It Will Rain

Capítulo 31


- Lembra que quando me contou da gravidez, você disse que não tinha tido um pai? Eu sempre fiquei confuso com relação a isso. O que aconteceu com o seu pai? – Ele me olhava nos olhos. Abaixei a cabeça mexendo na caneca, ele me pegou de surpresa perguntando sobre o meu pai. – Me desculpa Ash.

- Não precisa se desculpar. – Voltei a encará-lo, ele pegou minha mão. – É só que essa história ainda mexe bastante comigo.

- Você quer falar sobre isso?

- Acho que vai ser bom descarregar, já tem algum tempo que ando pensando nisso.

- Eu to aqui meu amor, pro que precisar.

- Obrigada. É por isso que eu te amo. – Ele beijou a minha mão e sorriu. Percebi que o Geronimo tinha dormido no meu colo. – Bom, meus pais se conheceram quando eram adolescentes, começaram a namorar e a minha mãe acabou engravidando. Ela resolveu se afastar dele por medo. Meu pai era alcoólatra e fumante. Antes dela descobrir que estava grávida eles terminaram, o que sempre acontecia só que eles sempre acabavam voltando, mas dessa vez era diferente. – Eu achava tão bonitinha a cara que o Bru fazia quando estava prestando atenção em alguma coisa *-*. – Ela se manteve distante, passou um tempo na casa da avó, mais precisamente a gestação inteira, e então eu nasci. Ela me descrevia como uma bonequinha, bem branquinha, cabelos pretos e olhos azuis bem escuros. Demorou um pouco, mas ela decidiu que o meu pai devia me conhecer, então ela escolheu um dia em que ele estava sóbrio e o apresentou a sua filha, uma filha que ele nem imaginava que tinha.

“ Ela achava que ele iria surtar, não aceitar a situação, brigar com ela e se afundar no álcool. Mas não, ele ficou feliz. Ela me contou que ele costumava me chamar de bonequinha de porcelana. – Senti lágrimas se formando. – Meu pai parou de beber e de fumar, por mim. Ele e a minha mãe se entenderam e até começaram a pensar em casamento, enfim ela podia ter a família perfeita com a qual sempre sonhou. Mas a vida muda os caminhos a serem seguidos.”

“Quando eu tinha 6 meses fiquei muito doente, fui internada e eu não estaria aqui hoje, te contando isso, por muito pouco. – Chorei, essa história de que eu quase morri ainda mexia bastante comigo. O Bru apertou minha mão e vi nos olhos dele que aquilo o tinha machucado. – E esse muito pouco quer dizer 15 minutos.”

“Passei 3 dias internada, minha mãe ficou comigo o tempo todo e meus avós também. Mas o meu pai, ele não soube encarar a situação, voltou a beber e a fumar, bem mais do que antes e as coisas não acabaram bem. No fim do 3º dia no hospital eu tive alta e voltei pra casa, mas o meu pai não. Depois de sair pra beber mais cedo naquele dia ele não voltou mais. Um amigo que estava com ele contou pra minha mãe que ele só se debruçou na mesa e pronto, simples como cair no sono, sem dor, sem sofrimento. Ele simplesmente dormiu pra nunca mais acordar. – Lagrimas caiam dos meus olhos, uma atrás da outra.”

“Eu tive um pai, um homem maravilhoso que me amava e amava a minha mãe também. Pena que eu não me lembre muito bem dele, apesar da minha mãe não querer que a memória dele se perdesse. Ele cometeu muitos erros, mas somos humanos, todos nós erramos. – Vi o Bruno enxugar uma lagrima. – Sinto falta dele. Bom, essa é a história dos meus pais, não é a mais romântica ou mais bonita, mas é verdadeira, e eu gosto dela. – Limpei as lagrimas e sorri sem graça. Bruno se levantou, contornou o balcão e me abraçou de lado.”

- Eu sinto muito Ash, muito mesmo. – Ele disse com o rosto no topo da minha cabeça. – Eu agradeço por você ter ficado bem há muito tempo atrás, não sei o que seria de mim sem você. Depois que te conheci não consigo mais ficar sem você. – Ele me olhava nos olhos enquanto dizia essa ultima frase. Meus olhos estavam marejados de novo. Ele me beijou. – 'Cause there'll be no sunlight If I lose you, baby There'll be no clear skies If I lose you, baby Just like the clouds, my eyes will do the same If you walk away, Everyday, it will rain, rain, rain...
– Cantou no meu ouvido, me fazendo arrepiar. Que poder é esse que ele tinha sobre mim?