Junjou Fanatica

Por Vontade do Abismo

Capítulo 01

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Toquei a campainha mais uma vez, sem obter resposta.

Talvez ele não esteja em casa... É melhor assim — pensei, soltando um suspiro em seguida.

Estava pronto para me retirar daquele lugar quando escutei uma voz familiar — apesar de diferente do habitual — efluir do interfone.

— O que foi?! — gritou Ijuuin-sensei em um berro estridente.

Engoli em seco. Todos os autores eram mau-humorados desta forma? Eu realmente precisava ponderar mais sobre trabalhar em uma editora.

— Etto... Ijuuin-sensei, sou eu, Takahashi Misaki... — informei-lhe, um pouco desnorteado.

Eu não queria estar alí, principalmente porque há alguns dias, Ijuuin-sensei declarou-se para mim. Tudo bem que é o sonho de qualquer pessoa ter o seu ídolo nutrindo este tipo de sentimento por você, mas... Somos dois homens!

Ahn, bom, eu praticamente namo... Eu vivo com o Usagi-san e temos algum tipo de relação afetiva, mas...

— Takahashi-kun? — Sua voz mudou completamente para seu tom habitual, ou um pouco mais doce do que de costume. Mesmo sem vê-lo, eu retia a sensação de que ele estava sorrinho quando proferiu o meu nome. — Que visita agradável, Takahashi-kun. Suba, por favor.

— T-Tudo bem — respondi.

Adentrei o elevador, segurando a pasta que o editor chefe da Marukawa encarregou-me de entregar à ele. Por que sempre sou eu quem precisa fazer este tipo de coisa para ele? Justo com ele...

Não que eu não goste do Ijuuin-sensei, é claro que não é isto. Eu já disse outras vezes para ele que o amo, e é verdade. Mas é um amor de fã. E agora ele disse que me ama... Também tem o Usagi-san que está muito ciumento em relação à ele, eu não quero problemas. Mas preciso fazer o meu trabalho.

Saí do elevador, encaminhando-me em direção ao apartamento dele.

Por que eu estou tão nervoso? Claro, eu não quero encará-lo depois daquilo... Vamos, Misaki, seja homem! Se eu não gosto dele da forma como ele deseja então basta apenas dizer à ele, como qualquer um faria, não? — ponderava em pensamento.

Normalmente seria assim, mas... Ele é Ijuuin Kyo. O homem que escreve a minha bíblia, o autor do meu mangá favorito desde o primário, meu ídolo. Só por ter a oportunidade de conhece-lo há dois anos eu já senti-me a pessoa mais sortuda do mundo. Quando ele declarou-se para mim, não pude evitar ficar um pouco... feliz.

Mas, suponho que isto seja uma reação normal. Quem não ficaria feliz em ter o seu ídolo, em carne e osso, diante de seus olhos, declarando-se para você? Tirando a parte de que somos dois homens, é claro.

Direcionei meu punho contra porta à minha frente com a intenção de avisar a minha chegada, porém, esta já estava sendo aberta do outro lado.

Ele sorriu e então percebi que ainda estava com o punho no ar, encarando-o como se houvesse enxergado um fantasma. Rapidamente abaixei minha mão e olhei para os lados, sentindo minhas maçãs do rosto ruborizarem.

— Eh... Pediram-me para trazer esta pasta para você, Ijuuin-sensei — disse, estendendo-lhe a pasta e tentando não estabelecer um contato visual.

— Está tudo bem, Takahashi-kun? — inquiriu ele, exibindo um sorriso divertido ao presenciar o meu desconforto. — Por que não entra um pouco?

— Ahn... Eu acho melhor não, mas, obrigado! Então, eu vou indo...

— Estou com alguns manuscritos do próximo volume de The Kan, gostaria muito que você os lesse e desse a sua opinião — convidou-me, com seu tom calmo e estranhamente sedutor.

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Por que eu estou aqui mesmo? Misaki, seu idiota! Deixando-se ser persuadido com algo assim... Mas, bom... já que eu estou aqui, vou dar uma olhada nos rascunhos e ir embora — pensei enquanto encarava minhas mãos sobre o meu colo, friccionadas em punhos devido ao nervosismo.

— Eu trouxe chá — disse ele, estendendo-me uma xícara e sentando-se ao meu lado em seguida.

Era constrangedor, pois, mesmo eu não o olhando para ele, podia sentir seus olhos averiguando-me a cada instante.

Nii-chan, aonde eu vim parar? — indaguei para mim mesmo em pensamento. — O-Obrigado... — Dei um gole e notei que a frangância do chá era a minha favorita, baunilha. — E-Está m-muito bom, Ijuuin-sensei... E que coincidência, este é o meu chá favorito.

— Eu sei.

— S-Sabe?

Com o cotovelo direito no braço do sofá, ele apoiou a cabeça em sua mão, inclinando-a para o lado enquanto fitava-me.

— Sim, você me contou, Takahashi-kun. Em uma de nossas conversas.

— Ah, entendo... Nem eu mesmo me lembrava — Dei uma risada forçada, meu desconforto era pateticamente notável —, você tem mesmo uma memória muito boa.

— Hum... Acho que não, Takahashi-kun — Ele segurou uma mecha do meu cabelo, brincando com ela como já fez em outras ocasiões, o gesto fez-me, momentâneamente, olhá-lo e virar o meu rosto assim que nossos olhares se cruzaram. — Apenas recordei-me por ser algo relacionado à pessoa que eu amo.

Minhas mãos tremiam levemente ao apertar a xícara em meu colo, eu podia sentir meu rosto tornando-se completamente vermelho.

— Ah... Ijuuin-sensei, eu gostei muito do último volume de The Kan, foi realmente incrível, você fez um bom trabalho, c-continue assim — soltei, em uma tentativa descarada de mudar o assunto. — A-Acho que posso ver os manuscritos outra hora, lembrei que preciso voltar para a Marukawa para organizar alguns papéis e...

— Takahashi-kun — interrompeu-me. — A minha presença te deixa desconfortável?

Comecei a rir forçadamente, o que só transparecia ainda mais o meu nervosismo.

— M-Mas é claro que não... Por que diz isso? — indaguei, sorrindo amarelo.

— Então por quê... — Ele gentilmente segurou meu queixo e posicionou minha face de forma que eu pudesse encará-lo. — Você não olha para mim?

— Ahhhh! E-Eu... Tenho que ir. — Levantei-me em um brusco impulso, tentando me livrar o mais rápido possível daquele toque em meu rosto o que acabou resultando na queda da xícara de chá, ensopando minhas roupas com o líquido quente. — Quente! Quente! Quente!

Rapidamente me livrei da minha camisa em um ato instintivo para livrar-me daquele calor.

— Misaki! — gritou ele, posicionando suas mãos em meus ombros.

Abri a boca para tentar respondê-lo mas fomos surpreendidos pelo estrondo da porta que foi empurrada do outro lado.

— U-Usagi-san...

Nii-chan,

A primavera chegou e trouxe consigo uma tempestade.

E eu não faço idéia do que ela me reserva.

Takahashi Misaki, 21 anos.

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Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.