Autora POV’s

–NANAMI!- gritava Tomoe balançando o corpo em seus braços. Uma lágrima escorria de seu olho direito. A garota ficava cada vez mais pálida, seu desespero crescia em seu coração, e lembrava-se de todas as coisas boas que passara ao lado de sua mestra, lembrou-se também das outras vezes em que pensou tê-la perdido, e como uma facada lembrou-se de Mikage e abraçou Nanami com força.

–Não vou perde-la, não posso... – Fechou os olhos com força e afundou o rosto em seu pescoço.

Vendo que não acordaria mandou suas chamas para encontrar Mizuki para ajuda-lo, logo a cobra chega e junta-se ao desespero. Nada adianta. O terror é claro e assustador, a perda era inestimável. E o que deveriam fazer para salvar sua mestra? Nenhum dos dois sabia o que fazer ou o que estava acontecendo ao certo...

Tomoe segurava as lágrimas enquanto acariciava os cabelos de Nanami, e Mizuki segura sua mão com delicadeza, ambos no silêncio profundo, esperando que ela logo acordasse e voltasse ao normal.

De repente um vento forte invadira o recinto e um cheiro doce se espalhava pelo ar, o corpo de Nanami saíra dos braços de Tomoe e agora pairava sobre o ar, nenhum dos dois tinha uma reação, sabiam que aquilo era a presença de um deus, um Deus poderoso.

Uma luz tomara conta do quarto de tal maneira que manter os olhos abertos era um desafio, e então como numa explosão de luz o corpo de Nanami estava de joelhos encarando os dois rapazes que ali se encontravam, mas agora não era Nanami, era uma outra mulher, esbelta, elegante, com olhos que não paravam de mudar de cor, os lábios volumosos e levemente avermelhados, os cabelos , agora presos num belo coque cheio de flores e borboletas que serviam de enfeite. Em seu corpo uma bela Youkata com uma cor indefinida de tão beça com um bordado incomum, parecia ser o vento soprando e as estrelas brilhavam e pareciam dançar no tecido.

–Finalmente livre.- sorriu a mulher observando sua divina forma

–O que você fez com a Nanami!?- disse Tomoe com o pouco de folego que lhe sobrara.

Ela voltou seu olhar para ele e sorriu graciosa, mas não respondeu a sua pergunta, levantou-se e olhou de relance para o espelho, as bochechas rosadas e os olhos intensos.

–Ela está bem, logo encontrara seu lugar.

–O que quer dizer com isso? Devolva, DEVOLVA A NANAMI!- esbravejou Tomoe socando o chão abrindo uma rachadura e levantando-se.

A mulher aproximou-se dele deixando-o imóvel e tocou-lhe o rosto.

–Bem, eu tive de interferir, o coração de sua mestra estava tão confuso, que mexeu com o meu, não podia deixar assim. – aqueles olhos reviraram o estômago de Tomoe, o que era raro acontecer, nada o deixara tão intimidado quanto aquele olhar, aquela frase, aquela mulher...

–Quer dizer que só porque alguém está confusa você vai lpa e toma seu corpo para si?- Mizuki disse com desprezo.

Um olhar quase mortal fora direcionada para a cobra branca que se quase vacilou.

–Quem é você?- perguntou Tomoe afastando-se.

–Sou a uma das mais antigas deusas, sou aquela que traz vida a tudo, sou a razão de tantas graças e desgraças, eu sou tão selvagem quanto o vento, tão doce quanto uma borboleta, tão elegante quanto às estrelas, sou o gosto, sou o desgosto, sou um tipo de ódio incontrolável, prazer, sou o amor.

Dizendo isso as palavras foram tornando-se intensas e chegavam a machucar, um grande poder emanava daquele ser.

E olhando-os com onipotência uma última vez sumiu tão rápido quanto o vento, deixando para trás uma sensação incomoda de que algo grandioso estava por acontecer.

–Mizuki...- começou a dizer Tomoe.

–Daremos um jeito, deixe-me meditar. - disse retirando-se sem reação, parecia que estava deixando o próprio corpo, mas era apenas uma sensação de vazio, novamente, sua mestra se foi, mas pelo menos ele tinha uma ideia de como salva-la. Desta vez ele não falharia, pelo menos, era isso que acreditava.

Tomoe ficou imóvel, seus olhos estavam distantes, seu coração pulsava tão forte que podia ouvi-lo, podia sentir o gosto amargo da rejeição, podia sentir o vazio e a inquietação, podia sentir a dor aguda que ela sentia no peito ao pensar nele, conseguia ouvir as músicas que ela escutava quando queria esquecer-se dele. Conseguia sentir tudo o que ela sentia, principalmente quando se tratava dele.

Sentiu a confusão de gostar dele, sentiu a culpa por começar a gostar de outro rapaz, e sentiu o gosto que isso lhe trouxe.

Caiu de joelhos, e sentiu lágrimas, levou as mãos ao rosto, e se deitou e deixou todos aqueles sentimentos fluírem por seu corpo, e chorou ainda mais, não somente suas lágrimas, mas as lágrimas que ela derramou. Chorava porque estava preocupado e com medo.

Nunca que ele admitiria que estivesse com medo de perdê-la. Por isso, continuou ali, sentindo o tudo e o nada, ouviu ao longe seus pensamentos, ouvia as batidas descompassadas daquela garota que ele tanto apreciava, ele sentiu o vazio e o medo desesperador dela de quando parava em frente ao espelho e via a mulher que estava tomando conta, sentiu a humilhação de não conseguir impedir aquilo tudo. Eu poderia ter sido mais atencioso, podia ter sido um amigo... Podia ter impedido tudo isso, eu podia salva-la, teria conseguido se não fosse...Argg... Pensou ele enquanto deixava o vento soprar e tocar-lhe o corpo.

E então, como há tempos não fazia, dormiu, desmaiou nos braços da incerteza e sem perceber era ninado pelos sussurros do silêncio.

–-

Nanami POV’S

Quando abri os olhos novamente eu estava numa imensa escuridão, nada enxergava, nada parecia real, sentia um fraco calor, mas não sabia de onde vinha, nem como traze-lo para mais perto.

Estava com medo, mas me sentia... Hmm... Segura? Não, na realidade não sei como poderia definir, porém, não é como se eu tivesse sumido para todo sempre, algo me dizia que este não era o fim...

Uma fraca luz brilhou ao longe, e então cada vez ficava mais forte até uma mulher materializar-se .

–Você...- sussurrei com certo desprezo.

–Olá Nanami, lamento o que fiz a você, lamento ter pego seu corpo... Mas se você... Soubesse...entenderia.- disse com certo cuidado ao escolher as palavras.

–Não, não entenderia, roubar o corpo de outra pessoa, o meu corpo... Isso é cruel.- disse enfurecida.

–O amor é cruel, essa é minha natureza, não posso impedi-la.- disse sorrindo de canto. Ela era divina.

–Pode sim.- disse com toda convicção. O que essa... Essa... Deusa acha que está fazendo? Tomando minha vida de mim, como se não fosse nada de mais!

–Infelizmente não...

–Por que eu? Poderia ao menos me responder... Tem tantas pessoas por ai, e você escolhe justo eu!

–Você é uma deusa assim como eu, Deusa da Terra não é? E você já ajudou tantas pessoas em seus relacionamentos que fiquei... Admirada. Você também conheceu o amor em suas três fazes mais puras, poucos são os que realmente sentem... Então... Quem melhor do que você?

–Isso é um elogio? Quer dizer que perder tudo o que eu tinha para que você uma deusa antiga tome meu corpo só porquê teve vontade é um privilégio?- disse indignada.

Ela sorriu, parecia se divertir e sussurrou ruborizada:

“– Logo você entenderá e tudo se encaixará.”

E ela se foi, me deixando com um grito entalado na garganta, tive vontade de soca-la, de chutar aquele rosto perfeito, arrancar seu coração e vender para a máfia japonesa. Acabei ficando com ponto de interrogação em meu rosto...

No final apenas suspirei, suas palavras que pareciam tão egoístas... Parecia... Um enigma, como se ela estivesse tentando me passar uma mensagem codificada, não entendi... Ela estava admirada, pegou meu corpo... Não faz sentido.

“-Logo você entenderá e tudo se encaixará.”

...

–Assim espero. – E o ponto de interrogação volta a minha mente...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.