Kane - Os Artefatos Perdidos Do Egito

Quando Somos Deuses e Magos, É Inevitável


Sadie

Depois de termos almoçado, voltamos todos para o carro. Enquanto papai dirigia, mamãe cantarolava, e Carter e Zia, eu suponho, se agarravam, Anúbis e eu voltamos a falar de Rock, e, agora, estávamos discutindo qual era a melhor música dos Beatles.

– ... e, para completar, Sadie, eu vejo o John Lennon direto lá no Duat. Então, é claro que eu sei mais sobre eles, e posso afirmar com certeza que as melhores músicas deles são Let it Be e In My Life. - ele disse, já depois de uma grande troca de argumentos.

– Ah, por favor. Embora seja incrível que você possa passar um tempo de qualidade com o John, eu ainda aposto nas três: Revollution, Hey Jude e All You Need is Love.

– Você não desiste mesmo, não é? - disse ele

– Nem que o chacal tussa. - respondo. Uma piada totalmente, e incrivelmente, idiotamente sem graça.

Ele me encarou por um segundo e então desatou a rir.

– Sadie... e-eu nunca havia escu-escutado uma piada tão ruim. - ele disse, até gaguejando de tanto rir.

Aí foi que nós rimos mesmo. Minha barriga começou a doer, e caímos no piso do carro, que era bem espaçoso. Muito mesmo.

Eu olhava para ele, dividida entre olhá-lo e rir. Sua boca... tão linda sorrindo!

Por fim, conseguimos ir parando.

Ainda ofegando, ele disse:

– E não posso me esquecer de A Day in The Life, não é?

– Ah, não vamos voltar para isso. - respondo, revirando os olhos. - Os Beatles são perfeitos, e todas as suas músicas são completamente maravilhosas, embora, All You Need is Love seja... Especial.

– Eu... Concordo com você. Todos nós precisamos de amor. - Não entendi se era uma brincadeira em relação a All You Need is Love (Todos Precisam de Amor), ou se era... outra coisa. Resolvi não comentar nada.

Ele pisca para mim, e então se ajeita, encostando-se na lateral do carro, já que ambos estávamos ainda no chão do carro, um de frente ao outro.

Quando me abaixo para pegar o meu fone, vou falando:

– Fico me perguntando o porquê desse espaço todo entre os nossos assentos e os da frente... - e foi aí que eu vi uma visível abertura nas parte de baixo do banco. - ...e... o que é isso?

– O quê? - Anúbis pergunta.

– Essa abertura aqui. - como sou extremamente curiosa, meto a mão no puxador mínimo e puxo.

De lá, sai um colchão. Pelo que eu podia ver, não era exatamente de casal, mas tampouco era de solteiro.

– Por quê tem um colchão aqui? - perguntei.

– Ah, bem que vi seu pai planejando isso mesmo... ele disse que se por alguma razão precisássemos dormir no carro, queria que fosse confortável.

– Ah, entendi.

Não sei porquê, mas rolou um silêncio estranho, carregado. Eu encarei os olhos cor de chocolate derretido, e ele encarou os meus.

No meio disse, o carro da um forte solavanco, tão forte, que, do piso, quase bati a cabeça no teto.

– O que foi isso?! - gritei.

Anúbis, percebendo que o carro continuava a balançar estrondosamente, pulou para cima de mim. Não entendi porque ele fez isso, muito menos o que veio depois: ele me embalou nos braços fortes, entrou na cama que eu havia puxado, e como por mágica, nós entramos no banco de novo, como se o colchão voltasse para o lugar, sem ter ninguém em cima. Só que nós estávamos em cima!

– Fique quieta. - ele sussurrou em meu ouvido, e mesmo que a essa altura eu já tivesse percebido que havia algo seriamente errado, não pude deixa de me deleitar com a situação de estar em algum lugar escuro, agarrada a Anúbis.

– Anúbis... o que está acontecendo? - eu disse, quando me recuperei de seu tom de voz.

– Algum deus está nos atacando.

Suspirei, em minha mente. Mas acho que era inevitável que ninguém nem nada nos causasse problemas em nenhum momento da viagem. Afinal, éramos deuses e magos.

– E como você sabe disso?

– Porque eu também sou um deus. Posso sentir a presença de outro.

– Ah... claro. Mas onde estamos? Temos que sair e ir ajudar os outros... AGORA!

Comecei a espernear, mas os braços de Anúbis voltaram a se fechar em minha volta, agora, com força, proibindo-me de me mexer.

– Pois é... Não dá. Todos os humanos devem ficar no carro, que é protegido.

– E porque você não está lá?

Ele suspirou.

– Porque tenho que ficar aqui e cuidar para que você não dê uma de engraçadinha e saia correndo.

Fervi de raiva. Então, ele ia mesmo bancar a babá?

– Enganou-se ao pensar que ia me prender. HA-DI! - e eu explodi a cama sobre a qual nós estávamos. Anúbis se desequilibrou por um segundo, tempo o bastante para eu me lançar pela a abertura, que, deuses, eu ainda não sabia como podia estar naquele espaço.

Eu consegui me levantar e abrir a porta em tempo.

Tempo de ver papai de braços cruzados, olhando com muita raiva para a cara de um homem vermelho, também conhecido como foguinho, Pai de Anúbis.

– SET! - Berrei.

Ele se virou para mim.

–Ah, Sadie... que prazer em vê-la.

Eu o fulminei com o olhar, e antes que eu ou meu pai pudéssemos dizer algo, Anúbis saiu do carro.

– Pai... O que está fazendo aqui? - ele parecia furioso.

– Anúbis, meu filho! De novo, andando com a filha de Osíris? Muito inteligente... - ele foi interrompido pelo meu pai.

– Cale a boca, Set. Você não tem o direito de se meter na vida de Sadie e Anúbis. Agora, fale logo por que estava atacando o nosso carro com magia.

– Ah... sim. Sabe, acho que no fundo vocês já sabem, já que seu carro tem uma proteção razoável contra ataques mágicos...

Eu pensei: por fora, pelo menos...

E meu pai interrompeu Set de novo.

– Você sabe muito bem que isto foi somente uma medida preventiva.

– Ah, meu caro Osíris, se é tão lento que mal consegue entender o jogo dos deuses, eu explico algumas coisas para você. Eu queria muito, mas muito mesmo, ter conseguido essa "promoção", que agora você, e sua família esbanjam. E, como é aquele ditado mesmo? "Se você não pode ajudar, atrapalhe! O importante é participar!" E pode acreditar, não sou o único que está seguindo isso. Meu amigo Sobek, por exemplo, também estava interessado...

Ele deu uma risada descontrolada, digna de um vilão de desenho animado.

– Mas... Ah, eu ouvi boatos sobre isso... Bastet me falou... mas eu não acreditei... Mas, Set, seu próprio filho estava no carro!

– Ah, ele é um deus. Não iria morrer. E, mesmo assim, ele é praticamente da sua família, não é? -Set disse, com um sorriso provocativo.

– Chega, pai. Vá embora- Diz Anúbis.

– É ,acho que já vou sim... Mas que fique claro... eu vou voltar... - ele riu, e desapareceu.

– Argh... nada contra você, Anúbis, mas seu pai sabe ser repulsivo. - disse a voz de Zia. Eu nem havia percebido, mas ela e Carter estiveram o tempo inteiro ao lado do carro.

– Eu sei. - responde Anúbis.

– Bom, ele conseguiu destruir o carro. - suspirou meu pai. - Talvez leve algumas horas para que eu arrume todas as magias que havia no carro e que Set destroçou... e está quase anoitecendo... e, temos uma floresta aqui.... o que acham de acamparmos?