Adam tinha aberto uma garrafa de cerveja no meio da noite por não conseguir dormir. Piscki se levantou de sua cama grande e vazia e capengou até a sala.

–Solte isso, garoto. - sua voz era suave mas soava como a de um pai se segurando para não ficar brabo. Ele sentia o cheiro da bebida e escutava cada gole de Adam.

–Cale a boca, aqui você não é meu mentor.

Na manha seguinte eles iriam pegar o trem e voltar para o Distrito 11, mas o garoto não tinha certeza se desejava mesmo voltar para casa. Os pensamentos perturbados recheavam seu cérebro e a bebida parecia aquecer seus membros famintos por outro gole e fazer com que as preocupações ficassem mais transparentes. Adam levou a boca á garrafa de vidro e tomou um longo gole. Piscki tinha pedido uma vez, e ele não iria se ajoelhar implorando por mais nenhuma. Seu dedo moreno encostou na parte de baixo da garrafa e fez uma pequena força. Resultado: o líquido escapou de sua boca e pintou seu corpo enquanto ele se engasgava e tossia. A cerveja escorreu por seu cabelo e roupa, e o mentor se virou e saiu, deixando o garoto fedendo.

–Porque faz isso comigo?

–Aposto que você nunca teve um amigo de verdade, não é? - Piscki não esperou a resposta. – Florence foi a única que te ajudou, acho que foi por isso que exigiu tanto dela, ou porque achava que ela faria tudo por você.

Adam começou a chorar. Aquele choro ele guardou dês do momento em que viu Florence sem vida e que descobriu todas as coisas que tinha feito ela passar. Aquele choro vinha de outras mágoas e ressentimentos, vinha de outros tempos. Vinha da saudade, da morte, da culpa. Ele sabia que aquilo era tudo culpa dele. Florence teria ganhado os jogos e voltado para casa se ele não existisse. Ela retornaria para a família e moraria em uma casa bonita aonde conseguiria sustentar sua mãe, pai e seus irmãos seriam felizes.

Piscki parou na porta de seu quarto e se virou, ele não podia ver mas podia escutar as fungadas de Adam. Escutou a garrafa encostar na mesa de vidro e ser deixada ali.

–Eu achei que ela iria jogar como eu joguei, por isso fiz tudo aquilo.

–Você continua sendo uma pessoa má e insana. Viu que ela não iria fazer o que você fez, mas você continuou.

–Você termina um jogo como o começa.

–Está bem, Adam, está bem. Diga isso para a família de Florence quando estivermos amanha de volta no Distrito 11.