do corpo de quem às toma, o que chamamos de ‘mecanismos de ação’.”

“Tem muita coisa trouxa envolvida e acho que é por isso que muita gente se recusa a participar,” disse McGonagall. “Mas, como Septimus disse, nas extras de Poções nós aprendemos como as poções funcionam no nosso corpo, mas isso não é algo que a gente precise saber no nível de Hogwarts. Ninguém vai perguntar isso em um NIEMs e, se um aluno decidir virar um curandeiro, ele vai ver tudo isso de novo nos estudos pós-Hogwarts.”

“Claro,” a grifinória sussurrou para si mesma. “O Decreto de Segurança na Educação de 1945...”

Hermione franziu as sobrancelhas ao finalmente entender sobre o que eles estavam falando. É claro que ela não conheceria tais aulas: elas não existiam mais no seu tempo. A bruxa se lembrava de ter lido sobre como, após a queda de Grindelwald, os Ministérios da Magia da Grã-Bretanha, França, Leste Europeu, Estados Unidos e Brasil haviam concordado em assinar uma lei que tiraria dos currículos das escolas de magia o estudo de teoria mágica aprofundada. As escolas – Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, Academia Beauxbatons, Instituto Durmstrang, Instituto das Bruxas de Salem e a Escola de Artes Mágicas de Ondina – tinham permissão para ensinar seus alunos sobre Teoria da Magia Básica, algo que os alunos teriam em seus primeiros anos, mas cada disciplina não iria se aprofundar muito. Na opinião de Hermione, esta era uma das leis mais estúpidas do mundo bruxo, mas os membros mais importantes dos Ministérios acreditavam que era uma boa maneira de evitar que os jovens se metessem com Magia das Trevas... Hermione, e boa parte do mundo mágico, sabia muito bem que eles só estavam fazendo isso pois perceberam que, durante a guerra contra Grindelwald, a maioria dos bruxos das trevas – Grindelwald incluído – tinham um conhecimento enorme sobre a teoria de diferentes campos da magia e conseguiam aplicar tais teorias ao campo da Magia Negra. Proibindo que os mais novos estudassem tais teorias iria evitar que eles se tornassem ótimos em certos campos mágicos e isso criaria uma juventude mais fraca que iria entrar em contato com essa informação crucial apenas quando começassem outro nível de aprendizado, diferente de antes, quando os alunos tinham um conhecimento sobre teoria da magia em Poções, Feitiços, Transfiguração e Arte das Trevas ao mesmo tempo. A única coisa que eles não esperavam era que o próximo grande inimigo do mundo bruxo tivesse feito parte da última geração de jovens bruxos e bruxas que conseguiram aproveitar o antigo sistema educacional e que, por conta disso, sabia tudo sobre teoria da magia.

“O que?”

“Isso é bem interessante,” disse Hermione, sorrindo para Minerva e tentando esquivar-se da pergunta. “Digo, aposto que vocês devem aprender um bocado nessas aulas!”

“Nós temos sorte de elas não caírem nas provas, isso sim. Quando você começa a ir nas extras, você quase fica com vontade de desistir da magia quando percebe o quão complicada ela é.” Charlus suspirou e depois sorriu. “Mas ai você lembra que não precisa saber tudo isso...”

“Ainda,” disse Minerva.

“Certo, ainda.”

***

Depois do almoço, Hermione apressou-se para a aula de Transfiguração. Era na mesma sala na qual ela costumava ter as aulas em seu tempo, mas, com apenas uma olhada em volta, já era possível ver que aquela sala não pertencia ainda à Professora McGonagall. Na frente da sala de aula, atrás da mesa do professor, havia um armário enorme que tomava conta de toda a parede e que estava cheio de livros, porta-retratos e uma enorme variedade de objetos estranhos e desconhecidos. O quadro negro ficava do lado direito da mesa de Dumbledore e, no lado esquerdo, havia o que parecia ser um poleiro dourado onde uma bela ave vermelha descansava. Ela parecia uma versão menor e vermelha de um pavão e, assim que Hermione entrou na sala, os olhinhos escuros da ave a encontraram.

“Você já existe,” a menina sussurrou, sorrindo. Mesmo sabendo que era a única na sala, ela não queria arriscar ser pega falando algo assim. “Eu só consegui ver você uma vez e não foi em uma situação muito boa...” Ela se aproximou do pássaro. “Mas preciso dizer que achei a sua música muito bonita.”

“Você sempre fala sozinha?”

A bruxa virou-se e seus olhos se arregalaram ao ver um rosto conhecido a encarando. Abraxas Malfoy estava parado na porta, segurando alguns livros e com uma bolsa preta de couro pendurada em seu ombro. Havia um sorriso brincalhão em seus lábios enquanto ele entrava na sala e deixava seus livros sobre uma mesa antes de se sentar.

“Não é da sua conta,” disse Hermione, cruzando os braços sobre o peito enquanto outro simplesmente abria um de seus livros.

O sonserino apenas ergueu uma sobrancelha, antes de voltar a olhar para o seu livro. A bruxa respirou fundo, sentando-se em uma cadeira alguns lugares a frente de Malfoy. Pegando seus livros de Transfiguração e Poções, a menina abriu o último e começou a ler a introdução deste. A garota continuou lendo até que os outros alunos começassem a chegar, enchendo a sala de barulho.

“Você é apressadinha, não?” Hermione finalmente ergueu a cabeça para ver Minerva sentando-se ao seu lado. “Acho que essa é a sua aula, certo? Pelo menos Septimus disse que você é um gênio quando se trata de transfiguração.”

“Eu gosto da matéria, só isso.” A outra bruxa deu de ombros. “É interessante e nós temos sorte de termos um bom professor...”

“Dumbledore, certo?”

“Sim. Ele é um bruxo poderoso e ensina bem, ou seja, a aula é ótima!” Minerva sorriu abertamente. “Ótima demais!”

“Certo, Srta. Marwick, Srta. Akins, tenho certeza de que o assunto da conversa de vocês é fascinante – digo, quando é que a beleza de um certo jogador de Quadribol não é interessante, hm? – mas preciso pedir que vocês duas se sentem em seus lugares para começarmos a nossa aula.” Hermione virou-se e um sorriso apareceu em seu rosto ao ver Dumbledore, com longas vestes roxas e um chapéu pontudo da mesma cor, entrando na sala e sorrindo para a dupla de meninas sonserinas que se sentaram na mesa vazia mais próxima.

“Bom dia,” disse o professor ao finalmente alcançar a sua mesa. Albus tirou o chapéu e o colocou na mesa, antes de se aproximar da fênix e afagar-lhe o topo da cabeça. “Espero que tenham tido um ótimo verão. Acredito que o professor Slughorn já tenha feitoum bom discurso sobre o último ano de vocês aqui, então irei pular essa parte, o que não significa que não compartilhe da opinião de Horace.”

Dumbledore retirou sua varinha do bolso e a acenou para o quadro negro. Um pedaço de giz flutuou no ar e começou a escrever no quadro.

“Como todos sabem, o campo da Transfiguração é composto de quatro partes: Transformação, Dissipação, Conjuração e Destransfiguração,” explicou o bruxo. “Desde o seu primeiro ano, vocês vêm aprendendo muito sobre Transfiguração e Dissipação, assuntos que foram cobrados nos seus NOMs. Ano passado vocês começaram a trabalhar na Conjuração. Esse ano vocês vão melhorar as suas habilidades de Conjuração e irão aprender sobre a Destransfiguração. Como vamos começar com Conjuração, alguém pode me dar um exemplo dela? Srta. MgGonagall?”

“Incarcerous?”

“Exato. Mais alguém? Oh, sim, Sr. Riddle?”

“Serpensortia.” Hermione não pôde deixar de revirar os olhos. É claro que ele escolheria o Serpensortia.

“Bom. Meio complicado, Serpensortia, por conjurar algo vivo, mas ainda assim, certo... Mais alguém?” Granger nem teve tempo de perceber que sua mão já havia se levantado, mesmo que ela não conhecesse muitos feitiços de conjuração. “Srta. Elston?”

“Avis, Incendio e Orchideous?”

“Muito bom.” A menina se conteve para não virar e olhar para Riddle. Era bobo, ela sabia, mas ela não conseguia se controlar quando se tratava de competições dentro de uma sala de aula. Era automático e o fato de Riddle parecer tão irritado quando ela respondera a pergunta de Slughorn tornava aquilo ainda mais divertido para ela. “Todos esses feitiços criam coisas ‘do nada’, em termos leigos. Incarcerous cria cordas para amarrar algo ou alguém; Serpensortia conjura uma cobra...”

“Tão sonserino.” Hermione ouviur Minerva sussurrar e riu baixinho.

“Enquanto Avis cria aves; Incendo, fogo; e Orchideous conjura flores.”

A maior parte da aula se passou com Dumbledore lhes explicando a parte teórica da matéria, que seria muito exaustiva caso não fosse pelo bom humor do professor. A aula terminou mais cedo, com o professor os liberando quase uma hora mais cedo do que o horário estabelecido pelo cronograma.

“Só não deixem o Professor Dippet saber,” disse Albus, voltando para a sua fênix enquanto os alunos saiam da sala. “Ele não gosta quando terminamos as aulas mais cedo, mas não tenho razão para mantê-los aqui... A não ser que queiram ouvir uma ótima piada sobre um Leprechaun e um lobisomem que se encontraram por acaso no Halloween.”

***

“Então, como foi?”

“Hm?” Hermione ergueu os olhos da vista dos terrenos de Hogwarts que a janela perto da qual ela estava sentada na Torre da Grifinória lhe oferecia. Charlus Potter estava parado na sua frente, apoiado na parede.

“Seu primeiro dia em Hogwarts, como foi?” o rapaz perguntou, sorrindo.

Aquela era uma boa pergunta. Como fora o seu primeiro dia na Hogwarts da década de 40? No mínimo, estranho. Durante as aulas, a bruxa não percebia que estava em outro ano. Era como se ela entrasse em algum tipo de piloto automático enquanto se sujeitava a aceitar todas as informações que lhe eram oferecidas, mas era só ela sair da sala de aula que a realidade lhe atingia em cheio. E, para piorar, ela sabia muito bem que seus amigos estavam em perigo. Ela sabia que Harry e Ron estavam correndo atrás de horcruxes, se arriscando; sabia que seus pais estavam escondidos na Austrália com suas falsas memórias... E onde ela estava? Em 1944, tendo aulas de Poções e Transfiguração com o próprio Voldemort. Se a idéia de estar longe de seus amigos já a fazia ficar mal, pensar que estava dormindo sob o mesmo teto e comendo da mesma comida que aquele que estava causando todo o caos no futura fazia o seu estômago revirar.

“Hermione?”

“Foi bom,” ela respondeu, sorrindo, mas sem conseguir esconder a tristeza.

“Você está bem? Parece... preocupada.” Charlus inclinou a cabeça para o lado. A menina simplesmente riu, levantando-se e sacudindo a cabeça.

“Estou,” ela lhe assegurou. “Só estou cansada.”

“Está com saudades de casa?” ele perguntou. “Porque não tem razão para ficar com vergonha disso... Todos ficam com um pouco de saudades quando chegam aqui.”

“Hm, acho que podemos chamar de saudades de casa.” Hermione deu de ombros.

“Talvez você devesse escrever para os seus pais. Isso ajuda, sabia? Pelo menos me ajudou quando eu estava no primeiro ano.” O rapaz riu. “Eu estava super animado quando vim para Hogwarts, mas comecei a sentir falta de tudo... Da minha casa, da minha cama, da comida da minha mãe... Até mesmo do cemitério na frente do qual eu costumava passar eu fiquei com saudades. Então escrevi para a minha mãe e disse que queria ir para casa e ser educado lá, como meu primo Benjamin...”

“E como foi que passou? A saudades...”

“Comecei a escrever para os meus pais quase todos os dias e eles me diziam como as coisas estavam lá. Eu sentia como se estivesse em casa, sabe?” ele explicou. “E eu também parei de ficar me lamentando pelos cantos e comecei a falar mais com o povo da Grifinória.”

“Eu não estou me lamentando pelos cantos!” Hermione riu.

“O que? Não! Eu não quis dizer isso, Hermione!”

“Tudo bem, não se preocupe.” A bruxa respirou fundo e sorriu para o menino. “Sabe, acho que você está certo... Vou escrever para eles. Acho que vou fazer isso agora mesmo e, depois, vou dormir, porque estou quase caindo de sono.”

“Tudo bem, minha querida. Caso a gente não se veja até amanhã de manhã: boa noite.”

“Obrigada, Charlus.” ‘Eu realmente vou precisar.’