–Deixa eu ver se entendi: Você e Johnny Storm estavam, casualmente, vestidos com suas fantasias em um passeio romântico quando, por acidente, vocês encontram a IMA e derrotam mais de 20 cientistas-soldados muito bem treinados? - Bárbara disse, parecendo perplexa.

–Exato! - respondi.

–Incluindo o chefe deles? - ela continuou sem acreditar. Eu continuei confirmando.

Estou em meu apartamento ao lado de Bárbara. Fury trouxe-me para cá após os reforços da SHIELD chegarem ao Central Park e capturar todos os agentes da IMA. A agente Morse ofereceu-se para cuidar de meu ferimento no rosto. Ela estava dormindo quando cheguei no apartamento com o rosto sujo de sangue.

–Ainda não entendi como os expulsei quando eu estava encurralada.

–Mutação, talvez? Você disse que suspeitava ser uma mutante.

–Sim, ainda suspeito.

–Explica novamente: Sua mão começou a formigar e, depois, brilhou e saiu algo como uma rajada? - Ela perguntou e confirmei mais uma vez - Deveria procurar um especialista em aranhas algum dia. - ela riu. Eu também, apesar de não entender a graça.

Bárbara estava enfaixando meu braço esquerdo. Meu rosto estava coberto com curativos e tive que me vestir com uma camiseta branca. Minha fantasia, que está rasgada, está jogada em cima de minha cama. Fico imaginando meu retrospecto em lutas.

–Você está bem mesmo? Os ferimentos no rosto estavam terríveis.

–Estou ótima - menti. Meu rosto ardia terrivelmente. - Mas preciso dormir um pouco. Até mais.

...

Nunca usei tanta maquiagem em toda minha vida! Infelizmente, isso é necessário. Quer dizer, se os vizinhos me olharem de olho roxo, só rolarão boatos e fofocas sobre o relacionamento entre mim e Bárbara. E a discrição faz parte de nosso trabalho - mesmo tendo vidas civis, ainda somos agentes da SHIELD.

Eu saí do apartamento. Bárbara sugeriu que eu fosse procurar um especialista em aranhas e só conheço uma pessoa assim: o Homem-Aranha. E, se minha teoria sobre a identidade dele estiver certa, confirmarei quem é ele por debaixo da máscara. Não que isso importasse para mim.

Vesti minha roupa de civil e andei pela cidade que nunca dorme. Nos últimos dias, percebi que o apelido faz sentido, porque ainda é bem cedo da manhã e já existem muitas pessoas pelas ruas. É bem impressionante.

A cada 3 minutos, eu olho para cima, procurando por ele. Tenho esperanças de encontrá-lo. Eu preciso da ajuda dele.

Quando eu passei por uma loja de conveniências, meu sentido-aranha disparou. Nem tive tempo para esquivar, pois a loja de conveniências simplesmente explodiu ao meu lado. Muitas pessoas foram jogadas para o meio da rua e os carros foram forçados a frear de forma repentina, causando muitos acidentes. Eu fui uma dessas pessoas jogadas na rua.

Minha vista estava turva, eu havia batido a cabeça muito forte no chão. Eu me sentei e pude ver um homem vestido de amarelo. Eu achei que fosse o Homem-Aranha, pois haviam teias espalhadas pelo uniforme. Entretanto, tudo nele era diferente - o uniforme, a máscara, as luvas. Com certeza, não era ele.

–Saiam da minha frente! - ele gritou, fugindo com uma sacola.

Aproveitei que todos estavam se recuperando do tombo e disparei teias discretamente na frente deste homem misterioso. Ele caiu, largando o dinheiro.

–Droga! Uma teia! - ele olhou para os céus procurando pelo Homem-Aranha, mas não o encontrava. - Cadê você, peste-aranha?!

–Shocker! Estava com saudades! - disse uma voz descontraída - Você não deveria estar cumprindo sua pena de 10 anos? Ou eram 20? Não lembro mais.

–Cala a boca, inseto! - O tal Shocker ergueu os punhos e uma onda elétrica saiu de suas luvas, mirando o poste em que o Homem-Aranha estava. Felizmente, ele esquivou e saltou para o chão, derrubando seu adversário.

–3 anos de combate e ainda não aprendeu que aranhas não são insetos? - O Homem-Aranha enrolou Shocker em suas teias. Depois, retirou a máscara do bandido. - Você está ficando mais feio a cada dia.

–Eu te mato um dia, palhaço! - uma teia foi disparada em sua boca.

–Se eu ganhasse 1 dólar a cada vez que ouço isso, eu estaria milionário. - o Homem-Aranha percebeu a presença de teias orgânicas no chão. Provavelmente sabia que eu estava por perto. Porém, eu ouvi sirenes da polícia e o herói saltou. Eu, claro, fui atrás dele.

Ele estava dando umas acrobacias esquisitas no ar. Não conseguia imitá-lo, ainda sou inexperiente balançando as teias.

Em certo momento, eu o perdi de vista. Mas algo me agarrou e me jogou no terraço de um prédio. Por poucos centímetros, eu não caí na piscina.

–Você, por acaso, está me seguindo? - disse o Homem-Aranha, aparecendo na prancha da piscina.

–Preciso de sua ajuda.

–Sério? Não parecia quando você derrubou o Shocker no meio do público. Aliás, o que houve com sua fantasia? E seu rosto?

–Longa história. Preciso de ajuda sobre aranhas. E, até pelo que eu saiba, você é fanático por essas criaturas.

–Existe uma coisa no século XXI chamada internet. É prática e fácil. E não precisa arriscar sua vida. Exceto se seu computador for invadido por uma IA.

Percebi uma coisa irritante no Homem-Aranha: ele faz piada com tudo. O mais irritante ainda é que não são tão engraçadas.

–Vai me ajudar ou não?

–Bom, eu tenho que trabalhar agora, mas...

–Eu vou com você. - falei decidida.

–Isso é um problema. Existe uma coisa chamada identidade secreta e eu prezo por isso.

–Você é Peter Parker, fotógrafo free-lance do Clarim Diário e estudante da Universidade Empire State. - Mesmo sem máscara, senti o Homem-Aranha me encarando com perplexidade.

–Não é justo! Você...lê mentes.

–Vai me ajudar ou não? Não tenho internet em casa e ainda estou me acomodando no bairro.

Ele pareceu suspirar antes de finalmente aceitar ajudar-me.

–Olha, você irá andar por aí assim mesmo? Quer dizer, sem máscara? Ou fantasia de herói? - Ele perguntou. Eu pus minha máscara. - É. Isso deve servir. - Ele saltou do prédio, balançando em suas teias. Eu fui atrás. Só ele sabe qual é nosso destino.