Kiss

Todo Dia


— Seu idiota! Podíamos ter sido apenas nós. - Crowley esbravejou.

Aziraphale não aguentou olhar em seu rosto naquele momento, virando a cara para a parede, talvez olhando para ela suas lágrimas ficassem onde estavam, eu seus olhos.

Ele mal teve tempo para reagir antes de ouvir os passos do demônio se aproximando e agarrando seu colarinho, ele seria colocado contra a parede novamente? Se fosse, pelo menos sentiria o amigo perto mais uma vez antes de se separarem.

Pensou em chamar por Crowley quando seus lábios se tocaram, Aziraphale sequer sabia se aquilo podia se chamar de beijo, os lábios pequenos e tensos do amigo contra os seus naquela proximidade, apenas sentia sua respiração desesperada e as mãos puxando sua roupa tão bem cuidada por séculos. Naquele momento o anjo quase se esqueceu de seus deveres e suas escolhas, abraçou Crowley, que abriu os lábios, passando a língua pela boca do anjo, que como um reflexo mordeu o demônio, o empurrando, sem ar, assustado, os olhos arregalados, o coração batendo rápido, as mãos tremendo, e sua boca, ah sua boca, formigando e molhada por Crowley.

O demônio encarou o amigo tensamente, os óculos dificultando qualquer vislumbre de seu olhar, mas as sobrancelhas se arquearam e ele baixou os braços, encarando Aziraphale como se esperasse algo, alguma palavra, alguma ação. A boca de Crowley sangrava levemente, ele levou a mão fraca até o filete de sangue, o limpando e olhando aquele vestígio do que podia ser uma fraqueza, e antes que o anjo falasse qualquer coisa, o demônio levou o dedo sujo aos lábios, lambendo e olhando para Aziraphale.

O anjo estremeceu dos pés a cabeça, chegou mais perto do amigo, o encarou, e o demônio não resistiu, aproximando-se novamente, dessa vez com mais calma, para um verdadeiro beijo, grudou os lábios com os do anjo, que suspirou sem fôlego, seu corpo que pouco havia se recuperado do primeiro choque foi impactado novamente pelo calor dos infernos de Crowley, mas dessa vez não o empurrou. As lágrimas que deveriam ficar em seus olhos desceram pelo rosto frio, o fazendo fechar os olhos e abrir os lábios em busca de uma golfada de ar.

Crowley tremeu desta vez, enfiando a língua na boca do anjo, com fome, não se lembrava de alguma vez ter sentido algum tipo de vontade maior que aquela, ele precisava dor ar de Aziraphale, precisava de seu frio, da maciez de sua boa, ah, e aquela língua, Crowley nunca foi tão pecador. Havia sim imaginado um beijo do amigo, mas nenhum sonho, nenhum desejo jamais se comparariam com o ato em si, com as mãos do anjo hesitantemente o envolvendo nas costas, uma delas tocando levemente seus cabelos, e aquele toque poderia ter feito Crowley queimar aquela livraria inteira, sua língua tocava a de Aziraphale sem controle, ele queria poder saborear aquele momento, mas não conseguia, ele precisava do anjo.

Aziraphale estava caindo, se não fosse para o inferno naquele momento, nunca mais iria, nunca cometeu pecado maior, ele sentiu, claro, o corpo de Crowley queimar quando tocou seu cabelo, um cabelo macio sob seus dedos, o corpo do demônio grudou no seu, e o anjo bambeou, afastado o rosto daquele pecado, mas o amigo não o soltou, passando aqueles lábios para seu pescoço, Aziraphale teve de se segurar com todas as formas na roupa do demônio para não cair de vez, ele nunca havia sentido aquilo, nunca, em milênios de existência, seu corpo nunca tremeu tanto, nunca ficou tão rígido e tão mole ao mesmo tempo, sua nuca se arrepiava e sua pele esquentava.

O anjo não aguentou, quando sentiu os dentes de Crowley contra sua pele, ele sabia que foi para o inferno, naquele momento, empurrou o amigo, ofegante, os óculos, antes em seu rosto, agora jaziam no chão, quebrados, os olhos amarelos de Crowley o encaravam fixamente, o ar estava quente, Aziraphale podia jurar que subia fumaça ao redor do demônio.

Após vários segundos dos amigos se encarando, Crowley conseguiu se recompor o suficiente para respirar fundo e pedir uma última vez. - Por favor... Anjo.

Aziraphale gaguejou, mordeu os lábios inchados e encarou uma última vez o demônio. - Eu te perdoo.

Era como levar um tapa na cara, Crowley recolheu seu óculos do chão, antes de se virar para a porta e ir embora, com um singelo. - Não é necessário...

Aziraphale viu seu amigo, seu demônio partir, e o que podia chamar de coração se apertou em seu peito, o fazendo ficar sem ar, e alguma lágrima ousar cair, antes do Metraton entrar pela porta, o perguntando se estava pronto para ir, lhe dizer da forma mais indiferente que sua loja ficaria com um anjo novo e selar seu destino.

Ele sabia que iria se arrepender, mas não podia, simplesmente não podia abandonar a Terra. Não ainda. Era seu lugar. Era o lugar de Crowley.

Com esse pensamento partiu para o elevador do céu.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.