Jockers

♣ Dama de Paus. Parte I


Cheguei em casa por volta das seis e meia da manhã. Tomei um banho e preparei o meu café. Me sentei a mesa e peguei a carta de baralho. O verso era vermelho e do outro lado o símbolo do coringa, com um único nome escrito. Era o nome do meu bairro.

Deixei a carta na mesa. Lavei a louça de alguns dias atrás. Morava sozinho. Meu pai havia morrido alguns anos atrás. Era uma boa pessoa. Costumava a me levar no zoologico quando mais novo. Era onde nos divertíamos, todos juntos. Uma vez ao ano. Ele e minha mãe, não se davam bem, por conta dos vícios do velho. Sempre que ele chegava bêbado, eu saia e ia ficar na casa de Reita. Amigos desde a infância.

Minha mãe, pelo contrário, muito viva, morando em outro bairro, mas não diferente de mim. Financeiramente. E aparentemente também. Se fosse eu mulher, seriamos iguais. E não me sinto feliz com isso. Nenhum pouco.

Mesmo morando sozinho, aqui não fica vazio por muito tempo. Sempre tem noite de poker. Geralmente é aqui. Poker, cerveja, e mulheres. Não mulheres, porque ninguém namora, mas eu tenho minhas dúvidas sobre Ruki e Akira.

Mas depois eu penso em arrumar a casa para o Poker. Agora..Dormir.

♠♣♥♦

Depois do expediente fui junto com Akira para casa, carregando sacolas de cerveja barata. Dez minutos que havia batido a porta, ela fora aberta e os que faltavam, chegaram. Se puseram sentados no chão perto da varanda e começamos a beber, jogar e conversar.

–Hey Uruha, e aquele cara de mais cedo?

–Hein? Como assim? - Kai jogou suas duas ultimas cartas e me olhou.

–Um homem esquisito, todo de preto, insistiu para que ele. - Apontou para mim – o levasse para algum lugar. - Reita jogou e perdi a partida.

–Kouyou, onde vocês pararam nessa madrugada? E esse teu olho ferrado?

–Paramos no bar, onde recebi esse olho roxo. E outra coisa também.

Retirei do bolso a carta e mostrei para eles. Demos um longo gole na cerveja e ficamos em silêncio enquanto Ruki dava as cartas. E logo o baixinho voltou a falar.

–Então além do olho, uma carta sinistra onde contem o nome daqui. O que você acha que é?

–Não sei. - peguei minhas cartas e voltamos a jogar outra partida. - Não faço ideia do que pode ser, mas vou esperar.

♠♣♥♦

Rolou mais algumas partidas até que todos, menos eu ganhasse. A cerveja acabou e a hora apertou para todos. Nos despedimos e voltei para minha cama. Olhando a carta contra a luz. Não tinha percebido até então que, contra a luz, parecia ter outro nome na carta. Era o nome de uma rua. E não ficava longe.

No dia seguinte, depois de trabalhar dois turnos seguidos, decidi ir até o local que marcava na carta. Disse ao Reita que teria de voltar sozinho, que naquela noite, sairia para dar uma volta. Ele entendeu e cada um foi para um lado.

Antes de estacionar o táxi na empresa, fui até o lugar marcado. Deixei uma rua antes e fui andando até local. Uma casa. Não, não uma casa qualquer, uma casa de jogos. Entrei e sentei em uma mesa no bar. Não pedi nada, apenas esperei.

Foi questão de meia hora. Bati as mãos na mesa, preparando o impulso para levantar e ir embora, mas fui parado por uma mão em meu ombro que logo jogou-se na mesa. Me sentei e olhei para para frente. Era ele. O rapaz do outro dia.

–Takashima Kouyou. Vejo que não ignorou a carta. E conseguiu rapidamente descobrir seu segredo.

–Foi sem querer. Mas, o que quer comigo?

–Primeiramente, me apresentarei. Shiroyama Yuu. Esse seu olho não sara não?

–Devagar. -Respondi rápido.

–Bem, o motivo de estarmos aqui, por enquanto não terá nada demais. Queria apenas me apresentar e deixar claro que, se você quer continuar vivendo..

Ele fez uma pausa. Colocou os cotovelos sob a mesa, cruzou os dedos e me olhou profundamente nos olhos. Me causou um calafrio extremo na espinha.

–...Terá que fazer, por merecer.

Ele se foi. E eu fiquei. O que diabos foi aquilo!? Por quê?

♠♣♥♦

Alguns dias se passaram normalmente. Não falei com ninguém sobre o encontro que tive com o tal Shiroyama. Me concentrei no trabalho e nos jogos de poker que ocorriam todos os dias, na casa de Ruki agora. Um vagabundo que vivia as custas dos pais.

–Então Uruha, aquele lance da carta? O que era? -Perguntou Reita enquanto voltávamos para casa de noite.

–Nada, joguei fora. -Menti.

Na verdade, estava preocupado. Muito preocupado. Não sabia porque, mas sabia que devia me sentir assim. Logo que virávamos a ultima esquina para podermos entrar em casa, me aparece de repente, uma sensação ruim. Dei um até logo para o loiro e fui para casa. Lá, consegui entrar sem girar a maçaneta. Me roubaram! Pensei.

Andei a casa toda e nada de diferente. Tudo no mesmo lugar, do mesmo jeito. Então porque a porta aberta? Eis o X da questão. Ou melhor, a Dama.

Chequei em cima da mesa da cozinha e uma carta, uma dama de paus. Outro nome escrito. Este, era um nome de uma mulher mas, não era de nenhuma que eu conhecia. Coloquei contra a luz, para ver se havia outra coisa mais por lá. Nada. Apenas um nome.