Após alguns segundos, já sem fôlego, me separei de Brendon. Ele me olhou e riu baixinho, e em seguida acariciou meu rosto. Peguei sua mão e passei-a se leve por meu rosto, colocando minha cabeça sobre seu ombro em seguida.

Spencer’s POV

- Pode deixar seu casaco aí

- Obrigado. Ei, me desculpe pelo que eu vou te pedir para explicar, mas o que rola exatamente entre o Brendon e o Ryan?

- Se você quiser que eu conte sobre eles, vai ter que ouvir um pouco de tudo.

- Estou disposto a escutar. Pode começar

- Bem, tudo começou quando o Brent, nosso ex-baixista, conheceu o Brendon na aula de música e levou ele para se candidatar a guitarrista da banda. No dia no qual ele chegou, já percebemos uma troca de olhares entre o Ryan e o Brendon. Nessa época, o pai do Ry era vivo ainda e batia bastante nele. O Brendon chegou até a ameaçar a chamar a polícia se o Ryan não procurasse ajuda. Até aí tudo bem, mas um dia, o Ryan estava na casa do Brendon e eles acabaram de beijando e nunca mais tocaram no assunto. Um ano se passou e já havíamos gravado o CD. O pai do Ryan estava uma pessoa muito diferente. Ele estava querido. Brendon e Ryan resolveram conversar e depois de alguns dias, acabaram como namorados. No dia seguinte ao que eles começaram a namorar, os dois foram passear e encontraram o pai do Ryan atravessando a rua. O Ry chamou ele, mas ele não viu que havia um carro passando e foi atropelado. E o Ryan viu tudo. A partir daí as coisas começaram a mudar, incluindo várias fugas do Ryan para o cemitério e eu e o Brendon correndo atrás dele. O Brenny queria ajudar ele, mas ele não percebeu isso e eles acabaram terminando. São amigos agora, mas espero que eles voltem logo. Acho que apesar de tudo, o Ryan ainda não conseguiu superar a morte do pai. Sabe, eu admiro muito ele, porque ele sempre aceitou tudo na boa. ORyan nunca abriu a boca pra reclamar da vida, ele nunca chorou em excesso quando várias vezes apareceu sangrando aqui na minha casa. Acho que o pai dele não merecia esse silêncio do Ryan. Ele não merecia o sofrimento do Ryan após a morte dele. Eu nunca gostei dele. Ninguém da minha família gostou. Mas o Ryan amava muito o pai, eu sei disso. Não duvide que quando ele está sozinho, chora mais que o suficiente para encher um rio. Eu odeio ver ele assim. O pai dele não merece nem metade desse amor.

- Nossa, coitado do Ryan. Eu... fiquei sem palavras

- Eu acabo ficando muito triste com isso. Ele não merece sofrer desse jeito.

- Bem, a melhor forma de ajudar é nunca, jamais abandonar ele. Depois do que você me contou, acho que ele não suportaria outra perda.

- Concordo. Tenho muito medo de que algo aconteça a ele. O Ryan pode até... tentar se matar – Tremi

- Vamos trocar de assunto? Daqui a pouco nós dois vamos estar chorando

- Obrigado por me contar

- Não, Jon, eu é que agradeço por você me ouvir dizer tudo o que eu penso. Eu já não aguentava mais guardar isso pra mim.

- Não precisa agradecer. Sabe, você fala do Ryan como se ele fosse seu irmão

- Para mim, ele é. Somos bastante próximos, eu o conheço desde minha infância. Eu não sei o que eu faria se algo acontecesse a ele.

- Entendo. Isso é muito bonito da sua parte, Spencer.

Sorri - E aí, o que você quer fazer?

- Dormir, eu estou prestes a cair de sono. Tchau, Spencer

- Não!

- O que foi?

- Durma aqui

- Tem certeza? Eu não quero incomodar.

- Que nada! É um prazer ter você aqui comigo

- Ok, mas minhas roupas estão no meu apartamento

- Tudo bem, eu vou com você para buscá-las

- Está bem, obrigado, Spenny.

Fomos até o carro e Jon foi me dizendo o caminho.

Chegando lá, Jon foi até seu quarto pegar suas roupas.

- Apartamento legal - Eu disse

- Obrigado. Vamos?

- Já arrumou tudo?

- Sim. São só uma calça, uma camiseta e uma cueca, Spencer.

- É, tudo bem, vamos.

Jon pegou a chave e trancou a porta. Saímos do prédio e entramos no carro.

- E então, o que faremos?

- Hm, eu não sei.

Spencer’s POV Off

Algumas semanas haviam se passado. Cheguei em casa e não encontrei ninguém. Achei estranho, pois naquela hora, minha mãe sempre estava em casa. Encontrei um bilhete no qual dizia:

“Ryan, eu sinto muito ter mentido para você todos esses meses. Eu nunca estive bem, na verdade. Eu me esforçava ao máximo para parecer feliz, e acho que consegui. Mas eu não posso mais mentir. Em primeiro lugar, quero que saiba que eu amo você muito, muito, muito. E quero agradecer a tudo que você já fez por mim. E em segundo, eu estou sumindo da sua vida. Não adianta me procurar, nem chamar a polícia. Não procure ajuda, faça isso por mim, se você me ama realmente. Obrigada por me proporcionar felicidade na vida. Infelizmente, essa felicidade acabou já faz muito tempo. Mas não por culpa sua. Espero que entenda. Te amo.

Com amor, sua mãe.”

Eu não estava acreditando naquilo. Minha mãe estava me deixando. Eu não sabia o que ela ia fazer.

Não sabia se, no momento que eu estava lendo a carta, ela estava viva. Ela podia ter se matado. Ela podia estar em qualquer lugar do mundo.

Por mais que eu quisesse fazer algo, seria impossível. A única coisa que eu consegui fazer - e que eu fazia muito bem - foi chorar e correr para a casa de Brendon.

Ele atendeu a porta e, rapidamente, abracei-o.

- O que houve?

Eu tentava falar, mas não conseguia. Grace chegou rapidamente chegou na sala e fez sinal para sentarmos no sofá.

- Querido, o que aconteceu?

- Minha mãe...

- O que tem ela?

- Ela sumiu.

- Como assim sumiu?

- Ela deixou uma carta dizendo que estava sumindo da minha vida

- Vamos chamar a polícia, Ry, se acalme

- Não.

- Como assim “não”?

- Ela disse para eu não procurar ajuda se eu amasse ela de verdade. Fora isso, ela pode estar em qualquer lugar do mundo. Eu nem ao menos sei se ela está viva agora...

- Ei, Ry, se acalme, vai ficar tudo bem. Eu prometo.

- Como eu vou me acalmar? Primeiro meu pai e agora minha mãe.

- Você sempre nos terá, Ryan. E a família do Spencer também - Grace me consolou - Sabe que sempre pode nos procurar quando precisar.

Eu quis agradecer, mas nada saiu da minha boca.

Naquela noite, eu dormi na casa de Brendon.

Alguns dias depois...

- Ei, Ry, que quadro é esse?

- Nada

- Pode me mostrar

- Não é nada

- Eu não vou quebrar ou fazer algo do tipo

- Eu não quero mostrar, Brendon, por favor, respeite isso.

- Ok. Onde você vai passar o ano novo?

- Ainda não sei

- Podemos passar em Copacabana

- Ah, claro – Ri

- Temos que planejar tudo logo. Acho que podíamos passar em um lugar bem bonito, que dê para ver tudo. Com nossas famílias e amigos.

Abaixei a cabeça e dei um sorriso triste. Eu não tinha mais família.

- Eu sei, Ry... Eu sei que é difícil. Eu prometi que ficaria tudo bem, não é?

Fiz que sim com a cabeça.

- Então, vai ficar. Podemos falar com o pessoal amanhã mesmo para ver tudo direitinho.

- Brendon, eu quero vender essa casa

- O que?

- Eu quero vendê-la.

- Mas, Ryan, foi aqui que você passou sua infância. Foi nesse bairro que você conheceu o Spencer, onde tudo começou.

- Exato, Brendon. Aqui que eu passei minha infância. Minha infância com o meu pai, minha infância com a minha mãe. Você entende? Esse lugar traz muitas lembranças à tona. E eu não quero ficar aqui, na casa que eu passei os piores momentos da minha vida.

- Nem todos

- A maioria, então. Amanhã cedo eu vou na imobiliária.

Foi o que eu fiz. Passei algumas horas nela, conversando sobre tudo. No dia seguinte, assisti a placa de “À Venda” ser colocada na frente da casa.

Depois, eu, Jon e Brendon fomos na casa de Spencer para planejar tudo para o ano novo.