It's Not like Her

O amor que achamos merecer é o ideal?


“A gente aceita o amor eu acha que merece”

Era a frase favorita de um livro que Tori gostara muito, na primeira vez que a leu a achou bonita e olhando para seu amigo Beck Oliver e seu relacionamento conturbado parecia fazer muito sentido ao pensar no porque ainda durava tanto.

Dos dias de sol aos de tempestades ele não a abandonava e, se Jade por ventura fosse, logo ela voltava atrás e corria para ele.

Era um tanto irritante, cansativo e trazia uma leve inveja que ela jamais diria em voz alta quando se lembrava do quão fácil seus ex’s a deixaram, por tão pouco desistiam. Como nunca conseguiam chegar a um nível minimamente aceitável de consideração por sua relação.

Não fazia sentido e tão pouco era justo, mas era o que Tori aparentemente conseguia atrair para si.

No entanto, uma explosão, um limite ultrapassado e seu casal de amigos estava separados e dessa vez não havia mais um Beck paciente para tentar remendar a relação ou uma Jade desesperada tentando suturar o rombo que tinha entre eles.

Fora a primeira vez que presenciara Beck chorar e a fez sentir muita raiva de Jade por ser a causa de tamanha tristeza. Ouvir de Cat que a morena passara uma noite chorando não lhe convencia o suficiente.

Os amigos apostaram que eles voltariam em uma semana, mas os sete dias passaram e não aconteceu.

Nem depois de um mês.

Ou um ano.

Aquele casal emaranhado e teimoso estava acabado e foi com grande alivio que Tori assistiu sua amiga partir por uma trilha diferente da de Beck.

Ele estava melhor e aceitando seguir em frente e pela primeira vez não parecia tão errado achar que poderiam ser algo a mais. Seus sentimentos confusos e reprimidos já não eram algo que deveriam guardar.

Tudo bem se sentir atraída por Beck Oliver.

Tudo bem se permitir dizer estar apaixonada por Beck Oliver.

E tudo bem ama-lo com todo o seu ser e dar o amor que ele de fato merecia ter.

Eles podiam ter jantares em família porque suas famílias se gostavam, gostavam dela e poderiam viver sem brigar pelo menos uma vez na semana por coisas bobas como outras garotas ao redor do homem.

Tinha como ficar melhor?

A resposta deveria ser “Sim”...

Como ela se tornou um “isso está errado”?

Olhando para todo o apartamento decorado com todas as coisas que os dois gostavam e os papeis de divorcio sobre a mesa de madeira, Tori ainda não conseguia encontrar uma resposta para o seu questionamento.

As olheiras expostas debaixo de seus olhos denunciavam suas noites mal dormidas depois de incessantes brigas nos últimos oito meses; As caixas embaladas para viagem denunciavam a decisão de Beck para com toda a situação.

— Você esta bem, Tori?

Uma caneca com chá foi colocada próximo as suas mãos e a cadeira em sua frente ocupada a impedindo de ver as malditas caixas marrons. O semblante de Trina trazia a preocupação empática que quase nunca conseguiria ver em dias normais quando sua atenção sempre estava direcionada apenas a ela mesma.

— Não, mas eu vou ficar depois que tudo isso passar – a convicção em sua voz era quase verdadeira.

— Eu queria abrir a cabeça daquele cretino pra entender o que se passa lá dentro para ter feito isso com você.

Uma risada sofrida deixou os lábios da ex-Vega que logo voltaria a ser novamente. Compartilhava a vontade de fazer tal coisa com o marido tanto quanto a irmã.

Mas havia um pequeno/grande problema que a impedia de ser uma esposa revoltada para com sua própria miséria: estava tão errada quanto ele. Amaria poder dizer ser a pessoa enganada e destruída na historia porque sim era, mas talvez Beck também estivesse.

Estavam bem ao longo dos primeiros anos até um dia estarem focados demais em seus trabalhos e carreiras pessoais, em como “teremos dois filhos lindos” se tornou um “vamos pensar em um quando o tempo permitir”, quando seus toques não pareciam mais o suficiente para aquecer seus corpos e ambos escolheram ir atrás de outros que conseguiriam suprir isso.

Quem foi o primeiro não importava.

Não para ela.

O que realmente importava era a falta de vontade de lutar pelo que tinham.

Quase uma década que seria jogada como se fosse apenas uma viagem de férias que você aproveita o que dá e no próximo verão pensa em outra forma de passar as próximas férias para ter algo diferente.

— Você acha que tem haver com sua arqui-inimiga? – Tori franziu o ceio ao passo que Trina revirou os olhos como se estivesse tendo que ensinar a coisa mais simples para um idiota – Jade West.

— O que tem ela?

— Cat não te contou? Ela esta voltando para a cidade no mês que vem. Beck pode estar te deixando agora para estar livre para ela no futuro.

— Ele não faria isso. Estamos nos separando porque as coisas acabaram não dando certo. Isso é o que adultos chamam de separação amigável.

— Eu chamaria mais de pilantragem.

Qualquer resposta que poderia dar acabou por ficar presa em sua garganta quando a porta da frente se abriu e o foco de sua conversar atravessar, hesitante.

— Não dificulte as coisas – pediu baixo para a irmã quando esta fez menção de se levantar e ao contrário do homem que parecia um pouco desconfortável em estar em sua própria casa, Trina parecia incrivelmente à vontade enquanto circulava pegando suas coisas antes de ir embora.

– Desculpe aparecer sem avisar, mas acho que é melhor levar as coisas hoje para o outro apartamento porque não poderei no sábado mais.

— Ele já esta pronto? Pensei que fosse ter alguma reforma.

— Ele é bom para viver já... e não é meu antigo trailer ou um novo antes que você pense que seja – o fantasma de um sorriso divertido passou pelos rostos dos dois.

Eles eram tão organizados que era difícil não encontrar qualquer objeto desejado pelo apartamento, mas isso nunca foi algo ruim até o presente momento em que por uma grande fração de segundos a mulher desejou que o homem lhe pedisse ajuda com algo ou que sua presença ali fosse mais prolongada.

Afinal, haviam sido amigos antes de ser um casal.

As coisas não precisavam ser tão estranhas.

— Você quer que eu não apareça no aniversario da sua mãe?

O homem deu de ombros.

— Só a aniversariante pode proibir alguém de fazer alguma coisa. Não precisa se preocupar com isso.

A temperatura da xicara já não aquecia mais seus dedos e as caixas já não perturbavam mais sua visão, restava apenas o homem que lhe jurou amor e agora assim como os outros estava indo embora.

O limite havia chegado e não haviam visto ou ele simplesmente não estava disposto a lutar?

Outra questão para perturbar suas noites de sono e que as tardes de quinta-feira na terapia de casal não ajudaram a resolver. Olhando para trás talvez fosse um pouco mais fácil se tivesse apenas ouvido falar de sua história do primeiro amor através de outros ou dele mesmo ao invés de ter sido uma assídua telespectadora no maldito drama de idas e vindas de Beck e Jade, isso a tornava uma conhecedora de sua capacidade de perseverança para com algo que queria demais.

Agora isso a fazia questionar sobre o quanto ele a queria quando estava desistindo tão rápido dos dois.

Os remendos acabam?

Ou ela que não sabia como fazer boas suturas?

Tantas questões, apenas suposições como respostas.

Tão frustrante.

— Trina me contou que Jade esta voltando. Você sabia?

— Eu ouvi a respeito.

— E o que você acha disso?

— Eu não preciso achar nada disso – com poucos passos o homem estava sentado no encosto do sofá de couro marrom meio retro que ele adorava tanto quanto o violão que ele quase nunca tocara nos últimos tempos – Por que esta fazendo essas perguntas estranhas do nada?

— Deve ser porque não conseguimos vê-la da última vez que veio para a cidade visitar a família – essa era a melhor resposta a se dar para garantir sua dignidade intacta, mas Tori infelizmente estava um pouco disposta a se arriscar por respostas mais plausíveis que as criadas por sua cabeça. Não que esse fosse um bom caminho a escolher – Queria saber se ela nos odeia por termos ficado juntos.

— Ela não é mais a adolescente que se enfurece tão facilmente com as coisas eu imagino, e, isso já faz muito tempo nem estávamos mais namorando quando nós dois começamos.

– E pouco antes dela chegar nós terminamos... que irônico não? – as palavras saltaram de sua boca sem que pudesse conte-las ou a amargura que as carregava.

— Isso é apenas uma coincidência.

— E se não for?

— Está com ciúmes da Jade?

Sim.

— Obvio que não. Eu só estou incomodada com a forma como as coisas estão terminando.

A risada, curta, seca e irônica do homem era tão ofensiva que por um instante Tori se viu tentada a querer jogar a caneca no ex-marido.

— Você procurou um advogado e pediu o divorcio primeiro, eu sugeri a terapia, fizemos concessões e as mudamos quando não deram efeito e no final acabamos assim. Não foi uma coisa que veio só porque uma ex minha disse estar voltando. Ela esta voltando para a cidade, não para a minha vida.

— Mas nada impede que volte.

— Jade já esta casada.

— Mas se ela não estivesse?

Ele não respondeu. O silencio e aquele olhar para o quadro na parede com uma foto do ensaio de casamento dos dois sorrindo era a sua infeliz resposta.

Beck a amara, disso tinha certeza porque suas ações sempre vieram para mostrar garantir que visse e sentisse, mas isso jamais chegou perto da forma como o adolescente Beck amou Jade West.

Sem reservas ou limites.

Olhando para a figura de seu ex-marido Tori só conseguia pensar pela primeira vez que não se tratava de como alguém aceitava o amor que acreditava merecer, mas como o significado para a pessoa a fazia disposta a se doar a ele independente do possível prejuízo posterior.

Não era algo que estava sob seu controle e talvez nem Beck conseguisse controlar também, porque, essa pessoa agora fazia parte de seu passado. Talvez ao contrário dele que a tivera como seu grande amor perdido ela talvez conhecera o que de fato seria o destinado a ela.

Isso a faria ter uma leve dose de pena se fosse no passado em que seu lugar na vida do homem era apenas o posto de melhor amiga. Ninguém em sã consciência quer ser aquele amor que não passa de uma fase na vida de alguém para ensinar-lhe lições valiosas.

O desejo sempre é ser aquele grande que abala todas as estruturas e será eternamente lembrado, mas, mesmo acreditando que conseguiria ser isso na vida de Beck Oliver, Tori finalmente compreendeu que não conseguiu.

Assim como ele não conseguiu ser o dela como ela acreditou que poderia.

Ironicamente, ela aceitou o que acreditou merecer e ser capaz de dar também.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.