Just Love

Capítulo Único - Just Love


Sebastian ou Francis. Quando que eu poderia imaginar que seria obrigada a optar por um ou por outro? Como poderia escolher um deles, amando ambos?

Eu amo Francis, é claro. Estamos prometidos um ao outro desde muito pequenos, crescemos sabendo que construiríamos uma vida e um império juntos. Não tínhamos muita escolha. Mas saber da profecia de Nostradamus, receber a previsão de que Francis acabaria morto se nos casássemos fez algo em meu coração mudar, ainda mais sabendo que as tais previsões costumavam se mostrar verdadeiras. Eu precisava dar um novo rumo ao meu próprio destino, então fugi.

Por felicidade (ou infelicidade, depende de que ângulo você observa!) do destino, minha partida não foi tão solitária quanto eu planejara. Tinha Sebastian ao meu lado, o filho bastardo do rei, pronto para cair comigo se fosse preciso. Entreguei minha vida e confiança em suas mãos e saltei, sabendo que ele estaria junto de mim até o fim daquela jornada.

Cuidamos um do outro por alguns dias, mas a sorte parecia não querer nos acompanhar. Os guardas do Rei Henry nos localizaram, e embora Bash estivesse disposto a se sacrificar para que eu pudesse seguir adiante, não pude sequer cogitar a hipótese de deixá-lo.

De volta à Corte, me encontrava com as vidas de Francis e Sebastian em minhas mãos. Se me casasse com o primeiro, haveria a possibilidade da profecia de Nostradamus se realizar; se não me casasse, o rei mandaria executar Bash sob pena de traição.

Jamais poderia viver com o peso da morte de um ou outro em meus ombros, seria demais para suportar. Além do mais, como seguir em frente sabendo que um deles não estaria mais por perto?

Foram necessárias várias e várias lágrimas, e muitas voltas pelo quarto para que uma única solução, a única maneira de manter os dois a salvo, se formulasse em minha mente.

Após me recompor, dirigi-me à sala do trono, a fim de expor meu novo plano ao Rei Henry. Enquanto caminhava, meus passos ecoando entre as paredes de pedra, pedia fervorosamente para que tanto Francis quanto Sebastian pudessem me perdoar pelo que estava prestes a fazer.

- Sua Majestade – digo após uma reverência, tentando parecer firme -, casarei com seu filho como deseja e manteremos a aliança da Escócia e da França. Mas não com Francis, mas Bash! Legitime Sebastian, e juntos reivindicaremos o trono da Inglaterra quando chegar a hora.

Mal as palavras deixaram meus lábios e o caos se instaurou no salão. Henry tentou me persuadir, dizendo que tudo não passava de um capricho de uma garota mimada; a rainha Catherine dizia que isso mudaria a linha de sucessão ao trono, e seus filhos perderiam muito, que ela perderia muito.

Bom, se eu tinha de fazer sacrifícios, que os outros também arcassem com os seus, não é? Me mantive firme em minha decisão, e com algum custo o rei acabou por aceitar a proposta. Ele poderia não entender, mas era a única maneira de manter Sebastian e Francis vivos.

*********

Com a partida de Francis da Corte e a viagem do Rei até o Vaticano para anular seu casamento e legitimar o primogênito, Sebastian e eu acabamos nos aproximando ainda mais. Enfrentamos conspirações, atentados, segredos que ameaçavam vir à tona, fanáticos pagãos e seus cultos de sangue, complicações e rebeliões em meio aos nobres e aos plebeus, mas apesar dos pesares, saímos ainda mais fortes e mais unidos a cada obstáculo que conseguíamos transpor.

Bash é gentil, atencioso e companheiro. Também sabe ser teimoso, impulsivo e calculista, mas sempre pelos motivos certos, não por simples capricho. Colocava aqueles que amava sempre à frente de si próprio, mesmo que isso significasse que poderia sofrer. Podia sentir medo, mas jamais seria um covarde.

Foi assim, descobrindo os defeitos e qualidades, entendendo a pessoa que ele é e a que queria ser, que me vi amando Sebastian. Meu lindo, altruísta, forte, bravo e nobre Bash!

Então, quando tudo parecia seguir seu rumo, sem mais surpresas, eis que minha mãe aparece de visita na França para confundir ainda mais as coisas. Apesar de suas palavras de apoio, ela não aceitava meu casamento com um simples bastardo, que poderia ou não ser rei um dia. Mas eu não estava mais disposta a me curvar outra vez às vontades dos outros, mesmo que a pessoa fosse minha mãe, e estava decidida a me casar com Sebastian às escondidas se fosse preciso.

Infelizmente, nada parecia correr com eu planejava. Francis voltou à Corte e acabou nos interceptando, impedindo que seu irmão e eu seguíssemos em frente. Olhou desesperado em meus olhos e disse-me que poderíamos nos casar sem problemas, que as visões de Nostradamus mostravam que teríamos um futuro longo e feliz pela frente.

Mesmo dilacerada por dentro, me vi voltando ao Castelo para ouvir do próprio Nostradamus e da rainha Catherine se aquilo era mesmo verdade ou não. Sei que estaria magoando aquele que esteve ao meu lado nos últimos tempos, aquele que eu conhecera e aprendera a amar, mas devia isso a Francis, de qualquer maneira.

Como se isso já não fosse o bastante, fui surpreendida pela notícia da morte da rainha da Inglaterra, e Henry não esperou nem um segundo sequer para me pressionar a casar com um de seus filhos, fosse qual fosse, e assim poder reivindicar o trono inglês.

A pressão ao meu redor era tanta que já estava me sentindo sufocar. Vinha do rei e da rainha da França, de minha mãe... E de alguma maneira, me impedia de pensar no que eu realmente queria para mim, para a minha vida. Como eles esperavam que eu decidisse algo, com todos se lançando sobre mim como aves de rapina?

Respirando fundo na tentativa de clarear meus pensamentos, respondi apenas que eles teriam a minha resposta em breve, e sem esperar mais, voltei aos meus aposentos o mais rápido que as regras de boas maneiras me permitiram naquela situação.

Fazia apenas alguns minutos que eu me encontrava ali, no abençoado silêncio de meu quarto, quando um toque à porta me trouxe de volta. E eu imaginando que poderia ter mais do que alguns minutos para pensar... Que engano o meu! No instante seguinte, Catherine apareceu à porta, trazendo consigo um envelope lacrado.

- Sei que quer um tempo para pensar Mary, mas achei que isto pudesse lhe ajudar – diz ela, estendo a correspondência para mim.

- E o que é isso? – questiono, levemente intrigada.

- Notícias do Vaticano – a rainha responde simplesmente. – Assim poderá escolher a pessoa certa.

- Mas como posso escolher apenas um, se amo os dois? – pergunto, me sentindo à deriva, perdida em meio a uma grande tempestade.

- Deve ser apenas alguma ilusão, já que você ainda é tão jovem, mas... Na mínima hipótese de você estar realmente amando Francis e Sebastian, acho que, de algum modo, você deve amar um dos dois um pouco mais. Só precisa descobrir qual deles – e dizendo isso, Catherine me deixou mais uma vez sozinha para que encontrasse minhas respostas.

Quando ouvi a porta se fechar, me deixei desabar sobre a cama, sentindo-me completamente esgotada. Ainda assim, de alguma forma, as palavras dela me foram úteis, pois senti minha mente clareando aos poucos.

Como num sonho, pude ouvir as palavras de Sebastian preenchendo o vazio do quarto:

“Se nos casarmos, você será a minha família Mary. Nada e nem ninguém será mais importante para mim do que você. Meu compromisso será com você, não com a França.”

“Vejo você mais tarde, esposa!”

“Ainda podemos casar Mary, nada precisa mudar.”

Com as mãos trêmulas, rompi o lacre da correspondência vinda do Vaticano, mas antes mesmo de abri-la de fato, eu já sabia o que fazer. Ao me deparar com o papel totalmente em branco, uma onda de alívio me tomou, e sem nem mesmo pensar direito, já estava correndo para fora do quarto.

********

Parei em frente à porta poucos minutos depois, e após um leve toque entrei sem nem mesmo me anunciar. Em segundos nossos olhares se encontraram, e naqueles olhos claros pude ver a dor e a confusão que ele enfrentava em silêncio.

- Mary – ele sussurra com a voz levemente rouca, colocando-se de pé e encurtando a distância entre nós. – Deixe-me ao menos...

- Shhh – o faço silenciar, tocando seus lábios com as pontas dos dedos. – Eu já tomei minha decisão, e nada do que disser vai me fazer mudar de ideia.

- Mas...

- Eu quero ficar com você, Bash! Eu amo você, e não importa se será ou não rei da França um dia. Tudo que quero é que seja o homem com quem passarei o resto de meus dias.

- Está falando sério? – ele questiona, envolvendo meu rosto com suas mãos. – Vai realmente arriscar a estar casada com um reles bastardo?

- Não me importo com sua origem, apenas com você, o homem que aprendi a amar.

- Você realmente me ama?

- Você se deu a mim por completo Bash, como eu poderia não fazer o mesmo? – respondo, sentindo as lágrimas escorrerem preguiçosamente por meu rosto. – Se puder perdoar minha hesitação, essas últimas horas em que magoei você, eu...

Mas dessa vez foi ele quem me interrompeu, unindo seus lábios aos meus num beijo urgente, que não deixou nenhuma dúvida sobre a escolha que eu fizera.

- Prometo fazê-la feliz Mary, Rainha da Escócia!

- Prometo o mesmo a você Sebastian – respondo simplesmente, puxando-o para mais um beijo.

***********

Após me despedir rapidamente de Greer, Kenna e Lola, me embrenhei pelas passagens secretas e escuras que me levariam direto até o estábulo. Lá, encontraria meu futuro marido à minha espera, para que juntos pudéssemos fugir e chegar à pequena igrejinha que Bash localizara mais cedo naquele dia.

Talvez alguém possa até perguntar depois o porquê da fuga, se a Corte esperava por um casamento ainda naquela noite. O fato é de que esperavam - e apoiavam - um casamento da Rainha da Escócia com o príncipe da França, e não com o filho bastardo do rei. Então, para que ninguém tentasse nos impedir outra vez, seguimos com o plano de nos casar às escondidas! Afinal, quem poderia se opor quando nossa união já estivesse abençoada, não é?

Passados alguns minutos, enfim cheguei ao meu destino. Sebastian já me esperava ali, e abriu um largo sorriso ao me ver.

- Está mesmo certa do que está fazendo, Mary? – ele questiona mais uma vez, enquanto me ajudava a montar no cavalo que escolhera para mim.

- Nunca estive tão certa, Bash – respondo com um sorriso sincero. – E você, está certo?

- Mais do que certo – meu amado responde, acariciando meu rosto antes de fazer os cavalos dispararem para fora do estábulo.

Assim, com o pôr do Sol às nossas costas, corremos para longe do castelo, abraçando o destino que havíamos escolhido para nós.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.