Kiss Kiss

Os meus sentimentos, Richard...


— E-então... – Eu estava em frente ao espelho treinando a minha declaração.

Eu parecia patética em frente ao espelho tentando recitar o que havia escrito no papel, um pouco amassado em minhas mãos. Eu descobri há pouco tempo – depois de pensar muito— a minha paixão por Richard, graças a tudo que passamos juntos. Ele sempre esteve lá por mim, me ajudando e apoiando.

Como eu poderia ser tão idiota em frente a um espelho? Era apenas Richard!

Não... Era o meu amado Richard.

Respirei bem fundo e fui em direção ao banheiro para tomar um banho e me preparar para o encontro que decidiria o meu futuro amoroso. Durante o banho eu continuava a pensar sobre o que faria se ele negasse minha confissão – talvez fizesse como os avestruzes em desenhos animados, enterrar a cabeça na terra. Tentei espantar esses pensamentos e tratei de tomar o banho mais caprichado de todos, logo hidratando minha pele e me perfumando.

No quarto eu fui atrás de uma roupa confortável para um dia ensolarado e quente. Uma saia branca até o meio das coxas, uma blusa com listras diferentes em branco e azul de manguinhas coladas, um tênis todo branco. Penteei os cabelos molhados e terminei de colocar brincos, colar e relógio. De maquiagem eu apenas usei rímel e um gloss de morango. Estava quase perfeita, se a perfeição existisse.

Quando estava pronta, andei pela sala juntando as minhas coisas para por nos bolsos. Sou surpreendida pela campainha que me fez saltar de meus desvaneios. Parei por alguns segundos me questionando se havia recebido mensagem de alguém dizendo que viria me ver.

A campainha começou a ser pressionada cada vez mais rápida, e as batidas na porta apenas se intensificavam. Fui correndo abrir a porta para a pessoa que parecia estar desesperada. O que estava acontecendo?

— Pois nã-...? – Minha voz se perdeu no meio quando vi de quem se tratava.

— Vamos falar, Anders. – Toni Monetti apenas invadiu o meu apartamento e olhou ao redor com desgosto estampado na cara para que eu pudesse ver.

— O que você quer aqui? – Fechei a porta sem entender o que a faria vir atrás de mim. – Eu preciso sair, não tenho tempo.

— Me deixa adivinhar... – Uma risada falsa soou enquanto ela pronunciava descontrolando o tom das palavras entre alto e baixo. Seus olhos estavam com lágrimas. – Você pretende se encontrar com o Richard? – Abri minha boca e fechei.

— Não entendo o porquê devo te dar satisfações. – Disse desviando meu olhar para o chão. Não queria ser ríspida, apenas queria que fosse embora.

— Escuta aqui, Anders – Argenta levantou o dedo para meu rosto. Ela parecia muito furiosa – Eu AMO o Richard. Amo como você NUNCA será capaz de fazer. Ele é MEU!

— Ele não é um objeto. – A garota revirou os olhos marcados pela forte maquiagem preta.

— Sabe o que você é dele? NADA! – Ela estava descontrolada. – Richard compartilhou TUDO comigo. Seus segredos, medos, mágoas... Até a mesma cama! Coisa que você NUNCA terá. – Ela ria querendo chorar. – Ele não confia em você! Não te ama e nunca irá. EU sou a mulher dele. – Franzi o cenho.

— Richard não sente nada por você, Toni. – Eu disse com pena. – Ele pode ter te contado tudo, mas isso não torna nossa amizade mais insignificante do que aquela que vocês tiveram um dia.

— Com-...? – A interrompi.

— E daí que vocês já transaram? Eu não vou odiá-lo por isso, as pessoas fazem o que querem. Richard é meu melhor amigo. Não vai ser você a estragar isso.

— É o último aviso, Anders... – Ela se aproximou de mim feroz. – Afasta-se dele!

— Não, Toni. – Disse confiante, surpreendendo até a mim. Seus olhos aumentaram de tamanho. – Afaste-se você de nós dois. – Nem sequer parecia eu. Falava isso, mas meu coração parecia que ia saltar e sair correndo de medo.

Argenta apertou os olhos para mim enquanto bufava como um touro. Sinto que pularia em meu pescoço a qualquer instante. Para minha surpresa, ela apenas passou pela porta feito um furacão. Mas voltou para me humilhar mais um pouco.

— Ele nunca teria nada com uma freirinha como você, que não sabe fazer nada.

— Vá embora. – Pedi e ela sumiu.

Precisei de meia hora para poder engolir tudo o que havia acontecido na sala do meu apartamento. Toni Monetti – a Argenta— veio aqui e disse coisas desnecessárias e me mandou ficar longe de Richard? Não fazia sentido!

Após me recuperar, saí de casa determinada a falar com o meu melhor amigo que virou a minha paixão. Se desse errado, eu poderia enfiar minha cara no chão. Meu medo era da Argenta estar certa: ele não querer nada com uma garota como eu; virgem.

***

Quando cheguei ao prédio em uma parte afastada da cidade, subi os primeiros degraus e fui entrando no hall que não dispunha de porteiro. Segui para as escadas e em pouco tempo estava de frente ao seu apartamento. Respirei fundo e com coragem bati na porta algumas vezes.

Silêncio. Passos se aproximaram. Barulho de um molho de chaves batendo na porta enquanto girava.

— Kory?! – Richard ficou surpreso com a minha aparição repentina. Ele apenas vestia uma bermuda azul e um tênis usado para exercícios físicos.

— O-oi Richard. – Tentei manter meus olhos longe de sua barriga suada e sem cobertura nenhuma. Ele ficou a observar meu rosto por alguns constrangedores segundos, até despertar.

— Desculpa Kor. – Ele abriu espaço. – Entra.

— Obrigada. – Eu obedeci e adentrei na sala simples. Me lembro de ter vindo aqui uma vez, mas nem havia notado como eram as coisas.

— Eu não sabia que você ia vir aqui. – Ele fechou a porta e veio até mim.

— É que... – Tentei me concentrar para não esquecer o que queria. – Eu precisava conversar com você.

— Claro, mas – Richard parou quando olhou para a cozinha – você pode me dar uns minutinhos? – Assenti confusa.

— Claro. – Minha voz saiu tímida.

Richard passou por mim e foi até a cozinha e soltou uma risada abafada. Curiosa com os barulhinhos que seguiram o riso eu fui atrás e vi o moreno abaixado – próximo à pequena lavanderia— organizando algo com extremo cuidado. Tomei um susto quando me aproximei.

— Não me diga que são... – Ele sorriu caloroso.

Gatinhos. – Me ajoelhei ao seu lado.

— Como os encontrou? – Comecei a fazer carinho em um gatinho rajado.

— Estava correndo naquele parque que íamos e ouvi alguns miados fininhos. – Richard pegou um no colo e começou a dar um tipo de leite em uma seringa. – Foram deixados lá. Provavelmente para morrer.

— E você...? – Não acreditava no que ouvia.

— Não pude vê-los naquela situação, Kor. – Ele cuidava do gatinho como se fosse seu próprio filho. – São como crianças, precisam de cuidados. Precisam de amor. – Meus olhos se encheram de lágrimas quando eu o vi colocar o gatinho na caixa. Todos já estavam quase dormindo.

— Isso é adorável, Richard. – Ele me olhou confuso e eu o abracei.

— Kory, o que houve? – Ele alisava meus cabelos. – Porque está chorando?

— Eu pareço patética, não é? – Disse entre as lágrimas bobas e risos descontrolados. – Você é alguém tão bom, Richard. Carinhoso, amoroso, bondoso. Não é atoa que me apaixonei por você.

— K-kory? – Richard engasgou quando disse tudo que estava guardado em meu peito. Ele me afastou de leve. – Isso é sério? – Seu rosto estava vermelho nas bochechas, e seus olhos azuis tinham o dobro o tamanho.

— Sim. – Olhei para o chão. Estava tão envergonhada. Respirei fundo e o olhei no fundo dos olhos. – Eu estou apaixonada por você.

O moreno continuou a fazer silêncio. Ele me encarava e analisava todo o meu rosto procurando sinais de brincadeira ou qualquer outra coisa. Ele analisava minha feição, olhos, boca. Cada canto de mim. Mas era a pura verdade, então decidi continuar.

— Não sei exatamente como aconteceu, apenas sei que parei para pensar esses dias e vi. Vi que estou completamente apaixonada por você. Você sempre esteve lá para mim. – Ele ia falar algo, mas prossegui. – Não, não é gratidão. É realmente uma paixão.

— Kor-...

— Eu gosto de você, Richard. – Seu sorriso surgiu e eu fiquei congelada. Richard se aproximou aos poucos encostando nossas testas e fechando os olhos azuis. Meu coração falhou algumas batidas enquanto sentia que subia pela minha garganta.

Sorri e fechei meus olhos, enquanto ele procurava minhas mãos, que foram unidas as dele num apertar carinhoso. Ficamos quietos por breves segundos nessa mesma posição. Testas unidas, olhos fechados, sorrisos de felicidade e corações pulando de alegria.

- Eu também gosto de você, Kory...— Ele murmurou para que apenas nós pudéssemos ouvir.

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