POV BUTCH

Estava de boa, entrando no meu quarto como sempre. Paralisei ao ver quem estava ali no mesmo quarto, tão surpreso quanto eu.

— Vo-você? — Gaguejou o novato.

Os olhos verdes do novato estavam esbugalhados, acho que tanto quanto os meus. Eu sempre tive meu quarto solitário, será que finalmente teria um colega? O nome dele nem tá na porta ainda.

— Yooo, tampinha! — Dei um sorriso costumeiro, gritando em plenos pulmões. — O que faz no meu quarto?

— Seu quarto? Mas esse quarto é meu. — Disse o moleque, arqueando uma sobrancelha, não querendo dar o braço a torcer.

— Então você deve ser meu novo colega de quarto. — Cheguei a essa conclusão, já que todos os quartos têm dois alunos e duas camas de solteiro em cada um. — Bem-vindo, Drake! — Estendi minha mão para o cara.

Acho que devo ter assustado ele com a minha empolgação. Mas ele deu um sorriso amarelo e apertou minha mão com tudo, até avermelhando a mesma. Eu estava esperando que ele tivesse o aperto frouxo, mas é mais firme do que eu pensava!

— Caraca! Como você é forte, baixinho!

— É, eu já ouvi muito isso. — Falou ele, todo convencido.

Drake olhou em volta, fitando a foto que eu tinha na parede ao lado da minha cama. Eu e meu pai, comigo segurando a medalha que ganhei em uma das minhas competições aos oito anos. Era a época que meu pai ainda gostava de mim. Um ano antes da minha mãe falecer.

— Seu pai deve ter muito orgulho de você. — Comentou ele, sem tirar os olhos da foto.

Minha expressão mudou em questão de segundos. Eu fechei totalmente a cara. Detesto ter que falar sobre meu pai.

— Hmm… — Pigarreei, para ele saber que não quero falar sobre isso. — Quer comer alguma coisa? — Tentei desconversar.

Ele parece ter entendido o recado.

— Eu vi que o refeitório daqui tem uma variedade de lanches… Bora lá ver?

— Claro. — Meu sorriso havia voltado aos meus lábios.

Era só parar de falar sobre meu pai que eu voltava a ser o bom e velho Butch Jojo, amigão da galera.

x x x

Havia chegado a hora de praticar esportes — a melhor hora do dia. Eu estava entusiasmado como sempre. O tampinha também parecia estar.

— Certo, turma — Falou um professor com uma voz grave que fez todo mundo estremecer. — Todos para o vestiário!

Num piscar de olhos, todos fomos nos vestir para jogar futebol. Mas o novato parecia um tanto… desconfortável.

POV BUTTERCUP

Como assim? Tirar a roupa no meio desse bando de homem? Mas nem a pau! O que eu faço agora?

— Que é, tampinha? — Riu Butch, dando um soco de leve no meu ombro. — Tá com vergonha?

— Eu não! — Respondi, rapidamente. Mas estava sim, com vergonha. — Eu só não queria me trocar aqui no meio de todo mundo.

— Hum… Que esquisito. — Falou Butch. — Nunca vi um cara que não se trocasse na frente dos outros. Por exemplo, meu amigo Boomer fica peladão na boa.

Ele não precisava dar esse detalhe. Agora vou imaginar o tal do Boomer peladão! Que cara mais sem noção esse Butch, viu?!

Por sorte, fingi que estava apertado para ir ao banheiro e me vesti lá mesmo. Assim que tirei a camiseta, meu peito doeu muito. A faixa que cobria meus seios (que nem são tão salientes) estava machucando meu peito. Ardeu tanto que achei que estivesse sangrando. Por sorte, não era nada, só estava apertado demais. Afrouxei um pouco a faixa (não demais) e corri para jogar com os caras.

Agora sim, era disso que eu estava falando! Jogar com liberdade, leveza, garra! Na minha outra escola, eu era a única garota jogando futebol. Essa sociedade ainda precisa mudar e muito.

— Certo, time. — Bradou o professor assustador. — O goleiro do time A será o Benjamin. — Ele pegou um papel com nossos nomes. — Atacantes… Butch, Drake e Bryan.

Todos já se posicionaram em seus lugares conforme o professor ia falando. O sol estava bem quente e eu já comecei a suar.

— Lateral direito, Jerome. Lateral esquerdo, Cassian. — Continuou o professor. — Zagueiros, Gerald e Richard. Volantes, Edward e Bradley. Ponteiro, Joseph. E por último, o William como meia.

Todos ficaram em posição. O restante ficou no banco. Eu estava confiante que poderia fazer um golaço como sempre. E nossa, eu consegui driblar vários caras! O Butch até olhou para mim, engasgado e surpreso:

— Nossa, baixinho, tu manda muito bem!

Meu ego ficou inflado e eu sorri, toda orgulhosa. Eu estava concentrada, nada poderia me deter. Só via o gol na minha frente. Mas bem nessa hora, uma voz enjoada me fez perder toda a concentração.

— Butchzinhooo!

Todos pararam de jogar para olhar quem chamava o Butch. Era uma garota mais ou menos do meu tamanho, com cabelos cacheados e ruivos. Possuía olhos castanhos ameaçadores e um sorriso maldoso. Percebi que ela possuía sardas abaixo dos olhos. Estava com um uniforme de alguma escola particular para garotas.

— Patrícia? O que faz aqui? — Quis saber o Butch.

Não sei porquê, mas naquela hora, uma pontinha de insegurança me atingiu.

— Vim ver você, fofo! — Ela abraçou a cintura de Butch, deixando ele totalmente desconfortável.

O resto do time entoou: Hmmmm…

Tinha algo nessa tal Patrícia que me incomodava. Eu não sabia o que era. Senti meu sangue ferver, as palmas das mãos suavam e nem era porque eu estava jogando e o sol estava me torrando viva.