Ficamos conversando por algum tempo, e eu realmente achei o Mizuki uma pessoa divertida, mas, bem, ele parecia meio bipolar. Uma hora estávamos conversando totalmente animados sobre alguma coisa aleatória, mas, de repente, parecia que ele lembrava de alguma coisa, porque ficava triste novamente. Estávamos conversando sobre as flores da ameixeira, que ficava no jardim, mas ele mal respondia.

– Ahn... Mizuki-kun. - chamei baixinho, encostando em seu ombro de leve. - Você está bem?

– Ah! - ele pareceu voltar a realidade. - Estou, sim!

– Você está super gelado! - coloquei a mão no rosto dele, que estava frio. - Precisa se agasalhar!

Ele corou e eu percebi o que estava fazendo, tirei a mão do rosto dele, também corada, e me levantei. Olhei para fora, estava nevando, mas as flores continuavam ali, eu olhei melhor, não havia neve em volta da ameixeira, só alguns metros de distância, o Mizuki realmente protegia aquela árvore.

Mizuki se levantou, do meu lado, e foi para um dos cômodos, voltou logo depois, com duas cobertas, ele estendeu uma para mim, sorridente, e se enrolou com a outra.

– Quer que eu faça um chá? - perguntou, parecendo já ter esquecido o que havia ocorrido minutos atrás. - Estou com vontade de tomar chá. - completou, sorrindo.

– Eu te ajudo a preparar. - sorri de volta, indo para a cozinha com ele. - De qualquer jeito, faz tempo que não bebo chá.

Começamos a ferver a água e voltamos a conversar, ele estava falando sobre a antiga mestra dele, Yonomori-sama, ela parecia ser alguém incrível, do jeito que ele falava sobre ela. O chá ficou pronto e nós nos servimos, voltamos para a sala e conversamos mais um pouco, até começar a escurecer, o Mizuki me levou até o quarto de hóspedes, e falou que eu poderia chamá-lo se acontecesse alguma coisa.

Me deitei no futon no quarto de hóspedes, olhando para o teto. No que eu estava me metendo?

No dia seguinte...

Me levantei no horário que eu sempre levanto nos sábados, oito e meia, olhei pela janela e vi o Mizuki do lado de fora, na neve, andando até a árvore, ele estava tremendo, mesmo enrolado no cobertor, me levantei, apressada, e fui até lá. Assim que eu me aproximei, ele se virou, preocupado.

– O-Ohayou gozaimasu! - sorriu, ainda tremendo.

– Ohayou. - me aproximei. - O que está fazendo aqui fora nesse frio?

– E-Eu vim ver a árvore. - se aproximou da ameixeira, encostando no tronco. - Ela parecia meio seca.

– Logo essa neve vai passar e ela vai melhorar. - comentei, encostando no tronco também. - Ela não parece tão mal, é uma árvore forte.

– Q-Que bom. - ele abriu um pouco mais o sorriso, mas, de repente, um arrepio percorreu seu corpo.

– M-Mizuki-kun, você está bem? - perguntei, mas, antes de ele conseguir responder, tinha se transformado em uma cobra, ficando imóvel.

Segurei a cobra e voltei correndo para o templo, aproximando a mesma do forno, que estava fervendo água para o chá. Ele estava gelado, o que me preocupou, porém, logo ele acordou, ainda como cobra, ele desceu do balcão e se transformou em um humano novamente.

– O-O que aconteceu? - perguntou, confuso.

– Você desmaiou por causa do frio. - comentei, me aproximando. - Me preocupou, sabia?

– G-Gomen, eu não queria preocupar ninguém, só precisava ver como a árvore estava. - comentou, se encolhendo.

Me aproximei e abracei-o com força, eu estava achando tudo aquilo tão estranho, mas, o mais estranho foi eu me preocupar tanto com uma pessoa que conhecia a somente dois dias. Ele abraçou de volta, ainda tremendo um pouco, mas, logo parou de tremer, me afastei e olhei nos olhos dele.

–Baka... - sussurrei. - se eu não tivesse acordado, você estaria até agora na neve, poderia ter morrido!

– Eu sei disso, - ele sorriu. - mas você estava lá, não estava?

Eu não respondi, me virei para a chaleira, colocando o chá nos copos, entreguei um pra ele e bebi o conteúdo do outro, em silêncio. Eu estava nervosa, por ter tido a brilhante ideia de vir para cá, mas, se eu não viesse, o que teria acontecido com ele?

– É, parece que você vai realmente ter que me salvar pra sempre. - ele riu, como se lesse meus pensamentos. - Mas, sabe de uma coisa? Não vejo um real problema nisso.

– Pra você... - murmurei, sorrindo. - Bem, vou te ajudar nas tarefas por aqui, não consigo observar você trabalhando e não fazer nada.

– Certeza disso? - ele perguntou. - Porque tem bastante coisa para fazer por aqui.

– Por onde eu começo? - sorri, olhando para ele. - Qualquer coisa.

– Você poderia me ajudar com a limpeza do quarto de hóspedes, só isso já está ótimo.

– Ahn, okay, eu começo por lá... - murmurei, pegando as coisas necessárias e partindo para o quarto de hóspedes novamente.

Limpei todos os canos daquele cômodo, o que foi relativamente rápido, já que não era tão grande assim. Voltei para a sala, indo perguntar qual seria minha próxima tarefa, mas o Mizuki não estava ali. Guardei todo o material e andei pelo templo, procurando por ele.

Estava quase desistindo, quando ouvi uma respiração calma vinda de um dos cômodos, bati na porta de leve e entrei, dando de cara com o Mizuki, deitado em um futon, dormindo. Pelo que eu percebi quando andei pelo templo, ele tinha limpado tudo enquanto eu limpava o quarto de hóspedes. Me aproximei e encostei na testa dele, estava com uma temperatura normal, o que me acalmou, me sentei ao lado dele e observei por alguns segundos, ele parecia exausto.

Olhei no relógio, estava quase na hora do almoço, me levantei, decidindo fazer uma surpresa para o Mizuki, afinal, eu não havia ajudado muito. Procurei por ingredientes para preparar um arroz e um Sukiyaki, terminei tudo algum tempo depois, e estava prestes a voltar e chamar o Mizuki, quando o mesmo apareceu do meu lado.

– O que é tudo isso, Keiko-chan? - perguntou, confuso.

– Ahn, bem.. - comecei, timidamente. - eu vi que você fez quase todo o serviço, e estava exausto, então, eu resolvi preparar alguma coisa para comermos. - sorri.

– Arigatou. - ele sorriu de volta. - Eu estava com fome, você leu meus pensamentos?

– Não. - eu ri. - Só olhei o horário e deduzi.