Grandes mudanças fizeram com que Robin Locksley se tornasse exatamente o homem que ele era naquele momento. Embora estivesse atento, não fazia ideia que mais uma obra do destino se aproximava, à espreita, pronta para atacar.

Robin era, sem dúvidas, um sobrevivente. Não tinha ideia de como havia conseguido, mas, no fim, sobreviveu a uma guerra fisicamente bem. Tomara algumas balas, é certo, mas nenhuma fora capaz de lhe tirar a vida. Os olhos azuis continuaram abertos a cada uma, embora tenham desejado tantas vezes se fecharem, queriam evitar testemunhar todo o caos, toda a morte, sangue e injustiças.

A grande Guerra mudou o mundo, a história. E mudou Robin também.

Voltara para Londres com as duas pernas, os dois braços e a cabeça no lugar. Ao menos fisicamente. Sentia que deveria ser grato, mas nada do que encontrou quando a guerra acabou poderia se chamar de lar. Ele não tinha mais família, pouquíssimos amigos. Por onde andava, podia enxergar o alívio e a comemoração por finalmente saberem que, provavelmente, um período de paz se aproximava. Mas não conseguia compartilhar dos mesmos pensamentos, então ele partiu. Vendeu tudo que podia, comprou uma passagem para o outro lado do oceano e se estabeleceu na grande e glamourosa Los Angeles.

Havia uma sociedade ali repleta de riquezas. Algumas pessoas tinham muito mais do que deviam, do que precisavam. E, amargurado por todos os terríveis acontecimentos, Robin decidiu agir.

Ele se tornou um mestre em conquistar amizades nos clubes mais chiques e sofisticados. Havia algo muito esquisito na forma como a maioria dos homens só necessitavam de alguém para ouvi-los desdenhar sobre suas mulheres e suas indecisões entre quais das propriedades da família iriam levar as amantes. Robin se sentia enojado, mas aguentava. Porque a missão dele era muito maior.

Conquistava as suas confianças, se tornava quase um amigo, e, sem chamar um pingo de atenção, roubava-os.

Isso mesmo.

De um valente e corajoso soldado, ele se tornara um ladrão.Tirava dos ricos para dar a ele mesmo.

E, durante muitas semanas, frequentou os mais diversos clubes da cidade. Conviveu com pessoas mesquinhas, vazias e falsas. E achou que nada poderia o surpreender ou o tirar de seu foco.

Até que ele a viu.

Completamente deslumbrante. O corpo adornado por uma tecido vermelho, que marcava cada curva. Os cabelos, ondulados, caiam sobre os ombros e faziam contraste com a pele clara. Os lábios pintados em um vermelho marcavam um sorriso de dentes perfeitos e Robin teve que certificar-se que ainda estava respirando.

Ela era a mulher mais bonita de todo o mundo, e pelo jeito como se portava, sabia disso.

Rita Castillo.

Robin veio a descobrir o nome mais tarde naquela noite. Por incrível que parecesse, ele não conseguiu traçar alvos, porque seus olhos azuis não desgrudaram em nenhum momento da figura da mulher. Ele fantasiou qual seria o som da voz dela, o sabor de seus lábios e qual seria o seu cheiro. Pela primeira vez desde que chegara na cidade, não havia conseguido roubar nada.

Bastou que, no meio da noite, os olhos se cruzassem por um segundo, e Robin sabia que estava perdido e que não se pertencia mais.

Bastou um olhar.

Na época, Robin já tinha certeza que Rita causava aquilo em todos os homens. E ele desejou com todo o coração, como há anos não desejava nada, que ela apenas lhe desse uma chance.

O destino, pela primeira vez, pareceu conspirar a seu favor, e, com uma taça de champanhe nas mãos, a deslumbrante Sra. Castillo seguiu em sua direção, surpresa por nunca ter escutado falar dele.

“Nós… Nós já nos conhecemos antes?” perguntou, os castanhos grudados nas íris azuis, enquanto a taça de champanhe brincava em seus lábios carnudos. Robin se permitiu sorrir.

“Eu duvido que esqueceria se tivesse conhecido você.” ele respondeu, vendo algo nos olhos dela brilhar.

Semanas depois, em uma noite quente e pacata, ambos estavam no apartamento de Robin, corpos entrelaçados e suando, os gemidos dela escoando por todo o lugar.

Robin lembra de que nunca se sentira tão vivo.

Se descobriu apaixonado por uma mulher poderosa, rica, que se mostrara tantas vezes tão mesquinha e cruel que o antigo Robin teria roubado-lhe diversas peças de jóias apenas para vê-la sofrer. Mas aquele homem havia ido embora no momento em que seu olhar azul cruzara com os castanhos dela. E ele viu. Viu que tinha mais, que tinha algo naquela constelação castanha que ela não deixava transparecer. Viu que tinha algo que ela escondia.

Os encontros semanais se tornaram frequentes, até que um estava tão viciado no outro que se ver apenas uma vez na semana já não bastava mais. Robin achou que saciando seu desejo dela, conseguiria retomar as rédeas de sua vida. Mas a cada vez que a via, que seus corpos estavam juntos, ele sabia que não havia saída.

Estava perdidamente apaixonado.

E, por mais improvável que fosse, ela seguiu o mesmo caminho.

Rita era uma caixinha de surpresas. Robin sabia que tinha conquistado a sua confiança quando ela começou a se abrir, compartilhar com ele como se sentia a respeito do casamento e do marido. De como mal conseguia esperar para vê-lo morto e poder, enfim, colocar a mão na sua herança. E embora ele conseguisse enxergar toda a determinação dela para isso, tinha mais. Tinha muito mais, e Robin queria descobrir, porque queria ajudá-la.

Queria, ele mesmo, se livrar de Carlo Castillo, apenas para ver ela feliz.

Percebeu ali, depois de tantas tardes e noites compartilhadas, que faria de tudo por ela. Desde que a guerra terminara, Robin não conseguia mais ter um propósito de vida. Mas Rita mudou isso. Se viu tão encantado com cada sorriso dela, com a forma como os lábios se esticavam e os olhos castanhos brilhavam quando algo a fazia rir. Percebeu que não conseguiria mais viver sem poder ouvir ela falar, suspirar, gemer seu nome. Adorava como ela se entregava aos seus braços. Como tentavam sempre estender um jogo de sedução, que nunca durava muito, porque eles não resistiam um ao outro.

Robin sabia que Rita se sentia da mesma forma, porém havia algo… Alguma parte dela que não conseguia alcançar. E jamais imaginou que o que descobriria o chocaria tanto.

Ele lembra de todos os detalhes daquela noite. Havia acabado de chegar do clube, uma pulseira de diamantes tomara espaço em seu armário. Apesar de estar apaixonado, não podia deixar de lado sua forma de se sustentar, então continuava com seus planos, às vezes sob os olhares muito atentos de Rita, que tinha que segurar o ciúmes a cada vez que o via flertar com uma mulher solteira. Robin amava causar ciúmes. E não havia sido diferente naquela noite.

Esperou, esperou e esperou que ela aparecesse, confiante de que teriam uma noite magnífica. Mal podia esperar. No entanto, Rita demorou tanto, que ele achou que ela não viria. Chegou a levar um susto quando, no meio da madrugada, batidas o acordaram de um cochilo e, abrindo a porta, encontrou seu amor em um estado deplorável. O rosto estava manchado pela maquiagem e os olhos vermelhos demonstravam que ela chorara. Robin se assustou, vendo que o queixo tremia e os olhos estavam tão perdidos e amedrontados.

Naquela noite, ela lhe contou tudo. Lhe contou de onde veio, do que fizera para chegar até ali. Lhe contou sobre toda a pobreza e abusos que sofreu por parte do ex-marido e de Carlo. Finalmente Robin entendeu a preocupação genuína dela com a empregada Isabel e tudo o que significavam uma para a outra. E, principalmente, ela lhe contou seu verdadeiro nome. Tão adorável e tão doce saindo dos lábios que ele tanto amava.

Regina Mills.

Ela se chamava Regina.

E então, com toda a força que ainda tinha, pediu que ele fizesse amor com ela. Não com a poderosa Rita Castillo, mas com a Regina. Aqueles olhos castanhos brilhavam tanto e, mesmo hoje, meses depois, Robin ainda podia ouvir a voz dela.

Eles fizeram amor, algo que ambos nunca haviam feito na vida. Robin beijou e venerou cada parte do corpo dela, dizendo por vezes o quanto a amava, o quão linda e inteligente ela era, o quanto ela valia a pena. Ele secou lágrimas dos olhos dela quando desabaram na cama, saciados, completos. Porque era dessa forma que se sentiam. Beijou cada lágrima que ela derramou e, ao questioná-la o motivo delas, o mais lindo sorriso se abriu.

"Você amou a Regina, ladrão. Antes mesmo de saber, você já sentia ela aqui dentro de mim. Eu te amo muito por isso."

Depois disso, sabiam que não poderiam mais viver um longe do outro. Entretanto, Regina não queria abrir mão da fortuna de Carlo, estava convencida de que lutara muito para aquilo e não desistiria antes de finalmente estar rica. Prometeu que, assim que estivesse com o dinheiro, ela fugiria com ele e Isabel, pois eram tudo o que mais importava para ela.

Relutante, mas sem querer questioná-la, Robin observava Rita Castillo em frente a sociedade, com seu poder e seu charme, sentindo-se impotente por ter que assistir a mulher que amava ficar escondida debaixo daquela máscara.

Regina se mostrara uma mulher ainda mais forte e resiliente. Tinha muito amor naquele coração para dar. Robin se sentia triste sempre que chegava à conclusão de que ela tinha que se esconder atrás de uma máscara para não ser mais ferida. Ele a amava com todo o seu ser, e se convenceu de que a faria muito feliz, custe o que custar.

Mas ambos não contavam com a aparição de Alma Filcott.

Por essa razão ele estava ali, nas sombras dos fundos de um clube, observando enquanto sua amada Regina andava de um lado para o outro, nervosa. Vez ou outra ela olhava na direção dele, buscando segurança, mas Robin duvidava que conseguiria passar aquilo pra ela naquele momento. Se o que Grace falou para Regina naquele dia mais cedo fosse verdade, Alma teria matado Carlo e incriminado Regina, fazendo a mulher ficar presa por semanas.

E foram as piores semanas da vida dele, sabendo que o amor de sua vida, sua doce Regina, estava trancafiada em uma cadeia fria. Todos haviam virado as costas para ela, e, no dia em que foi visitá-la pela primeira vez, achou que não conseguiria largar. Regina se grudou em seu peito e chorou ao afirmar que não havia feito aquilo. Não porque não quisesse, mas porque não seria tão burra de fazer daquela forma, deixando a arma do crime em sua bolsa. Implorou para que ele acreditasse nela, mas não seria necessário. Robin a conhecia com toda sua alma e, beijando os fios castanhos, prometeu que acharia uma forma de tirá-la dali.

Isabel, prima de Regina, foi encontrada morta semanas depois. Suicídio. Com ela havia um cartão postal, onde confessava ser a assassina de Carlo. Robin não conseguiu engolir aquilo, e tinha certeza que seu coração havia partido quando Regina se agarrou a ele e chorou a morte da única família de sangue que ela ainda tinha.

Sem terem motivos para continuarem na cidade, Robin a convenceu a ir embora. Levaria sua querida garota para onde ela quisesse. Qualquer lugar do mundo, apenas para poder fazer ela feliz, longe de qualquer passado que pudesse a assombrar. Carolina do Sul, foi o pedido dela. Então ele vendeu todas as jóias e pertences que já havia conseguido roubar em toda sua estadia e comprara um carro. Talvez tudo enfim estivesse caminhando para a direção correta.

Até Regina chegar transtornada da rua naquele dia, depois que encontrou sua amiga Grace. Fora por acaso, quase como destino. Grace abriu os olhos deles em relação a Alma e, assim como ele viu acontecer com Regina, tudo fez sentido. Aquela mulherzinha desprezível e psicopata havia incriminado a sua mulher.

Por causa de um clube!

Robin até mesmo conseguia sentir o sangue borbulhar de raiva, ainda mais quando a porta dos fundos abriu e Alma apareceu, determinada, com a cabeça erguida.

Ele observou atento enquanto as mulheres trocaram palavras e xingamentos, e com terror, viu perfeitamente o momento em que as coisas começaram a sair do controle.

Ele só havia concordado com aquela ida até ali porque Regina implorou. Tinha que saber da verdade antes de ir embora, precisava entender o que passava na cabeça de Alma. Mesmo sabendo que deveria ter dito não, Robin concordou, apenas com a condição de poder ir junto.

O carro esperava por eles na rua do clube, seus pertences no porta malas. Tudo que ele queria era pegar Regina e sair dali o mais rápido possível.

Mas então, aconteceu. Algo havia tirado a sua garota completamente do sério e, antes que ele tivesse chance de pensar, estava saindo das sombras e correndo até ela.

No entanto, não chegara a tempo.

Alma havia atingido Regina e a mulher buscou a figura de Robin desesperada, as mãos indo imediatamente ao encontro do ferimento.

O mundo de Robin parou, e tudo que ele conseguiu fazer foi segurá-la, antes que ela desabasse no chão. Alma se assustou com a presença dele, mas tudo que ele conseguiu fazer foi segurar Regina nos braços, as mãos tremendo e indo de encontro às dela no ferimento.

"Tudo bem, querida, eu peguei você." ele sussurrou, desesperado.

"Robin… ela… ela matou a Isabel." A mulher chorou, Robin ficando cada vez mais desesperado com o sangue que saía dela. Tirou o casaco que usava rapidamente e gritou por ajuda, sem conseguir enxergar para onde Alma havia corrido. Ele levou o casaco em tentativa de estancar o sangramento, enquanto Regina erguia as mãos ensanguentadas e segurava seu rosto.

"Vai ficar tudo bem, meu amor. Só preciso que fique comigo, ok? Aguenta firme, Regina." ele pediu, desesperado. Sabia que a voz estava embargada, mas não conseguia controlar. Sua vida estava em seus braços, sangrando, e ele não sabia o que fazer. Não estava preparado para aquilo.

"Na… não me deixa sozinha… eu não achei que ela fosse… ela matou Isabel… ela…" Regina tentou falar, mas o pranto também já a acometia. Robin beijou a testa dela e sussurrou que iria ficar tudo bem.

"Você nunca vai estar sozinha, tem a mim, huh? Pra sempre. Eu te amo, querida." Falou, respirando fundo e colocando as mãos dela sobre o casaco no local do ferimento. "Preciso que segure isso aqui, ok? Eu vou erguer você e vamos procurar ajuda. Não feche os olhos, Regina, está me ouvindo? Eu preciso que converse comigo." Pediu desesperado, vendo que ela perdia as forças. Mesmo assim, as delicadas mãos, que antes ele passava horas beijando apenas porque o podia fazer, apertaram o casaco, segurando o mais forte que conseguia. Com a maior delicadeza que sua pressa permitiu, Robin saiu do beco escuro, a rua lotada de pessoas, as quais ele gritou por ajuda. Sabia que o socorro não chegaria a tempo, e isso era o que mais o assustava.

"E...eu...só… queria... te faz… fazer feliz." Ouviu ela sussurrar, fraca, enquanto ele seguia até o carro que antes lhes prometia um futuro tão feliz. "Eu... te... amo…" os olhos se encontraram, e Robin se sentiu desesperado como nunca em sua vida.

"Aguenta firme, não feche os olhos, ok? Não feche os olhos, está me ouvindo, Regina?" Ele tentou, mas, embora a mulher lutasse com todas as suas forças, os castanhos começaram a perder o foco. A cabeça tombou no ombro de Robin e ele desistiu de segurar o choro.

Ele havia enfrentado a guerra de frente. Mortes e destruição. Havia passado por tudo, mas nada se comparava a ter o amor de sua vida morrendo em seus braços.

Ele fora capaz de superar os rastros que a guerra deixara nele, mas, se perdesse Regina, ele morreria.

***

Quando mais uma onda quebrou, Robin fechou os olhos e suspirou. Os dias estavam ficando mais quentes, e ele sabia que um longo verão viria pela frente. Logo aquela praia tão tranquila estaria cheia de veranistas e ele não sabia se gostava muito daquilo. Reclamou baixinho e semicerrou os olhos, observando enquanto alguns pássaros voavam no horizonte.

Foi inevitável não sorrir quando ouviu passos contra a areia. Observou enquanto a mulher se sentava entre suas pernas, sem falar uma palavra sequer. Robin adorava que era privilegiado o bastante para ter essa visão de Regina. Descabelada, sonolenta, adornada apenas de uma camisola lilás, o rosto sem um pingo de maquiagem. Ela sempre seria a mulher mais bonita do mundo para ele.

"Eu detesto quando acordo e você não está na cama." ela reclamou, Robin sendo obrigado a enterrar o rosto nos cabelos castanhos para abafar a risada. O humor dela também era admirável.

"Você tem um jeito carinhoso de dizer bom dia." Ele rebateu, entrelaçando uma das mãos dela.

"Bom dia, querido. Estamos com fome." levou a mão dele até a sua barriga, ainda pequena, fazendo o loiro abrir um sorriso ainda maior.

Havia mais esse detalhe, que fazia com que ele a amasse infinitamente mais.

"É claro que vocês estão." Deixou um beijo na bochecha dela, já imaginando o que poderia inventar para o café. Algo que não a deixasse extremamente enjoada, o que vinha acontecendo com frequência.

Regina virou-se em seus braços, um sorriso nos lábios. O sol, batendo a suas costas, deixava-a ainda mais deslumbrante. Robin lembrou-se da primeira vez que a viu, a forma como a vida dele nunca mais foi a mesma.

A maior diferença era que, agora, o olhar castanho tinha uma dose de brilho a mais. E Robin sabia muito bem o porquê. Regina agora havia encontrado o amor de todas as formas possíveis em sua vida. Ela se amava, ela era amada e ela dava amor. E ter a noção de que era um dos sortudos para receber esse sentimento dela sempre o fazia perder o ar.

Nem todo mundo tinha a chance de encontrar o amor de sua vida. Mas Robin gostava de acreditar que ele era uma dessas pessoas, porque a sua vida toda era aquela mulher, sentada em seu colo, os cabelos voando ao vento, sorrindo como se ele fosse um presente divino.

Regina mudou a vida dele, assim como ele fez com ela.

E ele nunca, jamais, a deixaria escapar.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.