Judith
Capítulo 14 – Queda
Oliver Queen
Um dia me imaginei escrevendo uma história, o início seria dado justamente à medida que eu descrevesse o sorriso mais iluminado que tinha esbarrado em mim. Porque foi assim que o conheci, ele não chegou e pediu para entrar, só esbarrou tão forte que a porta do meu peito escancarou. Não sou de ler histórias de amor, mas sei que todas elas têm um final e esse final costuma ser feliz. No entanto, a minha história não teria um fim, simplesmente porque todas as páginas seriam sobre descrever cada sorriso de Felicity até os últimos dias da minha vida.
É quando acordo.
Assim que meus pés tocam o chão e o sonho de escrever sobre o sorriso dela acaba, vejo o pesadelo no qual fui me enfiar. Todos os dias são assim. Acabo dormindo com a sensação de encontrar o sorriso de Felicity iluminando os meus dias, mas quando acordo por uma ironia do destino, ou melhor, pelos efeitos dos remédios, avisto a realidade a qual me deparei, a versão real de que o sorriso iluminado de Felicity aos poucos vai se perdendo dentro dos meus pensamentos. É imediata a vontade de voltar a dormir, forçar meus olhos fechados apenas para voltar a encontra-la na mentira que meu subconsciente criou dentro da minha cabeça, mas é impossível conseguir voltar.
Voltar?
Não há mais essa opção.
É quando minhas pernas criam forças para levantar do sofá que tem cheiro de queijo vencido, meu pijama está amaçado e fedorento pois já tem três dias que uso as mesmas peças de roupa, fugindo da água fria do chuveiro. Ainda é madrugada, os remédios que pedi a Thea deixaram meu relógio biológico louco, estou trocando o dia pela noite, mas em poucos minutos o dia amanhecerá trazendo boas novas para um alguém que não sou eu.
Olho ao redor, há caixas de pizza jogadas sobre a mesa de centro, garrafas de energético e latas de cerveja. Algumas roupas também estão jogadas pelos cantos do apartamento duplex que é tão grande que eu poderia brincar de pique-esconde com o meu eu fracassado. É quando o celular sobre o vidro da estante começa a vibrar, ele está vibrando a alguns dias, mas não sinto vontade de me reconectar com a vida lá fora. Assim que abro a persiana, consigo enxergar o sol nascendo lá embaixo das nuvens ainda adormecidas, a janela automaticamente se abre, é quando sinto a brisa um pouco gelada bater contra meu corpo. O céu de Central City é um contraste do anoitecer abrindo espaço para um novo dia.
— Caramba! — Thea abre a porta. Sua voz é estressada — Você vai ficar sem atender o célular até quando?
— Até você parar de encher o saco! — murmuro.
— Seu humor continua péssimo.
— O que está fazendo aqui tão cedo?
Permaneço observando os pequenos pássaros cortando o céu azulado.
— Decidi deixar umas comprinhas aqui antes de voltar para Starling City! — Thea respira fundo ao colocar as bolsas sobre uma das mesas. Ela deve estar cansada, não deve ser fácil carregar o barrigão para todos os lados.
— Quantas vezes eu vou precisar dizer que não precisa, Thea? — bufo.
— Se eu não trouxer, você não vai ter o que comer. — ela se aproxima depositando a mão sobre o meu ombro — Estamos preocupados!
— Preciso de mais remédios.
Minha cabeça pende.
— Sem mais remédios.
— Thea... — solto um grunhido.
— Você precisa acordar, Ollie! Olha ao seu redor, a casa está ao avesso... Esse pijama deve estar no seu corpo a dias. Aquele sofá está fedendo a cachorro molhado!
— Você precisa ir... — sussurro.
— Eu não vou a lugar algum!
— Por favor.
Virar e encarar Thea se tornou uma das coisas mais difíceis no meu dia.
Ela está linda, o cabelo cresceu um pouco e sua barriga já está com o que parece uns oito meses, a melancia está a poucos dias de dar olá a essa civilização. Há dois meses ela nos contou que seria um garoto, eu e o papai faltamos explodir dentro de casa. Eu ainda era um cara feliz.
— Ollie, ainda dá tempo...
— Tempo de quê?
— A Felicity...
A interrompo.
— Por favor?
— Você precisa mostrar que tudo foi um mal-entendido.
Meneio a cabeça para os dois lados.
Em negação.
— E se não tiver sido?
— Você ainda vai continuar tendo o direito de mudar.
Aproximo-me da porta.
Abrindo-a.
— Por favor?
— Não esquece que nós te amamos!
Thea deixa uma lágrima escorrer pelo rosto.
É sempre assim quando ela decide me visitar.
Mas também costuma ser assim que ela vai embora.
E eu continuo aqui.
Sozinho.
Fale com o autor