Just another trouble

Cap 5: Tempo e chá


–E você já falou com os outros Mai?

–Sim. Já liguei para todos Masako. E você precisava ouvir a reação deles quando disse que tinha conseguido outro emprego!-exclamou Mai- Bou-san começou a chorar e disse que eu devia seguir em frente, Ayako me parabenizou, mas precisou desligar porque um paciente estava passando mal, John deu graças a deus que tudo deu certo e disse para eu ser forte, e o Yasu...bem, ele disse que se eu quisesse chorar eu podia chorar nos braços dele.

Isso é bem cara do Yasuhara-san.–disse Masako tentando não rir ao imaginar como teria sido o telefonema para o universitário.

–Mas vocês não precisam se preocupar, está tudo bem agora.-falou Mai com firmeza transbordando em sua voz.

–Você diz para nós não nos preocuparmos, mas quanto mais você diz isso, mais nós nos preocupamos com você.–falou Masako dando um longo suspiro, o que fez Mai rir envergonhada.

–Desculpe!-disse Mai dando uma risadinha sem graça.

–Bem, não é como se isso fosse de hoje.–riu a médium-Mai...

–Sim?

–...Qualquer coisa...não hesite em me ligar.–disse a Hara em tom de preocupação.

–Quando você fala desse jeito...-riu Mai-...nem parece ser mais nova do que eu!

–Eu também tenho 17 anos Mai. Você é apenas alguns meses mais velha.–falou Masako levemente irritada.

–Ok, ok.-falou a Taniyama sorrindo levemente-E...obrigada mesmo Masako.

A médium sorriu do outro lado da linha, e apenas desejou uma “Boa noite” para a outra adolescente antes de encerrar a chamada.

Mai travou seu celular e deitou-se em sua cama fechando os olhos. Conversar com Masako havia a acalmado um pouco, o que era estranho, já que até há dois anos, se ela e a médium resolvessem “conversar”, a conversa seria algo como Masako a insultando e Mai gritando.

Entretanto depois da partida de Naru e Lin, estranhamente as duas haviam se tornado amigas, talvez pelo fato que a pessoa que ambas amavam ter partido seus pobres corações.

Haviam começado a conversar pouco a pouco, saiam de vez ou outra nos finais de semana para almoçar, para um café da tarde quando a médium estava livre de shows ou entrevistas, e para algumas compras junto de Ayako quando a mesma não estava atendendo algum paciente no hospital em que trabalhava como médica.

Na segunda semana do terceiro mês depois que Naru fora embora, Mai enquanto terminava suas tarefas da escola, recebeu uma mensagem de Masako, pedindo para que elas se encontrassem mais tarde no café em que elas frequentavam as vezes.

E foi naquela tarde que Mai descobriu que Masako estava começando a se apaixonar por Sasaki Itsuki, um rapaz de cabelos pretos, cerca de 1,70 m, dono de olhos castanhos claros, gentil e simpático, e um dos garçons daquele café.

Provavelmente foi depois daquilo que elas começaram a se dar bem de verdade, talvez foi a partir dali que elas se tornaram grandes amigas, mas “quando” e “por que” não eram coisas importantes, o que realmente importava é que agora elas eram amigas.

Um sorriso apareceu nos lábios da Taniyama, tudo ficaria bem, pelo menos era isso que ela esperava.

...

Uma semana havia se passado desde que Naru havia demitido Mai, e Koujo Lin não podia evitar de se sentir incomodado pela estranha atmosfera que pairava no escritório da SPR.

Quando Oliver Davis resolvera vir ao Japão a procura do irmão gêmeo, a BSPR havia comprado o atual prédio em que trabalhavam para servir de disfarce para a verdadeira intenção do rapaz que na época ainda completaria seus 17 anos.

No começo da SPR, eram apenas eles dois, Shibuya Kazuya e ele. Ambos trocavam menos de 20 palavras por dia e o único som que ecoava pelo resto do dia era o “TAP TAP TAP” que o teclado fazia enquanto ele digitava.

Logo, o silêncio era algo normal.

Bem...isso até eles aceitarem o caso na escola de Taniyama Mai, que sem querer acabou o mandando direto para a área de internação de um hospital por causa de uma perna quebrada...

Com sua internação, a garota tornou-se a assistente de Shibuya Kazuya, que em cerca de dois dias (pelas suas contas) recebeu o apelido “Naru”.

No começo, Lin não entendia o porquê de “Naru”, afinal, o nome que Oliver Davis usava no Japão não possuía nada que lembrasse aquele apelido, mas pouco tempo depois, o chinês veio a descobrir que “Naru” havia se derivado da palavra “Narcisista”, ou como pronunciavam no Japão, “NARUcisisuto”.

Ah...Lin precisou de muita força de vontade para reprimir as risadas ao descobrir o significado do apelido do chefe. E não é como se ele fosse defende-lo.

Ao terminarem o caso na escola da garota, por algum motivo (que Lin apenas entendeu durante o caso de Urado), Naru resolveu oferecer um emprego de meio período na SPR, mesmo sabendo que haviam riscos da Taniyama descobrir sua identidade.

A garota pareceu muito feliz com a oferta, e na semana seguinte já havia começado seu trabalho como secretária.

Naquela mesma semana, as pessoas com quem trabalharam durante o caso da escola da adolescente começaram a aparecer no escritório. Mai servia a todos chá e algumas guloseimas, e assim a área de entrevista com os clientes tornou-se uma espécie de café.

Mesmo que Naru reclamasse da bagunça na SPR, o rapaz parecia apreciar a atmosfera viva e feliz que começava a se instalar no local, e até mesmo Lin sentia-se confortável naquele ambiente, que apenas se tornou mais alegre com a entrada de Yasuhara Osamu, logo depois de terem resolvido os problemas na escola do adolescente.

Lin parou alguns segundos de digitar para soltar um suspiro cansado.

Talvez o fato dele já ter se acostumado com a atmosfera alegre e barulhenta causada pelas brigas de Bou-san com a Matsuzaki, das cantadas de Yasuhara, os apelos de John para que o monge e a sacerdotisa parassem de brigar, e até mesmo curtas discussões entre a Taniyama e a Hara, fossem o motivo dele estar tão incomodado com o silêncio que a SPR se encontrava naquele momento.

Por mais contraditório que aquilo parecesse, ele podia se concentrar melhor no barulho do que no silêncio.

E aquele silêncio já durava uma semana.

Uma semana sem ouvir os gritos de Bou-san e de Matsuzaki-san...

Uma semana sem ouvir John tentar impedir os dois mais velhos de brigar...

Uma semana sem ouvir as cantadas de Yasuhara para cima do monge...

Uma semana que Taniyama Mai havia sido mandada embora...

Lin só pode chegar a uma conclusão.

O que trazia alegria àquele lugar, o que unia todas aquelas figuras ali na SPR, havia deixado uma mesa cheia de documentos para ele ou Yasuhara arquivar.

Koujo suspirou mais uma vez, ele realmente estava se sentido cansado.

TOC, TOC, TOC.

As leves batidas na sua porta fizeram com que ele voltasse a trabalhar antes de dizer um simples “Entre”.

–Lin-san?-chamou Yasuhara abrindo a porta de sua sala.

Mais uma vez, o chinês parou de digitar para encarar o jovem que usava óculos.

–Deseja alguma coisa Yasuhara-san?-indagou o mais velho.

–Apenas você, Lin-san!-brincou o rapaz que ignorou totalmente o olhar medonho que o outro lhe mandou.

–Se não tem nada de importante a dizer, peço que se retire Yasuhara-san.-falou Lin dando as costas para o mais novo e voltando a digitar.

–Não precisa ficar bravo Lin-san.-riu Osamu antes de continuar-Shibuya-san apenas disse que nós podemos sair para uma pausa.

Lin arqueou sua sobrancelha esquerda. Naru? Dando uma pausa para eles? É...talvez mais tarde fosse chover...

–Conheço um lugar ótimo para um lanche!-exclamou o rapaz de 19 anos-Ah! E preciso dizer que os outros também estarão lá!

–Outros?-indagou Koujo virando-se novamente para encarar Yasuhara. Que apenas assentiu com a cabeça para em seguida citar três nomes:

–Bou-san, Matsuzaki-san e John-san.-respondeu o moreno-Hara-san está em uma entrevista agora e não vai poder se juntar a nós.

Lin ponderou por alguns instantes antes de colocar-se de pé e pegar seu casaco, o que fez o mais jovem abrir um sorriso de orelha a orelha.

...

O som da porta da frente batendo fez com que Naru tirasse seus olhos da tela de seu notebook. O som de Lin teclando no computador havia cessado o que o fez concluir que o chinês teria saído para um lanche junto de Yasuhara.

Concluindo que estava sozinho no escritório, Naru finalmente colocou-se de pé rumando para fora de sua sala. Já eram quase quatro horas da tarde e ele não havia colocado uma gota de chá em sua boca.

Oliver andou em direção da pequena cozinha do escritório onde colocou a chaleira com um pouco de água no fogo.

Para ele era estranho fazer seu próprio chá, já que a última vez que ele teria feito chá para si mesmo fora a mais de dois anos, ou seja, antes da entrada de Mai na SPR.

O rapaz chacoalhou sua cabeça levemente, ele não podia pensar naquela garota mais!

O som da chaleira fervendo o fez voltar para a realidade. Quanto tempo ele teria ficado imerso em pensamentos? Bem...tempo o bastante para a água de seu chá ferver.

Naru colocou uma xícara sobre a mesa e um saquinho de chá dentro do objeto, para em seguida acrescentar a água quente.

Por alguns minutos seus olhos apenas observaram a água transparente adquirir a coloração escura do chá, até que resolveu tirar o saquinho de dentro de sua xicara jogando-o no lixo. Colocou apenas um cubinho de açúcar e o misturou.

Com a xicara em mãos, o adolescente inglês andou até o cômodo em que atendia seus clientes, sentou-se em uma posição confortável no sofá e bebeu um gole de seu chá.

Seus olhos se estreitaram um pouco assim que sentiu o liquido descendo por sua garganta. Naru colocou a xícara sobre a pequena mesa a sua frente e encarou seu chá.

Ele não podia conter aquelas reações. Eram involuntárias!

Durante uma semana, toda vez que ele fazia chá para si mesmo, logo após o primeiro gole, Oliver colocava a xicara sobre a mesa e a encarava.

Não que seu chá fosse ruim, na verdade era muito bom, afinal ele havia aprendido a prepara-lo na Inglaterra, onde quase toda população era dependente de chá!

Mas ainda assim...aquele não era o chá de Mai...

A máscara estoica do grande Oliver Davis caiu por breves instantes, e naqueles poucos segundos de “fraqueza”, uma frase, a única que talvez ele verbalizaria demostrando seu arrependimento escapou por entre seus lábios:

–Mai...chá...

Continua...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.