“E ela matou Dobby.”


“O que?” perguntou Hermione, franzindo as sobrancelhas enquanto encarava Harry.


“Ele nos ajudou a escapar, mas Bellatrix o atingiu na hora em que estávamos saindo,” o rapaz explicou, olhando para as próprias mãos. “Ele conseguiu nos aparatar até a casa de Bill, mas morreu logo em seguida.”


“Aquela mulher horrível.” A bruxa sacudiu a cabeça, amaldiçoando Lestrange enquanto sentia seus olhos arderem com lágrimas. “E como vocês estão? Você e Ron?”


“Estamos bem. Estamos ficando no Chalé das Conchas por enquanto, até pensarmos no que fazer. A gente acha que deve ter uma horcrux no cofre de Bellatrix no Gringotts, pelo jeito que ela agiu quando pensou que tivéssemos pego a espada de lá.” Harry suspirou e esse som suave ecoou ao redor deles. Tudo parecia ecoar ali. “Mas não podemos simplesmente entrar no cofre dela...”


“Vocês teriam que roubá-lo.”


“Sim.”


“Mas vocês não podem!” disse Hermione, sentindo seu estômago revirar. “Assim, se procuram sob o nosso chão um tesouro que nunca enterraram,” ela repetiu as palavras que lembrava de ter lido na primeira vez que fora até o banco dos bruxos. “Ladrão, você foi avisado, cuidado, pois vai encontrar mais do que procurou.”


“Eu sempre achei incrível como você consegue decorar as palavras exatas que você lê.” Harry deu um sorriso cansado enquanto pegava as mãos dela nas suas. “Quirrel invadiu o banco quando estávamos no primeiro ano, lembra?” Ele riu baixinho, apertando os dedos dela de leve. “Além disso, quantas regras nós já não quebramos desde que começamos Hogwarts?”


“Regras demais.”


“E nós temos Grampo, o duende, do nosso lado. Ele pode nos ajudar a entrar no banco. Ele conhece aquele lugar.”


Hermione encarou o rosto do amigo e sentiu o coração apertar. Enquanto ela pôde se recuperar da caça às horcruxes, Harry não teve a mesma sorte. Seu rosto estava mais pálido do que o normal e havia manchas roxas debaixo de seus olhos, junto com alguns arranhões e hematomas em seu rosto. Seu cabelo estava mais bagunçado do que ela se lembrava e muito mas comprido. Ele parecia exausto, machucado e assustado.


“Tenha cuidado, por favor.” Ela sentiu um nó se formar em sua garganta enquanto as lágrimas inundavam seus olhos. “Queria poder ajudá-los...”


“Hermione, vai ficar tudo bem,” disse o rapaz, sorrindo outra vez.


“Poção Polissuco, tente achar um pouco dela. Aposto que Olho Tonto tinha um estoque delas, tentem entrar em contato com a Ordem. Feitiços de desilusão, ilusões, Capa da Invisibilid- não.”


“O que foi?”


“A capa,” ela sussurrou, fechando os olhos com força e sentindo os dedos de Harry sumirem de suas mãos. “A capa está na minha bolsa! Deus, não, não, não! Harry-!”


Quando Hermione abriu os olhos outra vez, não havia Harry Potter na sua frente, assim como ela não estava naquele lugar onde o branco predominava, mas sim em sua cama no dormitório da Grifinória. Sua respiração estava acelerada e ela sentia as lágrimas escorrendo por seu rosto, seguidas por soluços silenciosos que ela não conseguia controlar. Sentando-se, a garota enfiou a mão por entre o colchão e a cabeceira de madeira, tirando dali a sua bolsinha de contas. Abriu-a com pressa, tirando dali uma capa prateada, a qual segurou por um tempo antes de jogá-la para o outro lado da cama.


“Maldição!” A bruxa escondeu o rosto nas mãos. Harry e Ron estavam correndo contra o tempo para derrotarem Voldemort e os Comensais enquanto ela estava presa em 1944, em Hogwarts, estudando e conversando com futuros Comensais e recebendo ajuda de Lord Voldemort... E, ainda assim, ela tinha a Capa da Invisibilidade. “Merda...”


“Hermione?” A cabeça da garota se ergueu prontamente ao ouvir uma voz a chamando. Não era Minerva.


“S-Sim?”


“Você está bem?” Emma Hooper. Sim, essa era a menina que falava com ela. Ela podia ouvir o som dos saltos da outra bruxa contra o chão de madeira enquanto esta se aproximava de sua cama.


“Sim,” ela respondeu, limpando a garganta. “Claro que sim.”


“Oh, bom. É só que eu achei que tinha ouvido você... Esquece.” Hopper suspirou. “Ah, Minerva já desceu. Acho que você gostaria de saber, já que vocês duas estão sempre juntas.”


“Obrigada, Emma.”


“De nada.”


***


Terças-feiras deveriam ser dias legais e interessantes. Elas normalmente eram, já que Tom tinha duas de suas matérias favoritas – Feitiços e Defesas -, mas, de vez em quando, o rapaz simplesmente não agüentava as Terças-feiras. Aquele estava sendo um desses dias... Talvez fosse porque Avery insistia em ficar de mal humor porque havia acordado para encontrar o Jarvey de Malfoy roendo uma de suas capas; ou talvez fosse porque Lestrange insistia em falar sobre o ocorrido, irritando ainda mais Atlas; ou ainda porque Abraxas tentava explicar que seu bicho de estimação não tinha feito por mal. Além disso tudo, a aula de Feitiços havia sido terrivelmente entediante.


Sua última esperança dependia da aula de Defesas. De acordo com a Professora Merrythought, eles teriam uma aula teórica naquele dia – não que Tom se importasse com isso – e saber disso fez com que seus colegas praticamente se arrastassem para a sala de aula. Riddle rapidamente chegou ao seu lugar na primeira fileira, onde logo se viu na companhia de Malfoy. Ele podia ver Elston sentada com Septimus Weasley há algumas mesas deles, enquanto Minerva e Potter ficavam ao lado do outro par grifinório. Não demorou muito para que todos se sentassem e Merrythought aparecesse na sala, andando por entre as mesas e cumprimentando seus alunos.


“Como eu disse para alguns na semana passada, a aula de hoje não vai precisar das suas varinhas, então podem guardá-las.” E bruxa sorriu enquanto andava até a frente da sala. “Ano passado eu tive alguns alunos me pedindo para que eu lhes ensinasse a duelar. Agora, não é isso que estudamos aqui? Como nos defendermos em um duelo? Mas se eu colocar vocês no meio de um duelo de verdade, como vocês agiriam? Sr. Spinnet, o que o senhor faria em um duelo contra o Sr. Avery?”


“Ahm, eu o atacaria?” Uma onda de risadas ecoou pela sala e Riddle virou-se para encarar o grifinório loiro que agora tinha o rosto vermelho de vergonha.


“Sr. Avery?”


“Um Arctus forte?” Atlas deu de ombros.


“Uma boa alternativa. Agora, se você estivesse contra um bruxo das trevas, Sr. Avery, e você pudesse usar maldições, o que você faria?” perguntou Merrythought, correndo um dedo pelos seu lábio inferior.


“A maldição Curiaossa?” Apesar de ser uma boa opção, Tom queria estapear Avery por ter escolhido essa. Eles não a haviam aprendido em aula. Um professor nunca ensinaria seus alunos como fazer uma maldição que conseguia cortar os ossos com um rápido movimento da varinha.


“Muito boa quando se trata de um duelo mais sério,” disse a bruxa mais velha, estreitando os olhos enquanto olhava o rapaz. “E onde o senhor acertaria o oponente com ela?”


“Na cabeça?”


“Sim, você iria abrir o crânio dele, mas tem certeza de que conseguiria atingir a cabeça do oponente?” Merrythought riu ao ver a expressão confusa no rosto do sonserino. “Alguém pode me dizer a razão da cabeça não ser o melhor alvo?” A mão de Tom já estava se erguendo quando a professora falou outra vez. “Sim, Srta. Elston?”


“É um alvo pequeno comparado com o resto do corpo.”


“Excelente. Onde você atingiria o oponente, senhorita?”


“Nas pernas, assim eles não poderiam se movimentar.” Riddle sorriu. Era um bom alvo, com certeza.


“Alguém mais quer dar a sua opinião quanto ao melhor alvo para uma maldição que corta ossos? Ah, diga, Sr. Riddle.”


“O peito,” disse Tom, sorrindo e erguendo o queixo.


“E qual a razão disso?”


“Você pode cortar as costelas, esterno ou clavículas, dependendo de onde a maldição atingir.” O seu sorriso se alargou enquanto ele agradecia mentalmente a Alexei Mazarovsky por ter lhe emprestado seus livros no orfanato. “Ossos quebrados são extremamente afiados e cortam com facilidade. Qualquer um desses ossos fraturados podem perfurar os pulmões ou o pericárdio. Um ataque só poderia não só imobilizar, mas matar o inimigo.”


“Ótimo, Sr. Riddle. O senhor e a Srta. Elston estão certos.” Ela olhou em volta, antes de começar a andar na frente da classe. “Mas o que eu quero que vocês entendam hoje é que um duelo não é feito apenas de feitiços poderosos e maldições. Não estou aqui para ensiná-los a duelar, não existe uma fórmula especifica para isso, mas vou tentar dizer como eu encaro um duelo, mas devo lembrá-los que cada um tem a sua técnica, a qual vocês poderiam desenvolver caso o Ministério não tivesse fechado o Clube dos Duelos por ele ser inútil e perigoso.” A mulher revirou os olhos e a turma riu. “Você não podem treinar duelos a não ser que queiram acabar em uma detenção, então vou tentar explicar algo para vocês. Novamente: cada bruxo tem a sua técnica, mas é legal ter algo para guiá-los ao invés de ficarem lançando feitiços complicados feito idiotas.”


A bruxa acenou com a mão para o quadro negro e um pedaço de giz se ergueu no ar, começando a escrever algo ali.


“Imagine que você está em um duelo e que você tem que lançar o primeiro feitiço, qual você usaria: uma maldição poderosa que derrotaria o oponente em um minuto ou um feitiço mais simples que os atrasaria?” Um murmúrio se levantou na sala de aula até que a professora pigarreou. “Quais são as chances de vocês conseguirem acertar a outra pessoa com uma maldição que tomaria quase toda a sua energia? Muito baixas, eu lhes digo. Em duelos, as pessoas ficam se mexendo; elas não ficam quietinhas esperando a sua vez de atacar. Sabendo disso, o que vocês fariam?” Ela apontou para o quadro negro, onde agora haviam três palavras escritas. “Cansar, Confundir e Atacar. Os primeiros dois passos podem trocar de lugar ou vocês podem usar apenas um deles, mas eles são partes importantes e normalmente subestimadas de um duelo. Primeiro, faça seu oponente se cansar! A magia é parte de vocês e, do mesmo jeito que quando vocês correm, vocês ficam cansados, se vocês usarem muita magia, irão acabar exaustos. Então vocês podem usar feitiços simples para cansar a outra pessoa. Alguém pode me dar um exemplo de feitiço que caberia aqui?”


“Diffindo?” uma voz no fundo da sala falou.


“Muito bom, Sr. Black. Na verdade, vocês poderiam citar qualquer feitiço simples e ele estaria correto, até mesmo uma Azaração de Bicho-Papão. Agora, ‘Confundir’... O que vocês usariam para tirar a atenção do oponente do duelo?”


“Confundus?” Dessa vez fora Minerva quem falou.


“O melhor exemplo, é claro, mas alguém teria algo mais... Original?”


“Tinnitus, Labirinto e Lychnus Oculos?” perguntou Tom, vendo um pequeno sorriso aparecer nos lábios da professora.


“Todos estão corretos. Também pode ser usado, antes do ataque, um feitiço de imobilização como Immobilus ou Petrificus Totalus. Dessa forma, vocês cansarão o oponente e um oponente cansado é um alvo mais fácil para feitiços como o Expelliarmus, a Curiaossa ou até mesmo o Avada Kedavra.”


***


“Mas alguém teria algo mais... Original?” Hermione viu Minerva franzir o cenho ao ouvir a resposta da professora e tentou pensar em algo.


“Tinnitus, Labirinto e Lychnus Oculos?” A voz de Riddle ecoou dentro da sala e a grifinória teve que se conter para não revirar os olhos ou mandá-lo calar a boca. Era como se o rapaz soubesse exatamente o que ela estava pensando em dizer.


Ela olhou para o sonserino e franziu as sobrancelhas. Se Harry e Ron estivessem ali, ela podia apostar que eles iriam tirar muito sarro dela, dizendo que era assim que os outros se sentiam quando ela respondia todas as perguntas dos professores. Na verdade, Harry e Ron teriam muita diversão com Tom Riddle, depois que parassem de tentar matá-lo... Ela podia imaginar as piadas bobas de Ron sobre o cabelo bem penteado do rapaz e a paranóia deste para com as aulas e notas; enquanto isso, Harry iria rir de tudo, fazendo comentários sarcásticos sempre que podia. E Hermione seguiria os dois na risada, é claro.


“Professora?” a garota chamou em voz baixa, não tendo muita certeza de que o que pensara fazia sentido ou não. Era só uma idéia que lhe viera à cabeça ao se lembrar de Harry. “É possível usar Legilimência para confundir o oponente?”


Merrythought parou de falar abruptamente, antes de abrir um sorriso para ela.


“Agora, é isso que eu estava falando quando pedi algo original!”


“Ler mentes?” perguntou Septimus, ao seu lado.


“Legilimência é muito mais do que ler os pensamentos das pessoas, Sr. Weasley,” explicou Galatea. “Legilimência é poder entrar na mente de alguém e não apenas olhar, mas mexer com ela. Um bom Legilimente tem uma arma mais poderosa do que uma maldição Imperius. Alguém pode me dizer a diferença entre essas duas técnicas de controle sobre uma pessoa?”


“A maldição controla apenas os movimentos, mas a mente fica intacta.” Novamente, a voz de Riddle. “Enquanto Legilimência faz a mente da vitima se submeter ao atacante.”


“Em outras palavras, quando você está sob a Imperius, você ainda consegue pensar por si só, sua mente ainda é sua,” disse Merrythought. “E quando um Legilimente o ataca, sua mente será dele. Ele estará dentro de sua cabeça, sussurrando comandos e fazendo parecer que é você quem está querendo fazer aquilo. Então, sim, Srta. Elston, a Legilimência não é só boa para distrair alguém, mas também para controlá-los.”


“Professora Merrythought?” Hermione virou-se para ver Tom, outra vez, chamando a atenção da professora. “Não sei se esta pergunta cabe nesta aula, mas... Nós sabemos que existem bruxos e bruxas que conseguem resistir ao ataque de um Legilimente, os Oclumentes, mas é possível que isso aconteça com trouxas? Digo, sabemos que não existem Legilimentes entre trouxas, mas e Oclumentes?”


“É realmente uma pergunta muito interessante,” disse a bruxa, guardando a sua varinha e entrelaçando os dedos das duas mãos uns nos outros. “Não exatamente dentro da matéria, mas acho que podemos sair um pouco dos duelos por hora. Antes de tudo, Sr. Riddle, é preciso entender que Legilimência e Oclumência são talentos naturais. Sim, você pode treinar essas habilidades, mas nunca será tão bom quanto um Legilimente ou Oclumente natural. Existem pessoas que nascem já conseguindo tocar a mente dos outros sem nem tentar e outras que nascem com a mente tão protegida que exigiria toda a energia de um Legilimente para entrar nela. Você estava errado, na realidade, quando disse que não há Legilimentes entre os trouxas. Claro que não têm tanto poder quanto os bruxos, mas eles existem... Videntes trouxas, por exemplo, que conseguem saber da vida da pessoa só de tocá-la. Pare de rir, Sr. Lestrange, estou falando sério aqui. E se você quer algo mais crível, pense nos médicos. Não são eles aqueles que tem o poder de descobrir como seus pacientes estão se sentindo para poder fazê-los confortáveis? Não todos eles, claro, mas há um bom número... Trouxas dizem que eles são bons para entender pessoas, enquanto bruxos sabem que essa facilidade de colocar-se no lugar dos outros é causada pela Legilimência.”


“Agora, se a Legilimência aparece como algo muito fraco em trouxas, a Oclumência pode aparecer tão forte quanto em bruxos. Não é muito comum, ou pelo menos não há muitas pesquisas sobre o assunto, mas há alguns casos registrados... Alguém já ouviu falar de Rasputin?” Alguns alunos concordaram. “Para quem não o conhece, Grigori Rasputin era um homem um tanto misterioso que servia como um tipo de conselheiro da família imperial russa. Há quem diga que ele era um bruxo, outros dizem que isso era um absurdo... O negócio é o seguinte: Rasputin fez muita coisa que poderia ser considerada bruxaria, mas nunca usou uma varinha e dizia ser um homem santo. Isso fez com que ninguém nunca conseguisse provar o seu status como bruxo... Duvidam até que o imperador soubesse disso.”


“O imperador não era um trouxa?” perguntou Avery. “Ele não iria saber de bruxaria.”


“O governante de cada país sabe da existência do mundo bruxo, Sr. Avery, como o senhor já deve saber.” Merrythought estreitou os olhos. “No caso da Rússia, em especial, as comunidades bruxa e trouxa são ainda mais misturadas do que na Inglaterra, por exemplo. Bruxos e trouxas vêm se associando uns aos outros desde os tempos do primeiro Tsar, Ivan IV, ou Ivan, o Terrível. Ivan foi o primeiro governante russo a fazer um pacto que resultou na formação da Oprichnina, um tipo de organização secreta criada com o objetivo de derrubar qualquer um que se opusesse ao imperador e que era composta apenas por bruxos poderosos, bruxos das trevas, que usavam sua magia para manter Ivan no poder. Sr. Riddle, o senhor e a Srta. Thorpe devem conhecer um dos membros da Oprichnina...”


“Acho que não sei do que a senhora está falando, professora...”


“Na entrada do dormitório dos Monitores há a pintura de um jovem, certo? Ele é Fyodor Basmanov, um dos membros da organização. Há rumores de que ele era, na verdade, amante de Ivan... Quem sabe? Você poderia perguntar ao retrato dele e dizer que sua professora acha que ele fica lindo naquele vestido.” A bruxa riu, recebendo olhares estranhos de seus alunos. “Depois de um tempo, a Oprichnina foi dissolvida e era um crime até mesmo mencioná-la. A história trouxa diz que é porque Ivan percebeu que eles não lhe eram mais úteis e que mais bagunçavam do que ajudavam, a história bruxa diz que isso aconteceu porque alguém convenceu Ivan de que bruxos eram criaturas ruins e sombrias. Eu não estou aqui para ensinar História da Magia, vocês podem perguntar isso para o Professor Binns, já que ele deve saber muito sobre isso. Lembro que, quando veio trabalhar aqui, Binns quase jogou aquele quadro pela janela quando o viu no dormitório dos Monitores... Eu também não entendo a razão de colocarem o retrato de um louco como Basmanov ali, mas o que eu posso fazer?” Galatea suspirou, apoiando-se contra sua mesa, parecendo cansada. “Só disse tudo isso para explicar a situação da magia na Rússia. Depois de Ivan, bruxos e trouxas voltaram e entrar em contato e, quando chegou Rasputin, já havia diversos bruxos e bruxas na corte, gente poderosa que se viu substituída por um homem que se dizia ser um santo e que mais parecia um bruxo do pior tipo que existe. É por isso que não sabemos se ele era ou não um bruxo. Eu, particularmente, acredito que ele era um bruxo.”


Hermione respirou fundo, deixando seu corpo afundar na cadeira. Aquilo era para ser uma aula interessante de Defesas... Não que ela não se interessasse por história, mas ela duvidava que Rasputin fosse ser útil para eles. Pelo que ela sabia, Grigori Rasputin era uma das razões para a queda do império russo. Ele e sua morte misteriosa.


“Existem histórias sobre como Rasputin podia, com facilidade, manipular as pessoas e, caso vocês olhem uma foto dele, vão ver que não era por conta do seu rostinho bonito.” Alguns alunos riram. “Ele era um camponês que apareceu do nada e, de repente, estava dentro da casa da família imperial, interagindo com todas as pessoas mais importantes daquele país. E agora vamos à razão de termos falado tanto sobre ele... Veja bem, quando lemos sobre Rasputin, vamos ler sobre um outro homem chamado Felix Yusupov, Príncipe Felix Yusupov, que foi um dos homens envolvidos no assassinato de Rasputin. Dizem que Yusupov conseguiu escapar dos ‘poderes’ de Grigori...”


“Então Rasputin era um Legilimente?” perguntou Tom, seus olhos fixos no rosto da mulher como se ele tentasse agarrar-se a cada palavra que ela falava.


“Tudo indica que sim. E Felix, um trouxa, conseguiu escapar dessa Legilimência. Eu conheci pessoas que conheceram o Príncipe Yusupov e elas dizem que ele ainda fala sobre o assassinado do ‘monge louco’ e que uma vez ele explicou o que sentiu quando falava com ele. Ele disse que era como se estivesse sendo controlado, como se Rasputin tivesse algum tipo de controle sobre seu corpo e mente... Não completamente, já que ele conseguiu se lembrar disso e conseguiu não se submeter ao homem. Agora, peço para que, quando vocês cruzarem com um Legilimente, por favor, peçam para eles controlarem a mente de vocês por um momento. Aposto que a sensação será a mesma descrita pelo Príncipe Yusupov.”


“Em outras palavras, a senhora está dizendo que é possível que um trouxa escape de um tipo de magia da qual, às vezes, nem bruxas conseguem escapar?” perguntou Avery, antes de pressionar os lábios um contra o outro para impedir a si mesmo de rir, mas não conseguiu conter o leve curvar de lábios.


“Sr. Avery,” murmurou Merrythought, aproximando-se dele e apoiando a sua mão magra no ombro do rapaz. “Jovens como o senhor têm que parar de acreditar que magia é algo exclusivo de bruxos e bruxas. Assim como temos pessoas com magia mais fraca, existem trouxas com um pouquinho de magia em si.”


***



Hermione levou as mãos aos ouvidos, cobrindo-os ao ouvir um zumbido alto ecoar dentro de sua cabeça. Por debaixo do barulho irritante, ela conseguia ouvir a risada de Minerva e teve que se conter para não mandá-la calar a boca. Apesar de a aula de Defesa ser teórica naquele dia, durante a aula extra que se seguiu a professora deixou que eles praticassem os feitiços mais simples que foram citados na aula.


“Isso é horrível!” sussurrou Hermione, fechando os olhos enquanto o zumbido ficava mais e mais alto. “Faça isso parar, Minerva, por favor.”


“Certo, certo.” De repente, o barulho se foi e ela podia, novamente, voltar a organizar os seus pensamentos. “Fiz certo?”


“Considerando o fato de que eu nem conseguia pensar com aquele negócio na minha cabeça, sim.”


“Bom! Agora é a sua vez! Vai fazer o Tinnitus também?” perguntou McGonagall, sentando-se em uma cadeira e colocando a varinha em seu colo.


“Não.” Hermione ergueu a varinha e apontou-a para o rosto da garota. “Lychnus Oculos.”


“Merlin!” Minerva riu, piscando rapidamente. “Não é de se surpreender que esses feitiços desabilitam alguém em uma luta.”


“Funcionou?”


“Sim, nem consigo mais te ver!” Outra risada escapou de sua boca, antes que alguém esbarrasse nela. “Ouch!”


“Foi mal, Minnie.” Era Septimus Weasley, que agora segurava os ombros da bruxa para se equilibrar. “Wow!”


“Que feitiço Charlus usou?” perguntou Hermione, vendo Potter se aproximar deles.


“Labirinto. Ele viu Hector usando em Basil e achou que seria legal.”


“É legal!” Charlus, que finalmente os alcançou, esticou uma mão para que o amigo se apoiasse. “Assim que passar o efeito, você tenta em mim. Ah! Olhe lá e me diga que não é um feitiço legal.”


Potter apontou para o outro lado da sala, onde Tom Riddle tentava se equilibrar sobre as próprias pernas, cambaleando e de braços abertos enquanto tentava achar algo no que se segurar. E Malfoy, aproximando-se dele, só ria. Hermione não pôde fazer nada a não ser rir e acenar coma varinha para tirar o feitiço que lançara em McGonagall.


“Como vocês estão indo?” Os quatro grifinórios viraram-se para ver Merrythought parada perto deles.


“Muito bem, professora,” disse Charlus.


“Vejo que colocou um bom Labirinto no Sr. Weasley.” Ela apontou para o rapaz ruivo. “Mas poderia me explicar como ele funciona?”


“Ele mexe com o equilíbrio?”


“Não está errado, mas para ser mais específico, ele mexe com o sistema vestibular, uma coisinha pequena que temos dentro do ouvido. Ele nos dá equilíbrio e orientação no espaço. É por isso que você não consegue se mexer sem parecer que vai cair, Sr. Weasley.”


“Bom saber.” Septimus sorriu. “Quando o efeito vai passar?”


“Normalmente leva alguns minutos, mas eu posso ajudá-lo com isso.” Ela sacudiu a varinha e Weasley suspirou, aliviado, e soltou a mão de Potter. “Tentaram algum outro feitiço? Meninas?”


“Eu usei o Tinnitus em Hermione e ela usou o Lychnus Oculos em mim,” respondeu Minerva. “Acho que o Tinnitus interfere em como percebemos os sons, não?”


“Na verdade, o Tinnitus não tem nada a ver com o exterior, Srta. McGonagall, mas com o interior da sua cabeça. Ele superestimula um nervinho dentro do seu ouvido e faz com que você escute o zumbido. Há outro feitiço chamado Auris Intensio que tem o mesmo efeito, mas ele contrai os músculos ao redor do seu ouvido médio, criando um barulho irritante também.” Galatea apoiou o peso do outro na outra perna, antes de continuar. “Vocês estão indo muito bem, meus queridos, mas acho que tenho que ir ajudar o Sr. Riddle a se livrar daquele Labirinto que o Sr. Malfoy não sabe tirar dele...”



***



Tom ainda se sentia um pouco tonto por conta do efeito do feitiço de Abraxas, mesmo depois que Merrythought o tirara de si. Pelo menos era uma desculpa para voltar para o seu quarto antes da janta e deitar por um tempo, uma boa desculpa para escapar de ouvir Avery reclamar do bicho de estimação de Abraxas por alguns minutos. Agora, enquanto encarava o teto de seu quarto e ouvia a porta ao lado abrir e fechar – a Monitora Chefe devia estar voltando para deixar o seu material ali antes de descer para jantar -, o sonserino continuava a se lembrar do que a professora de Defesas havia falado mais cedo naquele dia.


Existem trouxas com um pouco de magia neles. Magia não é algo exclusivo de bruxos e bruxas. Riddle só podia rir disso. Não havia nada de mágico na velha Sra. Cole e sua mania de organização, ou em Sebastian Turner e a sua mania estúpida de se provar que provavelmente faria ele cair na Grifinória caso ele fosse um bruxo, nem mesmo em Martha, doce Martha que tentava tratar todas as crianças do orfanato como suas próprias... Mas, se ele quisesse pensar no epítome de uma pessoa não-mágica, só precisava se lembrar de seu pai. Um trouxa comum que não tinha nada de especial em si. Era engraçado pensar que uma bruxa tão poderosa quanto Merrythought podia pensar que trouxas como seu pai poderiam fazer magia, mesmo que sutil e acidental.


Mas, ainda assim...


Não. Tom disse a si mesmo que a opinião dela não tinha valor. Merrythought era, sim, uma bruxa poderosa, mas ela estava ficando velha e com a idade vinham as idéias bobas e as teorias sem fundamento. Se a bruxa queria acreditar que trouxas eram mágicos, ele não podia fazer nada a respeito disso... Não que as idéias dela fossem ser um problema por muito tempo. Ela era velha e pessoas velhas morrem todos os dias, não iria demorar muito para que ela e suas teorias sumissem da face da Terra.