Jiban End

Reforçando laços


Assim que despertou, Naoto ouviu duas vozes conhecidas, mas elas pareciam estar bem distantes, como num sonho. Ele abriu os olhos e a primeira coisa que viu foram as luzes do teto do centro médico da base secreta. Sua visão estava embaçada, mas ao virar a cabeça levemente para o lado direito, ele viu uma figura feminina que não estava nítida, mas a voz, com certeza era a de Yoko. Ela conversava com um homem, cuja voz vinha do lado oposto e que ele reconheceu como sendo a de Seichi, mas isso o deixou confuso, porque ele não conseguia entender o que os dois estavam fazendo ali.

— Chefe Yoko? – perguntou ele com a voz ainda fraca, tentando confirmar se não estava imaginando coisas.

A dupla de policiais não tinha se dado conta de que Naoto havia despertado e assim que ouviram sua voz, pararam de conversar e voltaram sua atenção para o colega. Naoto percebeu que Yoko segurava carinhosamente uma de suas mãos por entre as dela, o que o deixou feliz, mas aumentou ainda mais a sua confusão inicial.

— Naoto! Você acordou! – exclamou a moça, muito emocionada. – Você está bem?

— Acho que sim, chefe. Dolorido, mas vivo. O que aconteceu? Onde estamos? – perguntou ele, tentando disfarçar, pois não se lembrava de muita coisa depois de ter tido seu corpo atravessado pela espada de Madogarbo. Suas memórias estavam confusas e ele não tinha certeza se elas eram mesmo memórias ou apenas partes de um sonho estranho.

— Tudo bem, Naoto, não precisa mais fingir. – disse Yoko compreensivamente para o parceiro, percebendo que ele estava tentando disfarçar. – Nós já sabemos de tudo. Sabemos que é Jiban. Para falar a verdade, eu acho que sempre soube.

Naoto respirou fundo e, com algum esforço, sentou-se na cama. Parecia que já não havia mais motivos para continuar com a encenação. As palavras de Yoko o ajudaram a confirmar que os flashes de imagens confusas em sua cabeça eram definitivamente suas memórias. Tudo levava a crer que ele havia mesmo revelado a verdade aos parceiros.

— Me desculpem. – foram as palavras de Naoto sendo, pela primeira vez, genuinamente ele em frente aos colegas. Ele mantinha a cabeça baixa e estava realmente sentido. – Eu não queria ter escondido isso de vocês, mas foi preciso. Vocês já correm tanto perigo diariamente e eu não queria piorar ainda mais as coisas. Quanto menos vocês soubessem era melhor, porque Biolon já provou que não tem escrúpulos e eu não sei o que eles poderiam fazer com vocês se tivessem certeza da nossa ligação. Todos nós testemunhamos o que eles foram capazes de fazer com uma criança inocente...

— Sim, Naoto, nós entendemos. E agora entendemos ainda mais... – disse a moça, com pesar. – O Sr. Yanagida nos contou toda a verdade, mas parece que você mesmo também decidiu nos contar, quando tirou o traje na nossa frente.

— Eu realmente não me lembro de muita coisa depois de ter levado o golpe de Madogarbo, mas acreditem, eu fico feliz que a verdade tenha vindo à tona. Talvez o meu subconsciente tenha tomado a decisão de contar a vocês, já que isso era algo que eu sempre quis fazer, mas nunca me atrevi. – constatou Naoto, com um sorriso cansado.

— O importante é que todos nós estamos bem. – respondeu Yoko, novamente compreensiva, muito diferente de Seichi, que estava sério e, outra vez, estranhamente calado. Mas seu silêncio não durou muito, porque ele logo explodiu, como era mais de seu feito.

— Por acaso você é idiota, Naoto?! – perguntou Seichi exaltado, deixando seus dois subordinados surpresos. – Você nunca pensou que nós poderíamos ter te ajudado mais durante todo esse tempo? Eu não sou covarde, não! Não tenho medo do Biolon, não! Eu só não acabei com a raça daqueles desgraçados ainda, porque não sei onde aquelas baratas se escondem, mas pode ter certeza de que se eu tivesse uma armadura igual a sua, já teria dado cabo deles faz é tempo!

Yoko e Naoto ficaram em silêncio ao ouvirem a bronca inesperada de Seichi, mas passado o choque da surpresa, eles não conseguiram conter o riso ao escutar as palavras cheias de valentia do chefe, que na maioria das vezes era um grande medroso. Mas apesar de ser mandão e estressado, sabiam que Seichi tinha um bom coração e que, em partes, o que ele dizia era verdade.

— Eu sei disso, Seichi e agradeço pela ajuda. – respondeu Naoto, se recompondo e tentando segurar o riso inicial, porque os ferimentos doíam quando ele fazia isso. – Apesar de Jiban ter nascido para ajudar a polícia, e não o contrário, vocês sempre me ajudaram, ainda mais agora nas buscas pela Ayumi, e eu não poderia desejar mais. Só que essas emboscadas de hoje, provaram que Biolon não está querendo acabar só com o Jiban, mas a polícia também se tornou um alvo. Eles pretendiam usar vocês para me atingirem, da mesma forma que fizeram com a Ayumi, e faltou muito pouco para que o plano deles fosse um sucesso completo. Eu já errei uma vez e quem está pagando por isso é uma criança e eu não posso permitir que isso volte a acontecer. Agora que eles tomaram a iniciativa de atacar para valer, eu não acho que vão desistir do plano tão facilmente, ainda mais sabendo que eu estou ferido. Acredito que voltarão ainda com mais força atrás de vocês, então tomem cuidado, por favor.

— Não se preocupe conosco, nós ficaremos em alerta. – tranquilizou Yoko. – Mas agora me sinto uma verdadeira idiota quando paro para pensar...

— Pensar em quê? – perguntou Naoto.

— Apesar de Ayumi e você estarem sempre juntos, de alguma forma, ela também parecia ser próxima de Jiban. Eu nunca tinha entendido como uma criança poderia estar envolvida em tudo isso, mas agora, sabendo que a existência de Jiban se deve ao Dr. Igarashi, as coisas começam a fazer sentido. O avô dela já lutava contra Biolon antes mesmo de nós sabermos de sua existência.

— Sim. O Dr. Igarashi e o Sr. Yanagida já faziam parte desta luta há muito tempo e Ayumi sempre esteve ao lado do avô. Por mais que ela seja apenas uma criança, ela é muito inteligente e conhece todo o Projeto Jiban quase tão bem quanto o Sr. Yanagida. Eu queria que ela se afastasse de tudo isso e deixasse as coisas nas nossas mãos, mas ela insistiu em fazer parte, porque sentia que também era sua obrigação ajudar a acabar com aqueles que tinham causado a morte de seu avô. Por isso, apesar de nossa preocupação, não achamos justo tirarmos esse direito dela. Pensamos que estivesse protegida ao nosso lado, mas hoje, Deus sabe como me arrependo de não a ter proibido...

Ao dizer isso, Naoto baixou a cabeça novamente, envergonhado, tentando esconder os olhos inundados pelas lágrimas contra as quais lutava para não derrubar, mas que dessa vez, não conseguiu.

Yoko e Seichi sabiam de toda a preocupação e sofrimento do colega desde o dia em que a menina havia desaparecido, mas ele sempre tentava se manter otimista, firme e equilibrado. Aquela foi a primeira vez que o viram realmente perder o controle de suas emoções e deixar transparecer todo o seu desespero, e por isso, eles também não conseguiram deixar de se compadecer.

Yoko sentou-se na cama, ao seu lado, e o abraçou. Nunca tinha feito isso. Ela não era uma pessoa que costumava demonstrar esse tipo de afeto para com os outros, mas naquela hora, sentiu um desejo quase que incontrolável de abraçá-lo e de confortá-lo, porque infelizmente, aquilo era tudo o que ela poderia fazer naquele momento.

— Calma, Naoto. – consolou-o a parceira. – Nós também vamos fazer de tudo para acabar de uma vez com esse pesadelo do Biolon e trazer a Ayumi de volta para casa. De volta para você. Não é mesmo, Seichi?

— É isso mesmo! – exclamou Seichi, que se esforçava para manter a pose de machão, mas chorava copiosamente, mais do que qualquer um naquela sala, enquanto tentava secar as lágrimas desajeitadamente com as mangas da camisa.

Aquela reação um tanto exagerada e totalmente inesperada do chefe, conseguiu arrancar sorrisos dos colegas e destruiu completamente aquele clima pesado e carregado de emoção que havia se formado, mas ninguém se queixou. Foi melhor assim.

As lágrimas e os sorrisos dos três policiais serviram pra reforçar ainda mais a parceria que já existia entre eles. Biolon estava com os dias contados.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.