Jogo de Espiões

CAPITULO 27 – AS FOTOS


- Sasuke era um espião...

Eu não havia pensado muito a respeito do papel dele na fábrica. No começo eu havia suspeitado de sua alta posição na fábrica, mas foi fácil para eu aceitar sua explicação sobre seu cargo ter sido passado por seu pai.

Ali sozinha naquela sala, eu me perguntei quanto mais eu havia me enganado a respeito de Sasuke?

O relógio na parede marcava onze horas e quarenta minutos; eu tinha que aguardar apenas mais vinte minutos para ir até a sala do diretor e tirar a foto dos documentos.

Comecei a andar de um lado a outro da sala, olhei a grande janela e lembrei-me que Naruto havia conseguido me flagrar com Sasuke na sala porque me vira do jardim; a ampla janela era com um enorme telão que permitia uma boa visualização do interior da sala. Eu encostei-me na parede adjacente a janela e deixei meu corpo escorregar até que me sentasse no chão da sala. Senti que o frio do chão esfriava meu corpo.

Meus pensamentos fluíam rápido demais, e por conta disso, minha cabeça começava a doer. Eu estava a poucos minutos de concluir a missão; eu ansiava por esse dia, só não imaginava que esse dia chegaria tão rápido e tampouco que seria Sasuke quem me ajudaria a finalizar a missão.

A pasta vermelha de cor singular... Era lá que estavam os documentos. Quando o relógio batesse meio-dia eu deveria ir até a sala do diretor, abrir o cofre, pegar a pasta e fotografar os documentos...

- Fotografar?!

Eu precisaria de uma máquina fotográfica. Respirei aliviada ao pensar que ela estava na minha bolsa que ficara sobre a minha mesa; eu a trazia todos os dias a fábrica, a máquina fotográfica estava na bolsa ao lado de uma pequena arma de fogo que eu carregava sempre comigo.

- Eu tenho que esperar...

Olhei novamente para o relógio. Onze e quarenta três, o tempo parecia correr lento demais. Varri o ambiente com o olhar. Sendo Sasuke um espião, aquela sala deveria estar cheia de pistas sobre seu passado e a missão da qual ele disse fazer parte. Não, Sasuke era um espião mais esperto do que eu, ele não deixaria pistas a seu respeito naquele lugar... Sasuke era bem mais esperto do que eu...

“ - Eu a estou ajudando há tanto tempo. Eu a ajudei a entrar nessa fábrica... e agora vou lhe ajudar a conseguir as fotos dos documentos que tanto deseja”

Aquelas palavras ressoavam em minha cabeça. Sasuke esteve me ajudando todo esse tempo? E eu estava tentando seduzi-lo?

- Que idiota que eu sou...

E comecei a pensar:

Todo esse tempo estava tentando seduzir a um homem que tinha os mesmos objetivos que os meus, mas por quê? Por que Sasuke quer as fotos dos documentos da fábrica? Ele disse que estava em uma missão... Será que ele está me usando para conseguir as fotos?

Onze e cinqüenta. Auto-proteção. Sasuke estava tentando proteger sua imagem na fábrica, e para isso ele precisava que eu conseguisse para ele as fotos. E para quem ele iria entregá-las? Para a KGB? Seria Sasuke um agente da KGB? Não, a KGB não contrataria um americano para ser um de seus espiões...

Respirei fundo e as perguntas pararam de vir a minha mente. Eu tinha que tentar entender o que estava acontecendo antes de fazer o que Sasuke dissera. Eu precisava entender as razões para Sasuke querer as fotos dos documentos da fábrica.

Um som de trompetas desviou minha atenção, Nikita Khrushchov, atual governante da União Soviética, havia chegado à fábrica.

Nikita Khrushchov chegou ao poder em 1953, após a morte de Stalin. Desde daquele ano, Nikita era o líder do PCUS – Partido Comunista da União Soviética – e em fevereiro deste ano (1956) durante o XX Congresso do PCUS, Nikita chocou a nação soviética e o mundo ao fazer seu “discurso secreto” onde ele acusava Josef Stalin, seu antecessor no poder, do crime de genocídio durante os grandes expurgos da década de 1930. Daquele dia em diante, Nikita passou a ser vista por seus companheiros de partido mais como uma ameaça do que como um aliado, mesmo assim, ainda era ele quem governava a União Soviética. Oito meses haviam passado desde que fora feito o “discurso secreto”... Oito meses...

- Que dia será hoje? Ah, sim, lembrei é 01 de novembro.

Balancei minha cabeça. Aquele não era o momento para se pensar nas questões políticas da União Soviética... Ou eu deveria pensar? Talvez eu pudesse encontrar a resposta para minhas dúvidas.

Olhei para o relógio, onze e cinqüenta e nove. Não havia mais tempo para pensar ou analisar, se eu quisesse as fotos dos documentos, eu tinha que tira-las agora; mesmo que fosse arriscado demais fazê-lo... Arriscar, ora, fora eu que dissera ao Naruto que eu ia até o fim nessa missão sem me importar com as conseqüências. Era hora de cumprir minha palavra.

- Sem me importar com as conseqüências – repeti aquelas palavras como forma de me darem ânimo para levantar daquele chão e ir até a sala do diretor – A senha é dois para a direita, quatro para a esquerda e cinco para a direita.

Apoiei minha mão no canto da mesa e levantei-me do chão. Em questão de segundos eu estava em pé novamente, tentei acalmar o ritmo de meu coração que estava batendo muito rápido. Olhei para baixo e vi minha mão sobre um jornal; retirei a mão e vi que o jornal estava escrito em russo; há quanto tempo eu não lia alguma noticia, eu nem sabia o que estava acontecendo no mundo. Na capa do jornal havia uma multidão numa foto segurando cartazes e com a boca bem aberta como se estivessem gritando... Eu não consegui saber o que dizia o titulo da noticia, mas supus que deveria ser referente a alguma manifesto anti bombas ou anti guerra, naquela época havia se tornado popular esses levantes populares.

Girei minha cabeça em direção ao relógio, doze horas e três minutos... O tempo parecia começar a passar mais rápido agora.

Saí da sala e fui até o hall onde ficavam as secretárias, como Sasuke dissera, o hall estava vazio, todas estavam saudando Nikita no pátio da fábrica. Abri minha bolsa e retirei de lá uma pequena câmera fotográfica, um aparelho bem moderno para a época. Sem hestitar eu fui até a sala do diretor, a última porta. Abri-a com suavidade... de certo eu estava quebrando todas as regras do mundo da espionagem, regras que evitavam que erros fossem cometidos: eu estava confiando em um homem que esteve mentindo para mim por muito tempo, e estava entrando em um escritório buscando provas em plena luz do dia.

A sala estava bem organizada, sem papéis na mesa. O ambiente cheirava a fumaça de charuto. Logo localizei o quadro atrás da mesa do diretor; o quadro era mostrava a figura de um enorme globo terrestre pintado com as cores vermelho e preto... Essas eram as cores soviéticas; ao fundo havia a figura de pequenos homens enfileirados lado a lado pintados de uma única cor: preto. A pintura no quadro não havia me atraído tanto a atenção antes quanto estava me atraindo naquele momento...

- Um mundo comunista...

Era isso que os soviéticos desejavam: ter o controle de todo o mundo. Se isso acontecesse a União Soviética se sobrepujaria aos Estados Unidos e surgiria como uma grande potência mundial, isso traria muito dinheiro e poder para os líderes que comandavam essa grande nação; a bomba de nêutrons era sem dúvida a carta na manga dos soviéticos. Eu não podia permitir que isso acontecesse, por outro lado se eu entregasse a informação da bomba para os Estados Unidos, a União Soviética seria esmagada pela força militar americana, o início da Terceira Guerra Mundial seria inevitável.

Eu balancei a cabeça tentando afastar esses pensamentos. Não havia tempo para ficar pensando em questões políticas.

Eu deixei a câmera pendurada na lateral de meu corpo e fui até o quadro e o tirei da parede, ele não era tão pesado quanto pensei que fosse, deixei o quadro sobre a mesa. O cofre de metal agora estava a minha frente. Comecei a girar a pequena roleta do cofre: dois para a direita, quatro para a esquerda e cinco para a direita.... com um estalo o cofre se abriu. Rapidamente peguei a pasta vermelha de cor singular e a coloquei sobre o quadro, a pintura do quadro estava virada para cima. Abri a pasta e pegando a câmera fotográfica pendurada da lateral de meu corpo comecei a fotografar cada página do documento; eu não perdi tempo tentando ler o documento, pois numa primeira olhada eu havia percebido que o documento estava todo em russo.

Senti alivio ao ver que nas últimas páginas havia fotos de um projeto do que parecia se uma cápsula de bomba nuclear; não duvidei mais que aqueles eram os documentos certos. Página a página eu fotografei todo o documento, como plano de fundo da foto havia a pintura do quadro mostrando um globo terrestre pintado de vermelho e negro; se as fotos fossem divulgadas, o plano de fundo seria perfeito.

Fechei a pasta e voltei a colocá-la no cofre, com um empurrão o fechei. Escutei palmas ecoando pelo ambiente externo da fábrica, o discurso de Nikita devia ter terminado.

Coloquei a câmera fotográfica sobre a mesa e tentei pendurar o quadro o mais rápido que pude. Aproximei-me com cuidado da janela da sala do diretor que para a minha sorte não era tão ampla quanto a da sala de Sasuke, e vi que as pessoas começavam a se dispersar, a visita sem dúvida havia terminado. Peguei a minha câmera deixada em cima da mesa e saí da sala, olhei para o hall, o coração disparado no peito, e vi que não havia ninguém ainda. Contrariando as ordens de Sasuke de voltar para sua sala, eu peguei minha bolsa e desci as escadas o mais rápido que pude com a câmera envolta em meu casaco de lã dobrado sobre o braço, casaco que eu fiz questão de pegar antes de sair.

A missão está terminada – pensei em alívio. Eu tinha as fotos que tanto queria, e com elas em mãos eu poderia voltar aos Estados Unidos e esquecer de uma vez por todas essa história de missão na União Soviética. Eu estava a um passo de voltar para casa... Eu não podia conter a emoção que eu sentia ao pensar que logo eu estaria de volta ao meu país.