Horquídia bateu em minha porta e avisou que a janta seria as 21h e ela queria que eu estivesse presente, para logo após, vermos nossas notas. Eu não tinha visto Adam e nem tinha curiosidade para saber o que ele tinha feito. Eu não estava mais curiosa com nada. Eu queria que Piscki fosse ali em meu quarto e fizesse com que eu o perdoasse, mas isso não aconteceu. Eu entrei no banho e como de costume ,cheirei a jasmim quando saí. Olhei meu rosto no espelho e apenas agora tinha percebido que estava olhando para o tributo feminino do Distrito 11, com os irmãos mais novos e pais em casa, aguardando a nota e comendo nada mais que pão e milho. Passei meus dedos pelo colar que representava a coragem enquanto pensava nas famílias dos tributos que veriam minha morte ou provavelmente as mortes que eu causaria, porque no final, era caçar ou morrer.Se você não caçasse seria caçado, se não matasse seria morto. Se não eliminasse os outros tributos, não ganharia.

Passeei meus dedos por minha pele que agora estava perfeita, por minhas sobrancelhas alinhadas, por meus cílios compridos natural e por meu cabelo moreno. Encarei meus próprios olhos castanhos e pensei se o monstro que eu me tornaria na arena teria aquela mesma aparência. Enxaguei minha face, jogando esses pensamentos para o lado, aquela era minha penúltima noite na Capital, amanhã seria a entrevista e depois.... a arena.

Um ladrilho na parede foi automaticamente removido e uma tela toutch apareceu em seu lugar. Uma luzinha piscava avisando que era a hora do janta e que eu estava tantos minutos atrasada. Eu nunca tinha visto aquilo, mas achei extremamente fascinante.

Horquídia entrou em meu quarto ainda quando eu estava enrolada na toalha., segurando na mão a mesma telinha que tinha aparecido na pare.

–Fascinante, não? Adoro essas coisinhas inovadoras, cada vez que eu venho aqui temos um novo brinquedo para brincar. - ela exibia um branco sorriso no rosto enquanto mexia na tela.- Quero que se vista bem hoje, não sei porque, apenas estou com vontade de ver minha tributo linda! Vamos ver a sua nota após o jantar, e eu tenho um pressentimento que vocês dois se saíram muito bem.

Horquídia jogou uma série de roupas coloridas sobre minha cama que retirava rapidamente do armário, da qual eu gostei de um vestido dourado, especificamente. Era um vestido curto que tinha um decote grande, mas eu não me importei, porque parecia ser bem confortável. Eu o vesti e fui jantar. Não dirigi o olhar a ninguém, nem mesmo a Horuídia ou Damen, que não tinha culpa de eu estar mergulhada de raiva.

Após a janta, todos nós nos juntamos no sofá e assistimos tributo por tributo passar. A garota do 4 tinha ganhado 9. O tributo musculoso do 4 tinha ganhado 11. As notas dos carreiristas foram entre 10, 11 e 12. Os dois tributos do 5 tiraram 7. A garota do 6 que tinha se juntado aos carreiristas tirou 9 e o garoto de seu distrito com a pele morena e cabelos negros tirou 8. Comecei a pensar até que o rosto de Kahinan apareceu e seu número começou a piscar. 10. Eu sorri, enquanto escutava a felicidade dele vindo dos andares de baixo. A garota do 7 tinha descolado um nove e o garoto do 9 ficou com 8 em sua pontuação. Vi a imagem do menino do Distrito 8, com cabelos cor de palha e pele tão branca quanto papel, ele falava de um jeito engraçado, e tinha conseguido 6. A nota da garota de seu distrito, a que sempre estava usando um rabinho, com seus grandes e chamativos olhos castanhos e cabelo caramelo, tinham tirado 5. O garoto do Distrito 9 tinha tirado 9 e a garota, 4. As notas da garota do 10 foram boas, mas o garoto tirou 6. Meu nome brilhou na tela e me espantei ao ver minha nota.

–Florence Finiggad.

–QUE TOTAL IDIOTA ME DARIA UMA NOTA ASSIM?? O QUE EU FIZ PARA RECEBER ISSO?? AFINAL, EU APENAS DESTRUÍ BONECOS. – berrei para que todo o prédio conseguisse escutar-

Um grande 12 prateado brilhava na tela e meu coração martelava contra meu peito. Todos vieram para cima de mim, até Piscki, mas eu recebi os seus "parabéns" apenas com um aperto de mãos, e deixei Adam me abraçar e beijar. Ele levou seus lábios a meu pescoço e me arrepiou, mas eu me desvencilhei dele, não querendo receber seu carinho.

–Adam Zeander. 10!!!!! - eu sorri e mostrei a língua para ele, bem feito, eu tinha conseguido um 12 e ele não.

O resto da noite foi tranqüila, mas eu não esqueci meu ataque histérico com Piscki por o que ele tinha falado. Fui para cama após me empanturrar com um grande bolo azul (minha cor favorita) e suco de laranja.

Após algumas horas deitada na cama, alguém entrou sorrateiramente em meu quarto. Me levantei rapidamente e me coloquei em uma posição de ataque, como se precisasse me proteger do invasor. Não gostava dessa liberdade que qualquer um tinha de poder entrar e sair de meu quarto. Corri os dedos por um controle que se encontrava ao lado de minha cama e por ele também ser toutch era só eu fazer o movimento de um círculo e poderia regular a quantidade de luz que saia das lamparinas.

O corpo tomou uma forma mais definida conforme a luz aumentava, e me deparei com Piscki a beira de minha cama.

–Não se importe comigo, eu vou morrer mesmo, não gaste seu tempo com essa criatura inferior.

–Fique quieta, garota. Eu estava apenas brincando quando falei aquilo para você.

–Eu não gosto de pessoa que brincam com a morte.

Piscki estava com os olhos pregados no chão, ele se aproximou de minha cama e se sentou, muito perto de mim.

–Se você não me perdoar, vai morrer, a opção é sua.

–Quem deve EME pedir desculpa é você – falei-

–M e desculpa.- ele falou. Saiu um jeito tão limpo e sincero que era como se eu não tivesse pedido para ele falar nada, que fora por livre e total vontade.

–Me conte como você sobreviveu. – aquela pergunta ainda retumbava em minha mente curiosa ao extremo – E se já era cego ou se ficou assim.

Fui direta. Meu mentor jogos as costas para cima da cama e começou a contar sua história.

“Eu tinha sido selecionado para ser tributo, não, eu não era cego. Eu era um jovem bonito, legal e minha vida era perfeita. Eu era filho do “coordenador/ prefeito” do Distrito 11, então não tinha muito do que reclamar.

-- Comecei a me questionar como o filho do coordenador do Distrito 11 tinha passado em branco pelas edições dos Jogos Vorazes. Eu tinha procurado qualquer resquício de Pisckisquissem nas filmagens, ou qualquer pessoa que parecesse com ele, me lembrando daquele garoto que vi em uma edição com a feição semelhante a dele. –

“Fui sorteado como tributo e como qualquer um fui para os jogos, sozinho, sem ajuda de ninguém, apenas com a de meu mentor. A garota do meu distrito me odiava por eu ter uma vida fora dos padrões do Distrito 11 e por meu pai não providenciar o que tínhamos para o resto da população. Essa garota que me detestava era forte e corajosa, ela contou minha estratégia para os carreiristas e um dia eles me pegaram e a garota do distrito 2 me cegou. – naquele momento, Piscki levou a mão aos óculos escuros e os retirou.

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Eu vi a cena mais terrível de toda minha vida. Eram apenas glóbulos vazios. Não tinham olhos, eram apenas furos negros, como buracos infinitos. Um pensamento correu por minha mente de como a garota tinha tirado os olhos das cratera que agora se encontravam vazias. Meu corpo tremeu.

“Eu tinha feito uma aliança com a garota do 9 e tinha me separado dela para ir caçar e os carreiristas me cercaram, mas eu tinha passado muito tempo fora então ela acabou indo me procurar. Ela me seguiu mais atrás e eu não percebi. OS carreiristas pediram que eu contasse aonde ela estava, porque sabiam de nossa aliança, eles iriam me matar e depois ela, assim sobrariam apenas eles. Eu não contei. A garota ameaçou tirar os meus olhos se eu não contasse, e eu não contei. Meu olhos foram tirados sem piedade ou misericórdia. O garoto do 1 estava com a faca em meu pescoço quando Adina chegou, ela era a tributo do 9. Ela me protegeu e eu fugi, sem pena e sem medo de deixar ela ali para morrer. Foi minha sorte termos sido encontrados em um campo aberto quando quase me matara. Eu consegui correr e eles me deixaram porque sabiam que eu não conseguiria sobreviver, mas eu sobrevivi até o final, e agora convivo com essa tortura.

-Foi por isso que apagaram todos os vídeos?

Piscki não respondeu primeiramente, mas depois voltou ao normal, virando seu rosto para mim vagarosamente.

-Sim, foi por isso.

Ele baixou a cabeça e recolocou os óculos. Meus músculos contraídos voltaram ao normal, não era nada fácil olhar para aquele rosto.

-Meu pai não me aceitou depois disso e de eu ter fugido “sem dignidade” e não ter protegido ela.

-Eu também não aceitaria, você foi um covarde. – confirmei, ele sabia que eu iria falar isso e não iria mentir para ele.-

- Eu sei a verdade, não preciso que as pessoas fiquem falando isso para mim.

Aquela frase me levou a uma lembrança a muito tempo atrás, eu tinha falado exatamente aquilo para Adam várias vezes, tanto quanto tinha falado para mim mesma.

-Boa noite. – falei para ele , querendo que ele fosse embora e me deixasse ali, sem conseguir dormir, olhando para o teto.