Sadie

O portal de Bastet nos levou até o Salão do Julgamento. Assim que aterrissamos, vi meu pai, num trono enorme de ouro. Minha mãe, Ruby, estava no de ouro menor ao lado dele. Haviam, ainda, outros dois tronos de prata, mas estes estavam vazios.

Assim que Ammit (o monstro devorador de almas que é o bichinho de estimação da mamãe e do papai), viu a mim e a Carter, pulou em nós e começou a nos lamber e fazer grunhidos de alegria.

– Calma, garotão! - eu disse, tirando ele de cima de mim e de Carter.

– É, Ammit, nós tomamos banho, não precisamos de outro, ainda mais com a sua baba! - disse Carter.

Papai e mamãe riram e papai disse:

– Deixe que eles respirem, Ammit. - este, então, recuou imediatamente. - Crianças! Que saudades de vocês! - ele disse, nos olhando com amor.

– É, vocês estão ainda mais crescidos! E Zia, meu amor, como vai? - disse minha mãe, sorrindo para nós.

– Bem, senhora, obrigada. - disse Zia.

– Eu espero que o Carter esteja se comportando com você, Zia. Ele sabe ser bem insistente. - disse mamãe.

– Mãe! - Carter disse, indignado, mas antes que ele pudesse falar mais, Zia o interrompeu, dizendo:

– Nós estamos namorando, minha senhora. E, sim, o Carter está se comportando muito bem. Eu não aceitaria outra conduta. - Zia disse, muito formalmente, mas obviamente segurando o riso. Eu também estava rindo muito.

– Namorando? Sério? - perguntou meu pai como se isso fosse algo totalmente inimaginável. Eu concordava totalmente.

– É, pai, não sei como ele conseguiu. Pobre Zia, não merecia... - cantarolei, rindo muito mesmo.

Carter estava muito vermelho e parecia ainda mais indignado do que antes. Mamãe cutucou papai com raiva.

– Hã... não foi isso que eu quis dizer! Eu só... bem, parabéns, Carter, Zia...

– Ok, ok, as loucuras da família depois... O que vocês querem conosco? Qual é o problema? Quem está atacando? - eu despejo tudo de uma vez só.

– Meu bem, ninguém. Não há nem um problema. O que nós queremos dizer é uma boa notícia. - disse mamãe, rindo do meu pessimismo.

– É, vocês vão adorar. - meu pai disse isso num tom esperançoso, como se dissesse: "por favor, adorem isso?"

– O que é? Olha, não é outra festa da Hathor, não é, por que se for... -Carter ia dizendo, quando foi interrompido por papai.

– Não, meu bem, nós não planejamos outra festa com a Senhora Hathor nem tão cedo. - diz ele, fazendo uma careta. Era uma história realmente louca, a da festa da deusa do amor, e não era algo que nós gostávamos de lembrar, muito menos de pensar em outra.

– Ainda bem, porque da próxima vez que ela me fizer usar um saiote rosa escocês, eu vou dar um chute no... - eu disse, mas mamãe interrompeu e disse:

– Muito bem! Então, Julius, conte a eles! Conte, conte! - mamãe se levantou, batendo palmas.

– Bom, crianças, vou direto ao ponto. Desde a queda do Egito Antigo até os dias de hoje, muitos artefatos que pertencem ao Egito foram espalhados pelo mundo, coisas como Jóias, amuletos e outras assim. Os deuses fizeram uma reunião e decidiram que querem que essas coisas voltem para sua terra de origem. Mas muitas são protegidas por velhos encantamentos poderosos e coisas do tipo, tão poderosos que apenas um Deus poderia desfazer com segurança. Então, escolhemos um deus para fazer essa tarefa por um tempo, e esse deus, por sua vez, pode escolher alguns magos para acompanhá-lo. Na verdade, foi uma grande disputa por essa tarefa, porque... bem, isso não foi dito em voz alta, mas é como... um descanso, durante alguns meses. - disse meu pai.

Eu e Carter estávamos simplesmente perplexos.

– Você quer dizer... - Carter começou, falando bem devagar,

– ...que o Senhor vai tirar férias? - eu completei

– Bem, não é isso, exatamente, porque vamos ter um objetivo. É mais como um trabalho leve. E, é claro, como vocês deduziram tão rapidamente, quem irá sou eu, e eu escolhi vocês, minha família, para irem comigo. E, uma surpresinha: sua mãe também poderá ir, porque eu posso escolher realmente quem eu quiser.

Ah... era por isso que minha mãe estava tão alegre.

Ficamos em silêncio. Nós, eu e Carter, estávamos processando a ideia.

Para falar a verdade, eu queria isso. Um tempo com o meu pai e minha mãe? Poderíamos viajar pelo mundo, com apenas uns artefatos para pegar, e o resto do tempo podíamos aproveitar? Mas eu também estava considerando quanto tempo isso duraria, e acho que Carter também. O pobre do Carter olhava de Zia para o papai e dele para Zia bem rápido, como se estivesse considerando o tempo que teria de ficar longe dela.

– Serão aproximadamente uns 3 ou 4 meses. E, Carter, se quiser levar a Zia, ela será bem-vinda. - disse mamãe, apressadamente.

O rosto de Carter se aliviou imediatamente. Então, ele pareceu lembrar que ainda tinha que convidar Zia, e então voltou a ficar apreensivo.

Ele se virou para Zia, e perguntou:

– O que você acha... quero dizer, se você não quiser ir, não precisa... - ele deu um passo para trás e tropeçou, caindo de bunda no chão.

Eu comecei a rir, rir muito mesmo.

– Se segura Carter! A gente já sabe que a Zia te deixa tonto! - eu disse, rindo ainda mais do rosto vermelho dele.

– Carter... - disse Zia ajudando ele a se levantar. - Não sei porque você acha que... - nesse momento, Carter pareceu que ia chorar. - ...precisa perguntar.

Zia então abriu um sorriso radiante para Carter, que fez o mesmo, voltando a segurar a mão dela.

– Então, pai, eu e Zia aceitamos. - ele disse, muito feliz.

– Muito bem, meu amor, - disse mamãe. - e você, Sadie, não tem alguém que queira levar? Aquele Walter, o que acha?

– Mãe! - eu gritei, com vergonha - Não! Eu não quero levar o Walt.

– Tudo bem, Sadie. Quem, então? - perguntou papai. Todos estavam olhando para mim. Carter pareceu meio penalizado, o que me deu raiva. Vou dizer a verdade: pensei em chamar o Anúbis. [Carter está dizendo que todo mundo já sabia. Haha, Carter, muito engraçado]. Mas eu não queria fazer isso. Porque? Haviam muitos motivos, como por exemplo: Ele poderia recusar. E eu não ia dar esse gostinho a ele, de jeito nenhum.

– Eu... quero levar... - nesse momento, um certo deus chacal idiota entrou no Salão do Julgamento.

– Anúbis! - disse meu pai. - Eu estava a sua espera!

Ele entrou, e sequer olhou para mim, para Carter ou Zia. Foi direto aos tronos e disse, na sua voz aveludada:

– Senhor Osíris, Senhora Ruby. Sim, o senhor me chamou, desculpe o atraso, mas estava resolvendo alguns casos de morte estranhos... - ele disse.

– Tudo bem, Anúbis. Bem, eu lhe chamei porque tenho um pedido a lhe fazer. - meu pai disse.

– Prossiga, meu Senhor.

– Você está ciente da busca que eu e minha família estamos para fazer, certo? - Anúbis assentiu. - Bom, eu gostaria que você fosse conosco, Anúbis. Sabe, não para trabalhar, mas para descansar um pouco. Queria que fosse como um amigo. E poderia fazer companhia a Sadie, que parece não querer levar ninguém.

Eu não estava acreditando nisso. Aquela situação não podia ser verdade. Eu tinha que acordar daquele sonho louco.

Papai convidara o Anúbis, e para completar, ainda queria que ele fosse minha companhia! Deuses, eu queria morrer. Se bem que, se eu morresse, ia ter que passar mais tempo ainda com o Anúbis. Eu estava fervendo de raiva.

Esse tempo todo, Carter e Zia ficavam só olhando, então Carter falou:

– Pai, tenho certeza que Sadie pode escolher alguém da Casa do Brooklin, não é necessário que Anúbis...

– Eu adoraria. - disse Anúbis, olhando para minha mãe e meu pai, interrompendo Carter.

Então, ele se virou para mim, andou até chegar bem perto, pegou minha mão, a beijou e disse:

– Será um prazer, Lady Kane.