Brendon, eu, Jon e Spencer ficamos no quarto conversando.

- Hey, ensaio, amanhã?

- Pode ser

- Ótimo

- Por mim tudo bem, desde que o Ryan não quebre os ossos e tenha que ficar sem tocar - Spencer riu

- Não é para tanto

- Claro que é.

- Eu vou começar a vir aqui todos os dias para ver se você está se alimentando direito.

- Que exagero, Brendon.

- Exagero nada, Ryan. Depois você fica doente, aí sim eu quero ver.

- Ok, vamos parar de tagarelar sobre mim, e vamos falar de alguma outra coisa.

- Pete. “Você sempre sabe como me fazer rir” - Spencer provocou, imitando uma risada feminina, como se eu estivesse rindo. - Estou sabendo, Ryan

- Fica quieto, Spencer, Pete é só meu amigo.

- Sei

- Qual é o problema de falar que ele me faz rir? Eu não menti.

- Falar que ele o faz rir não é o problema, o problema é você ficar com olhos brilhantes e com o rosto corado que nem um tomate quando está perto dele.

- Eu não faço isso.

Spencer virou-se para Jon e os dois começaram a rir.

- O que foi?

- Ah, Ryan, você é o único que não percebe que faz isso.

- Que droga, dá pra mudar de assunto?

- Sobre o que você quer falar?

- Eu quero falar sobre vocês irem embora porque eu estou afim de dormir, pode ser?

- Nossa, Ryan. Obrigado por nos expulsar

- Vão logo, bastardos.

- Ok, estamos indo.

- Já vão tarde.

Os três foram, finalmente, embora. Fiquei na minha cama, pensando. Vários Pete’s invadiam minha mente. Isso não podia estar acontecendo. Não comigo.

- Saiam daqui, me deixem em paz! – Eu falava para mim mesmo, dando tapas em minha cabeça.

Levantei da cama, caminhando de um lado para outro, rosnando, e, por vezes, batendo minha cabeça da na parede.

Dei socos em minha cabeça, bati um livro pesado contra ela, bati-a no guarda-roupas. Fiz de tudo. Nada adiantou. Tudo que eu consegui foi deixar um lado da minha cabeça roxo, inchado e sangrando.

Escovei meus dentes, após um tempo, e voltei a deitar.

Acordei no outro dia com meu celular tocando.

- A qual bastardo eu posso dar a honra?

- Sou eu

- São malditas sete horas da manhã, Peter, o que diabos você quer comigo essa hora?

- Me desculpe – Ele riu e eu permaneci sério – Eu queria te convidar para dar uma volta

- Agora? O que você tem na cabeça?

- Não, não agora

- Então por que me ligou agora?

- Eu não sei – Ele riu

Bufei.

- Boa noite, Peter.

Desliguei o celular na cara dele. Ele não iria se importar, já que era sempre bem humorado e levava tudo – ou quase tudo – na brincadeira.

Voltei a me deitar. Algumas horas depois, acordei com meu despertador. Eu iria na casa de Spencer para podermos ensaiar.

Não demorei muito, já que a casa de Spencer ficava no mesmo bairro. Entrei no porão e encontrei todos lá.

- Hey, banana

- Vamos ensaiar logo

Mal começamos a tocar e meu celular tocou novamente. Resmunguei e atendi.

- Quem é? – Perguntei, sem vontade.

- Sou eu. Você está ocupado?

- Estava, até você me ligar

- Desculpe – Ele riu

- O que foi agora?

- Eu quero saber se você vai aceitar dar uma volta comigo

- Vou. Que horas?

- Que horas você estará livre?

- Daqui a uma hora

- Ok, então daqui a uma hora você me encontra no parque?

- Ok, tchau

- Tchau

- Quem era?

- Pete

- Hmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmmm – Spencer provocou

- Spencer, fique calado. Eu não estou de bom humor hoje, e a menos que você queira levar um soco, não me provoque.

- Ok, desculpe... Vamos voltar a ensaiar então.

Eu estava bravo por não conseguir tirar Pete dos meus pensamentos. Fiz o possível e o impossível para conseguir, mas foi em vão. Eu continuaria tentando, tentando e tentando.

Não olhei para ninguém na hora do ensaio, apenas para minha própria guitarra. Os outros integrantes evitaram falar comigo, para não me irritar ainda mais.

Uma hora se passou. Larguei minha guitarra e saí, sem emitir uma sequer palavra. Fui para o parque, onde combinei de me encontrar com Pete. Por quê eu havia combinado de me encontrar com ele? Era uma pergunta para a qual eu não tinha resposta.

Avistei Pete, que abanou para mim. Entrei no parque e ele me abraçou, para me cumprimentar.

- Oi – Ele sorriu

- Oi – Respondi, permanecendo sério

- O que é isso? – Ele perguntou, colocando um pouco do meu cabelo para o lado

- Huuh... Eu me machuquei ontem

- Como?

- Tropecei e bati minha cabeça no chão.

Pete olhou-me com desconfiança.

- Ninguém bate a cabeça no chão e fica com esse machucado gigante

- Pete, se você não quer acreditar, o problema é seu.

- Ok, eu acredito. Você já se alimentou?

Fiquei em silêncio.

- Venha, eu vou te levar até um lugar para você tomar um café.

- Eu não quero

- Deixe disso, Ryan, parece que você quer ficar doente.

- Eu quero que você e o Brendon parem de me tratar como uma criança.

- Você precisa ser tratado como uma criança, porque não sabe como cuidar de si próprio. Então agora eu sou sua mãe e o Brendon é seu pai, e nós vamos cuidar de você.

Eu ri e não consegui parar.

- Ok, mãe. Vamos tomar café então.

- Vamos lá meu filho.

Entramos no lugar e Pete pediu por mim.

- Aqui tem alguns pirulitos, eu posso comprar um para você.

- Cala boca, Pete – Eu ri

- Não fale desse jeito com a sua mãe.

- Pete, a garçonete está nos olhando estranho

- Dane-se ela. Se ela nunca viu uma mãe sair com um filho, o problema é dela.

Comecei a rir novamente, e dessa vez não consegui parar mesmo.

A garçonete chegou com meu café e um sanduíche.

- Obrigada – Pete agradeceu e depois sorriu para mim.

Ele havia dito obrigadA. No feminino. Naquela hora, eu estava bebendo café, e acabei cuspindo tudo na mesa, pois estava rindo.

A garçonete ainda não havia saído de perto, então me viu cuspindo café para todo o canto. Ela ficou me olhando, brava.

- Me desculpe – Eu disse, ainda rindo, baixinho, e limpando o café cuspido com a manga de meu moletom.

- Muito lindo, George, depois fica tudo para a sua mãe lavar.

- Não sei quem é George. – Eu disse, ainda rindo – E fica quieto, porque a culpa do meu moletom estar sujo de café é sua.

- Ok, agora lambe o café, né.

- Nos seus sonhos, só.

- Então beba e coma logo.

Comi e bebi o resto do meu café, e uma meia hora depois, Pete pagou e saímos do lugar.

Eu estava de bom humor, agora, graças a Pete. Eu preferia estar em casa com meu mal humor.

- Quando eu vou poder ver um ensaio da banda?

- Quando você quiser.

- Então eu vou semana que vem, porque esta semana eu estou bem ocupado. Pode ser?

- Pode.

- O que você quer fazer?

- Eu não sei. Você quer ir na casa do Spencer? Os outros estão lá

- Na verdade eu acho que prefiro ficar por aqui mesmo. Acho que o Jon não foi muito com a minha cara

- Que mentira, ele adorou você! Ele é um pouco tímido, só.

- Ainda assim prefiro ficar aqui

- Você é que sabe. Por quê está me olhando?

- Ryan, fale a verdade

- Ok

- O que é esse seu machucado na cabeça?

- Você não vai querer saber, Pete

- Se estou perguntando é porque eu quero

- Mas eu não vou te falar, então desista.

Pete suspirou.

- Você é um garoto difícil, Ryan. Não foi assim que eu te criei

- Para, Pete. Eu nunca vou conseguir parar de rir se você continuar falando isso.

- Mas eu não quero que você pare de rir

- Falando sério, o que você quer fazer?

- Eu sei lá, Ryan.

Pete fechou os olhos, então decidi fazer uma brincadeira.

- Hey, Pete, algumas fãs enlouquecidas estão vindo atrás de você.

Em segundos, ele abriu os olhos e ficou procurando pelas fãs.

- Onde? Onde elas estão? Eu tenho que correr, rápido!

Eu ria.

- Droga, Ryan. Você me assustou, sabia?

- Essa era a intenção.

- Ok, acho melhor sairmos daqui

- Para onde você quer ir?

- Não sei, diga você

- Você que é a mãe, Peter.

Pete gargalhou.

- Ahn... vamos para a casa do Spencer então

- Ótimo. Coloque suas perninhas para funcionar, porque o caminho não é curto.

- Eu sei, não precisa nem me falar.

Fomos o caminho todo conversando bobagens. Por vezes, Pete me chamava de filho, o que me fazia rir.

Chegamos na casa de Spencer, finalmente. Não bati na porta, pois sabia que podia entrar e sair quando quisesse. Não era do meu feitio fazer algo sem pedir, mas era Spencer, meu melhor amigo, que eu conheci aos cinco anos de idade.

- Olá

- Oi, Ryan – Brendon cumprimentou

- Oi, pai – Eu disse, rindo. Pete riu comigo e Brendon ficou com cara de interrogação

- Pai? – Ele riu, ainda sem entender

- Invenções do Pete, pergunte a ele as bobagens que ele me falou hoje.

- Eu não quero nem saber...

- Melhorou o humor, Ross?

- É, agradeçam ao Pete aqui. Eu que fiz o Ryan rir

- E me desculpem por ter sido grosso

- Não tem problema.

- Eu sei que tem. Eu não tenho sido um dos melhores amigos esses últimos dias... me desculpem

- É sério, Ry, não tem problema

- Então, o que vamos fazer?

- Sei lá

- Você já comeu, Ryan?

- Sim, a mãe já me alimentou – Eu ri, junto a Pete

- Mas do que porra vocês ficam rindo tanto? É algum problema comigo?

- Nossa, Brendon, se acalma. Não é nada de você, relaxa, é só bobagem. Coisas de Peter Wentz. Vamos fazer alguma coisa, eu estou com tédio.

- Podemos dar uma volta

- Já dei uma volta com Pete

- Então sugira algo melhor-

Credo, Brendon, o que deu em você?

- Ciúmes - Brendon sussurrou, mas pude ouvir

- Eu quero convidar vocês para jantar comigo. Quero apresentar alguém

- Fechado!

- Todos poderão ir?

- Eu sim

- Eu também

- Todos irão - Concluí

- Ótimo. Vinte horas, no Evelyn’s. Vejo vocês lá - Pete disse, saindo da casa- Quem será que ele quer nos apresentar? - Questionei

- Teremos que esperar para ver

******

Estávamos todos no Evelyn’s, esperando Pete. Ele chegou - finalmente - acompanhado.

Na minha cabeça, era algum músico amigo de Pete, que falaria sobre sua carreira ou conversaria sobre música com nós. Mas eu estava enganado:


- Pessoal, essa aqui é a Mary.

Naquele momento, meu coração ficou apertado. Minha respiração falhou.

O que se passava na minha cabeça? Eu nunca poderia ficar com Pete.

Senti meus olhos molharem rapidamente e resolvi deixar o local, antes que me vissem chorando, igual a uma criança.

Não emiti uma sequer palavra: apenas me levantei. Pete e Mary estavam com os corpos colados, ainda de pé, sorrindo feito bobos para nós. Caminhei rápido, quase correndo, evitando olhar para os dois.

Abri a porta e saí. Fui para uma rua, com poucas pessoas, sentei-me em um banco, e em segundos, senti meu rosto ensopado de lágrimas.

Logo depois, vi Pete correndo em minha direção. Ele sentou-se a meu lado e me chacoalhou, preocupado:

- Hey, hey! O que deu em você, Ryan?

- Nada, Pete, vai embora, por favor, eu não quero que você me veja chorando

- Eu não vou te deixar aqui de noite, sou sua mãe

- Sai, Pete, estou pedindo

- Não. Eu fiz alguma coisa para você? Pode me falar e eu peço desculpas.

Gostaria eu que ele tivesse feito algo de errado. Mas ele não fez. Eu não posso cobrar nada de Pete, pois eu não contei a ele o que sinto. Ele está feliz com a garota. E se ele está feliz, quem sou eu para estragar?

- Você não fez nada, Pete, agora vai embora, não espere eu ser mal educado

- Pode ser o quão mal educado quiser, eu não vou sair até saber o que aconteceu para você estar desse jeito

- Vai embora logo, Pete! - Gritei

- Já falei que não, Ryan. Que droga!

- Então eu vou. Tchau.

- Volta aqui, Ryan

- Não. E você, Pete, não me siga, porque vai piorar para o seu lado.

Ele obedeceu. Fui para a minha casa, entrei no meu quarto e me joguei na cama. Por incrível que pareça, consegui dormir. Mas, um tempo depois, senti alguém me cutucando.

- Ryan?

- Brendon? O que você está fazendo aqui a essa hora?

- Você ao menos sabe que horas são?

- Não...

- São quinze horas

- Já?

- Sim

- Nossa, eu nem percebi.

- Está tudo bem? Eu soube que você chorou bastante noite passada.

- É... já passou

- Tem certeza?

- Tenho, eu já enfrentei coisas bem piores

- Ótimo, mas se você não estiver bem, sabe que pode desabafar comigo

- Sei, Brenny. Obrigado.

- Quer fazer o quê?

- Sei lá. Às vezes acho que é bom ficar em casa sem fazer nada, não?

- Claro.

- Vamos subir então?

- Vamos.

- Cadê minha mãe?

- Ela saiu já faz um tempo

- Há quanto tempo você está aqui?

- Hm, uns quinze minutos, acho.

- Nossa. Ei, Brenny, eu quero comprar um apartamento , o que você acha?

- Acho legal - Ele sorriu

- Eu vou dar uma olhada algum dia desses. Acho que não tenho dinheiro o suficiente, mas eu vou juntando minhas moedinhas.

Brendon riu.

- Não será difícil.

Liguei a TV e ficamos olhando, em silêncio.