Jiban End

Estranho domingo no parque


Diferentemente de Yoko, Naoto não tinha se incomodado com a ordem de Seichi. Ele não via problemas em atender a ocorrência sozinho, mas precisou admitir para si mesmo que, uma pequena parte sua, tinha ficado feliz ao ver a demonstração de preocupação de sua veterana. O rapaz provavelmente não corria perigo algum, já que, embora seus colegas não fizessem ideia, ele era o famoso e misterioso Policial de Aço Jiban, e se houvesse algum acontecimento inesperado, seu alter ego entraria em ação e resolveria o problema.

O policial estava determinado a cumprir a missão da qual havia sido incumbido, e por isso, poucos minutos depois, sua viatura já deixava apressadamente o estacionamento do prédio do Departamento de Polícia Metropolitana e seguia em direção ao Parque Chidorigafuchi.

O lugar não ficava distante e em poucos minutos ele já estava se deparando com algumas das vítimas do tal “palhaço do paintball”. Não parecia ser nada muito sério, mas também não era um trote, como Seichi tinha cogitado.

Não havia ninguém efetivamente ferido, apenas pessoas com alguns hematomas, sujas de tinta e irritadas, por terem seu dia estragado logo cedo por algum desocupado com um péssimo senso de humor, que provavelmente não tinha nada de útil para fazer da vida a não ser perturbar os outros.

— Vocês estão bem? – perguntou o policial a um jovem casal, que tentava limpar as manchas de tinta amarela espalhadas pelo corpo. Outras pessoas próximas faziam o mesmo.

— Está um pouco dolorido, mas estamos bem. – respondeu o rapaz, enquanto jogava água no braço da namorada e o esfregava. – Foi só um cara idiota mascarado e vestido de palhaço, que saiu do nada e começou a atirar com tinta em todo mundo que estava caminhando na trilha.

— Vocês sabem me dizer para onde ele foi?

— Ele correu pro meio do mato quando eu e uns outros caras tentamos pegar ele.

— Entendi. Então acho melhor todos vocês saírem daqui. Parece ter sido só uma brincadeira de muito mal gosto, mas é melhor vocês se afastarem até que eu o encontre.

As pessoas seguiram o conselho do policial e deixaram o lugar. Naoto continuou em frente até alcançar a trilha, que tinha sido o local apontado como o centro de toda a confusão inusitada.

Conforme ele avançava seguindo o rastro de alguns pingos de tinta pelo caminho, o lugar se tornava cada vez mais deserto, até chegar a um ponto em que não se via nem ouvia ninguém, apenas o canto dos pássaros e o farfalhar das folhas nas copas das árvores. Aquela era uma bela manhã de domingo, e tradicionalmente aquele deveria ser um dos dias mais movimentados do parque, mas, graças ao tal palhaço, estava vazio.

Naoto pensou em voltar, mas apesar de tudo dar a entender que aquilo não tinha passado de uma brincadeira, algo o inquietava e o impeliu a prosseguir. Talvez algo mais realmente pudesse estar acontecendo.

Depois de algum tempo, ele teve a estranha de sensação de que estava sendo observado, então sacou sua arma e passou a andar com mais cuidado por entre as árvores. Ele já não seguia mais pela trilha, tinha se embrenhado na mata atrás das manchas de tinta. Caminhou um pouco mais, até que de um instante para o outro suas suspeitas se confirmaram.

Ele escutou um barulho vindo de cima e quando ergueu a cabeça para verificar, se viu cercado por mais de dez soldados mascarados de Biolon, que pularam das árvores como frutas maduras caindo dos pés. Todos foram para cima dele de uma só vez.

Naquele momento Naoto entendeu que não se tratava de uma brincadeira inconsequente de algum desocupado, mas sim de uma armadilha de Biolon, na qual ele, inadvertidamente, já havia caído. Rapidamente ele viu a situação se complicar ainda mais, porque não eram apenas os soldados idiotas de Biolon que o cercavam, mas Marshall e Cannon também estavam lá, e enfrentar as duas guerreiras sozinho, mesmo que elas estivessem em suas formas humanas, não seria uma tarefa fácil.

O policial precisou agir imediatamente. Ele disparou contra os inimigos, mas isso não o impediu de ter que entrar em combate corpo a corpo com eles. Com algum custo o rapaz conseguiu se desvencilhar dos inimigos e correr. Ele procurava por um lugar escondido para se transformar em Jiban e manter sua identidade secreta, mas os soldados e as duas guerreiras continuavam o perseguindo. Ele disparou novamente contra eles com suas últimas balas, até que conseguiu distrai-los por alguns segundos e se esconder. Não se transformou, porque aquela ainda não era uma posição segura, mas de onde estava, conseguiu ouvir uma conversa curiosa por rádio entre Marshall e o Dr. Jean-Marie.

Conseguiram pegá-los?— perguntou a voz masculina, irritada e impaciente, que saía do falante do rádio.

— Não, senhor. – respondeu a mulher, receosa em dar a má notícia ao chefe. – Só um deles veio e está se escondendo de nós. Eu disse que aquela história do palhaço era fraca demais para atrair todos eles para cá. A policial intrometida e o outro policial inútil não estavam com ele.

— Não era o que nós queríamos, mas já imaginávamos que isso talvez pudesse acontecer. Um é melhor do que nada. Capturem esse aí e deixem Madogarbo cuidar do resto. Ela e Tubaronoide colocarão o plano B em prática. Eles farão com que outros dois também venham até nós!

— Sim, senhor! Esse aqui não vai escapar. – respondeu Marshall, mais aliviada por não ter sido repreendida pelo chefe. O rádio chiou encerrando a comunicação, e as duas moças começaram a conversar entre si.

— A Sra. Madogarbo vai fazer aqueles dois idiotas saírem da delegacia. Eu não vejo a hora de colocar as mãos naquela policial cretina! – disse Cannon à Marshall, que concordou com a parceira.

Naoto não entendeu muito bem o que estava acontecendo, mas tudo indicava que aquele era mais um plano de Biolon, mas dessa vez o alvo não era Jiban, e sim a polícia. Aquela era obviamente uma emboscada e eles pretendiam capturá-lo, assim como à Yoko e a Seichi, mas parecia haver um interesse maior pela captura de sua parceira. Ele precisava avisar aos colegas sobre o perigo que corriam, mas os inimigos continuavam em seu encalço. Ele não podia perder mais tempo e também não conseguiria se transformar em Jiban sem revelar sua identidade, então aproveitou que estava próximo ao rio que atravessava o parque e decidiu correr e saltar nele, pois só assim conseguiria se afastar dos inimigos com a rapidez necessária.

Sua disparada em direção ao rio chamou a atenção de seus perseguidores, mas ele conseguiu seguir conforme o planejado. Assim que se jogou na água, alguns mascarados fizeram o mesmo, mas por sorte, o próprio rio agitado se encarregou de afastar os inimigos e levá-los para longe. A correnteza também não estava facilitando para que o policial voltasse à margem, mas ele o fez o mais rápido que conseguiu. Naoto precisava voltar à viatura para alertar os colegas pelo rádio, mas ao cruzar o parque de volta por um setor diferente, ele encontrou um telefone público e ligou imediatamente para a delegacia.

Aquele lado do parque estava repleto de visitantes, bem diferente de onde ele estivera antes, e a visão de um homem trajando terno e gravata, todo encharcado correndo por ali, chamou a atenção das pessoas, mas Naoto não se importou com os olhares curiosos. Ele tinha pressa, porque já havia perdido tempo demais tentando despistar Biolon.

— Alô, Michiyo, é o Naoto. Eu preciso falar com o Seichi e a Yoko, é urgente!

— Eles não estão, Sr. Naoto. Eles saíram há uns 20 minutos para atender um chamado. — disse a secretária do outro lado da linha.

— Você sabe para onde eles foram?

— Eles não me disseram. Só sei que saíram com bastante pressa, parecia algo urgente. O capitão também estava procurando pelo Chefe Seichi, então eu tentei chamar ele pelo rádio, mas ele não atendeu. Achei estranho...

— Está bem, Michiyo, obrigado.

Naoto desligou o telefone, preocupado. Ele não sabia onde os colegas estavam, mas sabia que corriam perigo, então era hora de pedir ajuda à sua outra equipe de apoio, a equipe de Jiban.

De dentro do bolso interno de seu paletó, ele pegou o comunicador que, assim como ele, estava encharcado, mas ainda funcionava, e chamou pela nave Spyras.

— Spyras, sobrevoe Tóquio e veja se consegue localizar o carro da Yoko. Não faz muito tempo que eles saíram, então não acho que devam ter ido muito longe.

— Ok, Naoto. Estou partindo agora mesmo. — respondeu a nave com sua voz metálica.

Imediatamente a nave decolou da base. O carro Lezon e a moto Bican também partiram para ajudar nas buscas. Naoto não podia ficar parado apenas esperando por notícias, então continuou correndo até alcançar a viatura. Ele queria fazer mais uma tentativa de contatar diretamente o carro de Yoko pelo rádio, mas teve uma surpresa assim que abriu a porta do veículo e pegou o comunicador, porque antes que ele pudesse falar alguma coisa, foi a voz apressada da parceira que saiu pelo falante do aparelho.

— A quem estiver ouvindo, precisamos de reforços na anti...

A comunicação foi cortada no meio da frase, deixando Naoto ainda mais preocupado. Imediatamente chamou por Halley, na base de operações.

— Halley, você consegue localizar de onde partiu o chamado da Yoko?

— Estou tentando rastrear, Naoto... só um momento... acho que veio de perto das docas. — concluiu o robozinho, responsável pela operação da base secreta.

— Eu estou perto das docas. — disse Spyras, que também ainda estava conectado à conversa. –Vou ver se consigo confirmação visual.

Pouco mais de um minuto depois, a nave voltou a fazer contato.

— Naoto, consegui localizar o carro da Srta. Katagiri. Está em frente à fábrica abandonada, perto das docas.

— Obrigado, Spyras!

Imediatamente após a confirmação vinda da aeronave, Naoto finalmente se transformou em Jiban, mas como precisava chegar o mais rápido possível ao local, e todos os seus veículos estavam espalhados pela cidade à procura de Yoko, chamou por Daidalós. Ele literalmente precisaria chegar até lá voando e o jato propulsor era sua melhor opção no momento.