Kiku to Higanbana

Comportamento impulsivo


— Ai, essa doeu! – Shun exclamou só por observar Ikari cair com força no chão. – Tudo bem aí, saco de pancadas?

Ele trajava jeans rasgados, uma blusa branca com uns ideogramas difíceis de entender e uma camisa quadriculada com as mangas dobradas por cima. Deitado de lado, ele parecia apreciar a situação de seu amigo.

— Eu tô legal... – Ikari suspirou. Ele fora arremessado de cabeça pra baixo, caindo com a parte superior das costas enquanto o resto do corpo o acompanhava. – Eu acho que você devia entrar na fila, Shun...

— Nah, eu passo! – Ele acenou enquanto mostrava um sorriso debochado. – Ver você apanhando é bem mais atrativo!

— Engraçado você, ein? – Ikari reclamou, já de pé, limpando sua calça. Ele vestia-se com seu tradicional uniforme de treino: a camisa vermelha estampada com um dragão dourado e calças pretas. Seu cabelo dessa vez estava apenas preso por um elástico, caindo à frente de seu ombro esquerdo.

— Você chegou bem perto, deu pra ver seu golpe quase acertando! – Ene exclamou, imitando um boxeador. Ela vestia-se com calças amarelas de corrida e uma blusa preta básica, como se também estivesse pronta para treinar, ao contrário de Shun. Os longos fios de cabelo róseo em rabo de cavalo balançavam com sua movimentação animada.

— Ela está certa, foi uma boa tentativa. Por que não se levanta e tenta mais uma vez, Ikari-chan? – Lin se aproximou e estendeu a mão com palavras gentis. Ela vestia-se com uma calça igual à de Ikari, mas sua blusa de treino era azul, com carpas prateadas espelhando uma à outra nas costas.

Por algum motivo, atrás de si, o rapaz sentiu o amigo babando pela sua irmã, mas tentou afastar esse pensamento. A outra expectadora parecia torcer por ele, o que de certa forma lhe dava forças.

Esta se tornou uma manhã de sábado bem agitada quando ambos os seus amigos de infância decidiram fazer uma visita surpresa ao mesmo tempo. Era de certa forma divertido e motivador, apesar de ele só ter apanhado até o presente momento.

— Hya! – Ikari exclamou, retomando o ataque em uma sequência de socos que faziam um som agudo pelo ar, mas Lin esgrimava com as palmas abertas por entre eles como uma mestra de Wing Chun. Ele saltou e lançou-lhe um chute giratório por trás, mas ela passou por baixo e moveu sua perna de forma que perdeu o equilíbrio enquanto descia, caindo mais uma vez.

— Hm, esta foi mais previsível. Temos de trabalhar mais com a conexão entre golpes. – Ela comentou, refazendo o coque em seu cabelo cor de noite. – E seu jogo de mãos tem ficado desleixado também. Bem, por hoje...

— Mais uma! – O rapaz exclamou, de joelhos, com seus olhos verdes brilhando com a concentração. Lin permaneceu calada, esperando que ele continuasse. – Só mais uma! Eu tô começando a pegar o ritmo!

Os olhos de Ene também brilharam, e até Shun se endireitou para observar. Dava pra sentir que agora ele estava sério.

— Só mais uma, irmãozinho. E você limpa o tatame antes dos alunos chegarem. – Ela concordou com um sorriso condescendente.

— Ah, então vocês realmente dão aulas por aqui. – Ene comentou enquanto acomodava melhor a perna engessada.

— É, algumas crianças e adolescentes do bairro vem de vez em quando. Acho que ela dá aula de Tai Chi pros velhos também... – Shun respondeu com sonolência.

Lin adotou uma postura mais baixa, apoiando-se na perna traseira e deixando a dianteira mais solta. Sua mãos espalmadas com gentileza chegaram à posição, com a esquerda para a frente e na vertical e a direita um pouco atrás e na horizontal.

— Quando estiver pronto. – A mais velha complementou.

Ele avançou, lançando um longo soco com a direita que foi defletido para o lado no meio do caminho. Aproveitando o movimento ele girou e tentou acertar uma cotovelada com a esquerda, mas Lin desviou com a cabeça para trás. Tentando pegá-la ainda no mesmo movimento ele saltou e chutou por trás, quase a acertando.

Sem desistir, ele emendou uma sequência de chutes baixos, alternando as pernas, depois dois chutes frontais sequenciais no ar. Pressionou com um golpe rápido usando as costas da mão e seguiu com uma sequência de ganchos, todos facilmente desviados ou esquivados. Ela não demonstrou-se abalada em momento algum, como se estivesse brincando.

Uma oportunidade surgiu, ele colou seu ombro nela, pôs uma de suas pernas na frente, agarrou sua roupa e a girou em uma tentativa de derrubada. Em um movimento impensável ela agarrou a blusa de Ikari em dois pontos diferentes, aproveitou o impulso para completar o giro e arremessou o rapaz à frente. Quando caiu, porém, ele rolou e se recuperou no mesmo instante.

— Foi uma boa técnica, mas lembre-se de quem te ensinou o Shuai Jiao da Víbora. Acabamos por hoje. – Ela relaxou a guarda e concluiu.

Ikari não deu ouvidos e avançou mais uma vez, inconscientemente usa um pouco de seu Reiki para aumentar o impulso. Com o susto, Lin assumiu novamente sua postura, pisou com força no chão e, com as mãos espalmadas na altura da cintura, acertou a barriga de Ikari, como se o empurrasse. Dessa vez ele caiu para trás imóvel e sem ar.

— Tá vendo, isso é o que acontece quando você não me dá ouvidos! – Ela lhe deu um carão, mas sem perder sua expressão gentil – Agora limpe o dojô, daqui a pouco termos o treino normal!

Shun observava com um sorriso irritante na cara, enquanto Ene pareceu desapontada com Ikari e impressionada com Lin.

— Sim senhora... – Ikari soltou. Ele estava estatelado no chão, derrotado.

**********

Ainda naquele dia, perto do por do Sol, Ikari e Ene haviam recebido uma missão de vigia na região Sul de Taiyin. Ele andou em silêncio por um tempo, olhando ao seu redor. Certamente por ali estavam residências mais abastadas, com muros altos, grandes jardins e residências no melhor estilo tradicional japonês.

Aproveitando-se do treino de mais cedo, ele já saíra com sua roupa de artista marcial, mas agora, andando junto da outra, se perguntava o quão mal estaria cheirando naquele momento.

Ao seu lado, a garota caminhava com sua roupa padrão, o Quimono de miko com listras de tigre, a saia preta, o sino no cabelo que tilintavam em consonância com seu andar. O jovem percebeu mais cedo, mas achou melhor não comentar: por baixo da longa meia que cobria a perna direita, Ene estava cheia de ofudas colados que faziam o mesmo efeito de um gesso. Apesar de estar se curando rápido, seu mancar mostrava que ainda não o bastante para a missão do dia.

— Não fica assim, você quase conseguiu! – Ene disse, tentando levantar o astral de Ikari.

— Hã?

— A luta mais cedo contra a Anegô! Foi bem intensa, parecia um filme de Kung Fu! – A jovem disse, movendo exageradamente os braços de forma que certamente não parecia uma arte marcial de verdade.

— Ah... Na verdade ela nem ficou séria... Bem, talvez no final. De qualquer forma eu já tô nessa há anos, eu nunca consegui encostar nela, mesmo que eu treinasse para ficar mais forte ou rápido... Tem a ver com nosso estilo de luta...

Enquanto divagava, o rapaz escorou-se em uma parede de madeira. Às suas costas estava a mansão que deveriam proteger. Após observar a rua vazia, suspirou e continuou com sua linha de raciocínio.

— Sabe, esses dias a Anegô tava treinando comigo e me falou um pouco mais da história do Punho do Crisântemo... Digo, da verdadeira história... “Uma arte marcial exorcista”, foi criada por monges taoístas para combater demônios... Quando o taoísmo se difundiu para o Japão, praticantes do Onmyoudo acabaram incorporando suas técnicas também, apesar de estarem praticamente extintos hoje. Acho que nosso dojô é o último. Ela ensina pra pessoas normais, mas não é mais usada entre os onmyouji...

— Mas... O que tem a ver com você apanhar?

A palavra apanhar o espetou como um ferrão.

Ikari se abaixou e, com o dedo, começou a desenhar na areia. Logo, havia desenhado uma circunferência circunscrita à uma estrela de cinco pontas. Depois ele desenhou círculos menores na ponta de cada estrela, compondo o gobosei.

— O objetivo principal do punho do crisântemo era criar uma forma para que qualquer tipo de Reiki pudesse ser usado em combate corpo a corpo. O Sanshou da Vespa no fogo... – Depois começou a seguir a ordem em sentido horário, um por um. – O Shuai Jiao da Víbora na terra, O Kenpo da Garça no metal, o Tai Chi da Carpa na água e a Luta Armada do Macaco no madeira. Apesar de ele ter incorporado diversas outras técnicas dentro dos cinco subestilos, tipo o Jeet Kune Do que eu uso junto do meu Sanshou, ou o Aikidô que a Anegô usa com o Tai Chi, esses são os básicos. É muito mais fácil aprender o estilo do seu Reiki, mesmo que você não saiba disso... E isso explica porque eu consigo aprender bem o Shuai Jiao, já que pelo gobosei o fogo cria a terra... Mas isso também significa que eu tenho uma desvantagem natural contra a água... – Ele finalizou, mostrando a linha de destruição que liga da água pro fogo.

— Hm, o mesmo acontece com encantamentos no Onmyoudo... – Ene se agachou, mas no mesmo momento sentiu uma dor perfurante lhe subir a perna. Se não fosse a lança em uma mão e o ombro de Ikari do outro para se apoiar, ela teria caído. – D-desculpe... – Ela gaguejou.

— Não, tudo bem... – Ikari também gaguejou.

Em silêncio, ele olhou mais uma vez para o pé de sua amiga enquanto se lembrava das palavras de sua mestra.

**********

Mais cedo naquele dia, todos se reuniam no escritório de Hijimi Makoto. Essa era a primeira vez que a viam com tanta seriedade, talvez porquê ela parecia totalmente equipada para uma luta.

Ela uma bermuda estranha, com um elástico prendendo na borda inferior, e uma camisa regata, semelhante à quando treina com Ikari, mas complementando o visual ela estava equipada com o que parecia pedaços de armadura. As peças lisas de um metal negro e fosco cobriam-lhe os punhos, cotovelos, joelhos e pés.

Ikari engoliu em seco. Isso lhe trazia um ar de preocupação no ar quanto ao que estava para acontecer.

— Escutem bem. – Ela começou – Talvez vocês já tenham ouvido um pouco sobre o que vou falar, mas não custa nada reforçar. Yasu?

Kusame Yasunori, o segundo em comando, estava a seu lado de forma que também parecia preparado para um combate. Suas vestes pareciam-se mais com as tradicionais de um onmyouji, com uma calça longa de padrões de amarelo e castanho e um kimono laranja escuro, mas sem a túnica de mangas largas que atrapalharia sua movimentação.

— Sim. – Seu tom normalmente calmo demonstrava preocupação - Atualmente Quioto tem enfrentado duas situações que em muito preocupam a liderança do Clã Abe, bem como a outras casas. Temos um Yato-no-kami e dois Oni Verdadeiros atacando nossos Onmyouji. Isso já tem sido discutido semanalmente entre os líderes dos ramos e das casas, mas finalmente chegamos a uma conclusão de como lidar com eles.

Seus olhos, normalmente quase fechados, se abriram com pesar enquanto ele olhava para cada um dos presentes: Kenji, Umeko, Ene e Ikari. Mizudori, a pequena servente tsukumogami, se encolheu atrás de Umeko neste momento. Quando percebeu que todos estavam realmente focados, continuou:

— Isso é um assunto muito sério. Eu não acho que vocês estão totalmente preparados para isso, mas precisamos de todas as forças que pudermos arranjar. Não sabemos qual sua verdadeira aparência, mas dizem que Yato-no-Kami lembram serpentes. Eles são criaturas irracionais, que trazem o extermínio para qualquer um que os veem. Oni são mais racionais, mas nem por isso menos perigosos.

— Temos poucos relatos de sobreviventes aos ataques dos Oni, e eles estão bem incompletos. – Continuou Makoto demonstrando concordância com a cabeça – Sabemos que são dois e referem-se um ao outro como irmão e irmã. Ninguém sobreviveu ao ataque da “irmã”, mas sabemos o bastante do “irmão” para fazer busca nos lugares mais prováveis. Já para o Yato... Até onde sabemos ele não foi responsável por muitas mortes, e algumas das que ocorreram especula-se que a Oni foi responsável... De qualquer forma, sabemos que ele está buscando espadas amaldiçoadas. Ene, Ikari e Kenji, vocês irão participar da operação contra o Yato. Yasu, Umeko e eu iremos auxiliar na caça aos Oni. Agora irei passar os detalhes da missão...

**********

— Umeko, por ali está bom. – Disse Makoto apontando para o esqueleto do que viria a ser um prédio.

Makoto, Yasunori e Umeko estavam em Taiyang, no telhado de uma escola no subúrbio norte de Quioto. Era uma região bem pacata, com muitas casas e edifícios que não passavam dos dois ou três andares. As construções que mais chamavam a atenção, pelo tamanho relativo, eram justamente a escola onde estavam e o edifício em construção há cerca de duas quadras.

Tsutsuji Umeko estava nervosa. A respiração profunda e irregular denotavam isso, bem como o suor que lhe escorria pelo pescoço. Ela botou a mão no peito para sentir as batidas de seu coração, mas isso a deixou ainda mais agitada. De certo que ela já estivera em alguma missões, mas nada que poderia ser considerado tão perigoso quanto a operação deste dia.

Yasunori tocou gentilmente sua mão nas costas da garota ao mesmo tempo em que Makoto apoiou sua mão em um de seus ombros.

— Vai ficar tudo bem, Tsutsuji-san. – Ele disse.

— Você só precisa nos ajudar a localizá-lo. – A outra complementou.

Isso a ajudou. Ela inspirou fundo e se focou.

Seu cabelo roxo-claro estava preso em um rabo de cavalo para a direita e jogado para atrás de seus ombros. Vestia-se também com uma roupa mais apropriada para batalha: Uma blusa roxa de tonalidade mais escura com diversos bordados de flores em um tom que se tornavam menos perceptíveis conforme o sol descia. Ela também estava com shorts curtos cor de vinho e botas cinzas que lhe chegavam à metade da canela. Ela também calçava luvas desta mesma cor em ambas as mãos.

Sim, apesar de estar trajada para um confronto, ela não estava ali para lutar.

Ela desprendeu um arco sem corda de suas costas. Ele era longo e assimétrico, como os utilizados no Kyudo, e parecia ser feito com uma madeira violeta bem polida e brilhante.

Seu dever naquele dia era ajudar com o reconhecimento.

“Pelos poucos relatos que temos, os Oni são vistos pelos subúrbios da cidade a partir do anoitecer, e pra eles é indiferente atacar em Taiyin e Taiyang.”, ela se lembrou das palavras de sua líder durante a reunião, “Por isso precisamos de tanta gente, os arredores de Quito não são pequenos, e procurar em dois mundos não torna isso mais fácil...”

“Não dá pra simplesmente sentir o Reiki?”, ela lembrou de ter questionado.

“Usar Reiki pra encontrar humanos é uma coisa... Oni usam energia amaldiçoada, não conseguimos estabelecer uma conexão com eles para sentir assim tão facilmente...”

Ela fechou os olhos e traçou uma linha ligando de uma ponta à outra do arco. Segurando-o com a mão esquerda, sua mão direita deslizou com leveza e agilidade, como se estivesse tecendo. Um fio de costura arroxeado se formou onde deveria estar a corda do arco no momento em que ela parou. Ela observou, puxou a corda duas vezes para testar a tensão, arrumou o cabelo para que não a atrapalhasse.

“É para isso que precisam de mim”, ela disse a si mesma em um pensamento determinado.

Ela sentiu Reiki fluir dentro de si e para fora, saindo dos seus pés para cima como uma cachoeira invertida. Inspirou profundamente e retesou o arco com calma, mirando na obra. A cada centímetro que a corda de energia era puxada, uma flecha era tecida, como se milhares de fios se amontoassem e pouco a pouco chegassem à forma final.

Um nó, um novelo, uma cama-de-gato. Peço que qualquer distúrbio no meu tecido seja sentido, kyu-kyu nyo ritsu ryo! — E atirou – Floresta de fios!

A flecha de fios explodiu silenciosamente ao tocar no prédio, e ao invés de destruí-lo, se espalhou por ele de forma quase invisível. Do dedos que originaram a técnica, fios estavam ligados. Ela se agachou, os entrelaçou em seus dedos e fechou os olhos para se concentrar.

Um minuto se passou.

Dois.

Três.

— Nada ainda, Umeko? – Makoto perguntou, já impaciente.

— Nada. Se algum akuma tivesse tocado os fios eu teria... Não, ele está lá.

— Só dizer onde. – A mais velha chocou os punhos e começou a se alongar.

— Só senti um deles, terceiro andar, ao sul.

— Entendido. Yasu, eu vou na frente! – E a líder saltou na frente, impaciente, com seus olhos em chamas.

Seu companheiro não pareceu estranhar sua atitude. Com calma, ele virou-se para a mais jovem e disse:

— Você fez bem, Tsutsuji-san. Nós assumimos daqui, vá para casa antes que seja perigoso.

— Ah... – mas antes que ela pudesse dizer qualquer coisa ele já desaparecera em um tornado de folhas.

“Isso está certo, não é?”, pensou consigo mesma, “É tudo o que eu podia fazer, não é?”

**********

— Tá tudo bem, Ikari. Sério, não precisa me tratar assim! Olha, eu consigo me mover! – Ene tentou se soltar do apoio, mas foi perceptível que a dor passou novamente subindo desde a sola até acima do joelho.

— Ene, se você realmente não tava bem o bastante, era só falar com a Hijimi-sensei. Tenho certeza de que ela entenderia e...

— Não! Ela ia me deixar de fora da missão! Você a ouviu, ela está precisando de todo mundo disponível!

— É, essa é a ideia! – Ele exclamou de volta – E se você se machucar mais ainda por não conseguir se mover... Ou pior...

Ela contorceu o rosto. Não de dor, mas pelo incômodo das palavras de Ikari.

— Bem, se for preciso eu posso te proteger! Modéstia a parte, acho que tenho evoluído bem ultimamente!

Ela fez uma cara azeda e disse, em sussurro:

— E meu orgulho, como fica?

O garoto não conseguiu escutar, mas, desconfortável, decidiu não perguntar mais.

Ele olhou para as ruas desertas enquanto se lembrava dos detalhes da missão:

“O Yato parecia em busca de uma espada amaldiçoada. Não temos os detalhes, mas parecia que qualquer pista que levasse a uma era boa o bastante. Assim, há cerca de três dias começamos a espalhar botados de que os Hakubu possuem uma espada amaldiçoada em sua possessão na mansão particular do atual líder, Hakubu Yokuma. A ideia é ficar de guarda até que ele apareça. Parece fácil, mas evitem um confronto direto. Pode ser letal.”

Ele suspirou.

— Ene, parece que vamos ficar um bom tempo por aqui, se quiser sentar...

Ele tinha boas intenções, mas fora bruscamente interrompido por Ene.

— Ikari, tá bom! Eu consigo fazer o meu serviço! Eu não sou um peso morto, não me trate assim...

— É... Tá... Eu não fiz por... – Ele pareceu notar algo por cima de um dos muros enquanto terminava sua frase. – Mal...

As últimas palavras já saíram sem o seu foco, pois algo mais importante havia aparecido. Ene também pareceu perceber e se virou para onde seu amigo olhava. Lá estava ele...

— O yatogami... é ele? – Ene questionou.

Hachido Arato, o garoto com quem Ikari se encontrou por acaso duas vezes nas últimas semanas estava lá, os observando com um olhar vidrado, se esgueirando, lutando contra o instinto de pegar na espada. Uma, duas, três vezes, ele precisou se segurar com a mão livre para não sacar a arma na frente de ambos.

— Hachido-kun... – Ikari soltou.

Ene pareceu se preparar para lutar, mas sentiu mais uma fisgada que lhe desarrumou a postura. Aproveitando esse momento, Arato pulou pelos muros e entrou na mansão como um vulto.

— Merda. – O garoto reclamou e partiu atrás do invasor impulsivamente.

— Ikari, espera! – Ene gritou.

— Não, eu vou resolver isso! – Ikari exclamou enquanto buscava distância para saltar – Chame reforços!

E dito isso ele concentrou o Reiki em sua perna e começou a persegui-lo.

**********

Como se aguardasse a presença de sua desafiante, Aoba, o Oni, observava o bairro de uma janela enquanto seu sobretudo balançava ao vento. Ele passou a mão para arrumar seu cabelo para trás, se desfazendo logo que se virou para encarar sua oponente.

— Ora, você me parece bem mais apetitosa do que os últimos que enfrentei.

Makoto não sorriu. Ela apenas pegou dois ofudas e se pôs em postura de luta.

— Eu vou fazer carne moída de você.

— Não precisa de tanta seriedade, ambos podemos aproveitar isso. – O Oni abriu um sorriso sinistro com seus dentes pontiagudos. – Digo, a emoção da caçada.

**********

— E aí... Você corre bem rápido... – Ikari disse ofegante, encurralando Arato em bosque dentro da propriedade Hakubu.

As árvores ao seu redor exibiam um estranho brilho lúgubre com os últimos raios de rol que ainda as alcançavam. Era uma mata aberta o bastante para que se movesse com liberdade, mas fechada o bastante para que ninguém visse a luta com facilidade.

Arato permaneceu em silêncio. Ele apenas limpo um fio de saliva que lhe escorria pelo canto da boca e levou a mão direita à cintura. Dessa vez, como que houvesse decidido não se reprimir mais, ele sacou sua katana de uma vez.

— Eu vim aqui me resolver contigo. – Ikari disse sério enquanto enrolava as mangas de sua blusa e levantava a franja. – Sem enrolação.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.