It had to be you

Capítulo Único


"Nagareteita

Kumo terashite

Nijinde iku sora

Sakebu youni omoi egaite

Kaze no koe wo kiiteita

“Tinha que ser você... Haru...”.

Tais palavras ecoavam fortemente em seus pensamentos, tomando-os, envolvendo-os em um confuso nó de angústias, incertezas, suposições... Por quê? Por que ele teria dito aquilo? Qual era o real significado daquela sequência de palavras que não havia meio de desvendar? Uma frase simples a qualquer um que a ouvisse, mas que, para Haruka Nanase, era o mais doloroso dos mistérios.

— Por que... Makoto? — Os lábios secos pronunciaram para o quarto escuro e solitário. Sua cabeça recostada ao travesseiro girava e a única coisa que era capaz de formular era uma única indagação: por quê.

Tudo teve início na fatídica noite do afogamento de Rei. Naquela noite, muitas coisas aparentemente esquecidas viriam à tona sem que fosse possível evitar. Muito mais coisas do que gostaria Haruka. Ou mesmo do que pudesse prever.

Quando os traumas de Makoto foram levados à pequena roda de amigos no prédio abandonado após o salvamento, Haruka já sabia que algo além não estava certo. Tentou impedir que Nagisa destapasse a ferida, sendo, porém, impedido pelo próprio Makoto, que não se importou em enfrentar seu primeiro tormento particular naquela noite, revelando aos amigos, Nagisa e o próprio Rei, o motivo de não ter sido capaz de salvar Ryugazaki.

Era algo de que Haruka já estava a par. Vivera o pesadelo de Makoto, mas mais como um espectador, talvez. Não era como se fosse capaz de saber exatamente a profundidade da dor e do medo que se alojaram no jovem coração de Tachibana. Tudo o que podia saber era da dor que despertara no seu próprio ao ver o olhar verde e límpido como o mar se tornar escuro, coberto de sofrimento.

E aquilo não era mais a única coisa na qual Haruka tinha que pensar. Agora havia mais uma angústia com a qual ocupar o coração. Tinha que ser ele...

Na mesma noite do incidente foi que Haruka descobriu o segundo tormento de Makoto. Um que, até então, Tachibana carregava sozinho e que pôde sentir no peso de suas palavras ao libertá-lo o quanto lhe machucava tal modo de carregar. Que Haruka tinha que ser aquele a nadar a seu lado. A fazer o nado para ele ter sentido. Tinha que ser Haruka a dar a ele o que mais queria. Que era Haruka o que ele mais queria... Mas... Como?

Conhecia Makoto há eras, tanto tempo que sequer parava para pensar nisso. Era tão natural quanto respirar ter o outro a seu lado, falando trivialidades, ou mesmo não falando, já que os anos lhes deram a habilidade de ler um ao outro sem necessidade de palavras. E talvez fosse por isso que palavras ditas por Makoto, agora confundissem Haruka.

Tudo o que sabia era que ele estava sempre ali e sempre estaria. E agora sabia de algo a mais: Makoto precisava de si. Cabia a Haruka agora saber para quê. Se haviam nós em sua relação com Makoto, sentia-se no dever de desfazê-los o quanto antes. Por Makoto, por si, pelo time. Pois era para isso que Haruka vivia.

Enquanto pensava em tais acontecimentos o sono se fazia impossível. Não sabia que horas deveriam ser, mas também não faria diferença na maneira em como passaria sua noite: em claro. Por que tudo que já era difícil, de repente, tinha que se tornar mais difícil ainda?

Inquieto, ergueu o tronco nu da cama e colocou para fora dela as pernas. Olhou ao redor o quarto imerso na penumbra e se levantou, caminhando cuidadosamente pelo cômodo como se lhe fosse desconhecido. Era engraçado como o externo refletia seu estado interno. No escuro, sem saber por onde seguir.

Foi assim que se livrou de uma vez da escuridão, de encontro àquilo que continha a resposta para tudo. Sempre conteve. Correu pela orla, até retirar a roupa mal colocada e mergulhar no azul do mar prateado pela lua. Respirou fundo. Era como estar dentro de outro mundo. Um mundo que era apenas seu. Um mundo onde tudo se tornava mais claro. Onde, talvez, seu enigma obtivesse uma solução.

Correu até a água, jogando-se em seus braços como um recém-chegado à casa após um longo tempo longe. A lua era sua única companhia e a única luz que possuía para enxergar ao redor.

Where is the blue that we gotta fly?

Kagayakeru ashita he

Mitome nagara

Tagai no sora wo

Wake atta

“Tinha que ser você... Tinha que ser você, Haru! TINHA QUE SER VOCÊ, HARU!”

O som de ar entrando pelos pulmões se fez ouvir quando colocou a cabeça para fora da água calma da noite, ao mesmo tempo em que as mexas negras e grossas de água chicoteavam a parte de trás de sua cabeça.

— Makoto! — Seus lábios exclamaram o nome, sem muito bem entender que quem gritava aquilo era seu coração. Quando olhou para a orla novamente, pôde discernir uma figura grande de cabelos repicados, ali parada. Um jorro de sangue passou por seu peito mais rápido do que era capaz de sustentar, enquanto o corpo se virava para fazer o caminho de volta.

— Makoto! Makoto! — Desesperava enquanto a água batia em seus lábios fazendo o nome de Makoto sair embrulhado. Depois do que pareceram horas nadando sem sair do lugar, afogando-se em ansiedade por alcançar aquela pessoa, deparou-se com uma mão grande e masculina aberta diante de seus olhos.

— Hai... Haru? — As duas pequenas e gentis porções de mar lhe sorriam gentis à sua espera. E naquele momento, Haruka descobriu algo novo: aquele mar era onde sempre encontraria respostas. O mar dentro dos olhos de Makoto.

— Makoto! Makoto! — Caminhou de encontro às ondas que quebravam em suas pernas, até alcançar o toque do corpo largo e protetor do que sempre seria seu farol num mar revolto de descobertas e sentimentos confusos. Os troncos bateram quando se abraçaram, caindo pela areia enquanto sentia as mãos fortes de Tachibana apertando sua carne de maneira possessiva e também amorosa.

— O que estava fazendo aqui? — Haruka encarou Makoto, um tanto quanto confuso.

— Eh? Eu venho sempre aqui à noite... Para pensar... Para lembrar de você... — Makoto respondeu, seus orbes cintilando na direção dos de Haruka.

— P-Por que está me olhando assim? — Uma súbita reconexão com a realidade se abateu sobre Haruka, que saiu de cima do amigo, sentando-se na areia ainda a seu lado, um tanto quanto desconcertado.

— Etto... Eu gosto dos seus olhos, Haru... São como... São como o meu mar particular... Talvez por isso eu só consiga nadar ao seu lado... Por que você me faz lembrar que no mar não há nada a temer... — O garoto terminou com um sorriso, ao que tinha os lábios atacados por Haruka em um beijo faminto. Se aquilo não era amor, Haruka nunca saberia o que era!

Where is the light that we want to dive?

Nakushiteta mirai he

Tsunagu te ga

Hanareta toshitemo

The place where we're firmly tied

Enquanto as mãos percorriam os cabelos úmidos, os corpos firmes e envolvidos em areia fina e as línguas se tocavam, o enigma na mente de Haruka se dissolvia: tinha que ser você, Haru... Tinha que ser você a minha pessoa para amar.

Seu objetivo estava cumprido. Makoto envolvia a língua na sua, ambas brigando para desvendar a cavidade oral do outro, sua reposta não era outra. Descobriu o tormento de Makoto: carregar seu amor em silêncio. Era por aquilo que vivia. Logo, era por Makoto que vivia.

— Makoto... — Separou-se e busca de ar, tendo dois fios de saliva a prender seus lábios inferiores aos de Makoto. — Eu descobri... Eu descobri por que tem que ser eu.

— Finalmente, Haru... Parece que o meu desejo pro mar todas as noites se realizou. Eu pedi a ele pra te contar... — Makoto sussurrou contra os lábios de Nanase que o encarava, completamente em órbita, hiperventilando.

— Eu ouvi o mar gritar pra mim... Agora eu sei. “

“Então foi o mar que me fez ouvir sua voz em minha cabeça...” — Pensou Haruka. — Tinha que ser você pra mim, Makoto... — disse, colando novamente os lábios com Tachibana, apertando os ombros fortes contra suas mãos.

E desde então, a cada vez que seus óculos caíam e seu corpo se curvava frente à água, Makoto sabia que não havia mais nada a temer. O mar estava nos olhos de Haru e por isso nunca lhe faria mal.

E Haruka agora sabia: tinha que ser Makoto a sua pessoa para amar.

Where is the blue that we gotta fly?

Kagayakeru ashita he

Tsuyoi ishi de Hiraku koto sae

Dekiro darou

Where is the light that we want to dive?

Toozaketa mirai wo

Hiki yosete

Te ni shiteru ima wa

The place where we really shine

—x-

— Arigatou na! — Exclamava a voz de Suzuki Tatsuhisa ao fechar o livreto com suas falas em mais uma gravação de Free!

— Arigatou Gozamaishitta! — Quem falava era Shimazaki Nobunaga, fechando também seu livreto de falas.

— Ne... Eu sempre senti que as coisas chegariam a esse ponto entre eles. — Tatsuhisa riu. — Hey, por que não comemoramos nosso primeiro BL juntos, se é que podemos dizer assim? — Sugeriu a Shimazaki em meio a um riso escancarado, este que lhe sorria, arrumando a franja.

— H-Hai! O que tem em mente para comemorar, senpai?! — Perguntou com um sorriso iluminando o rosto e os olhos escuros.

— Hm... Por que não pegamos uma praia? Ver o que a gente descobre na água? — Piscou sorrindo de canto com os dentes meigamente desalinhados à mostra. — Te espero lá fora. — Passou pelo amigo, que ficara para trás, atônito.

— Hai... Por que tinha que ser você... Tatsuhisa-san...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.