Kiss Kiss

A ligação


Já era quarta-feira. Se passaram dois dias desde a partida dos nossos amigos para Gotham, e pelas mensagens que mandavam estava tudo mais do que ótimo. Eles ainda estavam cuidando das novas instalações do apartamento, arrumando o lugar e comprando os mantimentos da casa.

Michael nos contou que o maior problema até agora era sobre como os quatro iriam dividir os quartos do apartamento, que eram apenas dois. Ray dizia que queria dormir no mesmo quarto com o namorado, Mel e John insistiam que os quartos deveriam ser por sexo. Logo, Mel está tendo que dormir no sofá porque Ray a expulsou do quarto para juntar as duas camas para ela e Michael.

“Eu juro que vou matar essa vaca”. – Era o que ouvíamos Mel dizer nervosa pela casa.

No final das contas Ray ganhou a briga e o quarto ficou por casal mesmo. Ou seja, Ray conseguiu fazer John e Mel se assumirem um casal e ficar com o outro quarto. Sabe-se lá o que acontecia naqueles quartos. Eles também nos contaram que vez ou outra viam Ryan, irmão da Kory, saindo e entrando no prédio. Ele estava ótimo e parecia ser um bom menino, ficou bem feliz em ver os amigos da irmã, mas triste por ela não estar junto.

O curso de cada um começaria na semana seguinte, nas férias mesmo. Nesse inicio eram apenas três horas de aula, então não ocuparia muito tempo. Eles aproveitavam as férias para fazerem trabalhos mais elaborados com os alunos, já que, com o “volta às aulas” as coisas ficavam mais tensas.

Naquela noite eu e Kory estávamos conversando sobre coisas bobas enquanto fazíamos o jantar. Eu sabia que ela estava triste pela distância que estava dos amigos, então tentava convencer ela de irmos para Gotham também. Eu poderia conversar com o meu pai, eu havia sido um bom menino, então, ao menos as coisas da escola ele poderia resolver para mim. Eu poderia trabalhar e arrumar um lugar para ficar em Gotham sem problemas algum. Já Kory ficaria com o irmão, como sempre quis.

O telefone tocou de repente, nos tirando da conversa agradável e dos risos. Soltei as batatas na tábua e fui lavar minhas mãos.

— Eu atendo. – Avisei e Kory continuou a mexer na panela do molho. Segui até a parede que separava cozinha da sala e peguei o telefone fixado na parede. – Alô?

“Dick? Sou eu”.— A voz do outro lado me pegou de surpresa.

— Pai?! Que surpresa. – Kory me olhou e dei de ombros. – Aconteceu alguma coisa para você estar me ligando assim?

“Aah, não. Não”. – Ele riu. – “É que eu tenho uma boa notícia para você”.

— Boa notícia? – Estranho o fato. – E qual é? – Nesse momento, Kory já havia desligado o fogo se apoiou com os cotovelos na bancada entre nós.

“Eu tenho percebido pelas suas notas e comportamento que você cresceu muito e amadureceu. Por isso”— meu pai fazia suspense – “vou permitir que volte para Gotham. Arrume suas malas, você pega o primeiro ônibus amanhã”. – Gelei com a notícia.

— Voltar? – Minha voz denunciava o meu desconforto. – Agora?

“Sim. O mais rápido possível”. – Ele dizia animado, enquanto Kory me olhava assustada.

— Olha. Pai... – Eu esfreguei meu rosto com a mão livre. – Voltar para Gotham sempre foi tudo o que eu mais quis. Mas agora – suspirei pesado – eu tenho uma namorada aqui. Não posso deixá-la sozinha. Sem ela eu não vou a lugar algum.

“Dick...?”— Ele parecia surpreso com minha escolha.

— Principalmente agora. Os nossos amigos estão todos em Gotham e ela vai acabar sozinha se eu me for, além de me odiar porque vou ser um super babaca por abandonar ela.

“Tudo isso por uma garota?”

— Sim. Pela minha garota. – Disse sorrindo enquanto olhava para Kory. – Eu não vou a lugar algum sem ela.

“Entendo.”

— Eu te amo, pai. – Ouvi o meu pai engasgar do outro lado da linha. Obviamente, estava surpreso.

“Eu também te amo, filho.”

— Prometo que irei visitar vocês com a Kory.

“Por que não trás a sua namorada com você?”

— Sinceramente, pai – suspirei enquanto sorria – estou tentando. Mas ela é tão teimosa e eu adoro isso. – Ele riu.

“Posso falar com a sua namorada?”

— Ah. Claro, pai. – Fiquei meio sem entender o porquê disso e estendi o telefone para Kory. – Meu pai quer falar com você.

— Comigo? – Seus lindos orbes esmeraldas aumentaram de tamanho e, com sua mão trêmula, pegou o telefone. – A-alô? S-senhor Wayne, que pr-azer. – Enquanto Kory falava com o meu pai eu voltei a fazer o jantar. – Ah, claro. Estou cuidando bem dele. – Sorri já imaginando do que se tratava.

Meu pai continuou a falar com Kory e ela ainda parecia nervosa. Principalmente quando disse: Certo. Só de Bruce.

— Ah, Sen-. Bruce. Eu tenho um irmão em Gotham e nossos amigos estão em escolas técnicas aí na cidade também. – Observei Kory ouvir meu pai atentamente. – Eu não sei, senh-. Bruce. Eu não tenho certeza se deveria. – Ela ficou surpresa com mais algumas palavras ditas por meu pai. – Isso não seria pedir demais ou abusar de sua gentileza, senhor Wayne? – Ela deu uma risada tímida. – Ah, sim. Claro. Me desculpe. – Mais uns instantes e ela parecia tentada a algo. – Certo. Eu vou falar com Richard e nós te damos uma resposta o mais cedo possível.

Ela se despediu e agradeceu meu pai mais uma vez, desligando o telefone. Kory apoiou os cotovelos na bancada e mordeu o lábio, pensativa. Algo a estava incomodando.

— Acha que seria uma boa ideia irmos para Gotham? – Sorri. Não sei o que disse para ela, pai. Mas, obrigado.

Depois de uma noite toda de conversa e reflexão, Kory finalmente cedeu ao seu maior desejo negado. Ficamos horas falando sobre ir para Gotham, e ela parecia muito afim disso, apenas negava. Liguei para o meu pai no dia seguinte e disse a ele que iríamos a Gotham.

Tanto a mudança quanto à necessidade dos documentos nos deu trabalho. Tivemos que empacotar muitas coisas pessoais e dar um jeito de vender outras. Acabamos fazendo uma venda de “garagem” e nos livramos do que não era necessário para nós.

Kory ligou para o irmão, contando a novidade e eu avisei ao meu pai que estaria até sábado lá. Devido ao trabalhão da nova mudança, o tempo voou. A melhor parte foi pegar os documentos escolares de transferência e poder agradecer por nunca mais olhar na cara do Diretor Wilson. Se bem que, desde que conheci Kory nunca mais voltei a vê-lo com tanta frequência.

Sábado finalmente chegou e foi complicado entregar o meu velho computador, limpo, para um garoto do prédio. Foi mais difícil ainda ter que retirar as fotos da minha parede sem me lembrar de cada lágrima, raiva e grito que eu dei quando fui mandado para cá e não pude mais ter contato com meus amigos.

Fico feliz por ter amadurecido tanto, senão ainda seria aquele babaca e não teria conhecido o amor da minha vida. Kory. E, agora, estava voltando para casa, totalmente renovado.

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