Just another trouble

Cap 1: Introdução


O som metálico de espadas se chocando podia ser ouvido por todo o estabelecimento que pegava fogo graças a uma vela que fora derrubada no chão de madeira. Tudo era uma imensidão vermelha, não só por causa das chamas que consumiam o restaurante, mas também por haver sangue por todos os lados.

...i.

Ela podia ouvir gritos femininos e masculinos, os femininos eram desesperados, carregados de dor e frustração.

...ai.

–Vocês...não...tos!!!

Foi o que ela pode ouvir antes de...

Mai!

O grito fez com que a garota de 17 anos despertasse de seu sonho. Os olhos castanhos abriram-se vagarosamente tentando se acostumar com a luminosidade do local em que se encontrava antes adormecida.

–Mai.-disse alguém com uma voz monótona, mas a garota por causa da experiência de 2 longos anos, pode perceber havia certa raiva no tom da voz do rapaz a sua frente.

Ela ergueu os olhos para a pessoa a sua frente, encontrando um par de orbes azuis escuros que demonstravam a irritação que a bela face não deixava transparecer.

–Err...,sim Naru...?-Mai perguntou temendo a reação do garoto de 19 anos.

–Eu não te pago para ficar dormindo durante o trabalho, Mai.-falou Naru sem alterar seu tom de voz-Agora...

–Sim...?-a Taniyama perguntou hesitante.

–Chá.-disse o garoto simplesmente, antes de dar as costas para a sua assistente e voltar para sua própria sala.

Mai suspirou aliviada por não ter levado uma bronca pior. Levantou-se de sua mesa cheia de papéis de casos que seu chefe não havia aceitado e rumou a pequena cozinha da SPR, uma agência conhecida por investigar atividades paranormais e exorcizar fantasmas.

Já se faziam 2 anos que Naru e Lin haviam ido e voltado da Inglaterra após descobrirem o paradeiro de Eugene Davis, irmão gêmeo de Oliver Davis, no Japão conhecido como Shibuya Kazuya, mas para os mais próximos simplesmente Naru, apelido que Mai havia dado ao rapaz inglês, pelo fato dela o considerar narcisista.

Os dois haviam ficado poucos meses na Inglaterra, 5 meses para ser mais exata, e ao retornarem disseram que a SPR seria reaberta permanentemente, sendo ela a filial japonesa.

Mai nas primeiras duas semanas não sabia muito bem como agir perto do moreno, uma vez que ela havia se declarado a ele antes do mesmo ir para Inglaterra, e este ainda havia a rejeitado alegando que ela estava apaixonada por Gene e não por ele.

Entretanto naqueles 5 meses longe de Naru, e com Gene ainda aparecendo em seus sonhos (mesmo depois de seu velório), a Taniyama pode separar os sentimentos que possuía pelos irmãos gêmeos.

Ela tinha certeza que amava Gene, mas não aquele amor romântico entre um homem e uma mulher, era um amor fraternal, era como se Gene fosse um irmão mais velho para Mai.

Mas já Naru...era diferente. Ao lado dele, Mai sentia seu coração acelerar, podia sentir as famosas “borboletas no estômago”. Mai amava Naru com todo seu coração, entretanto precisava guardar aquele sentimento apenas para si mesma, uma vez que Naru não a correspondia, caso contrário ele jamais daria uma resposta como aquela há dois anos.

O som da água fervendo fez com que a morena saísse de seus pensamentos. Mai desligou o fogo e pegou o bule com água quente para preparar a 23ª xícara de chá de seu chefe.

–Como ele consegue beber tanto chá em um único dia?-murmurou Mai passando a mão nos cabelos castanhos que agora batiam um pouco abaixo de seus ombros.

...

–Naru!-chamou Mai batendo na porta do escritório do moreno-Ei, Naru!-nenhuma resposta novamente, o que irritou a garota que equilibrava na mão esquerda uma bandeja que possuía a xícara de chá do chefe.

Ela bufou irritada, será que Naru não podia pelo menos respondê-la, ou nem disso ela era digna?

–Estou entrando.-anunciou por fim girando a maçaneta.

Quando adentrou a sala, a morena pode constatar que Oliver lia alguns papéis que antes estavam sobre sua mesa.

–Esses não são os papeis que estavam na minha mesa?-perguntou a Taniyama se aproximando da mesa do rapaz, depositando sobre ela a xícara de chá.

Naru desviou o olhar dos papeis para fitar Mai, que corou levemente diante do olhar que ele a lançará.

–Sim, são eles mesmos.-respondeu o moreno colocando a papelada de lado para pegar seu chá-Como alguém não faz seu trabalho direito, eu mesmo o estou fazendo.-disse antes de beber um gole de seu chá.

Uma veia de irritação saltou da testa da garota que apenas saiu da sala do chefe batendo a porta com toda força que conseguiu.

Naru sorriu de canto satisfeito por ter conseguido irritar sua assistente novamente e por mais que não admitisse, aquela era sua maior diversão.

...

–Babaca! Irritante! Narcisista! Viciado em chá!-exclamou Mai com a cabeça escondida entre os braços que estavam sobre a própria mesa de trabalho.

–Esqueceu de cientista estúpido, Mai.

Mai levantou a cabeça de supetão por conta do comentário repentino de Gene, por conta de seu momento de raiva, havia se esquecido totalmente de que mesmo depois do velório de Gene, o mesmo continuava aparecendo em seus sonhos e as vezes (a maior parte do tempo) até em seus pensamentos. Lembrou-se da reação de Naru e Lin quando ela revelou que Gene ainda se comunicava com ela. Lin pareceu realmente surpreso com a revelação, ao contrário de Naru que simplesmente dissera: Gene também fala comigo, mais do que deveria às vezes.

–Gene, como você conseguia aguentar o Naru?!-exclamou Mai.

Não era muito difícil já que ele ignorava tudo o que eu falava.-respondeu Gene rindo ao se lembrar que a maior parte do tempo, o irmão mais novo ignorava o que ele dizia–Mas quando eu o irritava muito ele não só dava respostas grossas, mas como também me lançava um olhar que poderia matar qualquer um.

–Então ele era grosso até mesmo com o irmão mais velho?!-perguntou Mai surpresa.

Gene riu mais uma vez.

–Não Mai.–falou o guia espiritual–Ele é grosso com as pessoas que ele gosta.

A garota corou, o que fez Gene sorrir. O espírito ficava feliz que alguém fosse capaz de amar seu irmão gêmeo mesmo ele sendo grosso e até mesmo estúpido às vezes.

–Mai se você tem tempo para ficar conversando com Gene, vá trabalhar.

A garota deu um pulo de sua cadeira por causa da súbita aparição do chefe saindo de sua sala com uma pilha de papeis em mãos.

–Vo...você estava ouvindo...tudo?-murmurou Mai encolhendo-se na cadeira.

Naru colocou a pilha de papeis sobre a mesa da assistente que o encarava com receio, internamente ele sorriu, mas por fora ele continuava com a face indiferente.

–Seria difícil não ouvir você quando está quase gritando, Mai.-Naru respondeu com a voz monótona.

A Taniyama corou, ela havia sido pega.

–Agora faça seu trabalho direito.-disse Kazuya antes de fechar a porta de sua sala-Eu não te pago para ficar sem fazer nada.

O rosto de Mai ficou mais vermelho, não de vergonha, mas sim de raiva.

–Cientista idiota!-exclamou Mai mostrando a língua para a porta já fechada.

...

–Não precisa ficar com ciúmes Noll.–falou Gene rindo do irmão mais novo–A Mai ama somente a você.

–Cale a boca Gene.-reclamou Naru sentando-se em sua cadeira-Eu só interrompi porque ela não está em um café para não fazer nada.

–Então você admite que interrompeu nossa conversa de propósito.-disse Gene com um sorriso vitorioso no rosto.

–Se eu não intervisse na conversa vocês, tenho certeza de que a conversa sobre como sou grosso com as pessoas duraria até o fim do expediente dela.-respondeu Naru indiferente.

–Frio e indiferente como sempre.-comentou Gene–As vezes você deveria ouvir um pouco os seus próprios sentimentos Noll, caso contrário vai perder a Mai para sempre.

–Mai é apenas minha assistente. Além de que só podemos perder coisas quando elas nos pertencem.-disse Naru lendo alguns papeis-Eu não lembro de ter nenhuma relação além de chefe e assistente com ela.

Gene suspirou, o irmão mais novo era mais idiota do que ele imaginava.

–Se você acha que a Mai vai esperar você para sempre, está enganado irmãozinho. Noll, você já fez uma besteira dizendo que ela havia se apaixonado por mim e não por você, agora Mai está reprimindo os próprios sentimentos, mas um dia ela vai se cansar e vai esquecer qualquer sentimento amoroso que ela tem por você e irá seguir em frente.-disse Gene.

–Não é da minha conta o que ela vai querer fazer.-disse Naru já impaciente, aquela conversa com o irmão mais velho já estava o deixando irritado por algum motivo que ele desconhecia-Agora poderia me deixar trabalhar Gene?

–Ok, ok, mas depois não diga que eu não te avisei.-concluiu Gene antes de cortar a conexão que ele estabelecia com o irmão.

Instantes depois de Gene cortar a ligação entre eles, Naru baixou os papeis sobre sua mesa os encarando sem realmente os ler.

Será que Gene estaria certo?

–Não...aquele idiota repetiu o primeiro colegial...

Continua...