Você teve sua chance, teve sua chance, mas desperdiçou

Really Don't Care – Demi Lovato

Clarita encarava mais uma vez o amontoado de roupas em cima de sua cama, não sabia qual usar. Não era como se ela fosse a pessoa com mais roupas do mundo ou que saísse tanto que tivesse muitas opções para analisar. Mas ela estava ansiosa, iria dar o primeiro passo para esquecer Beto e esse acontecimento merecia no mínimo um vestido bonito.

Decidiu então usar um vestido que Letícia havia lhe dado em seu aniversário. Era um tomara que caia de um azul marinho intenso, justo nos lugares certos possuía alguns detalhes prata na parte de cima. Calçou um scarpin preto e se olhou no espelho. Nada mal, ela pensou enquanto se sentava na pequena penteadeira.

Estava indecisa sobre o cabelo também, não sabia se prendia-o ou deixava-o solto. Decidiu prendê-lo em um coque e deixar alguns fios soltos na frente. Passou uma maquiagem leve e discreta, como já era de seu costume. Quando terminou de colocar o brinco ficou espantada com seu reflexo no espelho ela estava bonita, como nunca antes tinha estado.

Preciso me arrumar mais, ela pensou ainda encarando o espelho.

Ouviu a campainha tocar, sabia quem era. Se apressou para atender a porta e quando a abriu se deparou com Francis a olhando abismado.

— Nossa...Uau — ele disse. — Você está maravilhosa.

— Obrigada, você também está muito bonito — Clarita disse.

Francis usava uma camisa social branca com os primeiros botões abertos e uma calça jeans escura, estava bem mais atraente que com a roupa de barista.

— Então...? — Francis ficou sem jeito — Vamos?

— Claro.

Clarita trancou a casa e seguiu Francis até um carro, ela não sabia que ele possuía um. Seguiram o caminho até a boate conversando animadamente. Clarita aproveitou para conhecer melhor o rapaz. A conversa entre eles era sempre agradável e isso era uma coisa da qual ela gostava.

Quando chegaram ao local Clarita viu que havia muita gente por lá. Francis desceu do carro e abriu a porta para que ela fizesse o mesmo. Os dois entraram de braços dados e seguiram logo para o bar. Clarita não sabia o que pedir, suas experiências alcoólicas se resumiam ao vinho barato do natal e ao champanhe do ano novo. Francis parecia mais confortável com a situação e pediu um drinque/coquetel cujo nome era Daiquiri.

— Você tem que provar, é ótimo — Francis se virou para Clarita sorrindo.

— O que tem nele? — ela perguntou curiosa.

— Basicamente rum, limão, açúcar e gelo.

— Ah... — Clarita disse fingindo entender.

Assim que o barman entregou as taças Clarita analisou a bebida de cor amarelada em suas mãos. Seus olhos oscilaram entre ela e Francis que sorria estendo a sua taça para um brinde.

— Vamos brindar a que? — ela perguntou.

— A novos recomeços? Novos ares? Novas oportunidades? — Francis disse inseguro.

— Então vamos brindar ao novo! — Clarita disse sorridente.

— Ao novo — Francis encostou sua taça na dela.

— Ao novo!

— x —

— E então Beto não vai me responder? — Érica perguntava com as mãos na cintura.

Beto odiava aquilo. Aquela pose e aquele tom era o mesmo que ela usava nas muitas vezes em que cismava que ele estava traindo-a.

— Responder o que Érica? — ele foi rude. Não estava exatamente a fim de discutir.

— Que tal por quem você está apaixonado?

— Como assim por quem Érica?

— Não tente despistar Beto, eu ouvi você dizer que ainda era o mesmo idiota apaixonado por alguém.

— Você entendeu tudo errado — Beto suspirou tentando contornar a situação.

— Ah é mesmo? — ela levantou a sobrancelha.

— É. Acontece que eu estava contando para a Carol que reencontrei um amigo antigo, Mosca, e descobri que ele continua um idiota apaixonado por uma amiga nossa, a Mili. — Beto não sabia se a tinha convencido, mas era melhor que tivesse, ainda não era hora de jogar o relacionamento para o ar.

— Isso é verdade Carol? — Érica se virou para a cunhada com os olhos suplicantes.

Carol engoliu seco, não gostava de mentir, mas sabia que se não o fizesse Beto teria ainda mais problemas e ela achava que ele já os tinha o suficiente por um dia só.

— É sim Érica — Carol disse enquanto recebia um olhar agradecido de Beto.

— Bom, se a sua irmã está dizendo eu acredito Beto — Érica se virou para o namorado. — Mas acho que você deveria ser mais específico quando for falar dos seus amigos.

Érica deu meia volta e saiu pela porta, deixando Carol e Beto sozinhos.

— Você vai ter que contar a verdade para ela em algum momento — Carol disse, vendo Beto abaixar a cabeça.

— Eu sei — ele suspirou. — Mas não hoje.

— Beto aconteceu mais alguma coisa que você não me contou?

— Eu beijei a Clarita.

— Como é?

— Eu sei, eu sei, não devia ter feito isso, mas...

— Mas agiu por impulso como sempre.

— Eu tinha que convencê-la de alguma forma. Mas eu optei pela errada.

Beto abaixa a cabeça sentindo o olhar da irmã sobre ele. De repente ele sente Carol o abraçar, como ela costumava fazer quando ele brigava na escola quando era criança, e depois que se tornou adolescente também. Aquele abraço significava que tudo ia ficar bem, que ela estaria ao lado dele independentemente do que fosse acontecer.

Algum tempo depois Carol saiu do quarto e deixou Beto sozinho com seus pensamentos. Deitado na cama ele tentava não pensar em nada, e quando finalmente conseguiu pôde dormir.

Um mês depois...

Já fazia um mês que Beto e Clarita mal se falavam, todas as vezes em que ele tentava se aproximar ela era grossa ou indiferente com ele. A situação só piorava quando os dois estavam diante de Érica, a garota tinha um enorme carinho por Clarita e gostava da amizade entre o namorado e a nova amiga, então quando estavam diante dela os dois tinham que fingir que nada estava acontecendo, o que era extremamente difícil já que a loira mal dirigia seus olhos para o rapaz.

Era fim de expediente de uma quinta-feira quando Beto resolveu tentar falar com Clarita pela milionésima vez, nesse dia Érica não compareceu ao “trabalho” porque estava viajando para acertar os últimos detalhes do filme que logo começaria a ser gravado. Clarita estava organizando o caixa e assim que o viu passar pela porta sentiu seu estomago revirar. Isso não podia estar acontecendo, será que ele não tinha entendido que ela queria distância?

— O que faz aqui Beto? — ela foi direta assim que o viu começar a se aproximar.

— Vim falar com você — ele respondeu calmamente.

— Falar comigo sobre o quê? — ela disse impaciente.

— Sobre nós.

— Não tem nós, Beto — Clarita disse duramente. — E nunca vai ter.

— É exatamente isso que eu quero saber! Por que não?

— Porque você tem uma namorada, que por sinal é minha amiga.

— Só por isso! Eu posso terminar com a Érica!

— E fazê-la sofrer por nada?

— Por Deus Clarita, não é por nada. É por nós! Pelo amor que eu sinto por você!

— Você não me ama Beto.

— Sabe quantas vezes eu quis falar com você enquanto estava longe? Muitas. Eu queria contar para você sobre os amigos que eu fazia, sobre os lugares que conhecia, eu queria dividir tudo com você!

— Mas não fez isso! Não contou, não dividiu! Você simplesmente me esqueceu aqui!

— Não diz isso, por favor.

— Eu digo sim Beto porque é verdade, agora por favor vá embora.

— Clarita...

— Por favor — Clarita deu as costas para Beto, não podia vê-lo partir novamente, mesmo que ela o tivesse mandado embora, quando ouviu a porta bater com força e teve certeza de que ele já tinha ido.

Beto subiu na moto, mas não conseguiu liga-la para sair do lugar. Como ele iria suportar ficar longe dela mais uma vez? Ficou parado esperando a coragem de sair de lá aparecer, mas de repente ele viu algo que o deixou dividido entre ficar e partir: Clarita saia sorrindo pela porta da frente do Café ao lado de Francis, o maldito barista.

Os dois conversavam alegremente e vez ou outra Beto ouvia Clarita gargalhar. Os dois começaram a andar seguidos atentamente pelo olhar do rapaz que queria entender o que estava acontecendo. De repente os dois pararam e Beto presumiu que iriam para lugares opostos. Uma onda de alivio percorreu seu corpo, mas foi embora tão rápido quanto chegou, quando os olhos de Beto viram Francis aproximar-se de Clarita e beijá-la.

Beto ficou arrasado, estava perdendo Clarita. E perdendo-a rapidamente. Precisava fazer alguma coisa, tinha que virar o jogo. E ele já sabia por onde começar.