Keystone City, Kansas – 03 de Março, 23h: 15min.

Don Allen estava com o capuz de sua blusa sobre a cabeça, em seus ouvidos estava o seu par de fones conectados ao celular enquanto escutava as suas músicas favoritas. Mas nem aquilo conseguia anima-lo depois do desastre que tinha sido aquela noite. Grande fracasso para uma primeira missão solo.

E para piorar sabia que no dia seguinte no colégio teria de aguentar Ceci Ramon lhe apontando o quanto ela estava certa dizendo que o amigo não estava pronto para retornar as atividades heroicas. A melhor amiga de Dawn e ele tinham se aproximado desde o infeliz incidente que ocasionara na hospitalização da outra velocista.

Ela tinha sido um grande apoio para que ele conseguisse superar é claro que com esse convívio acabaram por se tornar amigos. Tanto que havia várias mensagens de texto dela para ele no celular certamente a garota tinha acompanhado tudo que acontecera em casa pela televisão.

Don suspirou porque a verdade é que não queria conversar com ninguém naquele momento apenas caminhar como qualquer pessoa normal faz. Em seu ombro pendia a alça da mochila e dentro desta se encontrava seu uniforme de herói que usava. O garoto de dezesseis anos ainda conseguia sentir o cheiro de fuligem e fumaça nele decorrente da ação fracassada dele em ajudar naquele incêndio.

Ele não conseguia esconder o quão mal se sentia pelo seu fracasso aquela noite ainda mais quando seus olhos se focavam no seu celular onde digitava algo que havia ouvido mais cedo daquele bombeiro. Então por fim discou a ultima tecla então pressionando para realizar a busca.

— Ignição Explosiva é uma explosão que ocorre quando o ar alcança um incêndio que usou todo o oxigênio disponível frequentemente ocorrendo quando uma porta é aberta no local onde o fogo está contido. – leu Don Allen no celular – Oh, okay... – ele suspirou então guardando o aparelho no bolso - Foi uma falha grande mesmo.

Don Allen se amaldiçoou por ter aberto a maldita porta e ter deixado o ar entrar sendo que aquilo certamente tinha destruído boa parte do segundo andar da casa. Ainda bem que tinha sido rápido o bastante para salvar aquele homem do contrário iria carregar o peso de uma morte em sua consciência.

Então o adolescente parou de andar e voltou seu olhar para o lado ao ver algo que lhe chamou a atenção. Don encarava a vitrine de uma loja de eletrônicos com várias televisões sendo que todas elas estavam ligadas no mesmo canal que transmitia o jornal.

— Em menos de um instante, as ações de um incosequente projeto de super-herói destruiram todo o trabalho que a Brigada de Combate a Incendios de Keystone City tinha feito. – falou Bethany Snow - As ações desse jovem meta-humano transformaram um pequeno incêndio controlado em um verdadeiro inferno.

— Tudo indica que ele fugiu de cena em vez de assumir a responsabilidade – continuou Bethany Snow – Eu não sei quem é você, garoto. – a câmera foi se focando nela - Mas tenho que te dizer que você suja a imagem e o nome que usa. Seu exibicionismo poderia ter sido mortal essa noite por isso que eu lhe digo para que pare de fazer o que quer que você pense que é o certo. Você não é nem de longe o herói que imagina ser.

— Ah, Beth você realmente pega pesado quando quer acabar com alguém – falou Don dando um sorriso triste – Talvez tenha realmente sido uma péssima escolha mesmo a que fiz essa noite.

Bethany Snow era uma amiga de Don e Dawn. Ela era filha de uma antiga aliada de seu pai chamada Caitlin Snow que no passado atuara como uma integrante importante para o time Flash composto pelas pessoas que deram apoio ao velocista escarlate em seus primeiros anos como herói.

Infelizmente Caitlin sofrera um acidente que lhe dera seus poderes de gelo e assim nasceu Nevasca, uma das vilãs que Barry Allen teria de enfrentar dessa vez com um peso maior por se tratar de uma velha amiga. Beth crescera com sua avó com quem nunca se dera muito bem e durante a sua adolescência no pico de sua rebeldia acabou fugindo de casa em busca de sua mãe.

Mãe e filha se encontraram e passaram um tempo juntas até que o Flash viesse e colocasse a Nevasca na cadeia. Desde então Bethany Snow se tornara uma das pessoas que mais anti-velocistas de Central City. E por essa razão que ela desconhecia a verdade sobre a família Allen.

— Dessa vez, eu concordo com você – falou Don para a imagem da repórter na TV – Eu estraguei tudo. – Ele sorriu tristemente antes de acertar a alça da mochila e começar a andar para continuar seu caminho até que percebeu algo estranho acontecendo.

Então as luzes começaram piscar sendo que isso incluiu tanto a iluminação noturna da rua quanto a da loja o que contava também para as televisões que se desligaram. Elas religaram de novo quando tudo retornou ao normal e a eletricidade se estabilizou deixando uma sensação estranha em Don em especial quando olhou novamente para frente e viu outro reflexo que não só o seu na vitrine.

— Ela não está errada – falou o rapaz de cabelos pretos e olhos azuis – Quando diz que você não é o herói que pensa ser. Ao menos ainda não é... – ele puxou um maço de cigarros do bolso do terno e puxou um - Você apenas é uma pedra bruta que precisa ser lapidada. – ele colocou o cigarro na boca - Mas não existe nada que o tempo não possa fazer e as pessoas certas ao seu lado também lhe garantirão isso.

— De onde você surgiu? – questionou Don começando então se afastar – Eu não sei do que você está falando. – Então sentiu algo estranho como se de alguma forma seus pés tinham se prendido ao chão e ele não podia mais dar nem um passo.

— Eu achei que você fosse ser invasivo – falou o rapaz – Eu compreendo afinal não sabe quem eu sou. – com um aceno de mão foi que ele fez o outro descolar seus pés do chão e ser trazido até o lado dele novamente - Mas eu tenho estado de olho em você e em outros como nós. – mais um gesto e Don pode sentir a calçada debaixo de seus tênis mais uma vez.

— Você é um meta-humano – falou Don Allen.

— Não exatamente – falou o rapaz – Mas o que posso te dizer que eu não sou uma ameaça a você Donatello Allen nem a sua contraparte Kid Flash. – então estalou os dedos e uma chama pequena surgiu e ele acendeu a ponta do cigarro nela - Tudo o que quero é poder ter um pouco de seu tempo disponível para que possamos conversar.

— Duas coisas – falou Don mostrando a ele um par de dedos - Primeiro de tudo: ninguém me chama de Donatello a menos que você seja algum dos professores da minha escola não venha com essa de usar meu nome comigo. Pode ser? Acertado isso vamos ao segundo ponto que é: Quem diabos é você? – O rapaz ao seu lado deu um sorriso de canto de lábios enquanto soltava um pouco de fumaça no ar.

— Meu nome é Zane – falou o rapaz – E eu quero ter algumas palavras com você, Donatello.

— Primeiramente ninguém nesse planeta me chama pelo meu verdadeiro nome – disse Don – Quer que eu goste você então está fazendo errado ao me chamar assim. Chame de Don ou Allen se preferir. Mas nunca dessa maneira.

— Temos assuntos mais importantes a tratar do que como irei te chamar – respondeu Zane – Então por que não vamos em frente com nossa conversa? Ou melhor, dizendo porque não para e me escuta que é o melhor que tem a fazer hoje.

— Você poderia ser mais simpático já te disseram isso? – disse Don colocando as mãos nos bolsos – Mas que seja vai nessa e desembucha o que tem para falar, engomadinho.

_ Diferente do que ainda deve estar pensando eu não sou uma ameaça a você – falou Zane – Talvez eu até possa ser considerado uma ameaça só que não neste caso quando tenho um interesse em tê-lo como meu aliado.

— Aliado? Vou ter que dispensar, cara. – falou Don – Eu estou tentando carreira solo agora. Mas talvez devesse tentar com um pessoal bacana que tem em Star City é só procurar pelo pessoal que banca Robin Hood e seu bando. – ele riu - Eles vão ficar felizes em trabalhar com você ou então meter uma flecha na sua cara.

— Eu não quero falar com os Queens não quando preciso conversar com você primeiro – disse Zane - eu não sou meta-humano como você pensou que eu fosse. Pode me chamar de mago já que acho que esse é um termo apropriado... Espero que não seja demais para sua mente cética acreditar nisso.

— Okay, um mago... – falou Don – Tipo você não parece um mago. – ele então o olhou dos pés a cabeça antes de dar um sorriso debochado - Cadê o cajado e a barba estilo Gandalf? Você mostra teletransporte e telecinese que são poderes típicos de meta-humanos sendo que ainda quer que eu acredite que é um...

Zane então faz um gesto com a mão e uma chama brota de sua palma. O fogo queima em forma de uma esfera sendo que continua crescendo até tomar o tamanho de uma bola de basquetebol. A esfera de fogo agora queima rodopiante e quente a cerca de cinco centímetros acima da pele do conjurador e ilumina toda a escuridão que antes havia ali.

— Esse é um bom truque. – falou Don ainda de olho nas chamas antes de voltar a encará-lo - Okay, pirocinese entrou para sua lista de poderes. Parabéns é um dos mais poderosos que já encontrei.

— É magia – falou Zane franzindo o cenho parecendo um pouco sem paciência enquanto fazia a bola de fogo sumir num estalar de dedos.

— Oh, claro... Magia. – disse Don - Porque você é um mago...

— Você quer acreditar nisso só que a teimosia lhe faz ainda manter seu posicionamento inicial – respondeu Zane avaliativo – Não tentarei mais lhe convencer em nada.

— Claro, você acredita que seja magia e quer que eu acredite é compreensível. Então é magia. Porque tipo, é normal mesmo de isso acontecer, sabe? – disse Don com certo sarcasmo - Outro dia eu estava andando pela rua e trombei com um unicórnio. – ele riu - Sejamos sensatos que não existe isso propriamente que você chama de magia.

— Mas não vou te questionar mais a respeito porque acho que você é do tipo que iria querer me convencer e me mostrar que está certo. – continuou Don – Eu queria bem ver você tentar porque ia ser engraçado só que eu não tenho a noite toda. E também não estou afim de ver mais fogo por hoje, um incêndio por noite já é o suficiente para mim. Então vamos lá... Quer conversar comigo estamos conversando. Diga o que quer então?

— Eu não lembrava que você era tão tagarela assim – disse Zane o encarando com seriedade – Isso é irritante. – Ele deu uma nova tragada e soltou a fumaça pelo canto dos lábios – Eu tenho assuntos mais importantes do que querer te convencer sobre minha linhagem mágica agora, velocista.

— Certo, então vá direto ao assunto e fala logo a verdade. O que você quer de mim? – falou Don – Tipo você brota do nada na minha frente então vem com uns papos misteriosos e me ergue no ar com o seu Wingardium Leviosa e vem dizendo que tem assuntos importantes a tratar comigo.

— Apenas escute o que tenho para te dizer – falou Zane – Você está destinado a fazer grandes coisas ao lado de outras pessoas que irá se unir no futuro. – ele soltou mais uma baforada de fumaça antes de descartar o cigarro - Se tudo der certo isso te fará um herói melhor do é agora e muitas pessoas serão salvas e ajudadas. Entre essas pessoas está incluída a sua irmã.

— O que você sabe sobre ela? – questionou Don parecendo mais disposto a ouvir.

Então o rapaz de terno toca o ombro do outro e depois daquilo tudo que o velocista recorda-se é de sua visão se borrar em uma claridade entranha e seu corpo ficar mais leve. Quando sentiu seus pés atingindo o chão e a visão retornar viu que não estavam mais na rua e sim em outro lugar. Era um corredor longo e claro apesar de estar escuro e o cheiro de limpeza que emanava daquele local simplesmente lhe denunciou do que se tratava.

Era um hospital indiscutivelmente e o pior de tudo era que aquele lugar era familiar para Don Allen. E quando encarou a porta a frente deles que Zane estava abrindo soube o que estavam fazendo ali.

Os dois entraram no quarto, com o mago indo à frente sendo seguido pelo velocista que caminhava lentamente com passos lentos enquanto via o outro rapaz se aproximando da cabeceira da cama. A cama que servia de leito de hospital para Dawn Allen.

— Sei o suficiente dela – falou Zane com os olhos na garota desacordada – Inclusive sei o quanto a ama. – ele encarou Don que olhava tudo em silêncio dessa vez – Eu... – ele fez uma pausa - Sinto muito pelo que aconteceu a ela.

— Como sabe tudo isso? – perguntou Don se posicionando atrás dele.

— Sei do que aconteceu com vocês na ultima missão que atuaram juntos como Tornado Twins – falou Zane se virando para encara-lo – Foi uma tragédia realmente e sei o quanto você se culpa pelo que houve. Dawn era o seu equilíbrio e você o dela sendo que juntos eram como se atuassem como um só herói perfeito. E agora que ela não está mais ao seu lado então existe esse vazio. Essa parte que falta em você...

— Você tem a capacidade de ler mentes também? – questionou Don.

— Sim, mas eu não preciso usar para saber o quanto você se recente do que ocorreu no passado – falou Zane – Mas não estou aqui para falar sobre o que aconteceu e sim sobre o que está por vir. – Ele puxou do bolso um pedaço de papel e estendeu para o rapaz a sua frente – Esse é o lugar que deve estar nesse horário. Não se atrase apesar de eu saber que é do seu feitio... – ele deu um meio sorriso – Nunca entendi como você consegue fazer isso apesar dos poderes que tem.

— Fala como se me conhecesse – falou Don.

— E te conheço bem – falou Zane – Das minhas visões.

— Visões? – questionou Don – Como visões do futuro?

— Basicamente sim só que não é sempre que consigo fazer isso – disse Zane e o velocista ficou em silêncio parecendo refletir sobre algo antes de olhar novamente para ele.

— Ela irá acordar? – perguntou Don – Você a viu se no futuro minha irmã vai se recuperar?

— Sim, eu a vi – disse Zane assentindo – São grandes as chances de ela acordar e recuperar-se por completo, mas o futuro é muitas vezes imprevisível não posso te dar cem por cento de certeza sobre isso. Sinto muito. – Novamente o velocista ficou em silêncio e então encarou o papel que tinha em mãos.

— O que vou encontrar nesse lugar? – falou Don – Porque não pode ser direto ao ponto e me dizer de uma vez o que eu devo fazer. – ele desviou o olhar do papel para o suposto mago a sua frente - Eu não compreendo o que está acontecendo aqui é tudo muito estranho.

— Você encontrara a sua equipe nesse lugar e esteja preparado porque será uma grande noite – falou Zane olhando seu reflexo no vidro da janela e ajeitando a gola da camisa junto da gravata – Acredito que já tenha cumprido a minha missão aqui – Então puxou do terno um relógio de bolso – É realmente já deu minha hora. – ele guardou o objeto novamente - Foi um prazer me apresentar pessoalmente a você, Donatello.

— Eu já falei para não me chamar assim – disse Don então percebendo que tinha sido deixado falando sozinho e mais uma vez todos os aparelhos elétricos pareceram sofrer alguma pane então retornando de novo a funcionar.

— Esse cara devia saber o quanto é falta de educação deixar os outros falando sozinhos – falou Don então encarando o pedaço de papel em sua mão – Espero não estar entrando em uma furada.

E Don guardou a anotação no bolso. Os olhos dele então se pousaram sobre sua irmã gêmea e o rapaz se aproximou dela. Qualquer um que visse Dawn ali não conseguiria imaginar que se tratava de um coma quem quer que olhe iria apenas pensar que a garota estava dormindo tranquilamente devido a sua feição serena.

— Você iria me deixar entrar nessa se eu tivesse aqui? – disse Don – Você me falaria certamente que é uma péssima ideia em confiar num estranho só que ai se lembraria do que ele falou. Ajudar e salvar pessoas... É isso que heróis de verdade fazem não é? Então é isso que eu farei. – Ele se aproximou de sua irmã e lhe depositou um beijo na testa dela – Boa noite, maninha. – Ele então correu dali antes que alguma das enfermeiras viesse checar a falha nos equipamentos que decorreram da interferência elétrica causada pelo teletransporte do mago.

...

Washington DC - 03 de Março, 22h: 40min.

“Posso sentir o medo nele é tão obvio que está impregnando o ambiente ao nosso redor” pensou Artemisa enquanto mantinha sua adaga abaixo do pescoço contra a pele do rapaz a sua frente.

Este rapaz não a encarava nem dizia nada a ela apenas mantinha os olhos presos na tela do computador. Os monitores eram enormes e mesmo vivendo em uma civilização que desconhecia a tecnologia moderna era fácil para ela cogitar que tais equipamentos eram de ponta. Afinal uma empresa ultrassecreta como a ARGUS necessitava do melhor para a realização de suas funções.

Tinha sido uma longa noite, não tinha sido fácil invadir o prédio da organização governamental em busca de informações sobre o desaparecimento de seu pai. Suas investigações tinham se iniciado a cerca de duas semanas quando viera visitar o Tenente-Coronel Steve Trevor e se deparou com um apartamento vazio como se não tivesse ninguém ali há pelo menos um mês.

O pior vinha quando pensava que não era do feitio de seu pai em sair em missão e não avisa-la ou simplesmente esquecer-se de deixar qualquer comunicado caso algum imprevisto acontecesse. Ele nunca tinha perdido qualquer visita dela aos Estados Unidos para vê-lo em todos aqueles anos. E isso a preocupou especialmente pelo silêncio que obteve ao questionar colegas de trabalho que conhecia de seu pai sobre sua inexplicável ausência.

Aquilo levou Artemisa a iniciar investigações e iniciasse um caminho tentando desvendar esse mistério. Começando com os dados que havia nos arquivos do computador pessoal de seu pai que estranhamente estavam corrompidos. O que fez com que a princesa amazona tivesse que recorrer a outros modos menos pacíficos então partindo para uma atitude mais radical que tinha sido localizar e invadir uma das sedes da ARGUS.

Tinha sido uma tarefa que demandara planejamento e discrição nos movimentos que demandavam a ela do treinamento militar no que se dizia a invadir bases inimigas sem ser notada. Conseguira vestir um dos trajes típicos dos agentes e conseguir um cartão de acesso que lhe permitira ter passagem livre para outras partes da organização secreta de maneira a não ser notada.

Certamente seu pai se sentiria orgulhoso dela caso a visse bancando a espiã. Afinal não era em todas as ocasiões que os punhos ou uma espada afiada resolviam porque algumas vezes bastava usar da estratégia e de um plano bem orquestrado.

Primeira fase do plano era infiltrar-se dentro da base sendo que esta já tinha sido concluída. A segunda fase consistia em chegar até o sistema central de informações em busca dos arquivos que mostravam as missões executadas pelos agentes, sendo que no caso tal lugar se encontrava em uma sala de acesso restrito no ultimo andar no prédio. Concluindo-se então que ela teve que encontrar alguém com tal capacidade e foi assim que ela conhecera o rapaz que estava agora ali com ela.

Ele era jovem, devia estar na casa dos vinte anos e tinha o crachá que dizia se tratar de um analista de sistemas de informações. O par de óculos tortos de lentes grossas, aparência magra e franzino sendo o maior sinal certamente o modo como parecia nervoso. Certamente era a primeira vez na vida que via sua vida ameaçada por alguém.

Suas mãos tremiam enquanto ele digitava, suor escorria por sua pele descendo pela linha do queixo e deslizando pelo pescoço. Até encontrar com o metal da adaga que lhe pressionava o pomo de adão.

Ela não iria mata-lo apenas precisava dele para obter o que queria e depois iria liberá-lo. E aquilo até seria uma historia legal para se contar para seus colegas de trabalho algum tempo depois.

A sala se mantinha escura com aquelas as telas dos computadores ligados cuja luz iluminava o rosto de ambos. Jogado em algum ponto do lugar se encontrava o uniforme da ARGUS que tinha utilizado para camuflar-se, sendo que naquele momento trajava a sua veste de couro fervido apenas sem as placas de metal da armadura.

— Terminou? – questionou Artemisa.

— É a-apenas uma questão de tempo – disse o rapaz.

— Apresse-se então – falou Artemisa pressionando mais um pouco o metal contra o pescoço do analista que engoliu em seco. A amazona tinha que admitir que ela não gostava bancar a malvada com pessoas inocentes só que naquele caso era necessário.

“É apenas uma questão de tempo” pensou Artemisa “Tudo é uma questão de tempo...”. Ela olhou para os lados a porta percebendo que havia se movido um pouco e agora havia uma abertura pequena o suficiente para ser quase imperceptível.

“Para que façam o primeiro movimento...” Então a tela do computador anunciava que o download dos arquivos tinha se realizado com sucesso. Naquele mesmo instante um pequeno ponto vermelho pousou na nuca do programador que teria sido atingido por um projetil se não fosse pela ação rápida da amazona. “Ou então que eu faça o meu”.

Algumas pessoas batem antes de entrar – falou Artemisa antes de agir.

Artemisa empurrou o rapaz do TI para fora da cadeira em direção ao chão no mesmo instante em que uma bala atingia o computador que se apagava após um pequeno estrondo. A princesa amazona então puxou um punhal que estava preso na parte traseira de seu cinto nos poucos segundos que levou para a bala tinha atingido o alvo errado.

Ela arremessou então o punhal com pericia o suficiente para ver a arma girar algumas vezes até transpassar a porta que tinha sido agora escancarada. A lâmina atingiu o atirador bem numa parte desprotegida que era o pescoço. Pode ver o objeto transpassando bem abaixo do queixo e fazendo o sangue jorrar enquanto numa atitude automática o dedo do homem puxou o gatilho e tiros sequenciados começaram a ser disparados pela sala.

Artemisa puxou então o programador para fora do campo de tiro do atirador moribundo. Ele era seu refém e tinham tentado mata-lo antes dela o que certamente era uma queima de arquivo premeditada. Os dois se encontravam atrás de uma das mesas quando os tiros cessaram e o corpo do atirador finalmente veio ao chão.

— O-Olhe o q-que f-f-fez – falou o rapaz gaguejando simplesmente aterrorizado enquanto ajeitava os óculos – O-Olhe o q-q-que começou. Por que você tinha que me e-escolher? P-por que? – Ele parecia prestes a chorar – Eu sou um homem condenado agora.

— Eu salvei sua vida, idiota – falou Artemisa um pouco irritada – E agora para de chorar.

— No que estava pensando? – perguntou o rapaz limpando as lagrimas com uma expressão irritada no rosto enquanto se levantava sendo seguido por ela. – Eles logo estarão aqui. Tem que me tirar daqui junto com você.

— Você está com o pendrive? – questionou Artemisa – Os arquivos estão intactos? Conseguiu passa-los todos os que pedi não ficou nenhum na máquina não é?

— Não, está tudo aqui – disse o rapaz lhe entregando o pequeno objeto que ela guardou consigo. – Espero que valha apena.

— Acredite é por uma boa... – falou Artemisa então sendo interrompida quando um esquadrão de agentes da ARGUS entrara na sala trajando as mesmas roupas que o homem que a amazona tinha matado. Eles começaram a disparar e mais uma vez foi necessário que ela jogasse o programador no chão.

Ela utilizou dos braceletes em seus pulsos para desviar os projeteis. O choque o aço das balas contra o metal mágico causava pequenas faíscas pelo atrito quando eram desviadas. Até que em meio aquilo ela percebeu um homem dando um comando para que os atiradores parassem. E foi assim os tiros pararam e o silêncio onde antes havia os estrondos dos disparos e os ruídos das balas atingindo o metal dos braceletes retornou a reinar.

— Eu tenho que admitir que estou desapontado – falou o homem que parecia no comando – Nossas bases são secretas para que não tenhamos visitantes indesejaveis. Raramente nossa segurança consegue ser burlada e quando isso acontece nunca o invasor consegue chegar tão longe quanto você chegou.

— Bem, isso parece um elogio não vejo porque está desapontado comigo no lugar de seus agentes – disse Artemisa – Alias, eu refumularia a sua segurança porque não foi tão dificil assim de me infiltrar nessa sede.

— Você tem uma lingua afiada, garota. – riu o comandante – Mas, ainda assim não tira de mim o desagrado ao vê-la. Meu desapontamento vem quando me deparo que a responsável por essa minuciosa invasão nada mais é do que uma garota que deve ter a idade de nossos agentes mais inesperientes. Eu estava esperando que nossa invasora fosse mais do que você... Uma fedelha ousadamente burra para invadir o ARGUS.

— Meu nome é Artemisa Prince Trevor – falou moça – Não sou uma fedelha burra qualquer, senhor. Eu sou a herdeira de Themyscira e a princesa das amazonas e exijo que cale essa boca antes de pensar em insultar-me novamente. Não quero ter de derramar mais sangue hoje... – o comandante então virou o olhar para encarar seu companheiro abatido.

— O chefe de segurança sempre foi um tolo precipitado – disse o comandante – Mas eu gostaria de dizer sei de quem você se trata, princesa. Meu nome é Rick Flagg – ele pronunciara o titulo quase com tanto nojo quanto se tivesse lhe insultado novamente – Seu pai foi um dos maiores homens que conheci e você mancha a memoria dele invadindo a organização a qual pertencia. Steve estaria decepcionado com suas atitudes.

— Coronel Rick Flagg, meu pai me falou de você. Estou lisonjeada em saber que me conhecem então isso torna as coisas mais faceis para lindarem quando eu tiver escapado – falou Artemisa – E não fale de meu pai como se ele estivesse morto, Flagg. Não é porque sua maldita organização governamental secreta desistiu das buscas que eu deva aceitar que ele se foi.

— Vou tornar as coisas simples para você, princesa. – disse Rick Flagg – Você é uma garota esperta e corajosa. E por conta de quem seu pai foi tenho a autorização de poupá-la. – Ele lhe lançou um sorriso – Eu lhe garanto clemência em troca de você utilizar seus talentos em pró da nossa organização. Seria uma pessoa valiosa para nós.

— Desculpe, mas devo recusar. – falou Artemisa – Diga a Amanda Waller que farei o que ela não conseguiu que foi encontrar meu pai. Eu vou encontra-lo e então provarei a ARGUS que eles estavam errados, mas isso não é novidade não é mesmo?

— Que grande atrevimento o seu, garota. – respondeu Rick Flagg sorrindo meio torto – Você acredita mesmo que teriamos dado fim a busca caso nossa equipe não teria concluido que erra um caso perdido? Ninguém da equipe de Trevor retornou isso inclui o mesmo. Eram bons agentes e seu pai era um bom amigo.

— Chama-o de amigo e mesmo assim acredita que ele esteja morto – disse Artemisa – Então deve saber que ele não morreria assim tão fácil. Steve Trevor não é um homem que morre tão fácil assim.

— A morte chega para todos indepedente de quem sejam – falou Rick Flagg – Aceite a verdade, criança. Seu pai está morto e você pode sacrificar a si mesma caso insista em procura-lo... Poupe-se de esperanças tolas.

— Mais uma vez, cale-se antes de dizer o que devo fazer – respondeu Artemisa seriamente – Eu estou indo embora agora e seria melhor que não me siga. – O comandante riu com aquela frase dela.

— Você não vai a lugar algum – disse Rick Flagg – Entende que um minimo sinal para meus homens e eles tornam a ataca-la novamente. Você é uma amazona só que mesmo assim caira caso insista em lutar contra nós. Eu poderia ordenar que eles a matassem aqui e agora se quisesse.

— Você poderia tentar – respondeu Artemisa mostrando duas esferas de vidro em suas mãos do tamanho de enfeites de natal e dentro delas havia um liquido esverdeado fosforecente – Mas é mais provavel que no próximo um minuto e meio estará correndo pelas escadas. Eu acho que já ouviu falar de fogo grego não é mesmo, senhor?

— Senhor? E-Ela está b-blefando não é? – falou um dos agentes com o tom de voz expressando seu nervosismo frente a ameaça.

— É claro que está blefando – respondeu Rick Flagg – Você acha mesmo que eu acredito que você seria capaz de algo assim, garota? Você não iria arriscar tanto assim. Isso não deve passar de um truque.

— Você é ingenuo em esperar que seja um blefe. – disse Artemisa - O liquido entrara em combustão quando estiver em contato com o ar e irá consumir tudo até que não haja nada. O que tenho aqui é o suficiente para esse andar ser consumido por completo.

Então lançou as esferas ao ar e antes delas chocarem-se com o chão foi que a amazona já tinha pego o programador que ainda estava encolhido debaixo da mesa e se lançou com ele pela janela. Os agentes dispararam contra os dois naquele pequeno espaço de poucos segundos.

A janela se estilhaçou em vários pedaços de vidro enquanto lá dentro as esferas se rompiam ao antingir o piso. O liquido entrara em combustão assim como Artemisa anunciara e o fogo grego começou a se alastrar pela sala de tecnologia da informação.

— Vão – gritou Rick Flagg enquanto seus agentes e si próprio deixavam o local que rapidamente era consumido pelas chamas verdes brilhantes.

Artemisa voava para longe do prédio enquanto via ouvia o som dos equipamentos e de toda a tecnologia presente na sala explodindo. Eram grandes as chamas que cresciam e iluminavam o andar naquele incendio verde esmeralda.

Em seus braços trazia o programador que estava com a cabeça apoiada em seu ombro e ele estava estranhamente em silêncio. Além de uma estranha sensação de algo pegajoso em suas mãos. As roupas do rapaz estavam umidas e isso não podia ser um bom sinal.

Quando Artemisa então se encontrava a cerca de quadro quarteirões longe da sede da ARGUS foi que pousara no terraço de um prédio. Ela então o colocara no chão só para notar que suas mãos estavam rubras pelo sangue dele.

— Eu sinto muito... – falou Artemisa ajoelhando-se ao lado dele pegando suas mãos – Sinto muito por... – Ela não sabia se o rapaz a ouvira apenas viu o momento em que seus olhos ( agora desprovidos dos óculos) foram perdendo o brilho até que finalmente pode perceber que a respiração dele cessou. – E muito obrigado por tudo. – Ela encarou o pendrive em suas mãos e perguntou se tudo que tinha ocorrido aquela noite valera apena.