O dia dos meninos do Inazuma Japan estava indo cada vez mais de bom para ótimo. Após uma semana caótica enfrentando parte do mundo, o céu e o inferno, um feriado caíra bem. Um dia inteiro aproveitando o sol de Liocott era praticamente tudo o que os times precisavam. Descansar do campeonato, visitar uma área internacional vizinha, comprar lembrancinhas, sair e fazer amizades... Endou até se deixou levar por um passeio nas calçadas do centro após o seu treinamento na praia. Depois de uma tarde relaxando nos arredores da ilha, os meninos e meninas marcaram de se encontrarem em um salão de jogos perto da fronteira da área italiana com a área japonesa, afinal, o que tem de mais clássico numa tarde com os amigos do que boliche, fliperama e karaokê?

Metade do dia já havia passado, e a maioria já estava reunida. Nunca o local tinha ficado tão movimentado. Turmas de todos os times se encontraram naquele fim de tarde para se divertir, conversando animadamente, se encarando nas competições, se empolgando sobre como as finais estavam chegando e conhecendo melhor seus rivais.
A antiga Raimon, inclusive. Os garotos do time japonês estavam quase todos na mesma sala, uma sala ampla e bem decorada, com algumas máquinas de vendas, jogos de mesa e o favorito do pessoal, que se reunia para cantar suas músicas favoritas. Mesmo Kidou tinha dado uma chance para o brinquedo.

No centro da sala, sentados nos sofás com algumas latas de refrigerante e salgadinhos, os velhos amigos conversavam e riam como tantas vezes, e é claro, o capitão do time não parava de tagarelar sobre novas técnicas e seus próximos desafios. Era divertido como futebol nunca saía da cabeça de Mamoru, mesmo que tenham tirado um dia para focar em outras coisas. Um dia tão diferente e especial, que parecia que não dava pra melhorar.

— Fubuki-kun, é a sua vez. – Touko chamou a atenção de seu amigo, estendo um microfone para ele.

Zaizen havia terminado sua música, e o albino era o único que não tinha cantado ainda. Tímido, o garoto afastou o microfone.

— N-não, eu... eu não canto muito bem... – Disse, entre risadas nervosas.

Os garotos em volta ficaram chocados, soltando um “O QUÊ?!” em conjunto, assustando o coitado de Shirou.

— Nossa, que besteira! – Kazemaru falou, jogando-se no sofá. – Sua voz é linda pra caramba!

— É, verdade. Não teve aquela vez da gravação do CD? – A garota de cabelos rosados lembrou, enquanto roubava um saco de batatinhas da mão de Tsunami.

— Ô MEU!! – O surfista reclamou, mas Touko nem ligou.

Lisonjeado, Fubuki corou e colocou uma mão na nuca, esfregando timidamente seus cabelos. Sua ex colega de time havia mencionado o CD que fora gravado em comemoração após a batalha com o Instituto Alien. Os protagonistas da Raimon, Endou, Kidou, Gouenji, Kazemaru e Fubuki foram chamados para cantar a música Saikyou de Saikou, ou os “melhores e mais fortes”, escrita em homenagem a eles, os heróis do futebol. Lá, eles eram chamados de Inazuma All Stars, e além da música em conjunto, cada um teve até um solo. Se tudo desse certo, iriam gravar outro no final do ano, após o FFI.

Durante os ensaios e a gravação oficial, o albino se lembrou que deu medo e ele ficava bem nervoso, mas uma vez que soltava a voz junto com os seus amigos, ele ficava perfeitamente bem no final, e era divertido. Mas ainda, o sentimento causado por ter que cantar em público ainda o deixava meio acanhado.

— Vai Fubuki, não precisa ter medo! – O garoto de cabelos azuis sorriu.

— É, todo mundo aqui é igualmente ruim! Ai! – Tsunami tentou animar seu amigo, mas acabou levando as batatinhas de Zaizen na cara.

— Ô besta quadrada! – Reclamou. - Sua voz é muito boa, Fubuki-kun. – Elogiou a garota.

Enquanto seus colegas tentavam o convencer de que ele estava sendo modesto e que uma tentativa não iria matá-lo, Endou teve uma ideia:

— Deixa que o Gouenji aqui canta com você! – Ele deu um tapa nas costas do mencionado, que estava quieto há algum tempo.

— Por que eu? Eu já cantei. – Disse.

— Gouenji-kun?

— Se você tem vergonha de cantar sozinho, isso não vai ser um problema, certo? – Kidou também se pronunciou, ajustando os óculos.

Fubuki analisou um pouco. Já não havia muitas pessoas na sala além de seus amigos, então cantar para eles não pareceria tão assustador, assim se estivesse com alguém.

— Hum... olhando por esse lado, acho que tudo bem. – Cedeu o albino, dando um sorrisinho.

Geral comemorou. Em seguida, todos olharam para Shuuya.

— VAI LÁ, GOUENJI! POR FAVOR!! – Implorou a turma, em coro. – GOUENJI! GOUENJI! GOUENJI!!

— Tá bom, tá bom! – O loiro desistiu, levantando do sofá. – Vamos nessa.

Shirou aceitou o microfone estendido por Touko e Gouenji pegou um outro que estava na mesa, posicionando-se na frente da televisão. O dispositivo acusou que Fubuki seria o “player um” e Shuuya seria o “player dois”.

— Qual música vocês querem? – A garota perguntou.

— Põe qualquer uma. – Gouenji respondeu.

— Pode jogar no aleatório?

— Pode. – Fubuki disse.

A rosada selecionou a opção que dizia “aleatório” com o controle do console. Centenas de músicas internacionais se misturaram dentro da tela, até que a escolhida foi Bésame, uma música pop em espanhol latino, cantada por um tal de Cali y El Dandee, uma dupla da Colômbia. A música começaria em 30 segundos, do contrário, havia a opção de “embaralhar novamente”.

A galera deu uma repudiada de leve. Certamente, num palco internacional haveriam músicas de todas as partes do mundo, mas na real, ninguém sabia espanhol naquela sala, e isso tirava um pouco a graça.

— Ah, eu conheço essa música! – Pronunciou Fubuki.

Quer dizer, quase ninguém. A declaração arrancou um “eita” de Endou. De resto, ficaram quietos, ainda que surpresos.

Hablas español, Fubuki? – Começou o loiro.

Un poquito, entiendo más de lo que puedo hablar. – Soltou, entre risadinhas nervosas que deixaram o povo completamente abismado, já que não sabiam que o albino falava outro idioma.

De certo, Fubuki não se importava em ouvir músicas em outro idioma de vez em quando, mesmo que não entendesse tudo. Ainda que músicas em inglês parecessem mais fáceis, as músicas em espanhol sempre o encantavam mais. Dessa vez, foi uma coincidência que a música selecionada fosse conhecida por ele. Gouenji também confiava nas suas habilidades, já que sabia um pouquinho do idioma.

— Ei, amigos. – Tsunami fez questão de imitar um acentuado sotaque espanhol. – Não é por nada não, mas música vai começar! Vai ser essa mesmo?

Ambos acenaram que aceitavam a música, e no instante em que a música começou, a galera em volta percebeu que a experiência poderia ser mais divertida do que parecia. O programa alertou o “player dois” que ele começaria na contagem de 5 segundos, e assim que esta terminou, as letras foram mostradas na tela.

—> Bésame – Cali y El Dandee

Hace tiempo, mucho tiempo (Faz tempo, muito tempo)
Muy lejos el sol (Muito longe do sol)
Un verano, mi canción frente al plano (Um verão, minha canção em frente ao plano)
Tu y yo (Eu e você)
Te di mi corazón por amor (Te dei meu coração por amor)
Por amor (Por amor)
Si camino puedo soñar (Se caminho posso sonhar)
Que todo vuelve a empezar (Que tudo volta a começar)
La luna va a reflejar (A lua vai refletir)
Que solo yo te puedo besar (Que só eu posso te beijar)
Y en un segundo te hago (E em um segundo te faço)
Dar la vuelta al mundo (Dar a volta ao mundo)
Con un beso que al llegar (Com um beijo que, quando chegar)
Pueda hacer que tú me vuelvas a amar (Pode fazer com que você volte a me amar)

Ou ao menos era pra ser isso, já que Gouenji se atrapalhou todo no ritmo acelerado da primeira parte da música e balbuciou como um imbecil a maioria das frases, arrancando risadas de seus companheiros.

— Ei, Gouenji! É pra ser espanhol ou árabe isso aí?! – Kazemaru, sentado no braço do sofá, não perdeu a oportunidade.

Fubuki fez um sinal levantando o dedo indicador para que todos se calassem, inclusive Gouenji, já que o seu turno acabou assim que o albino aproximou o microfone de sua boca e soltou sua voz.

Tus labios me hacen daño (Seu lábios me fazem dano)
No lo puedo evitar (Não posso evitar)
Difícil controlarlo (Difícil controlá-lo)
Imposible descifrar(Impossível decifrar)
Y activas mis sentidos(E ativa meus sentidos)
Y aumentas mis latidos (E aumenta meus batimentos)
Ya sabes lo que puedes lograr(Já sabe o que pode fazer)

A melodia havia desacelerado, e como esperado, Shirou tinha uma voz completamente angelical e também cantou quase tudo certinho, humilhando o pobre coitado do Gouenji.

Tus labios me hacen daño(Seus lábios me fazem dano)
Yo me dejo tentar (Eu me deixo tentar)
Es algo por instinto (É algo por instinto)
Que no logro explicar (Que não posso explicar)
Un imán que nos atrae (Um ímã que nos atrai)
Una fuerza incontrolable (Uma força incontrolável)
Dejémnos llevar que más da (Deixemo-nos levar que é melhor)

Shuuya quase perdeu sua vez ao se perder completamente na voz do garoto. Era tão harmônica e melodiosa que chegava a combinar com a música, que já estava envolvendo todos os presentes com a batida leve e os instrumentos acústicos. Muito bem, Fubuki Shirou, você havia acabado de motivar seu companheiro a se esforçar pra alcançar você. Afinal, não gostaria nem perder, nem no karaokê.

Tengo sed de tu dulzura(Tenho sede de sua doçura)
Que me enferma y que me cura(Que me adoece e me cura)

O “player um” e o “player dois” cantaram a linha da ponte juntos sem errar nenhuma vez (Amém, Gouenji!), e quem diria, as vozes dos dois juntos combinavam muito bem. Em seguida, foi anunciado que Fubuki cantaria a maior parte do refrão, enquanto que Gouenji ficaria nos backing vocals. Um pouco injusto, mas só lhe restava fazer o seu melhor. Após uma pausa, a batida tornou-se mais intensa.

Seré yo, quien te haga volar (Serei eu quem te farei voar)
(eeh)
Si me oyes cantar (Se me ouvir cantar)
(ehh ehh ehh yeahh)
Bésame, bésame, bésame, bésame (Beije-me)
No puedo seguir(Não posso seguir)
(eeh)
Sin ti junto a mí (Sem ti junto a mim)
(oouh uooh)
Bésame, bésame, bésame, bésame (Beije-me)

Shirou não havia hesitado ao envolver-se na música, até fechando os olhos, encantando o time e alguns dos membros de times estrangeiros que passavam por ali e decidiram ficar. Não podia evitar, ele sabia o refrão de cor e era realmente uma música bonita. A magia era demais para não se jogar de cabeça, tanto que sua timidez se esvaeceu completamente em algumas linhas. O goleador de fogo também tinha feito um bom trabalho suspirando vogais melodicamente. Sua voz também era bonita, e isso ele havia provado. A música continuou após alguns belos acordes do violão, anunciando que ainda era a vez do “player um”.

Jugando a que no quieres (Fazendo o que não quer)
Nada vas a lograr (Nada vai conseguir)
Se nota en tu mirada (Se nota em seu olhar)
Que me quieres besar (Que você quer me beijar)

Ao cantar a última frase, de maneira brincalhona Shirou lançou uma piscadela como se estivesse flertando com Gouenji, uma mensagem subliminar, fazendo alguns dos garotos que estavam batendo palmas no ritmo da música soltarem um “uuuuh” abafado. Gouenji riu da brincadeira, lançando um olhar atrevido como resposta, que fez o albino corar e perceber que talvez não tinha sido uma boa ideia. Surpreendentemente, não conseguiu fazê-lo errar.

Y aunque niegues lo que sientes (Ainda que negue o que sente)
Y te creas indiferente (E que siga indiferente)
Las cosas pronto van a cambiar (As coisas logo vão mudar)

À essa altura do campeonato, todo mundo já tinha se aproveitado do wi-fi do salão e pesquisado a tradução da música no Google, então todos já estavam bem cientes do que estavam ouvindo, e até concordavam que a caía perfeitamente com o par. Fubuki lentamente lembrou-se e se deu conta das letras, ficando um pouco envergonhado ao perceber que nada do que estava cantando estava... bem, errado. Mas como a música dizia, Gouenji estava indiferente e não perceberia. Ele nunca percebe.

Tengo sed de tu dulzura (Tenho sede de sua doçura)
Que me enferma y que me cura (Que me adoece e me cura)

Com a voz acentuada de Shuuya, Shirou começou o refrão novamente, agora acompanhado por algumas das vozes de seus amigos, que estavam aproveitando bem o espetáculo.

Seré yo, quien te haga volar (Serei eu quem te farei voar)
(eeh)
Si me oyes cantar (Se me ouvir cantar)
(ehh ehh ehh yeahh)
Bésame, bésame, bésame, bésame (Beije-me)
No puedo seguir (Não posso seguir)
(eeh)
Sin ti junto a mí (Sem ti junto a mim)
(oouh uooh)
Bésame, bésame, bésame, bésame (Beije-me)

O príncipe da neve começara a notar que a sala estava enchendo. Um certo alguém, lê-se uma garota de touca e cabelos rosados, havia aumentado o volume do som até o máximo e praticamente todo o lugar estava ouvindo, e agora não só os membros do Inazuma Japan, mas de vários outros países haviam se reunido para escutá-los. Se bem que, com Gouenji ao seu lado, nunca havia muito o que temer, e a ideia de que eles estavam dando uma de dupla sertaneja era engraçada o suficiente para fazê-lo esquecer da sensação de nervosismo e a palpitação de agora há pouco. Ele admite, quase havia errado as letras pela vergonha de cantar algo tão... explicitamente romântico.

Porque sin ti me muero (Porque sem você eu morro)
Sin tus besos no puedo (Sem seus beijos não posso)
Por ti puedo respirar (Por você posso respirar)
Y no quiero que me digas no no (E não quero que me diga: não, não)

A parte em que cantavam juntos teve um bis, e Gouenji suspirou aliviado ao ver que finalmente era sua vez de solo e teria uma boa chance de reconhecimento. Preparou-se totalmente cativado, agora que conhecia as letras, mas não deu pra evitar o desespero de quem já havia ouvido o desastre dos primeiros minutos.

Hace tiempo, mucho tiempo (Faz tempo, muito tempo)
Muy lejos el sol (Muito longe do sol)
Un verano, mi canción frente al plano (Um verão, minha canção em frente ao plano)
Tu y yo (Eu e você)
Te di mi corazón por amor (Te dei meu coração por amor)
Por amor (Por amor)
Si camino puedo soñar(Se caminho posso sonhar)
Que todo vuelve a empezar (Que tudo volta a começar)
La luna va a reflejar (A lua vai refletir)
Que solo yo te puedo besar (Que só eu posso te beijar)
Y en un segundo te hago (E em um segundo te faço)
Dar la vuelta al mundo(Dar a volta ao mundo)
Con un beso que al llegar (Com um beijo que, quando chegar)
Pueda hacer que tú me vuelvas a amar (Pode fazer com que você volte a me amar)

Tal como fogo e gelo, Gouenji o fez derreter. Ele não tinha ideia de que a voz de seu colega poderia ser tão doce e fazer contraltos tão bonitos, e isso lhe fez dar um sorriso para o goleador de fogo, orgulhoso e encantado. O loiro se sentiu lisonjeado, com certeza, apesar de que, não foi só o seu parceiro que havia sido impressionado. Seu grupo soltou aplausos e gritos histéricos ao fim do solo, uma vez que duvidaram de seu potencial.

Acidentalmente, os olhos esverdeados de Shirou encontraram os escuros de Gouenji ao cantar o último verso antes do refrão final.

Bésame, bésame, bésame, bésame (Beije-me)

Fubuki entregou-se completamente aos seus sentimentos ao cantar, se deixando levar como se estivesse cantando aquelas palavras especialmente para o artilheiro, esperando que ele de alguma forma notasse o que queria dizer-lhe, não tirando os olhos dele com facilidade, sendo a única exceção quando fechava-os, sua voz saindo num suspiro apaixonado. Seu coração sentia-se totalmente envolvido na música, e isso o fazia levar a mão ao peito e soltar a voz cada vez mais alta e mais melodiosa, tanto que até a parte de Gouenji estava roubando fazendo os backing vocals. O goleador não podia deixar de notar o quão lindo era ver seu companheiro se perdendo na música, como se estivesse nas nuvens. Era belo, o deixava arrepiado. Uma sensação no mínimo inédita.

Seré yo, quien te haga volar (Serei eu quem te farei voar)
Si me oyes cantar (Se me ouvir cantar)
Bésame, bésame, bésame, bésame (Beije-me)
No puedo seguir (Não posso seguir)
Sin ti junto a mí (Sem ti junto a mim)
Bésame, bésame, bésame, bésame (Beije-me)

O último refrão foi seguido de vários gritos entusiasmados que acabaram servindo de acompanhamento para as vozes principais. Muitos já não conseguiam ficar parados, se levantando de seus lugares no sofá para dançar ao compasso da música. Gouenji e Fubuki nunca haviam se divertido tanto com um jogo, e eles mesmos se viram tentando imitar uma dancinha latina com a canção, trocando risadas no meio das letras, até que a melodia foi sumindo aos pouquinhos, com os últimos suspiros dos vocais.

Assim que a música desapareceu completamente, a dupla foi bombardeada de respostas positivas, muitos berros entusiasmados e aplausos de jogadores de todas as partes do mundo, tão alto que quase ficaram surdos. Definitivamente, eram os melhores até agora. Voltando a ser o tímido Fubuki Shirou, o garoto não podia fazer nada além de sorrir e agradecer, constrangido. Gouenji verificou a pontuação e decepcionou-se. Não havia ganhado de Shirou, afinal de contas. Os dois se reverenciaram e passaram a vez para os próximos jogadores, indo em direção ao seu grupo espalhado pelo sofá.

— Isso! Foi! DEMAIS!! – Endou abraçou Fubuki e Gouenji por trás, pulando em seus ombros.

— Da próxima vez que você me disser que não sabe cantar, eu vou te bater, ouviu?! – Touko ameaçou, ainda que não tivesse a coragem para encostar um dedo no anjinho albino inocente. – Olha lá! Olha isso! Pode ISSO, minha gente?

A rosada apontou para a televisão que ainda marcava a pontuação, e realmente, Fubuki havia ficado na frente da garota por pelo menos duzentos pontos.

— A música que cantaram era muito bonita. – Comentou Kidou, com o celular na mão, enviando os vídeos para o grupo de mensagens da turma. – Assim como suas vozes.

— Era uma música bem romântica, não é? – Hiroto se pronunciou, conversando com alguns jogadores da Espanha, que ficaram fascinados com a habilidade dos japoneses de cantar em sua língua nativa. Estes também haviam elogiado Fubuki e eram os próximos a cantar.

— Ah... era, não era...? – Fubuki mexeu em seus cabelos, olhando de canto para o goleador, mas desviando-se imediatamente, frustrado ao ouvir um “nem reparei” do maior.

A tarde caiu com uma tempestade, surpreendendo todos que tinham horário para voltar. O que não era o caso do Inazuma Japan, que viam o “ficar preso devido à chuva” como uma oportunidade pra continuar no fliperama, cantar mais um pouco ou aproveitar outros jogos. Kidou, por exemplo, levantou-se e deu dois tapinhas nas costas de Gouenji e anunciou que iria jogar boliche, liberando lugar no sofá ao lado de Fubuki, que havia sentado para comer arroz doce. A sala logo ficava mais vazia do que antes e o karaokê já nem estava sendo usado. Os únicos presentes estavam mergulhados em suas próprias conversas, deixando Shuuya e Shirou sozinhos um com o outro. Não que isso fosse deixar Fubuki abalado de alguma maneira, afinal, sua amizade já havia chegado num ponto que passava os silêncios constrangedores, mas talvez, só talvez, ele desejasse falar com ele um pouquinho? O problema era não saber o que dizer, ainda um pouco atordoado pelo que havia acabado de acontecer.

Chamava a atenção o fato de que os trovões estavam se tornando frequentes e o goleador de fogo sabia quais eram as reações do albino a eles. Besteira, afinal, Shirou não precisava mais ter medo de avalanches. Os dois tinham certeza de que trovoadas não deveriam lhe assustar mais, mas o loiro podia sentir dali que Shirou ainda tremia, inquieto, causando-lhe uma certa preocupação.

— Fubuki... – Começou Gouenji. – Você vai ficar bem? Você está tremendo um pouco.

— Hã? Ah... Eu vou. Não tenho mais medo, eu só... não gosto. – Respondeu-lhe dando um sorriso tímido, tentando varrer as preocupações do maior.

Além disso...— Pensou. – Existe outra coisa que me deixa inquieto assim.

Os olhos esmeralda voltaram-se para o chão. Essa coisa era nada mais nada menos que a presença do mais alto, tão perto que fazia seu coração palpitar a ponto de parecer explodir e deixava suas bochechas rosadas de vergonha. Talvez ele tivesse uma queda por seu companheiro, que era tão alheio a tudo que nem sonhava que uma pessoa tão próxima o desejava.

Não teve tempo para ficar frustrado com isso, afinal, pois um trovão extremamente alto estremeceu todo o salão, trazendo sensações não muito agradáveis que passaram diante dos seus olhos. Gouenji imediatamente soube que isso poderia assustar Fubuki, mas não pode reagir antes que o mesmo agarrasse seu braço com força e escondesse o rosto nele, deixando sair algo semelhante a um choro.

— G-gouenji-kun! – Gritou, chamando a atenção de alguns desconhecidos.

— Fubuki! Olhe pra mim! – O loiro segurou o rosto do albino com sua mão livre e fez com que ele olhasse em seus olhos. – Acalme-se.

Ao encarar os orbes esverdeados de Shirou, percebeu que ainda se lembrava da última vez em que havia mirado nesse olhar de pânico. Foi durante o treinamento para o combate com a Gênesis, onde as tempestades também o deixaram muito assustado, e foi a primeira vez que notara o quão frágil ele podia ser, exatamente como agora. Naquele dia, o goleador precisava ensinar uma lição ao garoto, e o deixou sozinho naquele campo enquanto a chuva caía. Não foi por maldade e sim algo necessário, mas ele nunca conseguiu lidar com o sentimento de culpa depois de abandoná-lo naquele dia. Olhando para o pequeno Fubuki agarrado em seu braço, tudo o que sentia era vontade de protegê-lo.

— D-desculpe... – Shirou largou-o de imediato, se encolhendo no sofá, percebendo o que havia feito. – Estou bem agora.

— Por que eu tenho a sensação de que você não está falando a verdade? – Perguntou o outro, aproximando-se.

Fubuki nada disse. Sabia que gostava de Gouenji, muito mais do que um amigo deveria, mas o que ele deveria fazer sobre isso? Com o medo de que ele não aceitasse os seus sentimentos? Ele nunca deveria contar-lhe, e também não podia correr o risco de que o goleador descobrisse, ou acabaria com a sua amizade com ele.

A aflição fez o príncipe das neves se levantar do sofá branco, deixando Gouenji para trás. A timidez e a insegurança lhe diziam que ele deveria manter esses sentimentos que nunca seriam correspondidos longe dele. Trovões não lhe davam tanto medo quanto deixar Gouenji reparar em seus sentimentos.

Abraçando os próprios braços, o albino se afastou da sala do karaokê, e quando teve a certeza de que estava longe o suficiente, se sentou no chão, encolhendo-se num canto confortavelmente pequeno, com o rosto afundado nos joelhos. Deu a si mesmo um tempo para acalmar esses sentimentos dentro dele.

— Fubuki!! – A voz familiar o chamou, arrepiando-o. Gouenji tinha ido atrás de seu companheiro. O mesmo ajoelhou-se na altura do mencionado. – O que aconteceu?

— Não é nada. Por favor, poderia me deixar sozinho? – Respondeu com um sorriso fraco. Totalmente o contrário da última situação em que estiveram assim.

Gouenji se sentiu aborrecido pela atitude do menor. O que realmente havia de errado? Ele segurou os ombros de seu amigo.

— Fubuki, por que está sempre agindo desse jeito?

— Desse jeito como?! – Perguntou num susto.

— Você sabe como! Sempre se escondendo de nós, escondendo coisas de mim! – Apesar de não achar que o problema tinha a ver com as tempestades, o loiro afirmou. – Se você ainda tem medo, pode contar comigo!

Shirou levantou seu olhar, reagindo à ternura do goleador. Uma agradável sensação de conforto subitamente preenchendo-lhe o coração. Que ingênuo... o problema nem era esse, mas apenas ouvir essas palavras o fazia sentir como se tudo tivesse se resolvido. Por que ele sempre tinha que virar o seu mundo de ponta-cabeça?

— Você não precisa ficar sozinho. – Finalizou, bagunçando os cabelos acinzentados.

Essas palavras e gestos arrancaram um sorriso do menor, um sorriso tão tímido e encantador que fez o rosto de Gouenji esquentar, seguido de uma palpitação no peito. Fubuki era simplesmente adorável, e o loiro gostava de lhe fazer bem. Se havia qualquer coisa que pudesse fazer para manter aquele sorriso em seu rosto, ele o faria.

O loiro trouxe a sua mão para a de Shirou, e entrelaçou os seus dedos nos dele, fazendo-o soltar uma risada nervosa.

— Gouenji-kun... O que está fazendo?

— Fubuki, você se lembra da música que cantamos há pouco?

Dito isso com uma voz baixa, os olhos escuros olharam fundo nos do albino, prendendo-se neles enquanto deixava os rostos cada vez mais próximos. Fubuki mordeu o lábio.

— S-sim... eu lembro.

Gouenji suspirou.

Bésame.

E seus lábios foram selados contra os do menor, tocando-se num beijo sem pressa enquanto Fubuki decidia se tinha um ataque cardíaco ou não ao sentir os dedos dele firmemente enroscando-se em seus cabelos acinzentados. O maior havia o prendido contra a parede, impedindo que escapasse. Aos poucos, entregou-se, derretendo-se com o calor que vinha de Shuuya Gouenji, passando os braços ao redor de seu pescoço e mudando um pouco a direção do beijo. Surpreso pela atitude atrevida de tentar tomar a frente, o goleador de fogo revidou, colocando a sua língua dentro da boca do menor sem nenhuma hesitação. A timidez e a insistência em querer se esconder denunciavam que este era seu primeiro beijo. Ele conseguia sentir o quão forte seu coração batia, tentando acompanhar seus movimentos. Enquanto isso, Shuuya se divertia brincando com a boca do seu companheiro, aproveitando-se da sua falta de habilidade arrancando-lhe um ou dois gemidos toda vez que se separavam quando o ar se fazia necessário.

Separaram-se, ofegantes, e ainda o artilheiro depositou um beijo no rosto de Shirou, suavemente e com carinho, indicando que seus sentimentos eram mútuos, e ele não poderia estar mais feliz sobre isso.

Gouenji ergueu seu companheiro do chão, puxando-o pela mão, e recusando-se a soltá-la, fazendo com que o albino se sentisse meio envergonhado, mas de um jeito bom e apaixonado. Parece que tudo havia sido resolvido do melhor jeito possível, deixando um arco-íris após a tempestade. Os dois caminharam juntos, de mãos dadas, para a sala de onde saíram, e foram logo alarmados por gritos histéricos de um Kogure em fuga entrando no lugar correndo depois de pregar uma peça num certo senpai.

— KOGURE!! EU VOU COMER TEU FÍGADO, MOLEQUE!! – Someoka berrou direto da sala do boliche, iniciando uma perseguição que duraria mais tempo se o azulado não tivesse parado no meio da sala de karaokê e olhasse direto para o mais novo casal.

— Ué, vocês estão namorando é? – Perguntou, atraindo todos os olhares na sala.

— Quem tá namorando quem? – Outros curiosos do Inazuma Japan chegaram e ouviram tudinho. Os cochichos foram inevitáveis.

— TÁ NAMORANDO!! TÁ NAMORANDO!! – Touko, Tsunami e os outros iniciaram o coro que deixou os dois completamente desconfortáveis e com vontade de se enterrarem a seis palmos debaixo da terra.

— Já sabíamos! – Kazemaru.

— Era óbvio. – Kidou.

— E aquela música então, qual é! – O menor de todos pronunciou.

— KOGURE!! – Haruna saiu do nada e agarrou o mesmo pela camiseta, o arrastando pelo chão sem nenhuma piedade.

Gouenji abraçou Fubuki. Nenhum dos dois teve coragem para negar as acusações, já que gostavam bastante da companhia um do outro para dizer o contrário. Ou não havia motivos para desfazer as ilusões dos seus colegas de time, ou realmente eles podiam viver com a ideia de serem namorados. Ficava no ar a dúvida.

— Ô GALERA!! – Endou deu um pulo no sofá. – A chuva já parou! Quem quer jogar futebol?!

A maioria imediatamente respondeu “EU!!”, saindo de seus lugares antes que Mamoru inventasse de chutar a bola de boliche, depois de quase um dia inteiro sem contato com bolas de futebol. Além do mais, o dia foi muito divertido e descontraído, mas nada superava a sensação de jogar futebol ao pôr-do-sol com a essência do gramado molhado.

— O que você acha, Fubuki? – O maior olhou para o seu pequeno Shirou.

— Não vou perder para você, Gouenji-kun! – Respondeu no mesmo instante, determinado, tocando seus lábios com os dele mais uma vez.

E a melhor tarde se encerrava com a saída dos amigos direto para o campo de futebol mais próximo. A experiência provou que karaokê sempre seria divertido com a música certa e a harmonia perfeita.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.