Capítulo XII – O Ataque das Najas.

— - Clair - -

O sol nascia timidamente no horizonte, lançando seus raios sobre a imensa montanha de pedra conhecida como Red Line, os pássaros arrulhavam e grasnavam em meio a seus voos matutinos, o mar encontrava-se calmo e o os ventos não estavam fortes, só o suficiente para não deixar o clima abafado, o dia começara a nascer, mas já havia confusão no convés.

O comandante Joseph ainda não havia saído de sua reunião, o que deixava os tripulantes relativamente sossegados e, ao mesmo tempo, inquietos, essas eram as horas de diversão que tínhamos e eles escolheram passar elas da forma que mais gostavam: assistindo e apostando em lutas. Apesar da nossa divisão ser conhecida dentro do Bando das Dez Mil Mãos como a mais forte, não somos o que pode ser chamado de unidos.

Diferente dos outros esquadrões, nossa hierarquia de comando não se caracteriza por um comandante dando cargos, simplesmente é uma escada de força. Com exceção do comandante, que só pode ser retirado ou substituído com ordens do capitão da frota, todos devem lutar contra a pessoa que tem maior cargo se quiser crescer em respeito na tripulação; ou seja, se você quer se tornar o imediato e braço direito do comandante, você deve ser o mais forte e derrotar todos os outros tripulantes em um mano a mano, quanto maior o cargo que almeja, mais desafiador será e, por ser a vice imediata, naturalmente sou a segunda pessoa com maior influência na tripulação, atrás apenas do imediato... Não vou nem falar o nome desse desgraçado que pode ser que eu fique furiosa e acabe matando alguém.

Os subordinados rodeavam-nos por todos os lados, gritando e apostando em quem acham que se sairia vitorioso do combate, posso escutar alguns murmúrios dizendo que as apostas estavam a favor de mim, mas que o comandante da infantaria, vulgo meu adversário, também não estava muito atrás. Nos últimos dias ouvi boatos de que ele estava treinando muito, logo não foi surpresa alguma quando ele chegou para mim e me desafiou, afinal, esse é o tipo de pessoa que Tracey, mais conhecido como a Víbora Púrpura, é. Ambicioso e obstinado. Se ele quer algo, ele vai atrás até conseguir, e agora ele quer meu cargo.

Ponho a mão por sobre o ombro, estalando os ossos dali enquanto me aquecia, à minha frente estava Tracey. Ele usava sapatos sociais perfeitamente polidos, calças e camisa negras por debaixo de um paletó sem gravata, existe algo em seus orbes púrpuras que sempre me incomodou e esse algo é o brilho predatório que eles sempre demonstram, como se todos fossem apenas presas que ele observa cautelosamente até realizar seu bote, o que lhe rendeu sua alcunha. Seus cabelos negros levemente arroxeados chegavam-lhe até a nuca, raspados no lado direito da cabeça, uma franja cobria-lhe o olho esquerdo, chegando até a bochecha, um pequeno brinco prendia-se à sua orelha direita. Suas mãos enluvadas seguravam seu chicote e seu sorriso debochado mostrava-se confiante.

— Preparada, Clair? Não pense que irei pegar leve só por que você parece uma fedelha anêmica. – A víbora zomba, arrancando gritos de empolgação da plateia.

— Pelo menos eu não tenho que ficar lambendo os sapatos de meus superiores até ter coragem suficiente para enfrentá-los igual você, sua biscate. – A gritaria já se transformava em uma ovação indiscriminada a essa altura, Tracey apenas sorri.

— Não por muito tempo, Clair. – seu sorriso zombeteiro ainda mais. – Aliás, pensei que você fosse muito melhor no que se trata de insultar os outros.

— Piranha. – respondo imediatamente e ele apenas parecia se divertir.

— Isso é um elogio. – retruca ele.

— Cachorra.

— Você só sabe usar animais como xingamentos? Que falta de criatividade. – zombava ele.

— Hétero. – de repente suas feições se enrijecem e o silêncio toma conta, desta vez Tracey parecia furioso.

— Agora pegou pesado, vou acabar com você. – sorrio de canto, sacando e girando uma de minhas garruchas em meus dedos.

— Pode vir.

Um silêncio sepulcral se instala no convés, o vento parecia recusar-se a se mover e um pelicano solitário batia suas asas até alcançar a proa do navio, onde pousa e, quando suas garras tocam o chão, dá-se início a luta.

Giro a garrucha uma última vez e realizo um disparo mirando o maxilar de Tracey enquanto me movo para a esquerda, a Víbora Púrpura brande rapidamente seu chicote, estalando-o no chão antes de rotacionar seu corpo, posso ver seu chicote, apenas com a velocidade do movimento, partir minha bala ao meio, inutilizando-a, ao mesmo tempo, a arma de couro de Lagarto

Gigante de Shandora mirava meu rosto, deslizo pelo chão, passando por debaixo da mesma, dando em seguida dois tiros que são facilmente desviados por ele, provavelmente Tracey “escutou” os tiros e suas trajetórias assim que elas saíram da arma e se moveu de acordo.

O chicote retorna a sua mão, dessa vez lançando um golpe de cima para baixo, dou um passo para o lado enquanto o chicote afunda na madeira do convés, espatifando-a em parte. Ergo meu braço, mirando em Tracey, mas a Víbora púrpura balança seu chicote que acerta minha mão com força insana, jogando longe minha garrucha. Antes que eu pudesse raciocinar, outros dois golpes foram realizados, um acerta minha bochecha, abrindo um pequeno corte, o outro mira em minha outra garrucha, localizada em minha cintura, também a tirando de mim, a arma de couro retorna às mãos de Tracey, que olhava com desdém.

— Bom, suas armas já se foram. – debocha ele, seus olhos brilhavam à luz do sol. – Agora me diga, o que é você, Clair do Tiro-Rápido, se não puder dar um tiro? – meu corpo pulsa e ambos os meus antebraços se preenchem com o material negro misterioso.

— O que sou eu não sei, mas sei que ainda serei mais forte que você. – os olhos dele brilham predatoriamente.

— Como imaginei, vai recorrer ao Armamento com seus punhos, assim como esperado de uma selvagem como você. – sem mais tempo para conversas, avanço ferrenhamente contra Tracey, ele brande seu chicote, como se tentasse me forçar a recuar com um golpe no braço.

Me defendo com o metal escuro em minhas mãos, agarrando e envolvendo meu punho com o chicote, puxo forte, obrigando a Víbora Púrpura a se aproximar e acerto um soco poderoso em seu estômago, o corpo de Tracey se curva e é então que agarro seu cabelo e o puxo para baixo, acertando uma poderosa joelhada em sua face, tão forte que o tira do chão, mas então

Tracey puxa com força seu chicote que, ainda amarrado em meu punho, me faz girar e cair no chão.

Giro rapidamente para o lado, escapando de uma chicotada vertical, logo após pulando para escapar da sequência horizontal do golpe, o chicote volta novamente para a mão de Tracey que dessa vez encobre a ponta de sua arma com o mesmo material negro que revestia meus punhos. Agora a situação ficou complicada. Ele estala o chicote contra o solo do navio e posso sentir o mesmo abalar-se por inteiro, logo após me atacando, só tenho tempo de erguer meus braços e o chicote explode contra minha defesa, lançando faíscas e uma ínfima onda de energia do local do impacto.

— Bom, acho que isso é o suficiente, acabou a brincadeira. – exclama Tracey, começando a balançar seu chicote freneticamente, o couro da arma envolvia-se por todos os lados ao redor de seu usuário, servindo como uma barreira impenetrável, a ponta do chicote consegue alcance para me atacar mesmo de tão longe à medida que realizava seus recuos defensivos. Entendo. Eu não conseguirei atacá-lo, mas ele sim, mesmo que não seja muito, ele está querendo me cansar para depois acabar comigo, mas não tenho muita escolha, tenho que me aproximar ou não conseguirei vencer, não com minhas garruchas do outro lado do convés.

Avanço rapidamente, tentando usar meus braços para me defender, mas quando a ponta do chicote acertava meus braços, eu era empurrada para trás, em certo momento ele acertou meu ombro e tenho certeza de escutar o som de meu osso quebrando com isso, ergo minha guarda e fecho os olhos, se não consigo ver um caminho, tenho que simplesmente “ouvir” um.

Escuto tudo, o movimento do chicote, o açoite da ponta, o bater do coração, o ranger dos dentes, o caminho que devo seguir, ok, vamos nessa. Dois passos pra frente, um pra direita, um pra trás, dois pra frente, quatro pra esquerda, um pra frente, agache-se, dois passos pra frente e agora... Jogo com força meu punho para frente, acertando novamente o estômago dele, noto que ele desfez sua defesa, mas que rapidamente seu chicote me envolvia, prendendo-me, dou um leve salto, tentando chutá-lo, ele ergue um braço pra se defender, ele consegue, mas uso seu braço como ponto de apoio para empurrar-me para trás com o pé, girando o corpo para me livrar do chicote, em meio ao giro pego uma das balas que estava em meu bolso e revisto-a com o mesmo metal negro de minhas mãos, ao aterrissar, ponho-a entre os dedos e miro, estalando meu polegar e indicador a bala é disparada com a potência de um tiro de fuzil.

Tracey deve ter “escutado” meus movimentos e desviou a cabeça, fazendo com que a bala apenas raspasse seu rosto, chocou-se contra o mastro, o atravessasse e se perdesse em meio ao mar, a Víbora parecia paralisada ao notar que por pouco escapou da morte, todos os outros estavam atônitos com o que haviam acontecido, mas agora o resultado era claro: o espírito de Tracey estava quebrado, ele não lutaria mais com tudo que tinha nem que quisesse. Eu venci.

— Clair. – Uma voz me chama firmemente, viro-me vendo que se tratava de Joseph, nosso comandante. – Quero falar com você, venha até minha cabine. – ele adentra novamente a porta que levava as escadas para a parte inferior ao convés, ando calmamente até as garruchas, guardando-as nos coldres em minhas cinturas, dou uma última olhada para Tracey, ele ainda parecia abalado enquanto se sentava ao chão do convés, a multidão a seu redor começava a se dissipar após dar tapinhas em seus ombros tentando animá-lo, é uma pena, mas no momento eu ainda não estou pronta para perder meu posto, jogo um beijinho pra ele enquanto começo a descer as escadas, posso ver o rosto da Víbora contorcer-se de raiva à medida que desapareço no interior do convés.

Percorro o caminho já tão conhecido até a cabine do comandante Joseph, com o inútil do imediato Oren sempre escapando para fazer o que bem entender, eu sou a única que participa das reuniões que Joseph realiza. Quando avisto a porta, ela estava entreaberta, adentro o local fechando a porta às minhas costas.

O grande mapa-múndi ainda estava desenrolado sobre a mesa, assim como na última vez que vim aqui, provavelmente Joseph, o Arquiteto da Guerra, está bolando algum plano que mais ninguém conseguiria pensar. Ou então olhando para os nomes para ver se ele acha uma ilha com o nome dele, o que vier primeiro. Pendurada sobre a mesa havia uma lamparina acesa, nunca entendi o porquê de ele gostar tanto de luz vinda do fogo a ponto de negar ter uma lâmpada em seu próprio quarto, ele realmente é um homem muito metódico. Joseph estava sentado em um banco de ferro aparentemente desconfortável, mas duvido que ele costume descansar, o fato de não haver sofás ou camas na cabine pessoal dele é prova disso, então aquele pequeno móvel feito de ferro era provavelmente um luxo para o Comandante. Sobre sua coxa havia um caracol com um transmissor de voz equipado a ele, um dos famosos Den Den Mushi, este aparentemente é o telefone pessoal do capitão. Joseph parecia cansado, fito o inexpressivamente.

— Reunião problemática? – Ele limita-se a abrir um sorriso no canto dos lábios duros e coçar a barba.

— Problemática é uma palavra gentil para se usar. – ele vira seu olhar para mim, me convidando a tomar assento, nego educadamente com a cabeça, preferindo me manter em pé encostado à porta, assim eu poderia “ouvir” mais claramente se alguém quisesse bisbilhotar nossa conversa. – Acho que o termo adequado seria caótico.

— O Capitão apareceu desta vez? – ele ergue a sobrancelha, como se estivesse surpreso que eu ainda ousava perguntar isso.

— O Capitão? Khair das Dez Mil Mãos? Abandonar sua sessão de treino para participar da reunião estratégica? Impossível. – seu tom era sério, ele não costuma ser um homem brincalhão de qualquer forma. – Ele faz certo, se quisermos sobreviver nesses tempos que virão, precisamos que ele esteja em seu auge, ele que deixe a estratégia conosco. – mesmo dizendo isso, ele ainda parecia frustrado e tenso, provavelmente tivera outra discussão acalorada com...

— Barkan, o Vulcão, correto? – vejo Joseph bufar só de ouvir o nome dele.

— Sim, esse cara tem sido um pé no saco já faz um tempo. – ele volta a erguer a cabeça, olhando para o teto. – Ele é muito impaciente.

— Bom... – abaixo a cabeça antes de continuar a falar. – Se me permite dizer, a impaciência dele tem motivos, afinal, faz meses que estamos aqui.

— Meses, mas no momento temos controle sobre 75% do East Blue, e isso sem termos nos envolvido em confusões desnecessárias. – argumenta o comandante, claramente irritado com a cobrança sobre si. – Se fosse qualquer um dos loucos que o Capitão chama de Comandante, já teriam destruído o East Blue inteiro e despertado a fúria de Luffy, e todos nos lembramos do que aconteceu da última vez que o Rei dos Piratas ficou furioso. – sim, era impossível não lembrar, afinal, a última vez que o mundo presenciou a fúria de Luffy, foi iniciada a mais longa, sangrenta e importante guerra, aquela que colocou o mundo nos moldes de como o conhecemos hoje, acho que ninguém gostaria de enfrentar uma situação dessas novamente, eu particularmente prefiro apenas ouvir sobre as lendas que rodeiam tão imensa batalha. – O

problema não é entrar em guerra, nunca foi. – continua Joseph. – Mas é tolice desafiar um adversário que não se pode vencer quando ele está no território dele. – ele solta um longo suspiro. – De qualquer forma, estou cansado, e preciso de um café, e um calmante. – pego um dos comprimidos que estava sobre uma das estantes com mapas, jogando para ele, o Comandante o engole sem fazer cerimônias, começo a servir-lhe um café antes de perguntar.

— A reunião girou apenas ao redor de nós? – ele meneou negativamente a cabeça, solvendo um pouco do líquido escuro.

— Vários outros relatórios a respeito de piratas importantes se movendo, nada que eu já não tenha previsto antes. – era realmente incrível como Joseph se dispunha a planejar seus movimentos prevendo o de todos os outros antes, e com todos, me refiro até mesmo ao mascote da tripulação mais fraca do mar mais fraco, existem rumores de que ele pode dizer tudo que alguém fará se ele tiver visto-o pelo menos uma vez, mas não sei até onde tais rumores são verdadeiros. Ele continua tomando seu café até que, aparentemente nota algo quase o faz engasgar. – Clair, lembre-me o nome daquele pirata que derrotou os sequestradores que mandamos para levar Lyon. – ele ergue-se de sobressalto, deixando o café perigosamente sobre o banco estreito.

— Acho que... Luke Hardy. – falo após alguns momentos de reflexão, ele parecia ávido em sua procura, estava fuçando a mesa que continha os cartazes de recompensa, mas é impossível, eu já chequei várias vezes, o tal Luke não tem recompensa alguma.

— Achei. – murmura Joseph, seu tom era mais sério que o habitual, mas ao mesmo tempo demonstrava certa incredulidade. – Eu sabia que esse nome me era familiar. – ele fala enquanto ergue um dos cartazes.

— Quem é este? – falo de longe, sem conseguir saber de que cartaz se tratava.

— Provavelmente, o pai de Luke Hardy, nunca o notamos por quê raramente nos referimos a ele usando o sobrenome, já que só pelo nome é o suficiente para sabermos quem é ele. – ele engole em seco e sinto como se uma mão se fechasse ao redor de minha garganta com as palavras que são pronunciadas a seguir. – O homem com quase 6 bilhões de recompensa, Lance Hardy, a Hidra Branca, um dos 4 Yonkous, junto do nosso capitão.

— - Luke - -

— Luke. – uma voz me chama, distante, quase inaudivelmente, ela me soa familiar... – Luke! – era urgente e desesperada, seu tom era masculino... Zodick? – LUKE! – exaspera o moreno, chacoalhando-me sobre a cama, acordo assustado, sentando-me sobre o colchão, olhando os arredores, o rosto de Zodick estava pálido e seus olhos pareciam inquietos.

— Que? Que foi? Que houve? – ele se põe em pé com urgência.

— Temos problemas. – fala ele rumando para o lado de fora do quarto, puxando-me pelo braço. - Ei, calma aí, o que houve?

— Aqueles piratas que derrotamos junto de Torui no restaurante são do bando de Mark, o Naja. – lembro-me vagamente de escutar Torui falando algo sobre isso, mas por que ele puxou esse assunto tão de repente? – Eles descobriram que nós e Torui estamos aqui e querem vingança, eles começaram a atacar a mansão faz uns dez minutos, Torui e Sofie estão lutando junto dos guarda-costas para pará-lo.

— Quê? E porque foram para a luta sem mim? – posso ver uma veia de irritação pulsar na têmpora do negro.

— Por que você não acordava! – esbraveja. – Estou há um tempão te chamando e você nada de acordar.

— Ah, bem, desculpa aê.

— Isso não importa agora, vamos nos juntar aos outros. – assinto com a cabeça, descendo as escadas junto a ele. No caminho, posso ver Joy, a governanta da mansão, evacuando todos os serviçais, era perigoso para eles aqui e eles provavelmente apenas iriam atrapalhar.

Quase saltamos escada abaixo, ao chegarmos no térreo, Zodick dispara em direção à porta, irrompendo através dela, mas algo não me cheira bem, tipo, literalmente. Paro poucos passos antes da porta. Estou com um mau pressentimento. Ouço um barulho estranho e viro-me, vendo um vulto se arrastar em direção à cozinha.

Dou uma última olhada em direção à porta, posso escutar o som de tiros e gritos, a situação não parecia estar nada boa lá fora. Mas mesmo assim, devo seguir minha intuição, dou meia volta, rumando para o caminho que vi o vulto seguir.

— - Torui - -

Meus sapatos sujam-se à medida que corro por sobre a grama, as balas saíam avidamente de minha garrucha, consigo acertar um dos oponentes no ombro, outro tem seu crânio perfurado e mais dois caem ao chão com suas coxas baleadas. Escondo-me atrás de uma das paredes. Todo o pátio virou uma zona de confronto muito rápido, eu e alguns guardas estamos cuidando daqueles que tentam avançar pelo portão principal, somos poucos, acho que eu, quatro guardas e Chief, o chefe dos guarda costas de Kaya. Apesar de tudo, ainda sou o melhor de nossos atiradores, então tenho que me arriscar ainda mais para conseguir pegar o máximo de adversários que posso.

Zodick fora buscar Luke e ainda não voltara, Sofie unira-se a alguns guardas e interceptava aqueles que buscavam invadir a mansão pulando por sobre os muros, mas não tenho tempo para ficar verificando como está indo do lado dela, tenho que agir.

Uma bala chocou-se contra a parede de concreto no qual eu estava escondido, logo após saio de lá, um, dois, três e quatro tiros depois, havia quatro piratas a menos no bando do Naja, dou uma olhada melhor no lado de fora e vejo o quão crítica era a situação. Haviam cerca de 50 ou 60 piratas, mas esse não era o problema, poderíamos derrubá-los um por um se fosse necessário, contanto que mantivéssemos o portão intacto, era possível ganhar. Mas eles já

haviam notado isso, nesse exato momento havia dois canhões posicionados exatamente a frente do portão gradeado. Não tinha chance de ele resistir a isso. Fiquei tão atônito com a cena que não notei que havia parado de correr, abrindo espaço para um dos piratas acertar uma bala em meu ombro.

A garrucha cai de minhas mãos e caio sentado, por sorte conseguindo evitar mais alguns tiros, Chief e um dos guardas se desesperam e começam a me puxar em direção ao muro para que me escondesse, neste percurso o guarda mais jovem é baleado fatalmente na cabeça e cai ao chão já falecido.

— Torui, você está bem? – ele me questionava preocupadamente, afastando minha camisa para poder ver o ferimento. Surpresa e incredulidade rapidamente tomam conta de sua face ao ver que a bala não me perfurara, na verdade, havia uma marca roxa no ponto de impacto, mas o

projétil estava parado, como se estivesse preso a superfície de minha pele, ao redor da mesma minha carne parecia repartida e demonstrava uma sutil coloração em vermelho-vinho.

— Eu estou bem. – afasto-o, escondendo novamente meu ombro abaixo da camisa. – Mais importante que isso, temos que dar um jeito naqueles canhões. – Antes que eu terminasse de falar, vejo alguém se aproximar em grande velocidade, se jogando contra o portão de ferro.

Lion’s Paw! – esbraveja ele antes de acertar violentamente a estrutura de metal, vejo a mesma estremecer e ser arrancada de suas dobradiças, logo após sendo arremessada como uma bala a frente, vejo que os canhões e metade dos piratas foram atingidos pelo ataque surpresa, abro um largo sorriso, chamando aquele que acaba de chegar para nos ajudar.

— Zodick! – o moreno me fitou, sorrindo, parecia aliviado por ter chegado a tempo.

— Desculpa a demora, Torui. – ele aponta para o espaço vazio atrás de si. – O Luke demorou muito para acordar, mesmo nessa confusão toda.

— Mas cadê ele? – ele me olha confuso, logo após virando-se e se surpreendendo. Será que Luke deveria estar com ele?

— Merda, cadê ele. – ele vira-se novamente para dentro. – Bom, não importa, vamos acabar logo com isso. – assinto com a cabeça, recarregando minhas garruchas e me preparando para o segundo round.

— - Sofie - -

Giro meu corpo, ambas as Kukris em minhas mãos já estavam banhadas em sangue, mas ainda não havia acabado, logo após minha rotação, mais dois piratas caem sem vida no chão com suas gargantas cortadas, um terceiro parte em minha direção brandindo amadoramente um machado de mão, dou um salto em direção a parede, coloco meu pé direito no mesmo e uso a estrutura de concreto como apoio ao me impulsionar em direção ao pirata oponente, chutando seu pulso antes que ele pudesse me acertar, ou talvez causar mais vergonha a si mesmo pela maneira como estava lutando, aterrisso graciosamente, cravando a Kukri na carne do ombro do homem que já agonizava de dor. Puxo sua cabeça pra baixo e rolo por sobre suas costas enquanto ele cai, termino a rotação já ajoelhada para trespassar o peito de outro pirata que se aproximava.

Vejo mais dois se aproximarem, um de cada lado, aparo o golpe do primeiro, que usava um punhal, com minha Kukri, já o outro usava uma espécie de porrete, seguro com a mão esquerda, a que antes estava segurando a Kukri que agora estava cravada no peito do homem que neste momento iniciava sua trajetória rumo ao solo, conduzo o homem com o punhal, usando seu próprio peso contra ele e forçando-o a esfaquear seu companheiro do porrete, ao mesmo tempo agacho-me, pegando uma garrucha que estava na cintura de um dos homens caídos no chão, baleando o homem do punhal pela parte inferior de seu queixo, o topo de sua cabeça explode ao ter a bala terminando sua trajetória e ambos os homens caem ao chão.

Ergo-me calmamente, dando uma melhor olhada na situação atual, os piratas tentavam invadir a mansão pulando por sobre os muros, mas eram facilmente abatidos pelos guardas que os esperavam pacientemente no chão, eles estavam em maior número, mas a vantagem de terreno era nossa.

Dou uma olhada mais detalhada e vejo um dos piratas, que de algum jeito sobreviveu, correndo em direção aos fundos da casa, resolvi segui-lo. Seria um problema se mesmo um só

deles conseguisse adentrar o local. Rapidamente me aproximo e arremesso duas das facas de arremesso em minhas coxas, o matando facilmente, mas algo chama minha atenção quando me aproximo mais um pouco. Havia um enorme buraco no muro dessa parte da mansão e dois guardas mortos próximo a ele, alguns piratas também se encontravam mortos ou gravemente feridos, mas isso era estranho.

— Se existe um buraco desse tamanho em nossas defesas, por que eles continuam a nos atacar pela frente? – meus olhos notam algo ainda mais estranho, uma parte da grama parecia estar esmagada, como se algo muito pesado tivesse se arrastado por lá, sigo o rastro até chegar a um buraco do mesmo tamanho do que havia no muro, mas dessa vez estava na parede da mansão. – Droga... Isso não é uma invasão afobada. – engulo em seco ao perceber o quão tolos fomos. – É uma distração.

— - Luke - -

Assim que chego a cozinha noto que algo estava errado. Muito errado. O cheiro no lugar era bem forte e tudo que estava sobre as mesas e pias parecia ter sido jogado no chão, um fedor de gás e de réptil se espalhava pelo local à medida que eu me aproximava, mas vejo algo que chamava mais atenção do que qualquer coisa.

Um imenso buraco no teto abria caminho para o andar superior. Será que eles conseguiram entrar? Corro o mais rápido que minhas pernas me permitem, indo até o andar de cima, faço um mapa mental para saber onde aquele buraco daria e a resposta era assustadora. Rumo até o quarto da velha Kaya, quase derrubando a porta em um chute. Ao chegar lá, percebo o quão feio estava a situação

Havia um ser imenso na sala, seu corpo era coberto de escapadas marrons com eventuais listras negras, ele era imenso, devia medir uns nove metros, tinha a parte superior de seu corpo como a de um humano, embora também houvesse escamas, seu sorriso era maligno, suas presas estavam à mostra e secretavam um líquido esverdeado, ao redor de seu pescoço parecia haver uma protuberância também coberta de escamas, a metade inferior de seu corpo era uma longa e grossa cauda, na ponta da mesma a velha Kaya debatia-se inutilmente, seu rosto estava roxo e ela parecia sufocar.

— Ora, parece que chegou mais uma presa para mim. – o ser proclama sadicamente.

— Maldição, que droga é você? – sua língua bifurcada mexe-se freneticamente para fora de sua boca, logo voltando para dentro da mesma.

— Eu sou aquele conhecido como o Naja. – esse deve ser aquele cara que foi responsável pelo naufrágio de nosso barco e o ataque no restaurante.

Ok, agora tô irritado.

— - Continua - -