Jaspes e Jades

Capítulo 7 — Baile de Máscaras


— Então, mas vocês viram que Feliciano e Lovino vão dar um baile de máscaras esse fim de semana? — Erzsébet perguntou animada enquanto levava a louça suja para a pia.

Roderich, ainda sentado à mesa, limpava a boca com um guardanapo.

— Ouvi dizer que será tão grande que até humanos foram convidados.

— Hm. Não vejo problema nenhum. Estaremos todos de máscara mesmo. Não há perigo nenhum de sermos reconhecidos — comentou Ludwig, levantando-se para ajudar Erzsébet com a louça.

— Nossa, Lud, relaxa um pouco. Não sou uma dama em perigo. Hoje você e seu irmão são convidados.

— Por favor, deixe-me ajudar.

— Você é uma graça, sabia? Ao contrário de alguém aqui — ela vociferou, encarando o outro convidado, que palitava os dentes.

— Me dá um tempo, mulher.

O austríaco suspirava, levantando-se da mesa e indo servir-se de um pouquinho de café. Já estava acostumado com as maneiras de Gilbert sempre que vinha visitá-los. Erzsébet, ao contrário de seu ex-marido, era um pouco mais sensível às grosserias da ex-nação.

— Irmão, por favor…

— Alguém mais quer café? — Interrompeu Roderich servindo o albino com um pouco da bebida.

Gilbert deu um gole e riu.

— Aprenda com o seu ex, Erzsi. Seja legal comigo e talvez eu seja legal com você.

— Você é intragável.

— Que nem esse café… Mas café é melhor que nada, então valeu.

Ludwig tapava o rosto com a mão. Era sempre esse mesmo drama quando iam visitar Erzsébet e Roderich. Sempre.

— Enfim. Creio que vocês estarão lá? — Perguntou o alemão ao casal de amigos.

— Certamente — o austríaco respondeu antes de beber seu café.

— Provavelmente estarei lá. Faz tempo que não vou a festas — a húngara animou-se enquanto ensaboava alguns pratos.

— Eu irei também. Feliciano insiste em me ver lá — comentou Ludwig enquanto arregaçava as mangas para ajudar sua anfitriã com a louça.

— Seu maravilhoso irmão também vai? Não acho que um bruto desses saiba apreciar esse tipo de coisa.

— Não — Gilbert respondeu, seco — Quem liga pra uma festa idiota com máscaras bestas? O Halloween é só em outubro, seus palhaços.

— Gilbert, você sabe que bailes de máscaras não são como o Dia das Bruxas. Bailes de máscaras são característicos da alta sociedade da parte norte da Itália, geralmente ocorrendo no começo do ano–

— Nossa, Roddy, não me lembro de ter perguntado a sua opinião sobre o assunto!

— Seu…!

— Sem briga, vocês dois!

— Falou pra vocês. Luddy, eu tô indo pra casa mais cedo.

— Me desculpe pelo meu irmão hoje — o alemão desculpou-se com uma reverência e um pouco vermelho de vergonha.

— Já estamos acostumados — Roderich comentou rindo.

— Ele faz isso pra chamar a atenção, você sabe disso — Erzsébet riu junto — E pensar que ele era um cara sério antes.

— Bom… Vejo vocês em dois dias?

— Claro! E obrigada pela ajuda com a louça.

Era a noite da festa. Erzsébet usava seu melhor vestido, da época do Império Austro-Húngaro. Uma relíquia em forma de vestuário, era composto de camadas e mais camadas de um tecido leve que permitia os movimentos das danças de salão. Não usava muita maquiagem. Estaria um pouco escuro dentro da festa, para que o anonimato fosse mantido mesmo com as máscaras. Em contrapartida, usava seu perfume favorito. Um adorno de flor enfeitava seu cabelo ondulado, preso num elaborado rabo-de-cavalo.

Estava acompanhada de Roderich e Ludwig na entrada, quando foram abordados pelos dois irmãos italianos.

— Ah! Se não são nossos convidados favoritos! — Feliciano agitou-se, correndo para cumprimentar os três. Trajava uma espécie de terno verde e com detalhes em dourado. Sua voz e seu comportamento radiante denunciavam sua identidade.

— Céus, os batatudos chegaram — Lovino reclamara, indo cumprimentar apenas uma pessoa — Ah, olá Erzsi! Está linda!

— Obrigada! Faz tempo que não me produzo desse jeito — riu, sem jeito.

— Por favor, entre! Sua presença enfeitará ainda mais o salão. Divirta-se e lembre-se de manter-se escondida sob a máscara — piscou Lovino, abrindo as portas para a mulher. Antes de entrar, olhou para trás. Ludwig, Roderich e Feliciano passariam muito tempo conversando, então não faria mal ela ir se divertindo por enquanto, não?

Foi passando pela multidão, chegando no bar ao fundo. Sentou-se ao balcão e pediu um drink, quando ouviu vozes familiares. Ao seu lado, estavam Bélgica, Liechtenstein e Ucrânia.

— Que mundo pequeno, não? — Perguntou.

— Erzsi? Meu deus, não acredito que também está aqui! — Emma riu, abraçando a amiga.

— Vocês estão todas tão lindas!

— Querida, por acaso você se olhou no espelho antes de sair de casa? Está maravilhosa! — Katerina elogiou, estudando as vestimentas da amiga.

— Não achamos que você viria! Está sempre tão ocupada com o serviço… — Lilli comentou.

— Assim que soube da festa pelo Feli, já deixei tudo separado. Estava precisando de uma distração.

— Hmm… Sei não, tá com cara de quem veio dar uns pega em alguém nessa festa.

— Emma, sua abusada! Até parece que eu tô procurando por alguém.

— Homem ou mulher, tá difícil aguentar essa barra, gatona.

— Que exagero.

— Aposto um almoço que você ainda fica com alguém nessa festa.

— Hah! Fechado.

E apertaram as mãos. Conversaram por mais uma hora até que a iluminação ficou ainda mais escura e a música eletrônica foi trocada por uma mais lenta. Casais formaram-se no centro do salão e Erzsébet ficou tentada a dançar com alguém, mas não queria perder a aposta. Tudo bem, ela não perderia a aposta. Era boa em resistir às pessoas. Era durona e difícil.

— Com licença — uma voz masculina a chamou bem perto de seu ouvido, fazendo-a virar quase que instantemente.

— Que susto!

— Queira me perdoar — o estranho desculpou-se, fazendo uma pequena reverência — Eu estava esperando pelo meu par, mas ela não pôde vir hoje. Vi que estava sozinha e decidi… te chamar pra substituí-la. Poderia ser meu novo par? — Perguntou, oferecendo-lhe sua mão.

Bom, era só uma dança… Não haveria mal nenhum, certo?

Ela sorriu e deu a mão ao mascarado.

— Claro! Se conseguir manter o meu ritmo…

A voz dele era suave, quase sedutora. Estava bem escuro e as luzes dificultavam sua visão; não sabia que cor era seu cabelo ou suas roupas. Podia perceber que era de um tecido caro, tinha vários adornos costurados à mão. Ele usava um perfume bom… Quase familiar. Dançava bem, também. Deveria ser um dançarino profissional. Passos precisos, bem compassados.

Ele era alto. Os dedos de sua mão eram finos. Quando acidentalmente passou a mão por sobre seu peito, percebeu que era forte. Suas costas eram firmes e sua coluna ereta como a de um soldado. Ainda assim, seus movimentos eram de um refinamento que se comparava ao de homens como Roderich.

E dança após dança, ela percebia-se atraída por aquele anônimo. E que mal havia em envolver-se com ele só por uma noite? Olhou para a direção das amigas e percebeu que estavam distraídas com outras nações. Discretamente levou seu par para um lugar longe da vista de Emma enquanto dançava.

— Está fugindo de alguém? — Perguntou ele.

— Digamos que sim.

— Também estou.

Riram. Ela olhou para a boca exposta dele. Dentes perfeitos. Por um momento, pensou em como seria o sabor de sua língua contra a dela.

A música estava ainda mais devagar. Ambos aproximaram os corpos, colando-se um no outro. Ela podia ouvir os batimentos dele e ele podia sentir o cheiro do perfume dela em seu pescoço exposto. Erzsébet fechava os olhos, embalada pelo ritmo do coração dele e seu perfume familiar. Era um perfume que só sentira uma vez, enquanto dançava aquela mesma dança lenta.

— … Gilbert…?!

— Oi, Erzsi.

— O que… O que tá fazendo aqui?

— Dançando com você, ué.

— Não, por que tá aqui? Não disse que não gostava dessas festas?

— Abro umas exceções. Tipo quando você tá nelas.

— De todas as pessoas desse salão, eu fui ficar logo com você.

— Não aja como se não estivesse gostando.

Ele tinha um ótimo ponto. Tinha sido enganada direitinho por aquele vagabundo, grosseiro… Que agora tocava-a com a maior delicadeza, que agora a guiava na dança com tanta leveza… Quase não parecia o Gilbert que conhecia. Mas ao mesmo tempo, era tão a cara dele, os passos largos, a respiração profunda e lenta, aquele cheiro de perfume e cigarros de cravo que fumava quando ficava nervoso. Ela estava feliz em tê-lo ali. Em saber que seu coração sempre voltava para aquele homem.

O homem que gentilmente trazia-a para o lado de fora do salão, longe de todos e longe do escuro. Aproximou-se dela. Tocaram-se pelos lábios. Beijaram-se. Conheciam-se tão bem, mas por que se recusavam a tornarem-se íntimos daquela maneira? Por que se ele já sabia que ela gostava de chupar seu lábio inferior, se ele já sabia que a mão direita dela gostava de segurar sua cintura contra a dela e a esquerda gostava de segurar sua bochecha? Por que se ela já sabia que ele gostava de provocá-la ao descer seus dedos por sobre sua coluna, se ela já sabia que ele iria beijá-la no ouvido e suspirar ali?

Conheciam-se melhor do que gostariam, mas por que evitavam gostar daquilo? Por um momento em suas existências, deixaram todo aquele tabu de lado. A língua quente dele acariciava a pele sensível da nuca e garganta dela, explorando bem a região. Ela tremia sob os toques de seu par mascarado, apertando-lhe a cintura e puxando-o ainda mais contra si.

No ouvido dela, Gilbert confessou-se:

— Eu te amo.

E ela respondeu, sorrindo:

— Sempre soube.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.