Jaspes e Jades

Capítulo 5 — Universo Alternativo


Os sinos da cidade ecoavam, seguidos de gritos de homens enfurecidos. Uma figura encapuzada corria pelas ruas, costurando pelas aglomerações de pessoa. Atrás dela, um grupo de guardas corria, um pouco desengonçados.

— Peguem ele! — Bradava um deles, claramente cansado.

O fugitivo continuou correndo até perceber que um outro pelotão de soldados vinha de encontro a ele. Aparentemente cercado, o encapuzado parou, seus olhos rapidamente procurando por alguma saída. Sem opções, o único caminho possível era para cima: Tomou impulso e escalou a parede de uma casa. Sobre os telhados, continuou a corrida.

Olhou para trás para perceber que seus perseguidores não desistiriam tão cedo. Precisava despistá-los rápido ou atrairia ainda mais atenção. Acelerou, tomando cuidado para não escorregar pelas telhas dos telhados de Königsberg. O sol se punha no horizonte dentre nuvens de chuva. Começava a precipitar. O hábil corredor continuou seu trajeto pelos telhados até ouvir o estouro de um tiro: Estava exposto demais ali em cima.

Com a graça de um gato, aterrissou no chão ladrilhado e rolou para absorver o impacto. Logo atrás, os soldados vieram, acreditando que poderiam encontrar seu fugitivo com maior facilidade por estarem em um lugar mais alto. Mas a chuva começara e muitas pessoas já estavam encapuzadas. Tinham o perdido.

Já em segurança, o encapuzado distanciava-se dos guardas, seguindo seu caminho em direção a um beco escuro, cuja localização estava marcada em um pequeno papel. Chegando em seu destino, bateu à porta do bar. Era uma porta grossa pelo som das batidas, dificilmente um lugar convidativo para um viajante perdido. Uma pequena janelinha abriu-se na porta e um olho humano apareceu pela fresta. Examinou a figura do lado de fora e fechou a janelinha. Sons de cadeados sendo abertos e trancas sendo desfeitas denunciavam sua autorização para entrar no recinto.

— Bem-vinda ao Tulipa Vermelha! Vamos; entre, entre! — Bradava o dono do estabelecimento, empurrando o cliente para dentro.

— Pare Sadiq! — Uma voz feminina manifestou-se numa risada, sua dona retirando o capuz que ocultava seu rosto — Mantenha o mínimo de profissionalismo!

O homem – alto e bem moreno – riu alto, puxando a moça para si e dando-lhe tapinhas nas costas.

— Você poderia ter me mandado alguma carta, dizendo-me que viria! Já estava com saudades.

— Estava com medo que interceptassem qualquer mensagem que chegasse aqui em Berlim. Ainda mais de Viena — Erzsébet suspirou, desabotoando seu jaleco e caminhando em direção aos quartos dos fundos — Aliás, estou com pressa. A Irmandade me despachou para cá há três dias. Nossos irmãos italianos estão com pressa.

— Sim, eu sei. Venha, por aqui — Sadiq empurrou a estante de livros em seu quarto para o lado, revelando uma passagem subterrânea. Seguindo pela escada, havia outro quarto, muito maior e cheio de livros e papéis velhos espalhados por uma mesa.

Nas paredes, mapas da Europa inteira estavam dispostos. Era o século XIX e guerras estavam sendo travadas em todos os lugares, mas dois conflitos destacavam-se dos demais: as Guerras pelas Unificações. Os Estados Italianos e os Estados Alemães colaboravam secretamente para unificarem seus territórios com a ajuda de uma instituição internacional, os Assassinos. Do outro lado, o Império Austríaco e o Império Francês tentavam conter o avanço por meio dos Templários, conhecidos por utilizarem-se de qualquer meio para obter poder e impor sua dominação sobre a humanidade. A rivalidade entre Assassinos e Templários era antiga, datando desde o tempo das Cruzadas.

Erzsébet era uma Assassina, treinada na arte da furtividade desde pequena por ciganos. Seus pais morreram quando ainda era muito jovem e fora levada para a Itália, a sede da Irmandade e seu Credo, tornando-se o principal ramo da instituição na região Oriental do continente.

— Tínhamos um informante nessa região até descobrirmos que ele trabalhava para os Templários. Sabemos que eles planejam impedir as Unificações por meio do assassinato do Ministro prussiano, Otto von Bismarck. Seu alvo é esse informante, que não sabe que vamos descartá-lo. Ele estará a esperando à meia-noite, neste ponto perto do rio Reno — disse o turco apontando a localização no mapa.

A chuva dava uma trégua, mas não dava sinais de que iria parar até o amanhecer. No destino, Erzsébet aproximava de quem parecia ser o falso informante. Aproximou-se, encapuzada e percebeu que era um homem alto, rosto bem definido e magro. Sua pele era clara demais e parecia doente, até ela perceber que seu alvo sofria de albinismo. Ele retirou o capuz e fez uma breve reverência com a cabeça.

— Não achei que a Irmandade me enviaria uma mulher para este serviço — provocou-a com um sorriso malicioso.

— Faça o seu trabalho. Diga-me logo, Gilbert Beilschmidt, quando os Templários planejam atacar os Assassinos aqui em Berlim?

Ele apenas riu. Seus olhos vermelhos pareciam brilhar na escuridão e sua risada era horrenda.

— Que tal… agora? — Indagou, rapidamente desferindo um golpe contra ela.

Por sorte, ela fora mais rápida e esquivou-se. Ele investiu novamente, mas dessa vez ela defendeu-se com sua lâmina escondida, um mecanismo tradicional dentre os assassinos que se tratava de um bracelete com uma lâmina afiadíssima, oculta rente ao braço do usuário. Era utilizada como arma de assassinato desde os primórdios da Irmandade.

Entretanto, ele era um formidável lutador. Mantinha-a longe utilizando chutes potentes e golpes de sua adaga. Sua bota fez contato com as costelas dela, mandando-a ao chão. Ele então pisou sobre seu corpo e jogou seu peso sobre a perna que a prendia.

— O quê, achou que eu não desconfiava de nada? Vocês Assassinos são ridículos. Nós estaremos sempre à frente de vocês. À frente do mundo, que nos seguirá.

— Vá se danar! — Latiu ela, rapidamente desferindo um soco contra a face de seu inimigo, que estava deveras perto demais da dela. O templário segurou seu punho com força, mas não viu que a outra mão estava livre, sofrendo um fundo corte na lateral de sua cabeça.

Tomado pela fúria, agarrou-a pelo colarinho e tentou enforcá-la. Porém, ela conseguiu soltar-se ao reagir violentamente à agressão e jogou-se nas águas do rio Reno.

A batalha entre Assassinos e Templários estava longe de terminar e a história entre Erzsébet e Gilbert apenas começava.