Acordei de bom humor no dia seguinte, me sentia mais confiante seja lá no que eu fosse fazer... Talvez eu estivesse... Tornando-me um tanto depressiva nestes últimos tempos... É a falta de seguidores da nisso...

Cocei os olhos, mas não tinha vontade de lembrei-me que fazia um tempo que não falava com minhas amigas... A que saudade... Bem se não fossem elas... Não sei oque seria de mim... Elas não sabem sobre essa coisa de deusa, mas mesmo assim percebem quando estou triste e fazem de tudo para me fazer sentir melhor...

A porta de correr fora fortemente aberta sentei-me na cama num susto.

–Na...Na...Mi.- Me assustei com um Tomoe bem estressado na minha frente, uma veia saltava de sua testa.

–Ah não vai embora, preciso dormir. - resmunguei voltando a deitar, já não chega ter me deixado falando sozinha no telhado ontem agora quer exigir alguma coisa, ah não, ele que vá descontar sua raiva no jardim lá atrás com aquele tesourão pra arbustos.

–Dormir? - quase gritou puxando-me da cama, fui obrigada a ficar em pé, seu rosto estava muito próximo do meu.

–Eu estou com bafo, não vai reclamar depois, a culpa é sua que me acordou agora. - disse emburrada, nem acreditei no que disse, quem em sã consciência diria que está com bafo? Bem... Eu estou com metade das funções motoras e consciência adormecida ainda...

–Você não tem bafo. - suavizou a expressão e enfatizou o não e então ele notou oque disse e balançou de leve a cabeça lembrando-se que estava furioso com algo em relação a mim.

–Venha. - disse me puxando pelo braço, eu ia murmurando coisas sem sentido e cambaleando, ao sair na frente do templo, o sol tocou minha pele aquecendo-a e me deixando com uma sensação gostosa.

–Me explica oque é isso. - esbravejou apontando para um bilhete preso na porta de entrada do templo.

–Eu que vou saber. - disse puxando-o e sem rasga-lo.

Era num papel de carta, amarelado, simplesmente ao toca-lo já sabia de quem era, fechei os olhos e uma brisa suave acariciou-nos e envolveu-me como um ninar, desejei que essa brisa tocasse aquele doce garoto também...

Respirei fundo e li o bilhete, ele dizia.

Uma bela dama de vermelho uma vez disse-me que meu orgulho fora roubado, meu amor e que por mais difícil que fosse consertar este sofrido coração... Ela disse-me que era possível, nunca tive tanta certeza em toda a minha vida de alguma coisa... Mas esta dama de vermelho deu-me a melhor ajuda que alguém poderia me dar... Queria entender quem és tu oh bela dama. Como conseguiste acalentar este coração calejado¿ Oh bela dama de vermelho... Se eu ao menos soubesse quem és tu... “

Por mais que eu não conseguisse tinha um grande sorriso nos lábios, era boba esta minha reação, mas, por favor! Um rapaz lindo, com aqueles olhos lhe manda um bilhete desses, com certeza o sorriso não sumiria de seus lábios por um bom tempo.

–Quem mandou isso?- perguntou ainda evocado.

Sorri e olhei no fundo de seus olhos, quase que vacilo quando o vento passou novamente balançando os longos fios brancos presos num baixo rabo de cavalo, sua yukata prata com detalhes dum roxo púrpura e listras douradas nas mangas e cinto.

–Alguém que se importa comigo. - sorri boba para ele novamente e sai dali quase saltitando deixando-o indignado com minha resposta, corri para o quarto do Mizuki.

–Acorda! Acorda!- gritei entrando em seu quarto pulando e rindo.

Ele resmungou revirou e depois de uma briga para fazê-lo acordar, ele quis saber o porque de toda animação, contei tudo a ele, desde quando o rapaz dos olhos azul cobalto até quando chorei noite passada.

Ficamos falando disso até que tive de sair para me trocar e seguir minhas obrigações.

Coloquei uma calça cinza de abrigo e uma blusa de mangas cumpridas soltinha e quentinha com decote estilo canoa.

Sai e fui para o jardim na parte de trás do templo.

Tomoe estava lá atracando aquele tesourão nos arbustos com raiva, aiai oque que deu nele, foi só um bilhete, por que aquele rapaz de ontem o deixou tão... Nervoso?

Pensando bem... Nem ao menos sei seu nome...

–Você deveria ser preso, agressão as plantas é crime. - ri e ele me fuzilou com os olhos.

–Oque quer?- nervoso cortou outro galho rebelde.

–Oque eu quero? Não era você que queria começar com o treinamento da dança para a troca de estações?

Que estranho... Eu mudei... Minha voz esta diferente, minhas respostas também... Eu nunca diria nada assim para o Tomoe, nunca tomaria uma “atitude”... Isso talvez... Por que sempre estive completamente cega... Acho que evoluí... E isso é muito bom, faz sentir-me melhor. Mas o estranho é que as respostas fluem em minha mente... Como se alguém as sussurrasse...

Ele suspirou.

–Verdade, vamos logo, precisamos ensaiar, caso contrário será um desastre. – E as desculpa onde estão? É Tomoe você é realmente um orgulhoso, nunca que eu iria admitir isso, mas acho que estou começando a desenvolver uma raiva, uma... Repulsa por Tomoe... É como se ele fosse a fonte de toda a minha infelicidade... As vezes o imaginava como uma fonte onde todas as esperanças perdidas vão.

E assim fomos, entramos numa das salas que há dentro do templo, nunca pensei que tivesse tantas salas lá dentro, aparentava-se que ele fosse menor, mas não.

Era uma sala de treinamento no último andar, podia ser usada para meditar ou até mesmo ensaiar danças de troca de estações ou comemorações.

Tinha vista para um belo bosque para trás do Templo, a sala em si era de madeira e tinha instrumentos, almofadas para sentar-se, acendemos um incenso.

Começamos com os movimentos básicos da dança e assim continuamos, Tomoe me ajudava daquele seu jeito arrogante oque me fazia nutrir cada vez mais aquela repulsa e raiva que eu começara a sentir... Era ruim ter este tipo de sentimento, tais sentimentos não deveriam habitar no coração de uma deusa... Mas mesmo assim... Ainda sou humana e tenho direito a tais sentimentos... Por piores que sejam...

Mizuki apareceu mais tarde para ajudar e assim fomos, eu e Mizuki trocávamos olhares cúmplices seguidos por risinhos que deixavam Tomoe furioso, bem... Fiquei feliz de ver que estava mais próxima de Mizuki... Mas ficava um tanto triste... Ao ver que me distanciara de Tomoe...

Quando encerramos o treinamento corri para a cozinha, minha barriga roncava alto, preparei um rápido “almoço-lanche da tarde” e comemos, depois tomei um rápido banho trocando de roupa e deitando-me na minha cama para descansar um pouco.

Quando estava quase caindo no sono meu celular tocou em cima da cômoda.

–Hm- murmurei ao esticar-me para pegar o celular.

–Alô.- murmurei.

–Nossa que humor é esse. - disse outra voz na linha, logo reconheci de quem era.

–Oque você quer Akemi.- resmunguei, Akemi era uma das minhas melhores amigas, uma ótima amiga pra falar a verdade, foi para ela a quem contei primeiramente sobre minha paixonite por Tomoe, e ela é bem... Digamos que a única que sabe sobre oque realmente é Tomoe e Mizuki.

– Bem eu a Lili-chan e a Kane-chan estamos aqui no shopping para comprar algumas coisinhas para o baile da primavera e como você nunca atende seu maldito celular não conseguimos te avisar.

–Que bail- Espera O Baile da Primavera?!- gritei ao telefone.

–De qual mais eu estaria falando e, por favor, se você gritar no meu ouvido de novo arranco sua língua. - ignorei o comentário sobre arrancar minha língua.

–Me esperem já estou indo. - disse desligando o telefone, corri para meu armário e vesti um jeans azul escuro, como o vento lá fora ainda era gélido por mais que o sol estivesse presente teria de usar um casaco, procurei uma blusa que tinha ganhado de aniversário da Kane-chan, ela era perfeita, as mangas e parte inicial do tecido era de pequenas pérolas pratas envoltas num fino tecido e o resto tinha um belo caimento e o melhor de tudo... Era azul cobalto.

Coloquei um casaco preto cumprindo que ficara muito bem com a blusa, eu a usara umas duas vezes, mas agora eu tinha um motivo a mais para usa-la.

Calcei botas de cor preta e cano aberto, peguei minha bolsa e corri para o ponto de táxi mais próximo.

Ao chegar ao shopping procurei desesperadamente pelas garotas até visualizar uma cabeleira branca e então consegui localiza-las.

Bem vou apresenta-las melhor, a de cabeleira branca é Arkane Tsukiyomi, ótima amiga assim como as outras, ela tem um belo corpo e é um pouco mais alta que eu, seu cabelo branco solto e levemente bagunçado dava-lhe aparência de quem acabara de acordar, mas ela era uma das que estava mais animada, aquilo tudo era charme, seus olhos eram de um vermelho alaranjado, ela vestia uma calça jeans preta, uma blusa vermelha de mangas cumpridas com decote em forma de “V” alongando sua silhueta. Um casaco de lã cinza um pouco cumprido calçava uma bota vermelho vinho cano baixo.

A outra que discutia algo com Akemi ( a que falara comigo no telefone) ela era muito fofa, era o tipo de pessoa que se tinha vontade de morder forte as bochechas. Seu nome é Lilith Michiko Rossi. Ela é pequena e fofa, tem olhos de um azul claro, os cabelos presos num rabo de cavalo baixo que deixava parte da frente dos cabelos solto, sua franja estava presa para o lado suas bochechas estavam levemente vermelhas e uma delas muito mais que a outra com marcas de... Dente, ela vestia uma blusa azul clara de mangas cumpridas e felpuda, ela era um tanto larga nos ombros deixando-os um pouco a mostra, por baixo uma regata branca, uma saia preta com pregas e meias pretas um pouco acima dos joelhos e calçava all star preto.

Por último Akemi Homura, outra baixinha só que não tão fofa, ela tem longos cabelos castanhos e sedosos, tem orbes castanhas, seus cabelos estavam soltos, usava um casaco marrom escuro de 4 botões um pouco cumprido, conseguia ver apenas a saia vermelha com pregas, usava uma meia até um pouco acima dos joelhos cinza e sapatilhas vermelhas.

Akemi e Lilith discutiam e Arkane apenas ria.

Corri até elas gritando.

–Tenho tanta coisa pra contar pra vocês...- disse tomando fôlego.

–Ah pois é.- Akemi disse, vi que usava um batom vermelho, coisa que nunca vira antes.

–Akemi oque aconteceu com você? Tá toda arrumada.

–Ah, coisa da minha mãe... Ela marcou uma entrevista num internato para garotas no interior, é um lugar para aprender “boas maneiras”, resumindo há uma probabilidade de sair da escola ano que vem. - disse mexendo nervosamente as mãos.

–Bem eu ouvi dizer que neste tipo de internato o ensino é ótimo. - disse Arkane.- Acho que você devia ir, é só um ano não?

–Você quer que eu me vá embora mesmo não é sua vaca.- E então rimos.

–Todas querem que você vá.- sorriu docemente Lilith, não sei como ela consegue ser tão fofa.

–Como você consegue dizer uma coisa dessas e continuar parecendo inocente!- Arkane disse exatamente oque eu estava pensando.

Nada ela disse só piscou e então assim fomos conversamos, rimos, comemos, ficamos para lá e para cá, não compramos nenhum vestido para o baile, não achamos nenhum que agradasse.

Depois de um tempo, sentamos num banco numa praça qualquer com sombra.

–Nanami o que houve com sua voz? Está diferente...- Comentou Lilith.

–Pois é também notei, e o seu rosto também... Está mais bonito... Como se faz isso me ensina a fazer isso meu Kami!- disse Arkane segurando minhas bochechas.

–Deve ser o frio...- disse baixo... Eu sabia que não era o frio... Algo estranho estava acontecendo comigo... Podia sentir... Uma sensação estranha que me dava calafrios... Senti uma forte pontada no estômago e então depois na cabeça, segurei o gemido de dor e cobri o rosto com as mãos.

–O que acham de irmos naquele parque novo na rua 71? Soube que tem montanha russa.- disse Lilith com os olhos brilhando dando mais uma mordida em seu cupcake azul.

–Vamos logo então, minha bunda já está reta de ficar sentada. - levantou-se Akemi já puxando nós três e então seguimos para o novo parque, o sol tomava seu lugar no horizonte trazendo as sombras da noite, um vento mais frio batia contra nossos rostos, deixando-os avermelhados.

–Deveria ter trazido um casaco...-Murmurou Arkane.

Caminhamos mais um pouco e avistamos uma aglomeração de pessoas, ouviam-se gritos, o som do carrinho da pequena montanha russa passando com extrema velocidade pelos trilhos, tiros das barracas de jogos eram ouvidas e crianças rindo e implorando aos pais para irem ao próximo brinquedo.

Nós entramos no meio daquela aglomeração e fomos vendo as atrações, Akemi insistiu para irmos à montanha russa, e bem, lá fomos nós, duas pessoas em cada carrinho, aquilo era gigante, muito grande, com uma subida íngreme até de mais e uma decida terrivelmente veloz, curvas e uma terrível subida em espiral.

Sentei ao lado da Arkane, ela estava animada, muito animada, Lilith quase brigou com o cara que não quis deixa-la passar por ser pequena e parecer uma criança, mas por fim o cara deixou-a passar quando avaliou-a bem.

Aquele troço começou a andar e pegar impulso, subindo e subindo e então, minha barriga gelou e descemos a toda velocidade.

Do resto não lembro direito, fiquei tonta, quase vomitei e quando saímos minhas pernas estavam bambas e eu vomitei depois, e aquelas estranhas pontadas continuavam a acontecer com mais frequências... De vezes em vezes eu tinha de respirar fundo para controlar o choro.

Continuamos a ir de brinquedo em brinquedo, Akemi queria por que queria jogar um dos jogos de tiro, você tinha 10 facas e devia acertar os alvos e dependendo de quantos acertasse ganhava um prêmio.

Ao chegarmos naquela barraca tinha um aglomerado de pessoas ali em volta e adentramos na multidão e tinha um rapaz atirando em todos os alvos exatamente no meio, tinha cabelos brancos e ondulados nas pontas pro lado de fora, era alto, mas não era corpulento era magro e vestia jeans e um moletom preto. Quando acertou todos os alvos virou-se para a multidão que gritava e eu quase me engasguei com o ar, aquele rapaz era Mizuki.

–Você aqui ?!- disse eu, Mizuki voltou-se na minha direção e sorriu largamente e correu até mim.

–Nanami-chan!- disse e me abraçou forte, a multidão aos poucos foi se dissipando.

–Oi meninas. - disse ele acenando para as garotas, que ficaram um tanto atônitas com o rapaz que se situava a frente delas, realmente Mizuki era muito bonito

–Você é ótimo nisso!- disse me referindo ao jogo.

–Pois é quem diria. - riu com as bochechas coradas.

–E então vamos ver o prêmio para nós. - olhou para as garotas e piscou.

Fomos até lá e ele escolheu sacos de doces que tinham, sentamo-nos num banco um pouco mais afastado do tumulto.

Conversamos e rimos as garotas logo simpatizaram com ele.

–Veja só quem está aqui. - uma voz masculina penetrou nossos ouvidos e olhamos para o lugar de onde vinha aquela voz.

Três rapazes, Takeshi e seus amigos, aqueles grossos e estúpidos, só de ouvir a voz dele já tinha vontade de socar aquela cara quadrada.

–A vadia e suas companheiras e veja só que novidade um namorado. - ele se referia a Arkane, de certa forma ela tinha fama de pegadora oque não era verdade, e afinal ninguém sabia o porquê disso, ele se aproximou dela e ela recuou nervosa estava em estado de choque.

–Sai daqui Takashi.- disse se recuperando do choque e batendo de frente.

–Se não o que?- riu e puxou o braço dela, e antes que Arkane pudesse fazer qualquer coisa Mizuki levantou-se empurrou o rosto dele para o lado esquerdo com força e então como Takashi afrouxou o aperto no braço de Arkane ela saiu do aperto e Mizuki empurrou-a de leve e chutou o sujeito no estômago, os outros dois rapazes que estavam junto dele se afastaram quando olharam para Mizuki, seus olhos estavam com um brilho assassino, suas pupilas haviam se afinado como as de uma cobra e seus olhos ficaram num leve tom de amarelo.

–Vamos embora. - Takeshi cuspiu as palavras, olhou para Arkane por um segundo e disse por fim antes de sair.

–Isso não acabou.

Eles se foram e sumiram nas sombras da noite, Mizuki voltou ao normal, todas estávamos um pouco atônitas... Mas também não era a primeira vez que algo do tipo acontecia... Infelizmente.

–Tudo bem?-perguntou Mizuki, Arkane estava com a cabeça baixa.

Ele sentou-se ao lado dela e ele tocou-lhe a mão e ela olhou para ele com a face um tanto ruborizada mas tinha uma mescla de raiva e vergonha em seu olhar.

–Eu sou uma inútil, não consigo nem resolver meus próprios problemas... Desculpe por isso... - disse ela baixando o olhar, e fechando as mãos em punho.

–Ei... Um “obrigado” já basta. - sorriu ele caloroso.

Ela sorriu desengonçada, mas ainda podia ver que estava abalada pelo que aconteceu.

–Obrigada.- ela então espirrou e Mizuki tirou o moletom preto e entregou a Arkane que recusou.

–Pega, essa pelo menos é mais uma desculpa para nos encontrarmos novamente. – riu e então ela riu e empurrou ele de leve colocando o casaco.

–Eu já estou ficando cansada...- Resmungou Akemi bocejando.

–Oh tadinha da criancinha, já tá com soninho¿- debochou Lilith.

–Não fui eu quem quase não pode ir à montanha russa por parecer uma criança. - Disse ela seca olhando para Lilith.

–Começou...- Murmurei, as duas se insultavam e xingavam e quando estavam quase socando uma a outra Arkane puxou as duas e passou os braços pelo pescoço das duas.

–Bem, então já vamos indo, vou cuidar dessas duas para não serem roubadas por ciganos achando que são crianças. Tchau Nanami-chan, Mitsuki-san, boa noite.- sorriu para nós e então tomou seu rumo.

–O senhor quer me dizer o que estava fazendo naquela barraca de tiro ao alvo?- Disse quebrando o silêncio que se formara entre nós dois.

Ele riu e espreguiçou-se.

–Só por que não sou humano não quer dizer que não posso agir como um... Sabe essa espécie me fascina... Estar perto dessas criaturas é tão fascinante... E também por que... Eu não me sinto só...Parece que quando estou junto dessa multidão eu não sou o que sou... Sou normal...- disse e seu sorriso foi se desfazendo e então ele olhou para o céu.

–Acho que tenho deixado as pessoas um pouco de lado... Desculpa se fiz isso com você. - disse olhando para as estrelas no céu, senti minha cabeça pesar por alguns segundos e minha visão embaçar, pisquei com força e então voltou ao normal... Muito... Muito estranho... Meu coração estava apertado estava com medo dessas dores e mudanças repentinas.

–Cala boca Nanami.- me empurrou de leve. – A única pessoa que você deixou de lado foi você mesma. - Olhei para ele surpresa.

Eu me deixei de lado... Como assim? O que ele quis dizer com isso?

–E então, você encontrou o rapaz de ontem aqui?- perguntou.

Suspirei e balancei a cabeça negando.

–Nem estava pensando nisso... Agora pelo menos, mas sei que vamos nos encontrar novamente... - sorri para ele e então ele deu um pequeno sorriso.

–Vamos pra casa Nanami?

E assim voltamos para nosso conforto ao chegarmos Tomoe estava sentado na sacada, pela sua expressão não estava muito feliz, nem um pouco.

–Onde estavam?- perguntou naquele mesmo tom gélido de sempre.

–Fugindo da sua chatice que parece grudar nas pessoas.- disse Mitsuki passando reto e entrando no templo.

Tomoe estalou a língua e resmungou algumas coisas sem nexo e então se virou para mim e suavizou um pouco a expressão.

–Posso passar ou você quer me fazer um questionário?- disse subindo as escadas parando ao lado dele.

–Ele apareceu de novo. - falou tão baixo quanto um sussurro, a franja cobriu-lhe a face sendo assim não pude ler sua expressão.

Ele caminhou até a lateral onde se faziam as orações, eu segui-o e não acreditei no que tinha visto, rosas estavam espalhadas pelo chão, pétalas de lírios espalhados pelos assentos e todas as velas acesas, o vento soprou balançando os sinos e fazendo o aroma se espalhar, o cheiro era doce, sutil e delicioso, as pétalas se espalharam com o vento.

–Ele fez isso?-perguntei boquiaberta.

–Sim, ficou quase uma hora aqui sentado... Anotei as orações que ele fez... - disse entre dentes, àquilo era o que? Mas que raiva ele tinha dele?

Então me senti mais forte, como se tivesse dormido por muito tempo e agora finalmente estivesse acordada... Era a oferenda...

Senti minha visão oscilar e então tudo ficou meio amarelado.

Tomoe me encarava estupefato, parecia que estava lhe faltando ar, seus olhos estavam arregalados e então eu me senti flutuar por um tempo, a luz ao meu redor era muito forte, muito forte mesmo, fechei os olhos e cobri-os com os braços, eu fiquei desesperada, as dores que sentia antes agora vieram em dobro, era agonizando deixei um grito escapar ele foi abafado pelos meus braços, mas a dor era agoniante, e quando finalmente senti a luz baixar e encostar os pés no chão e abri os olhos.

–N...Na...Nami...- ele mal conseguia falar, olhei desesperada para mim, eu vestia uma Yukata dourada, tinha detalhes em roxo e azul escuro, o cinto estava fortemente preso em um grande top atrás, era azul escuro e tinha mangas longas e douradas que tinham pequenos lírios bordados e na borda tinha uma tira azul escuro, tão delicados... Aquela não era uma Yukata normal, ela era longa atrás e na frente, tinha lírios e rosas roxas e azuis estampadas como se tudo tivesse sido feito a mão e com todo o cuidado, senti meus cabelos presos também, levei as mãos a eles e pareciam mais densos, e sedosos também, toquei meu rosto mas não senti nada de diferente. A dor havia passado mas eu parecia mudada... Até mesmo mais alta.

–Tomoe...O...O que aconteceu?- perguntei com a voz vacilante, meu medo crescia cada vez mais.

Ele baixou a cabeça e me guiou até a sala de ensaio no andar superior.

Olhei-me no espelho e... Kami-sama... Eu estava divina... Sem exageros, meu rosto estava impecavelmente maquiado, o vermelho em meus lábios que pareciam ter ganhado mais volume, meu rosto estava mais magro e esbelto, meus olhos delineados com um delineador e sombra roxa com dourado, meus cílios estavam longos e meus olhos pareciam não parar de mudar de cor.

–T...Tomoe quem é essa mulher no espelho?- apontei para aquela beldade desesperada, quando olhei vi que estava tremendo.

–É você Nanami... A deusa está tomando conta do seu corpo. - disse baixo, evitando olhar para mim, eu tinha mais seios, meu corpo estava curvilíneo, soltei os cabelos e eles estavam mais cumpridos e estavam mais escuros e densos.

–Tomoe... Essa não sou eu... - comecei a chorar, e senti-me sem chão, e quando eu ia cair de joelhos Tomoe me segurou nos braços e eu me agarrei a ele... Eu não queria sumir... Não queria que essa deusa estúpida aparecesse no meu corpo... Nunca me disseram que seria assim... Eu estava aflita... Estava perturbada... E se eu sumisse? Minha personalidade estava mudando a cada dia... Isso eu pensei que fosse coisa minha, mas... Mas.... Eu me recuso a continuar este pensamento.

–Tomoe... Eu não quero sumir.- disse em seus braços, as lágrimas caiam sem parar, e eu me senti frágil, me senti sendo cada vez mais ofuscada, cada vez menor...

Eu não quero sumir....

–Você não vai.-disse firme. – Nem que eu morra por isso.- olhou no fundo dos meus olhos e então me abraçou forte.

Meu coração quebrou-se por completo, o vento soprou mais uma vez levando o que sobrou dele... Junto comigo... Tomoe... Você já esta me deixando sumir...

E então me senti envolvida num abraço quente novamente... Me agarrei aquilo... Segurando firme... Para não me perder... Para não me deixar de lado novamente...

A deusa que habita em mim... Quer me fazer sumir... Ela quer... Que eu suma...