Judith

Capítulo 6 – Procura-se


Oliver Queen
Dormir.
Não há nada mais confortável do que o meu travesseiro nesse exato momento, e não, eu não o trocaria por nada. Quero dizer, talvez eu o trocasse por um daqueles hambúrgueres triplos que vendem na esquina do Glades, lembro-me de comer um desses nos meus tempos de adolescência antes de uma noitada na Verdant. Isso sim era uma vida de prestígio, não haviam preocupações, não haviam fraudas sujas, não havia choro de nenem, e claro, não haviam celulares me acordando logo pela manhã depois de uma noite difícil.
— Só mais cinco minutinhos... — murmuro.
Mas o toque Wannabe continua em alto e bom som.
Sem julgamentos, eu adoro Spice Girls.
Não tem para onde fugir, se eu não atender a esse telefone a minha cabeça vai explodir e os miolos irão sujar todo o cômodo. Então é isso que decido fazer, meus movimentos são lentos como o de uma lesma chapada, a erva ainda deve estar fritando meus miolos, além de ter aquela sensação. Qual sensação? A de ter quase ferrado com a minha vida, porque beijar Felicity seria um baita de um erro, tipo quando Adão comeu a porcaria da maçã. Ele não tinha que ter comido aquela merda, era só continuar ali curtindo a natureza juntinho com a sua prometida, a famosa Eva. Mas não, a serpente surgiu e todo o plano desceu pelo ralo.
Já perceberam que sempre tem que existir uma serpente?
A sementinha do mau.
Ela foi lá e instigou Adão a comer a maçã, o fruto proibido, e pronto, o caos estava instalado da melhor forma e Adão estaria fadado ao sofrimento. A humanidade a partir daquele momento estaria terminantemente fudida.
Acho que isso resume bem o que teria acontecido caso eu beijasse Felicity, o apocalipse começaria e o fim do mundo estaria próximo. Então é bom que eu pare de pensar nisso por hora antes que eu enlouqueça ou antes que Wannabe deixe de ser uma das minhas músicas preferidas.
Alô. — minha voz ainda é sonolenta.
Oliver Queen? — a voz é feminina, mas não conhecida. Não que eu esteja lembrado.
Não. A Rihanna. — meu humor pela manhã não é muito convidativo.
Uma risada engraçada é dada do outro lado da linha. — Sou Susan Williams representante da Sony Music.
Não acredito.
Eu sou um imbecil.
Sony Music?
Sim. — ela volta a rir. Pelo menos ela parece ter um bom senso de humor.
Desculpe pelo meu mau humor matinal!
Pulo da cama caçando uma camiseta, tudo ainda está escuro por aqui o que me faz dar com toda a força com o mindinho na quina do criado mudo, mas eu engulo o grunhido e a vontade monstruosa de soltar um puta que pariu. Ergo a persiana buscando um pouco de luz enquanto um silêncio nasce do outro lado, até que é quebrado pela voz feminina.
Não foi nada, nós que deveríamos pedir desculpas pelo transtorno, mas é que temos uma proposta.
Proposta?
Precisamos de um produtor musical para dirigir a gravação de um musical e você foi um dos nomes cotados.
Eu?
Desde quando me tornei um dos nomes cotados?
É...
A proposta é tentadora, o musical conta a história da Pequena Sereia e precisamos colocar voz nas canções. — Suasan continua a me explicar como quem serve uma sopa de letrinhas para um bebê.
Vocês têm certeza de que não estão me confundindo? Robert Queen é o meu pai, ele quem costuma estar a frente dos negócios...
Não estou mentindo ou passando a bola, mas é que o coroa é quem está na frente o tempo inteiro e, bem, eu sou o garoto ajudante que ganha uma grana extra.
Robert nos indicou você, disse que era o cara dos musicais!
Gargalho, mas não de propósito, afinal eu sou amante de animações e tenho a discografia de quase todas no meu celular. Só que é um pouco estranho quando o seu próprio pai te leva a sério quando você mesmo não consegue fazer isso.
É, eu conheço um pouquinho dessa área. — murmuro.
Então podemos contar com você para um teste?
Porra, um teste?
Estão me chamando para dirigir um musical da Pequena Sereia? É claro que estou dentro é o meu primeiro trabalho sem estar nas asas do meu pai, sem ser o garoto que ganha os extras e que é subestimado. Essa é a oportunidade que precisava para mostrar que até que dou para o gasto, que mando muito bem nessa brincadeira.
Eu sou o seu cara! — respondo animado.
Sabia que não nos desapontaria, estamos esperando você hoje às duas em Central City.
Meu coração paralisa por certos três segundos.
Hoje às duas em Central City?
Judith!
Hoje? Você disse hoje? — minha voz é de puro desespero.
Até mais Oliver!
A ligação finaliza.
Puta merda.
Abro a porta do quarto correndo em direção a suíte de Felicity que está com a porta escancarada mostrando que ela não está mais por aqui. Passo pelo banheiro na mesma velocidade e o peão de Judith pelo caminho me faz tropeçar feio, machucando de novo o mindinho do meu pé, mas que inferno.
Há barulho de água caindo.
Achei a fugitiva.
— Preciso da sua ajuda! — abro a porta do banheiro em um rompante assustando Felicity que cobre o corpo com a primeira toalha que vê pela frente.
— Oliver! — a voz de Felicity é um misto de aborrecimento e fúria, nada novo sob o sol, porque geralmente pela manhã quando estou apertado para tirar a água do joelho costumo invadir o banheiro e dar de cara com Felicity enrolada em sua toalha de algodão banhada a fios de ouro. Brincadeira, não ser bordada a ouro, mas é que ela tem a maior frescura com essas toalhas na lavanderia, então presumo que elas poderiam ser banhadas a ouro.
— Um segundo, só um segundo. — viro de costas com meus olhos fechados, não que eu já não tenha visto a mesma coisa durante toda manhã, mas é que Felicity é como a Medusa e se você olhá-la enrolada na toalha por muito tempo, tudo vira pedra. Tudo mesmo.
— Saia daqui agora, Queen! — ela me enchota para fora sem ao menos me deixar abrir a boca mais uma vez. — Eu já estou cheia da forma com que você invade a minha privacidade.
A porta bate contra meu nariz.
Normal.
— Felicity eu preciso que você fique com a Judith hoje. — falo atrás da porta.
— O que? — a porta volta a se abrir e meus olhos de imediato se fecham.
— Preciso que fique com a Judith.
Ela ri. Apenas ri de mim.
— Nem que a vaca tussa. — a porta volta a se fechar.
— Qual é Felicity! É um trabalho que surgiu, eu preciso pegar essa oportunidade... É a minha chance!
A porta se abre novamente.
— Qual o nome dela? — seus olhos estão espremidos na minha direção como se estivesse me farejando como um cão da polícia de Starling City. Ela continua. — Esqueci que você não costuma se lembrar do nome das suas presas.
— Do que você está falando? — abro meus olhos e a confusão dentro da minha cabeça começa.
— Da sua desculpa para ter o dia livre. — Felicity cruza os braços.
— Não é uma desculpa.
— Oliver, não adianta, eu não vou te deixar escapar. É o seu dia com a Judith e eu tenho um dia cheio na Smoak Technologies.
O corpo dourado enrolado na toalha sedosa risca meu corpo, empurrando-me, o que me deixa levemente puto. Mas decido segui-la até ter a segunda porta se fechando na minha fuça, desta vez, a do quarto de Felicity.
— Caramba, eu posso te cobrir no final de semana! Você não queria ir naquele Spa? É uma proposta tentadora.
— Não! — ela grita lá de dentro.
Bufo.
Ela só pode estar fazendo de propósito.
— É a minha chance! — grito de volta.
A porta se abre, Felicity está com os cabelos molhados, o dourado dos fios ficam roçando o ombro descoberto pela toalha. Os olhos azuis são tão transparentes que parecem as ilhas de Aruba em um dia ensolarado, merda, eles são de hipnotizar.
Me perco por bons segundos.
Pareço um dislexo.
Ela cruza os braços, encosta na beira de madeira da porta e morde a porcaria do lábio inferior avermelhado.
— Sua chance? — ali está a ironia.
Não a respondo, porque estou muito ocupado perdido no combo que são os olhos azuis claros de Felicity somados às sardinhas nas almofadas das bochechas.
— Você está me ouvindo? — ela grita, trazendo-me de volta.
— Claro! — me recomponho. — Vai quebrar essa para mim?
Ela volta a rir.
— Eu até poderia pensar no seu caso, mas ops, você geralmente faz isso para ir atrás de um rabo de saia qualquer ou só para beber com Dean mesmo, então a resposta é não, Oliver. Eu preciso organizar um monte de papelada na Smoak Technologies, não tenho tempo para os seus caprichos de badboy!
A porta se fecha antes que eu possa abrir minha boca para responder.
Meus ombros caem em frustração.
Será que vou perder a chance de sair das sombras do meu pai justamente agora?
Jesus Cristo!

~~~


— Cara... Você sabe que horas são? — a voz de Dean é sonolenta.
— São nove horas da manhã, Dean! Nove horas! — empurro o corpo de Dean para dentro do apartamento que continua sem entender. Ele não costuma raciocinar muito pela manhã, na verdade, Dean não consegue raciocinar em momento nenhum.
— No meu relógio biológico ainda é madrugada. — ele coça os olhos e depois arranca a cueca Box branca do meio das nadegas, que visão dos infernos, mas eu não estaria aqui a essa hora da manhã se não estivesse entre a vida e a morte. Tudo bem, eu fui um pouquinho dramático, porém perder uma oportunidade de dirigir um musical pela Sony Music não deixa de ser algo bem ruim.
— Eu já entendi!
No momento estou parecendo uma das tartarugas ninjas, Judith ainda está dormindo presa de forma aconchegante em um daqueles carregadores de bebês dos quais eu não sei o nome até hoje. A única coisa que sei é que eles são confortáveis e que na primeira vez que fui testá-lo com Jutih ela quase deu com a cara no chão. A queda foi bem feia.
— O que você quer, Oliver?
— Dean? — uma voz feminina surge pela porta dos fundos, é uma morena, parece que a conheço de algum lugar.
Clarissa?
Quero dizer...
— Camila? — pergunto confuso.
— Não pode ser. — a morena suspira.
— Vocês se conhecem? — Dean pergunta ainda confuso.
— É... — prego minhas mãos na cintura. — Digamos que sim.
Camila fecha a porta com força.
Ossos do ofício.
— O que está acontecendo aqui? — Dean volta a perguntar.
— É uma longa história, eu juro que te conto depois. — respiro fundo. — Preciso que você fique com a Judith hoje!
Meus olhos comprimem, porque sei que talvez eu esteja me colocando em uma grande furada. Nem os pais de Dean confiam nele, não que ele seja uma pessoa ruim, Judith gosta dele, mas é que ele é um cara solto e sem raízes, não deve ser muito certo colocar um bebê de um ano em seus cuidados.
— Com o bebê? — os olhos de Dean esbugalham.
— Só por algumas horas.
— Você fumou um? — ele pergunta incrédulo.
— Cara, você não vai ter trabalho nenhum... Eu trouxe tudo, as papinhas, as sobremesas, as fraudas, os lenços umidecidos, os brinquedos — sou interrompido.
— Desde quando eu tenho cara de quem gosta de brincar de casinha?
— Porra Dean!
— Não tem chances, Oliver. — ele dá de ombros.
— Um trabalho surgiu, eu preciso voar para Central City ou tudo vai estar perdido!
Uma gargalha surge.
Qual é, o que está rolando por aqui?
Agora virei chacota?
— Eu tenho madeixas loiras e uso óculos de grau?
Meneio a cabeça.
— Não...
— Não sou a Felicity, pode contar a verdade. — ele se gaba.
É, eu virei uma chacota.
— Vai se ferrar, Dean!
Reviro os olhos.
— Não vai rolar, brother. — ele arrota logo após dar uma golada em uma latinha de refrigerante. Quem bebe refrigerante logo pela manhã?
— Eu paguei sua fiança no mês passado, me deve uma!
Não sou daqueles amigos que jogam as verdades na cara, eu pouco me importo com essas besteiras, mas agora essa é a única saída. No mês passado Dean foi preso por ter quebrado uma privada no banheiro feminino, isso mesmo, ele quebrou uma privada de porcelana. Não queiram saber o motivo, eu fico envergonhado quando me lembro. O idiota foi levado pelos policiais de Starling City até a delegacia, e para completar, estava nu, como veio ao mundo, sem nenhuma peça de roupa para esconder as vergonhas. E, então, o meu celular tocou naquela noite e foi eu quem pagou a porcaria da fiança ou ele ainda estaria lá mofando a espera da boa vontade dos pais.
— Está me jogando na cara? — ele me empurra pelo ombro.
— Me deve uma.
Dean respira fundo.
— Eu não sei limpar bundinha de nenem! — ele sussurra.
— Pensei em tudo, tem um tutorial preso nas fraudas.
— Você vai deixar uma criança com um cara que quebra patrimônio público e vai preso logo depois?
É uma boa pergunta.
A resposta é não.
Mas Dean se tornou o amigo mais próximo depois de Barry, por mais babaca que seja, ele não consegue nem matar uma formiguinha... Isso significa que no fundo tem um coração bom.
— É só por hoje.
— Felicity vai ter engolir vivo quando souber.
— Ela não vai precisar saber.
— Ah não, sabichão?
— Antes do cair da noite já vou estar em casa com Judith como se nada tivesse acontecido!
Ele volta a rir.
— Felicity é esperta, se bobear tem uma escuta nas nossas bundas! Não tente enganar a loira.
Por que sou obrigado a concordar com Dean?
— Eu sei o que estou fazendo, ok?
Desfaço o nó que me une a Judith que continua a dormir profundamente, a passo para Dean que a pega no colo um pouco desajeitado, mas agora não é a hora de explicar como se segura um bebê no colo, eu só preciso que ele a mantenha viva e se possível, sem nenhum traumatismo craniano.
— Tudo o que você precisar vai estar dentro da bolsa, ela é um bebê e não um dos cachorros da vizinha que você leva para passear em troca de umas noites sem lei, então, nada de aventuras!
Eu não deveria estar preocupado.
Isso não parece seguro.
Odeio quando o anjinho do meu ombro direito decide me dar lição de moral pesando a minha consciência.
— E se ela chorar? — ele volta a sussurrar.
— Ela adora programas animados na TV! E, sei lá, usa o seu charme.
— É, eu costumo ter charme. — ele pisca.
Reviro meus olhos mais uma vez.
— Essa é a hora da última pergunta! — olho no relógio ansioso, Central City não é muito longe, mas preciso ser pontual pelo menos uma vez em toda a minha vida.
— Da onde você conhece camila?
Engasgo com a minha própria saliva.
A tosse vem rapidamente.
Não consigo falar.
Dean continua. — Caramba, você precisa de um pouco d'água?
Respiro fundo. — Estou atrasado! Apenas... Cuide de Judith.
Não digo nada a não ser me despedir da pequena.
Porque Central City me espera.
Ninguém vai me tirar da jogada!

~~~

Felicity Smoak
Minha cabeça está doendo, meus olhos ainda pesados e a garganta ardendo. Será que eu ferrei com as minhas cordas vocais? Uma coisa é certa, eu nunca mais embarco nas loucuras de Oliver. E que loucura. Põem loucura nisso.
Aonde eu estava com a cabeça quando quase...
Quase...
Quase deixei me envolver?
O nome disso é carência, porque em dias normais eu nunca escolheria um cara como Oliver Jonas Queen, porque aquele sorriso galanteador me irrita, o corpo atlético me causaria dores de cabeça e o chame, ainda tem o charme, ele não me deixaria em paz nem se quer um segundo. Ou seja, por mais que meu corpo fique todo molhado, literalmente, quando me sujeito a um desses momentos com Oliver, ele nunca seria o meu par ideal.
É isso, eu só preciso respirar novos ares, voltar ao aplicativo de relacionamento e achar um carinha qualquer de boa família e higiene para me aliviar um pouco. Sexo puro, livre de qualquer satisfação, eu só preciso de um jantar com um belo espumante trincando, um bom papo e uma desculpa para que ele conserte a encanação da minha antiga casa, pronto, adeus pensamentos eróticos com o cara que mais me tira do sério na vida, sem o meu coração quase sair pela boca quando ele está tão perto com aquele cheiro amadeirado, sem pernas e joelhos bambos... Ai não, já estou caindo no mesmo erro de novo.
— Eu só quero a porcaria de uma água com gás! — chuto a máquina eletrônica.
Já fiz o pedido há vinte minutos e nada.
— Às vezes a gente só precisa apertar o botão... — Curtis surge por trás apertando o botão ao lado da máquina e como um verdadeiro milagre a garrafinha de água com gás é cuspida para fora.
Respiro fundo.
— Quem foi o idiota que criou esse sistema?
— Você disse que tinhamos que parar de perder tempo em filas, por isso me fez criar esse sistema! É só apertar um botão e voilá.
Suspiro deixando meus ombros caírem, faz tanto tempo que não passo pela área de refeições que não identifico minhas próprias criações. Não sei aonde vou parar com todo esse caos na minha vida, talvez eu enlouqueça ou só desista de viver e passe a ficar trancada na minha suíte em posição fetal até que eu seja arrebatada no dia do Juízo Final.
— Eu esqueci.
— Ultimamente você anda bem esquecida.
— Maconha ferra com os neurônios?
Minha pergunta assusta um pouco Curtis que me dirige àquele olhar que Donna faz quando digo que ainda não transei dentro de um hospital, de preferência encima de uma maca, isso mesmo, perplexo.
Falar em mamãe, faz alguns dias que não a vejo, mas minha cabeça faz com que eu não pense muito nisso, porque posso imaginar coisas que não são saudáveis como minha mãe e Robert Queen de baixo do mesmo teto, isso é algo que chega a ser mais prejudicial do que maconha, com certeza ferraria com os meus neurônios.
— Felicity! — Curtis grita.
— Não seja puritano.
— Desde quando passou a usar essas coisas?
Curtis poderia ser meu pai.
— Só foi uma vez depois de um longo tempo... Só para relaxar!
Lá vem de novo àquelas lembranças do peito duro de Oliver roçando na altura dos meus seios, se eu estava esperando por relaxar falhei miseravelmente.
— Sabe que não vai passar pelo exame toxicológico no final do mês, não é?
Meus olhos comprimem.
Caramba eu esqueci completamente desse tal teste toxicológico de todo mês.
— Curtis, você não está me ajudando.
— A regra é clara, Felicity. — ele dá de ombros.
— Não adianta, eu não vou tirar férias! Não agora.
Curtis bufa.
Desde que tudo aconteceu à Caitlin, a história da guarda de Judith e sobre morar de baixo do mesmo teto que Oliver, Curtis vem insistindo que eu tire uns meses de férias, mas isso não está nos meus planos, essa ideia de me afastar do que eu mais gosto de fazer seria a gota d'água para que o copo transbordasse. Então, por mais que eu esteja extremamente cansada de viver dois mundos tão complexos, é por aqui que encontro um pouco de paz, com meus algarítimos, os números que se transformam em códigos de novos sistemas operacionais e robôs que acenam pelos corredores.
— Quando vai deixar de ser tão orgulhosa?
— Vou pensar nessa possibilidade depois da reunião com a Indústria Chase, você está preparado? — lanço um sorriso de lado, Curtis odeia quado decido testá-lo.
— Mais do que nunca, mocinha! — uma piscadela é deixada no ar. Eu gosto disso.
— Valendo um jantar feito pelo Paul no final de semana?
Paul é o marido de Curtis, ele é dono de um dos restaurantes mais badalados de Starling City, tem uma filial em Nova York onde as celebridades costuam frequentar. Não vou negar, meu amigo tem sorte de ter sido pego pelo estômago. Se um dia eu me apaixonar por alguém espero ter a mesma sorte de Curtis.
— Fechado!

~~~


Oliver Queen
Central City é uma cidade um pouco mais tecnológica do que Starling City, tudo aqui tem que passar por vistorias e não existem jardins para as pessoas praticarem esportes durante a tarde de um final de semana. As pessoas sempre parecem estar com pressa esbarrando na gente pela calçada, o que explica essa loucura é a S.T.A.R Labs, Felicity falta colocar espuma pela boca quando se depara com uma notícia da empresa. Na verdade, a Smoak Technologies e a S.T.A.R Labs são concorrentes pesadas, de um lado a loirinha tenta manter o urbanismo sem ter que destruir o meio ambiente e toda aquela história sobre a natureza, e por outro lado, a S.T.A.R Labs não está nem aí.
Central City não é uma das melhores cidades.
Paro em frente ao grande edifício da Sony Music, o relógio indica que estou adiantado alguns minutos - acredito que o tempo vá mudar, não costumo ser pontual em nenhum compromisso, se o Papa quisesse marcar uma reunião ele teria que ser paciente -, será bom para conhecer um pouquinho o lugar.
— Oliver Queen? — de novo a voz feminina. Mas estou ocupado demais babando nas discografias do Michael Jackson presas à parede. — Oliver?
Ela me chama novamente.
— Sim. Sou eu.
Viro bruscamente e não vou negar, a mulher a minha frente é linda.
Eu poderia apostar tudo o que tenho - acredito que os poucos dólares que tenho na minha conta bancária -, inclusive minha bunda, ao dizer que essa deve ser a tal da Susan Williams. Ela é alta e traja um vestido tubinho em tom vinho que ocupa cada curva da sua estrutura impecável, ela é linda e sedutora como a sua voz durante o telefonema mais cedo.
— Eu sou a Susan, responsável por você. — ela sorri. Malditamente.
Você quer o mundo, bebê?
Eu te dou.
— Vocês falaram sobre um teste.
Ela volta a rir. — Você passou.
— Passei?
— Robert disse que o teste seria a pontualidade. — Susan olha o relógio no pulso. — Não há outra pessoa tão pontual.
Eu disse que tinha problemas com horários.
Mas o coroa vai ficar me devendo uma.
— Então quer dizer que...
— Vamos passar algumas músicas juntos e se você gostar assinaremos o contrato.
Espera aí, eu ouvi bem? Vou assinar um contrato para dirigir um musical pela Sony Music? Caramba, isso é animal!
— Onde estão os papéis? É claro que estou dentro!
— Gostei de você.
Nossa, eu gostei muito de você também.
Muito.
Susan não é só um corpinho perfeito dentro de um belo vestido, ela também é super inteligente no que faz. No primeiro momento me mostra todos os estúdios e eu estou pirando, passar pelo mesmo lugar onde a Madonna tocou seus lindos pézinhos não é para qualquer um, isso explica um pouco da minha emoção. Às vezes, quando meus olhos não estão muito vidrados em cada detalhe do lugar, percebo Susan dar àquela olhada avaliando o produto, no caso eu, mas como diz Robert Queen, negócios são sempre negócios. Nós estamos agora no estúdio escalado para o musical, a Disney nunca erra, ela escolheu a dedo uma das melhores locações.
Sou apresentado como quase diretor aos atores responsáveis pelas vozes que vão ser inseridas nas melodias, nunca conheci pessoas tão simpáticas, deve ser o espírito das animações. De início Susan me deixa tomar frente, começamos a ouvir cada canção de vagar, eu preciso repassá-las várias vezes até me acostumar. Eu amo isso, adoro o mundo musical e suas façanhas, a hora parece que voa.
O meu celular começa a vibrar no meu bolso, mas estou empolgado demais para atendê-lo, então eu só continuo ouvindo as passagens das canções como um quadro que está sendo pintado nos mínimos detalhes.
— Se divertindo? — Susan me entrega uma xícara com café quente.
— Muito. — afasto os fones de ouvido. — Teremos trabalho por aqui.
— Seu pai acertou em cheio quando indicou você.
A mãozinha passa pelo meu antebraço e não há sinal mais claro de que uma garota está interessada quando a mãozinha entra no modo ataque.
— Meu pai costuma acreditar em mim mais do que eu mesmo.
Geralmente não sou muito levado a sério, não que isso me incomode, porque minhas próprias ações me tiraram a credibilidade. Felicity acha que sou um imprestável, Thea é outra que acredita que só sirvo para ganhar a fama que meu pai tem, não a julgo, foi assim por um longo tempo até eu me apaixonar por esse mundo. Dean acha que minha vida se resume a mulheres e bebidas, no fim, só quem acreditava realmente em mim era Barry, e agora, só restou o meu pai.
— Você vai brilhar aqui...
A mãozinha sobe até meu peito duro.
Negócios são negócios, Oliver!
Essa é a minha consciência falando.
— Susan... — engulo a seco.
— Programa para hoje à noite? — puta merda que voz sensual. Estou tanto tempo longe das garotas de verdade que meu pau levanta por qualquer coisinha.
O celular volta a vibrar dentro do bolso.
O ignoro.
— Infelizmente...
A história de "Negócios são negócios" afundou como o Titanic, porque a boca de Susan está engolindo a minha com voracidade. Minhas mãos percorrem por cada pequeno espaço do seu corpo até estacionarem na bunda firme e arrebitada, eu gostaria de não estar tão animado, mas foram dias sem contato direto com nenhuma garota, estou quase gozando dentro da minha calça.
Susan Williams não é uma das melhores, ela é linda, tem um corpo que se encaixa nos padrões e é simpática. Não há nada mais do que me chame atenção, só que o fato de estar quase me tornando virgem novamente explica a forma como tomo Susan nos braços dentro desse pequeno cubiculo que nos metemos depois da última passagem de som no estúdio. Estou tão duro que me sinto levemente envergonhado, mas parece que Susan está se divertindo, porque seu corpo leve e tentador roça pecaminosamente por cada extensão do meu quadril.
— A gente pode ir para a minha casa. — o sussurro me faz vibrar.
Vibrar literalmente.
Ou seria a droga do meu celular de novo?
Quem se importa?
No momento, ninguém.
— Sua casa? — respiro fundo tentando buscar ar depois da apneia de um beijo profundo e desesperado.
— Você está bem? — Susan ri divertidamente ao apoiar a cabeça no meu ombro. O cheiro do seu cabelo é bom demais.
— Eu pareço bem?
— Não muito... — ela roça no meu membro em forma de pedra propositalmente.
— Se você fizer isso de novo a brincadeira vai acabar mais rápido do que você imagina.
Ela morde o lábio inferior com o batom borrado.
É de enloquecer.
O celular volta a vibrar, já é a milésima vez que isso acontece.
— Você não acha que é melhor atender?
Os lábios riscam meu pescoço, eu apenas trinco meus dentes.
Eles ragem.
Faço um sinal negativo com a cabeça, Susan continua com a tortura.
— Pode ser importante... — a língua molhada passeia pelo meu maxilar, pronto, eu vou desabar feito um edifício dentro da calça.
— Eu não consigo fazer duas coisas ao mesmo tempo.
Susan é rápida, as mãos friccionam meu pau rapidamente, sem querer, ela afunda as mãos no meu celular e o entrega nas minhas mãos. Mas ela não sobe de volta, acompanhando o caminho que as mãos fazem no meu quadril até embaixo, eu só consigo observar a forma com que ela encontra espaço para se ajoelhar na minha frente no pequeno espaço que temos. Agora é a hora em que começo a suar frio, meus pés formigam assim que ouço o meu cinto começar a ser desfeito em segundos lentos, demorados, lascivos.
Deus do céu.
Que mulher!
— Eu vou te ajudar a se concentrar. — ela desfaz o cinto com pespicácia.
O telefone vibra bem na minha mão, desviando a atenção.
O visor pisca mostrando o nome de Dean.
São trinta ligações, essa é a trigésima primeira.
Espero que não seja mais uma das suas palhaçadas! — decido atender.
Brother você precisa se teletransportar agora para Starling City!
A voz de Dean é vibrante o que me gera preocupação pela primeira vez.
Qual foi a merda que você fez?
Judith!
Uma pontada acerta em cheio o meu peito.
O que aconteceu?
Eu perdi a Judith!
Estou fudido.
Bem fudido.
Ah, e eu vou matar o Dean!

~~~


Felicity Smoak
Não costuma ser normal quando meu celular toca justamente no momento de uma reunião importante, eu não gosto de ser incomodada e todos sabem disso. Mas tudo se torna ainda mais anormal quando olho no viso e me depato com o nome de Dean, um dos amigos insuportáveis de Oliver. A última vez que ele me ligou foi se passando por Oliver, não foi nada agradável, porque Dean não é nem um pouco agradável.
Mas dessa vez decidi atendê-lo, eu não sei o porquê exatamente, só o atendi preparando milhares de lugares não tão educados para mandá-lo, no entanto quando ele tocou no nome de Judith, tudo na minha frente parou. Eu catei as minhas coisas sobre a mesa, deixei Curtis falando sozinho e corri para o meu carro em direção ao Supermercado que Dean passou o endereço, o lugar onde Judith foi vista pela última vez.
Eu quis acabar com Dean quando ele me contou toda a história em que Oliver tinha o metido, mas não tive tempo, não tive forças e não estou bem até agora. Já fazem algumas horas em que o Supermercado foi fechado pelos policiais de Starling City, o certo a se fazer quando alguém desaparece é esperar por vinte e quatro horas até anunciar o desaparecimento à polícia, mas como eu sou um pouco influente na cidade por conta da potência que é a Smoak Technologies consegui mexer meus pauzinhos antes do tempo, mas até agora não conseguimos nenhuma novidade.
— Cadê a Judith? — Oliver chega em um rompante pegando Dean pelas golas da camisa. O rapaz que está próximo de mim reage com os dois olhões esbugalhados.
— Eu não sei, cara! Eu não sei! — ele responde rapidamente.
— Você é um imbecil! O que eu disse sobre aventuras? — Oliver continua gritando como um alienado.
— Solta ele.
Minha voz é embargada.
Resultado de ter chorado tudo o que podia.
Oliver percebe minha presença soltando Dean de imediato.
— Felicity... — ele engole a seco, seus olhos estão um pouco inchados e os olhos azuis nebulosos, eu já os vi assim, claro que os já vi assim, foi no mesmo dia em que descobrimos sobre o acidente de Caitlin e Barry. Mas, naquela vez, Oliver não tinha chorado, não tinha derramado uma lágrima, diferente do que eu vejo agora. Posso estar enganada, mas daqueles olhos saíram lágrimas como saíram dos meus também.
— Ela sumiu. — meus ombros caem junto da cabeça. — Eu já fiz de tudo, já coloquei a polícia atrás dela, Curtis está fiscalizando a cidade com drones, mas não há nenhum sinal. Nenhum...
Os braços aconchegantes e macios de Oliver me envolvem de forma firme dessa vez, colocando minha cabeça apoiada no seu peite enquanto encosta o queixo sobre ela, não falamos nada por alguns minutos, nada além das minhas lágrimas tímidas que conseguem sobressair a vontade que tenho de metralhar o peitoral de Oliver com meus pulsos com a raixa que existe de baixo do todo o medo que sinto. Medo de ter perdido Judith, medo de não conseguir cumprir o trato que firmei com Caitlin no dia que finalmente consegui me despedir, medo de ter falhado mais uma vez. O silêncio de certa forma me conforta, mas ele é quebrado com um sussurro rouco de Oliver.
— O que aconteceu?
— Dean me ligou ás pressas essa tarde, ele me contou sobre o trato de vocês... — engulo a vontade de querer triturar Oliver e continuo. — Disse que precisava de algumas coisas em casa e decidiu vir ao Supermercado.
Dean se intromete.
— Cara, foi questão de segundos! Uma menina pediu que eu a ajudasse com uns rolos de papel higiênico e quando eu voltei a olhar para Judith, ela não estava mais lá. — ele dá de ombros.
— Eu vou acabar com você! — Oliver ruge ao tentar se desvencilhar de mim, mas eu o impeço o trazendo de volta. — Será que você não consegue cuidar de uma criança de um ano? — ele grita.
— Foi mal, brother... — ele diz chateado.
— Foi péssimo Dean, péssimo!
— Agora não é o momento. Você precisa se acalmar! — empurro Oliver para o canto como uma criança que é colocada de castigo.
Ele começa a andar de um lado para o outro até chutar bem forte uma caixa com legumes para longe. Oliver não diz nada, mas indiretamente o seu desequilibrio me atinge de certa forma, porque Judith nos ligou, não sentimentalmente como é o que parece... Ou que seja sentimentalmente, dane-se, mas é que eu consigo entender o redemoinho que está dentro da cabeça dele, pois é o mesmo que me atingiu desde que soube que Judith havia sumido.
Os seus olhos finalmente me encontram, eles estão quebrados e uma lágrima escorrega por ali, agora conseguiu me atingir como uma bala, porque eu não esperava ver Oliver chorando de novo.
— Desculpa.
— A gente conversa depois.
Sua garganta engole a seco.
— Felicity! — a voz é de Quentin Lance, capitão da polícia de Starling City. Ele está carregando em uma das mãos uns desses rádios de comunicação. — Achamos a menina.
Meu Deus.
Obrigada.
Oliver apenas suspira.
— Onde ela está? — pergunto ansiosa e ao mesmo tempo com uma tonelada de puro medo saindo das minhas costas.
Lance continua. — O Conselho Tutelar disse que a menina foi deixada por funcionários do Supermercado pela tarde, a pessoa não quis se identificar.
— Eu vou buscá-la! — Oliver se aproxima, mas eu o mantenho longe.
— Não, você não vai a lugar nenhum.
— Como é?
— Nos vemos em casa.
O seu olhar acompnha meu corpo assim que passo pelo seu como um foguete.
Ele não se move.
Não sai do lugar.

~~~


Oliver Queen
Ninguém é capaz de explicar a culpa que eu estou carregando junto comigo, porque foi minha culpa o sumiço de Judith. Eu sabia que estava cometendo um erro a partir do momento que coloquei na cabeça que Dean seria uma pessoa confiável para ficar com uma criança de apenas um ano, o desgraçado não consegue cuidar nem da própria bunda e iria dar conta de um bebê?
Foi eu quem errei.
Na hora eu quis acabar com a raça de Dean ou com todos os dentes dentro da sua boca, mas depois eu entendi que o errado tinha sido puramente eu. Não havia outra pessoa ali para que eu pudesse dividir o erro, era somente eu e a minha consciência pulsando dentro do meu cérebro. E se Judith não fosse encontrada? E se estivéssemos até agora sem nenhuma notícia? E se nunca mais a víssemos? Eu não iria me perdoar, jamais.
E o que eu faria com Felicity?
Porque quando a abracei, não pensei duas vezes, só precisava acabar com aquela sensação estranha que estava sentindo. Não sei explicar, era um gosto amargo na boca e um arrepio na espinha que eu nunca havia sentido, nem mesmo no dia em que Caitlin e Barry nos deixaram. E quando eu tive Felicity dentro do meu abraço a sensação amenizou um pouco, mas o seu choro baixo molhando a minha camisa serviu como um tapa bem na minha cara.
— Podemos conversar? — a voz de Felicity é baixa enquanto termino de ninar Judith que continua com seu sono pesado.
— Uhum.
A deixo confortável dentro do berço, caminhando até a sala onde Felicity me espera de costas.
— Você não vai mudar. — a afirmação de Felicity me rouba todas as palvras. — O que passou na sua cabeça quando decidiu deixar Judith nas mãos de um irresponsável como o Dean?
Agora ela grita.
Pela primeira vez.
— Felicity, eu...
Ela ri sarcasticamente. — Ah, claro, estou perguntando a outro irresponsável!
— Espera aí! — quer saber? Dane-se, eu posso ter errado sim, mas Felicity não facilitou se quer um momento sobre acreditar que eu precisava de um tempo, era minha chance. A chance de ter alguma coisa minha, sem meu pai na frente, agora seria eu como produtor musical, os créditos seriam meus.
— Espera aí?
— Eu implorei a você que ficasse com Judith!
— Agora a culpa é minha? — Felicity pergunta incrédula.
— Não é sua. Mas também não é completamente minha! O que custava ficar com a Judith pelo menos hoje? Eu iria cobrir você depois.
— Eu tinha uma reunião de negócios, Oliver. Você sabe o que é isso? Sabe o que são responsabilidades? Você não sabe, nunca soube e, talvez, nunca saiba!
Caramba, essa foi um pouquinho forte.
Eu sei que não sou o melhor dos caras, mas poxa, eu estava tentando.
Dirigir um musical, sozinho, seria a minha chance. Chance de mostrar o meu potencial.
— Surgiu um trabalho e você passou por cima de mim, Felicity!
— Desde quando você trabalha?
Como é que é?
Agora ela está pegando pesado.
— Desculpa Senhorita Smoak, eu me esqueci que apenas você tem a porcaria de um império! — bato palmas. — O resto não é da sua conta, não é? Porque só o que importa é o seu umbigo.
— Não tente virar o jogo.
— Você diz que eu não faço nada, porque nunca tem tempo para olhar as coisas que acontecem ao seu redor, você fica presa naquela empresa e se esquece da pessoa que você é, das pessoas que estão do seu lado! — eu rio ironicamente. — É por isso que está sozinha.
É, agora eu acho que fui longe demais, porque o olhar de Felicity se quebra momentaneamente.
— Você não tem autoridade para falar da minha vida quando você mesmo não sabe o que é ser adulto, o que é comandar uma casa, uma família, uma filha!
A palavra filha me deixa um pouco mexido.
As palavras que Dean me disse um dia desses me alcançam de novo, e se ele estiver certo? Dean não costuma falar coisas que façam sentido, mas e se Judith nunca me enxergar como um pai? Afinal, eu não sou o pai dela. Eu não tenho maturidade para ser pai e tudo se comprovou hoje, porque ao invés de atender as ligações de Dean eu me pegava com uma mulher que tinha acabado de conhecer, eu não iria ter atendido aquele telefonema se Susan não me forçasse, e se eu não houvesse o atendido? Talvez eu realmente seja um idiota.
— É, você tem razão. Eu tinha uma vida boa! Eu assistia aos meus jogos, garotas me pagavam bebidas e se jogavam encima de mim.
— Você é nojento.
— Sabe quando dizem que não se pode ter tudo? Eu tinha tudo e era ótimo!
Passo as mãos sobre as chaves da minha motocicleta enquanto visto a jaqueta de couro ao mesmo tempo em que desço as escadas deixando Felicity falando sozinha, ela apenas me segue.
— Não devia andar de moto, os pais da sua filha morreram em um acidente de carro.
De novo a palavra filha e eu saio do meu eixo.
— Ela não é minha filha! — grito forte, assustando Felicity que dá um passo para trás. — Ela não é a minha filha.
— É filha de quem então? — a voz dela é tão malditamente quebrada.
Mas eu não digo nada, só sigo o caminho da porta de forma inconformada.
Respiro firme quando a abro.
Eu giro o corpo rapidamente jogando as chaves da moto sobre a mesa de centro da sala, mas Felicity continua parada boquiaberta assistindo cada movimento que faço. Ela também não diz nada, não há nada a ser dito.
— Não me espere, eu não volto mais essa noite.
— Oliver... — ela chame pelo meu nome quando ameaço passar pela porta.
Eu a ouço.
Mas a respondo com o bater da porta.