IX – PHILLIP

Isso é errado Fury. –É a primeira coisa que Phil Coulson diz ao diretor da SHIELD quando este lhe diz que forjaram sua morte, enquanto ele estava em coma, e nenhum agente da SHIELD com nível superior ao sete estará autorizado a saber que ele estava vivo, o que inclui suas filhas.

—Para todos os efeitos Phil Coulson está morto, entretanto, como eu já lhe disse os memorandos serão enviados aos agentes a partir do nível sete assim que você obter permissão para retornar ao trabalho. –Fury repetiu novamente.

—Eu tenho que contar a Daisy e Jemma que eu estou vivo Fury. –Coulson diz quase que exasperado.

—Sinto muito Coulson, mas para manter suas filhas seguras você e May terão que manter segredo. –Fury disse e Phil não viu sequer um vestígio de culpa em seu mentor.

Tão envolvido em convencer Nick a deixar que ele contasse as filhas, Phil se recrimina por ter esquecido de Melinda, sendo assim ele diz rapidamente:

—Eu vou contar para Melinda pessoalmente.

Fury o analisa e então Phil acrescenta:

—Minha esposa não pode receber um memorando dizendo que eu estou vivo Fury.

—Tudo bem, mas não se esqueça, Daisy e Jemma não podem saber. –Fury frisa.

Phil assente a contragosto, lamentando-se por breves segundos por ser o cara que cumpre as regras.

E assim os dias passaram lentamente, Phil não saia muito, optando por permanecer no apartamento de alta segurança que Nick havia arranjado. Não que o apartamento fosse ruim, mas Phil não conseguia parar de pensar que sua casa, sua verdadeira casa, ficava a quarenta minutos dali.

Embora Phil tenha prometido que não contaria para as filhas que estava vivo, isso não significa que ele não tenha estado na esquina do colégio de Daisy, a uma distância segura obviamente, ademais ao ver Jemma dirigindo Lola, foi inevitável que ele não sentisse orgulho de seu jovem gênio, ao passo que Daisy estava muito distraída com seus amigos, não tendo nenhuma das duas o notado.

Phil também não negará que pode ter passado de taxi na frente de sua casa uma ou duas vezes no horário da corrida e visto Melinda e as meninas.

Até porque em um dos dias em que estava nas proximidades do colégio de Daisy, ele foi surpreendido por alguém.

—Agora eu sei como você se sentia quando tinha de ser babá do Stark, realmente é um saco ser babá de adulto. –A mulher de olhos azuis disse chamando sua atenção.

—Maria, há quanto tempo... –Phil diz sorrindo como uma criança que foi pega fazendo travessuras.

Maria rola os olhos antes de dizer:

—Vamos, vou lhe dar uma carona.

Bufando, Phil se vê obrigado a segui-la.

Enquanto Maria dirige, é inevitável que Phil não arranje um jeito de se desculpar, afinal de contas ele sempre foi o agente obediente:

—Eu tinha que vê-las Maria e eu me certifiquei que elas não fossem capazes de me notar.

Maria desvia o olhar da direção para Phil por breves segundos, antes de dizer:

—Não vou dizer que entendo a sua situação Phil, porque eu não entendo. No entanto, as chances de que uma delas veja você são altas, porque convenhamos que você e May treinaram muito bem essas meninas para elas saberem quando há algo errado. Por isso, se você continuar a vê-las eu serei obrigada a notificar o Fury.

Phil bufou não muito feliz.

—Sei que você estaria orgulhoso de ver a formatura de Daisy em dez dias, mas nós dois sabemos que um ginásio lotado de pessoas às oito da noite não é um bom lugar para se estar. –Maria diz sem desviar o olhar da direção.

Inevitavelmente um sorriso mínimo estampa o rosto de Phil.

—Mas nós dois sabemos que você ficará quieto em seu apartamento pelos próximos dias não é? –Maria diz sem emoção.

—Mas é claro Hill, qualquer outra coisa que eu fizesse seria errado.

E assim, Phil acha que os dias estão passando muito devagar até a formatura de sua filha mais velha.

No entanto, o grande dia finalmente chega e usando suas habilidades de espião Phil consegue ver de uma distância segura Daisy pegar o seu diploma, não deixando que o local onde esteja atrapalhe sequer um minuto do orgulho em seu peito ao ouvir chamarem:

—Daisy May Coulson.

O sorriso que ele vê sua filha dirigir a um certo local da arquibancada é brilhante e Phil não pode deixar de sentir raiva de si mesmo por não estar ali entre Melinda e Jemma.

Notando enfim a presença de seus sogros, Phil sabe que já é hora de ir, afinal de contas se Lian May o vir, ele sabe que ela vai estrangula-lo por ter “morrido”.

Dois dias se passam, até que Maria lhe diga que Daisy e Jemma não estarão em casa no próximo fim de semana e assim, prestes a ser liberado para o campo, Phil sabe que precisa finalmente encarar Melinda May.

De repente, os dias passam muito rápido e Phil se vê batendo na porta de sua antiga casa em uma noite de sábado, torcendo para que Melinda não o soque muito.

Assim que ela abre a porta, Phil sente como se não tivesse passado tanto tempo desde a última vez que se viram, vendo-a usar calças de ginastica e uma de suas camisas velhas do capitão américa, enquanto o cabelo ainda está preso em um coque mal feito, é praticamente a mesma visão que ele teve antes de partir para New York naquela manhã de sábado.

No entanto, enquanto admira a visão de sua esposa, Phil não é rápido o suficiente para se desviar de seu golpe que acaba por imobiliza-lo no chão.

—Mel! Melinda, eu posso explicar. –Phil se vê dizendo um tanto quanto desesperado.

—Quem é você e para quem trabalha? –Ela diz não muito feliz.

—Sou eu Phil Coulson, seu marido. –Phil diz.

—Meu marido morreu. –Ela diz sem emoção, embora para seus ouvidos treinados, ele tem a certeza de ter ouvido sua voz vacilar.

—Fury forjou minha morte, fiquei em coma por mais de um ano, antes de ser obrigado a tirar férias no TAHITI, ligue para ele e confirme. –Phil diz enquanto sente o aperto mortal de Melinda, lembrando-se muito bem do porquê a mulher era chamada de “A Cavalaria”.

—Fury, uma assombração apareceu em minha casa. –Melinda diz no telefone e Phil não se surpreende como ela poderia ter um celular consigo, mas estamos falando de May, então nada o surpreende tanto assim.

—Talvez eu o deixe entrar. –Ela diz, antes de sair de cima de Phil.

Quando ele se levanta, sob os olhares atentos de sua esposa, rapidamente ela o puxa para dentro de casa em tempo recorde.

—Você não tem noção do que você fez comigo seu idiota! –Melinda disse finalmente demonstrando suas emoções, que diga-se de passagem não eram nem um pouco calorosas.

—Eu sei Mel, me perdoa. –Phil começou, sendo interrompido por um golpe no peito.

—Como você se deixou ser atingido por um alienígena Phil? Como você foi tão burro? Você é um idiota! Seu filho da mãe... –Melinda alternava entre gritar e socar o marido, até que por fim sua visão foi invadida por lágrimas e Phil fechou a distância entre eles a prendendo em seus braços.

—Shiu... Eu estou aqui agora Mel, é isso que importa. –Phil sussurrou para a esposa, enquanto sentia ela esconder o rosto em seu peito e manchar sua camisa de lágrimas.

—Oh Phil eu senti tanto a sua falta... –Melinda diz quando seus soluços finalmente cessam e ela se afasta um pouco para encarar os olhos azuis do marido.

—Eu também senti sua falta Mel. –Phil disse em resposta.

—E que história é essa de TAHITI? –Melinda pergunta se afastando do marido e por alguns segundos Phil teme o que ela possa fazer com ele.

—É um lugar mágico, mas eu senti sua falta o tempo todo. –Phil diz quase que automaticamente, enquanto recebe um olhar desconfiado.

—Não importa, você está aqui agora. –Ela diz antes de beijá-lo e começar a despi-lo com urgência.

—Mel... –Ele diz quase que em um sussurro, ao pegar as mãos delas e fazendo com que ela pare de desabotoar os botões de sua camisa.

—Oh desculpe Phil. –Ela diz sem graça por ter deixado que seus sentimentos a dominassem, sendo assim ela acrescenta levemente constrangida –Acho que deveríamos jantar.

Ela então se vira e caminha até a cozinha, e vai até a primeira gaveta do armário e pega os cardápios dos seus restaurantes favoritos.

—Eu vou fazer alguma coisa. –Phil diz caindo na velha rotina, enquanto abre a geladeira e olha chocado para o conteúdo.

—Pizza congelada, iogurte, leite, manteiga, sorvete, lasanha congelada, refrigerante e suco? –Phil diz quase que ofendido com a visão, fechando abruptamente a geladeira e encarando a esposa que lhe dá um olhar culpado –O que em nome de Deus vocês andam comendo?

Delivery existe para isso. –Ela murmura.

Phil não deixa de olhar para a esposa chocado.

—Não é porque você morreu que eu milagrosamente aprendi a cozinhar Phil. –Melinda diz rolando os olhos.

Phil continua a olhar para ela em choque.

—Mas as meninas... –Ele murmura.

—Elas não são muito diferentes de mim, embora Jemma consiga fazer um espaguete razoável e alguns sanduiches realmente bons. De qualquer forma, o mais seguro sempre foi o delivery. –Melinda explica como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

—Certo, então o que você vai pedir? –Phil pergunta enquanto olha os cardápios agora esquecidos em cima do armário.

—Podemos esquentar uma lasanha se você preferir... –Melinda o provoca, enquanto faz o possível para manter uma expressão neutra.

—Lasanha congelada é um ultraje, aquela coisa nem deveria ser chamada de lasanha. –Phil resmunga.

Melinda esboça um sorriso, antes de dizer:

—Chinês então?

—Você sabe que eu amo chinês. –Phil diz frisando a última palavra, obtendo como resposta um mero rolar de olhos e um insulto em mandarim.

Horas se passam e Phil vê o olhar decepcionado ao contar para Melinda todo o plano de Fury, principalmente no que tange deixar suas filhas no escuro. No entanto, ela é uma boa agente a ponto de não questionar suas escolhas, embora sua expressão deixe bem evidente seu descontentamento.

Relutantemente, Phil se vê obrigado a ir embora de sua própria casa durante a madrugada, para não levantar a suspeita de qualquer vizinho. Afinal de contas, não seria fácil de explicar aos vizinhos que ele seu chefe forjou sua morte.

Não demora muito tempo e logo Fury o convida, se é que pode chamar de convite, para visitar seu escritório em uma determinada manhã.

—Coulson lhe darei uma nova equipe e um avião, escolha dentre os mais qualificados. –Fury diz simplesmente lhe entregando algumas pastas.

—Senhor... –Phil começa a protestar, entretanto Nick o corta.

—Sua própria equipe Coulson, você dá as ordens e escolhe os casos, sem burocracias. –Fury diz.

—Algo me diz que não tenho muita escolha. –Phil se vê resmungado.

—É por isso que sempre gostei de você Phil, você sempre foi um homem sábio. –Fury diz o dispensando.

Em seu apartamento, Phil gasta dois dias para ler o currículo de todos os candidatos, não deixando de rir ao ver May ali dentre os demais.

Grant Ward é o especialista de nível seis que lhe chama a atenção.

Leopold Fitz é um engenheiro brilhante e aparentemente tendo um avião isso seria muito importante, uma observação em sua ficha diz que ele trabalha muito bem com sua parceira Jemma Simmons. Diante dessa informação Phil não pode deixar de sorrir, lembrando-se muito bem de sua própria parceira...

Jemma Simmons ao que parece é um gênio e com seus conhecimentos em bioquímica, será muito útil para analisar seja lá o que eles encontrarem em campo ou até mesmo remendar alguém que precise. No fim, o fato da jovem ser um homônimo de sua filha acaba por influenciar sua decisão.

Um piloto é o que ele precisa, ele olha dentre os muitos que a SHIELD tem, até voltar ao arquivo de May, ele sabe muito bem que ela o chutaria apenas por cogitar leva-la de volta para o campo, mas não há ninguém que ele queira ao seu lado que não seja ela, afinal de contas ele esteve longe dela por praticamente dois anos, é impensável que ele se afaste novamente, ainda mais quando ele é obrigado a ficar longe de suas filhas.

Ele então pensa em Daisy e Jemma, elas ficarão bem sem a mãe, é o que sua parte egoísta diz, afinal de contas Daisy concluiu o ensino médio e Jemma está se aventurando no maravilhoso mundo da bioquímica.

Dessa forma, Phillip J. Coulson liga para Fury e informa que já escolheu sua equipe.

—Quem são? –Fury questiona não muito interessado do outro lado da linha.

—Ward, FitzSimmons... e May. –Phil diz simplesmente, embora com certa insegurança.

—Boa sorte. –Nick Fury limita-se a dizer, se é por sua equipe de novatos ou na tentativa de incluir Melinda no time, Phil não sabe dizer.

Quatro dias depois de ligar para Fury, Phil está caminhando em direção ao cubículo de Melinda pela primeira vez em um pouco mais de dois anos, não se deixando intimidar pelos olhares, por vezes espantados de quem cruza o seu caminho... e assim por um segundo ele agradece mentalmente por ter escolhido uma tarde/noite que Melinda decidiu por fazer hora extra, afinal de contas encarar um local lotado de pessoas seria ainda mais difícil, pois aparentemente até os agentes mais treinados da SHIELD não conseguiram manter a discrição ao vê-lo.

—Agente May. –Phil diz quando está próximo a ela.

—Não. –Melinda May responde secamente, sem sequer dar-se ao trabalho de virar-se para encará-lo.

—Mas eu ainda nem falei... –Phil começa, entretanto, logo é cortado pela esposa.

—Como se a papelada da sua equipe não tivesse que passar por aqui... –Melinda diz sem ainda se dar ao trabalho de encarar o marido.

Phil tenta não parecer frustrado.

—Eu não vou combater de novo. –Melinda diz ainda mexendo na papelada em cima de sua mesa.

—Sempre achei estimulante seu trabalho aqui... só falta um fosso a sua volta. –Phil diz fazendo com que finalmente a asiática lhe encare.

Ele vê ela lhe fuzilar com o olhar por breves instantes, oportunidade em que questionou se não havia ido longe demais. Sendo assim, ele se viu na necessidade de tentar remediar o que havia dito, afinal de contas ele se odiava por mesmo depois de anos ainda não conseguir conter sua boca grande de falar besteiras perto de Melinda.

—Você só tem que pilotar... e comandar o transporte terrestre e a supervisão. Não é uma operação de combate. –Phil diz tentando não soar muito como se estivesse implorando, não que ele não esteja.

—Então não precisa de mim. –Melinda diz sem emoção enquanto bate o carimbo da SHIELD bem forte em um documento.

Phil engole em seco diante do barulho bastante audível.

—Preciso. Porque vamos estar no comando. –Phil diz e então vê a esposa lhe encarar novamente, aproveitando então ele acrescenta quase que provocativamente –Sem burocracia.

Ainda sob o olhar atento da esposa, Coulson sendo Coulson não consegue se conter:

—É aqui que a burocracia é feita não é? Eu sempre quis saber...

Phil então observa que a esposa não consegue conter um sorriso de canto.

—Melinda... –Phil diz o nome de sua esposa quase que em uma suplica.

—Só está me pedindo para pilotar o veículo? –Melinda May pergunta e é então que Phil sabe que conseguiu.

—Eu não estou pedindo... –Phil diz enquanto olha fixamente os olhos castanhos escuros da esposa, não tardando em acrescentar com um sorriso quase que infantil –Mas o veículo é demais.

Ao sair, Phil jura que pode ouvir a mulher bufar.

X – MELINDA

Quando Nicholas Fury, vulgo o diretor da SHIELD, chamou Melinda em seu escritório há alguns meses ela podia esperar qualquer coisa, exceto a notícia que seu marido estava vivo.

Dizer que “A Cavalaria” queria chutar a bunda do diretor era um eufemismo, entretanto, a agente May era mais que a Cavalaria, por isso ela se sentou em frente ao diretor e esperou ele lhe explicar tudo o que o famigerado TAHITI significava, além da nova ideia mirabolante de Fury. No entanto, a pior parte era aquela que a envolvia. Melinda tinha que fingir não saber que o marido estava vivo, até o momento em que ele lhe procurasse, e se isso ainda não fosse o bastante ela tinha que voltar ao campo e espionar o marido.

Espionar Phil...

Isso é errado Fury, eu não posso espionar meu marido. –Melinda diz quase que ofendida.

—Não há ninguém melhor para essa tarefa do que você May. –Fury disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

—Eu preciso pensar. –May diz ainda com a cabeça cheia, afinal de contas a notícia de que o marido está vivo impacta não só a sua vida, como também a de suas filhas.

—Leve o tempo que precisar, mas ao sair por aquela porta sua oferta expira e eu procurarei outro agente. –Fury disse quase que em um desafio.

E assim, encarando o diretor com seus olhos castanhos quase que furiosos, Melinda se viu dizendo:

—Tudo bem, desde que isso ocorra depois que Daisy se formar.

Fury demora alguns segundos para concordar.

—Isso pode ser arranjado. –Fury diz sem emoção e então a questiona –A jovem Daisy já tem duas faixas pretas não é May? Diga-me, ela não se interessaria em se inscrever na Academia?

Ao ouvir as palavras do diretor, Melinda o encara quase que espantada com a tamanha ousadia de Fury.

—Nem pense nisso Fury. –Melinda diz antes de se levantar e sair do escritório do diretor.

Os dias passam e não demora para que Melinda receba vários e vários arquivos de potenciais agentes para a equipe, os quais ela deverá analisar e escolher aqueles que melhor integrariam uma equipe de operações e caso necessário, mas que ela recusa-se a pensar, de contenção.

Enquanto os dias passam, Melinda não demora a perceber que está sendo observada, a primeira vez acontece durante uma das vezes em que está correndo com as filhas, não demore para que ela desconfie de quem seja, entretanto, ela sabe que deve confirmar com Fury se é mesmo Phil, afinal de contas ela não pode se dar ao luxo de baixar a guarda, não quando se trata de suas filhas.

Dessa forma, ela decide por procurar pelo diretor no dia seguinte, porém ela não tem sorte em encontra-lo.

—Onde Fury está? –Melinda pergunta quando cruza com Maria nas proximidades do escritório do diretor.

—Se eu ganhasse um dólar a cada vez que alguém me pergunta isso... –Maria resmunga diante do olhar impassível de Melinda.

—Certo... você não quer saber. Para que exatamente você precisa dele? Você sabe eu sou a segunda no comando. –Maria diz se vendo mais uma vez obrigada a lidar com seja lá qual besteira que Fury fez dessa vez.

—TAHITI. –Melinda diz uma única palavra a fim de saber se Maria estava ciente da situação e ao ver Maria puxá-la para a primeira sala que encontram, ela tem a confirmação do que precisava.

—Todo esse tempo você sabia que ele estava vivo? –Melinda se deixa levar pelos seus sentimentos por breves segundos.

—Não queríamos dar falsas esperanças a você. –Maria diz, antes que May possa recolocar sua máscara de indiferença.

—Acho que eu e as meninas fomos seguidas enquanto corríamos ontem, você sabe me dizer se ele já está na cidade? –Melinda pergunta enquanto encara fixamente a agente Hill.

—Falei com o Fury que ele não aguentaria estar na cidade e não ver vocês. –Maria diz demonstrando o menor indicio de sua crescente irritação.

—Vou descobrir se foi ele, mas lembre-se que você não pode ter contato com ele até que ele realmente lhe procure. –Maria diz a lembrando do plano idiota de Fury.

Melinda mantem uma expressão neutra, mas seu interior está praticamente borbulhando ao saber que o marido está na mesma cidade que ela e ela não está autorizada a vê-lo.

—Eu sei Hill. –Melinda diz antes de caminhar até a porta, entretanto, ela faz uma pausa e se vira para encarar Maria.

—Jemma e Daisy não são especialistas treinadas, mas elas também podem perceber. –Melinda se vê obrigada a dizer.

Maria por sua vez diz:

—Eu não esperaria menos delas.

—De qualquer forma é uma pena que ele perca a formatura de Daisy em duas semanas... –Melinda ousa dizer.

—Um evento com muitas pessoas agente May? –Maria a questiona.

—Tanto quanto se espera para uma formatura de ensino médio, até mesmo meus pais virão da Pensilvânia, Daisy e até mesmo Jemma estão muito entusiasmadas, acho que ninguém estará prestando atenção ao redor. –Melinda diz simplesmente.

—Acho que com isso eu pago aquela dívida de Xangai. –Maria diz.

—Finalmente estamos quites Hill. –Melinda diz sem emoção antes de enfim sair da sala.

Quando finalmente a formatura de Daisy chega, Melinda se vê saindo da SHIELD às três da tarde, para buscar os pais no aeroporto.

— Qiaolian, você está muito magra. –É a primeira coisa que Lian May diz ao ver a filha.

—Oi mãe. –Melinda diz sem emoção na voz.

—Sua mãe só está com saudades Mellie. –Willian May diz a filha, antes de abraça-la.

—E você? –Melinda sussurra para o pai.

—Estou ofendido que eu tenha que dizer. –O senhor May sussurra de volta e pisca para a filha.

—Vocês dois parem de cochichar ou vamos acabar nos atrasando para a formatura de Daisy. –Lian May diz enquanto passa pelos dois.

Assim, após vinte minutos Melinda finalmente está estacionando em frente a sua casa, não demora muito para que Jemma e Daisy com o cabelo enrolado em bobes apareçam para cumprimentar os avós.

Nǎinai, Zǔmǔ! –Jemma disse sorrindo amplamente enquanto se dirigia até os avós e os abraçava.

—Vocês vieram! –Daisy igualmente sorridente disse enquanto se dirigia até os avós;

—É claro que viemos. –Lian diz em seu tom não tão emocionado habitual.

—Bem ensino médio não é um doutorado nǎinai. –Daisy diz simplesmente, enquanto abraça a avó.

—Bobagem querida, uma vitória é uma vitória. –Lian diz finalmente sorrindo enquanto encara os olhos escuros da neta.

—Além do mais, nem todo mundo precisa de tantos diplomas não é mesmo Jemma? –Willian provoca a neta mais nova enquanto coloca o braço em seu ombro.

—Não são tantos assim... –Jemma diz corando levemente.

— Qiaolian, você tem chá decente nessa casa? –Lian diz voltando ao seu tom de voz habitual, um claro sinal que a conversa estava por encerrada.

—É claro mãe. –Melinda diz antes de seguir para a cozinha.

—Vou ajudar Jemma com o cabelo dela. –Daisy diz antes das duas saírem correndo escada a cima.

—Não corram... –Melinda começa a dizer mais alto, entretanto, as filhas mal dão ouvidos.

—Não sei nem para que eu ainda me dou ao trabalho. –Melinda resmunga enquanto a mãe a segue até a cozinha.

—Crianças são sempre crianças Qiaolian. –Lian diz enquanto se senta no banco em frente a bancada.

E assim, após uma breve conversa com a mãe, de ouvir o pai falar sobre suas pescarias e ainda ajudar Jemma com seu vestido, Melinda se vê finalmente tendo a chance de tomar seu banho e escolher seu próprio vestido.

Duas horas depois, ela não poderia estar mais orgulhosa ao ouvir o cerimonialista dizer:

—Daisy May Coulson.

E enquanto vê a filha caminhar com um grande sorriso até seu diploma, ela aproveita a oportunidade para checar o perímetro, sabendo que agora seria o momento perfeito para pegá-lo de guarda baixa.

Ela não se decepciona, ao ver de longe, Phil Coulson encarando o palco improvisado com roupas de faxineiro e um boné muito bem colocado a fim de esconder o seu rosto, que ela sabe que estampa um sorriso tão orgulhoso quanto o dela.

Infelizmente seu olhar sobre ele não permanece mais do que alguns segundos, pois seus pais cochicham algo entre eles e ela recorda-se que deve manter o olhar sobre sua filha. Afinal, hoje sua pequena flor é a estrela da noite.

Mais tarde naquela noite, quando os cinco membros da família se aproximam do carro, Jemma pergunta à irmã:

—Como você se sente formada no ensino médio?

—Feliz por finalmente está livre do dever de casa. –Daisy diz simplesmente, provocando risos entre seus familiares.

—Você sabe que na faculdade também tem tarefas de casa não é? –Jemma pergunta quase que perplexa e por alguns segundos Melinda nota os ombros da filha mais velha ficarem tensos.

—A CIA não tem, e o programa de verão deles começa em duas semanas... Se você quiser experimentar algo diferente. –Lian May sugeriu casualmente, tão casualmente que Melinda se viu perplexa.

—Mãe! Sem agências de espionagem. –Melinda diz após finalmente recobrar os sentidos.

—Como se não fosse o negócio da família. –Lian May resmunga em mandarim, enquanto adentra o SUV de Melinda.

Sem mais grandes intercorrências a família May comemorou a formatura de Daisy em sua pizzaria favorita e após passarem um final de semana com a filha e as netas, o senhor e a senhora May vão embora na segunda-feira com a promessa feita pelas jovens de visitarem o quanto antes.

Os dias passam, Melinda faz questão de dizer a Fury que Jemma e Daisy estarão na Pensilvânia no próximo fim de semana, sabendo muito bem que é hora de cumprir sua parte no maldito plano de Nick Fury.

Ela sabe muito bem que essa era a deixa pela qual Phil não sabia que esperava.

E mais uma vez ele não a decepcionou.

No entanto, ela ainda teve que manter as aparências e golpeá-lo, por mais que ela quisesse se atirar em seus braços.

Por mais que odeie o trabalho disfarçado, Melinda sabe que sua atuação foi impecável, ao menos até o momento em que ligou para Fury e ele corroborou com sua atuação.

Mas a partir do momento em que ela puxou o marido para dentro de sua casa, não era a agente May, era apenas Melinda e todas as suas reações foram verdadeiras.

Cada lágrima foi real e cada pequeno golpe também, afinal de contas Melinda não consegue colocar em palavras toda a dor que sentiu nos últimos dois anos, ela mal sabe como continuou viva depois que recebeu a notícia que ele havia morrido.

Espionar ele era errado? É claro que é, mas com o corpo envolto nos braços do marido, Melinda Qiaolian May sabe que por mais condenável que sua decisão seja, ela está fazendo o que é certo.

Sendo sincera consigo mesma, Melinda não tinha planejado como agir depois da parte em que ela ficaria surpresa ao vê-lo, mas tirando o pequeno imprevisto dele pará-la enquanto ela ansiava por estar com ele na forma mais intima possível, a conversa e suas interações fluíram perfeitamente.

Estar com Phil depois de dois anos longe, não foi diferente ou esquisito, para Melinda era como finalmente estar respirando ar fresco novamente, era como estar em casa de verdade.

O show começou – F. Havia sido o SMS que Melinda havia recebido naquela manhã de quarta-feira, ela revirou os olhos antes de excluir a mensagem e se preparar para o dia.

Enquanto comia uma torrada, Daisy ainda usando seu velho pijama com o escudo do capitão américa finalmente se juntou a ela na cozinha.

—Foi mal por faltar ao Tai Chi hoje, é que eu dormi tarde. –Daisy diz enquanto pega seu cereal e força um sorriso.

—Uma hora da manhã não é hora de você estar na rua com um cara que eu nem conheço Daisy. –Melinda diz olhando incisivamente a filha, que está chocada.

—Eu pensei que você estivesse dormindo. –Daisy se vê dizendo.

—Eu costumava ser uma espiã Daisy e eu era muito boa no meu trabalho. –Melinda diz antes de pegar calmamente sua xícara de chá.

—Desculpe māmā. –Daisy diz fazendo o possível para ao menos parecer arrependida.

—Só esteja pronta para correr hoje. –Melinda diz antes de levantar-se e colocar a louça na pia, enquanto via a filha assentir em derrota.

—Te amo Daisy baby. –Melinda sussurra para a filha antes de deixar um beijo em sua bochecha.

—Também te amo māmā. –Daisy diz ainda de boca cheia.

Poucos dias depois de ter aproveitado o momento da corrida para interrogar a filha e perceber que Daisy estava escondendo algo, Melinda se viu obrigada a trabalhar até depois de seu horário de costume, ela xinga mentalmente Fury pelo trabalho extra, quando de repente seus ouvidos treinados ouvem o som de passos muito familiares.

Não é preciso que ela se vire para saber quem é. Ninguém que use sapatos italianos estaria caminhando até o seu cubículo a essa hora que não fosse ele.

Assim, quando ela ouve ele dizer “Agente May”, ela tem que manter todo o seu alto controle para não se virar imediatamente para encará-lo, afinal de contas ela ainda tem um papel a manter.

“Não” é o que ela se vê dizendo secamente, ao mesmo tempo em que ainda luta para não encará-lo.

“Mas eu ainda nem falei...” ela se esforça para não sorrir do tom quase que frustrado do marido, pensando que definitivamente ela sentiu falta de provoca-lo.

“Como se a papelada da sua equipe não tivesse que passar por aqui...” Melinda diz sem um pingo de emoção, mas isso não significa que ela não esteja no mínimo se divertindo com a situação. E para demonstrar seu pouco interesse nas aventuras de Phil, ela ainda não o encara.

No entanto, ela se vê dizendo “Eu não vou combater de novo.” Enquanto ainda mexendo na papelada em cima de sua mesa, afinal de contas ela sabe que precisa estar com ele nessa missão, mas isso não significa que ela não possa dificultar as coisas.

“Sempre achei estimulante seu trabalho aqui... só falta um fosso a sua volta.” Ela ouve o marido dizer e diante de tamanha provocação ela se vê obrigada a finalmente encará-lo.

Enquanto ela fuzila o marido com um de seus olhares patenteados por breves instantes, ela não pode deixar de pensar em como conseguiu sobreviver aos últimos dois anos sem ele, ela pensa que talvez seja porque teve Daisy e Jemma com ela a maior parte desse tempo.

“Você só tem que pilotar... e comandar o transporte terrestre e a supervisão. Não é uma operação de combate.” Ela ouve o marido dizer quase que em suplica e ela estaria mentindo se dissesse que não se sentiu lisonjeada.

“Então não precisa de mim.” Melinda se vê dizendo quase que instantaneamente, enquanto bate o carimbo da SHIELD bem forte em um documento, pensando nos velhos tempos quando era apenas ela e Phil dois agentes secretos, sem toda essa loucura de alienígenas.

“Preciso. Porque vamos estar no comando.” Ao ouvir o marido dizer tal frase, embora ela já estivesse ciente disso, ela se vê o encarando.

“Sem burocracia” Ele acrescenta enquanto ela ainda o encara, não deixando de pensar em tempos em que ela faria de tudo para fugir da burocracia.

“É aqui que a burocracia é feita não é? Eu sempre quis saber...” Quando ele diz essa frase em um tom quase que provocativo, ela não consegue mais conter o sorriso e por mais que seja um pequeno sorriso de canto, definitivamente ela sentiu falta de Phil Coulson, seu parceiro, melhor amigo e marido.

“Melinda...” Ele então diz seu nome quase que em súplica e isso é o suficiente para que ela sinta seu coração disparar, entretanto, ela ainda é a durona agente May e não demonstra o quanto isso mexeu com ela.

“Só está me pedindo para pilotar o veículo?” Ela pergunta fazendo o possível para não deixar a voz vacilar.

“Eu não estou pedindo...” Ele diz enquanto ela o olha fixamente, e por breves segundos ela se amaldiçoa por ter casado com um homem tão presunçoso.

“Mas o veículo é demais” Ele diz com um sorriso infantil e ela se lembra o porquê se apaixonou por ele.

E assim sem qualquer outra palavra, ele simplesmente a deixa a sós com seus pensamentos, inevitavelmente ela bufa, enquanto pensa no maldito Fury que a colocou nessa enrascada, embora ela também não consiga pensar em um lugar melhor para se estar que não seja ao lado do agente Coulson.

Depois de ser deixada sozinha, Melinda não demorou mais que meia hora para finalmente ir embora para casa.

Ao chegar em casa, Melinda constata de cara que há algo errado, pois ela vê ambas as filhas com expressões culpadas no rosto. Sendo assim, ela não tem alternativa a não ser respirar fundo e começar o interrogatório, enquanto se pergunta se é realmente sábio seguir o marido por Deus sabe onde e deixar as gêmeas sem orientações na capital.

—Vocês duas vão me poupar das desculpas esfarrapadas e vamos direto para o que vocês aprontaram? Porque hoje eu tive um dia cheio. –Melinda disse sem muita emoção enquanto encarava as filhas e viu as duas se encararem antes de Daisy coçar a garganta.

—Eu recebi a carta do MIT hoje... Eu não entrei. –Daisy disse simplesmente, mas Melinda ainda viu no olhar da filha o medo de sua reação.

—Você passou em outras faculdades Daisy, não há problemas em não ir para o MIT. –Melinda se vê dizendo na tentativa de consolar a filha, que realmente não parece estar muito decepcionada em não ter entrado na faculdade dos seus sonhos.

—Não é só isso mãe... –Daisy começa a dizer quase que insegura e Melinda teme as próximas palavras da sua filha, afinal Daisy é sua filha e as vezes ela tem os planos mais insanos que uma May pode ter, instantaneamente ela se vê torcendo para que a filha não tenha se inscrito para uma agência de espionagem ou deus o livre o exército.

—Eu decidi tirar um ano sabático e fazer um mochilão pelos Estados Unidos. –Daisy diz agora mais segura.

Melinda se vê respirando fundo enquanto absorve as palavras da filha, tudo bem não é a coisa mais ortodoxa, ela tem certeza que sua mãe terá uma opinião sobre isso, mas não é de todo o ruim.

No entanto, ela ainda se vê na obrigação de assumir seu papel de mãe ao dizer:

—Daisy querida, um mochilão? Você não acha que seria mais prudente....

Antes que ela possa concluir sua fala, ela ouve a filha bufar nem um pouco feliz.

—Eu sabia... Na minha idade você estava indo para a Academia da SHIELD, a Jemma já foi para três faculdades e eu só estou dizendo que quero um ano para mim fazer o que eu quiser. –Daisy diz ligeiramente irritada, antes de sair da sala e deixar Melinda encarando a escada perplexa.

Quando ela finalmente volta seu olhar para Jemma, a jovem limita-se a dizer rapidamente:

—Acho que vou pedir o jantar.

Naquela noite, Daisy não se junta a elas para o jantar e Melinda percebe que Jemma também tem algo a dizer, entretanto, ela está cansada demais para brigar essa noite, sendo assim ela suspira.

—Você não está prestes a fazer nenhuma loucura, está Jemma? –Melinda se vê perguntando enquanto encara a filha.

Jemma por sua vez morde o lábio antes de dizer rapidamente:

—Eu vou para os laboratórios da SHIELD na Inglaterra, por favor não surte.

Melinda então encara a filha em silêncio por um bom tempo, Jemma está ansiosa por sua resposta, ela pode dizer isso pelo fato de como a filha morde o lábio inferior incessantemente, ela pensa que um laboratório na Inglaterra é definitivamente mais seguro que a aventura de Daisy pelos Estados Unidos, ademais ambas as meninas completam dezoito anos no próximo mês, não é como se ela realmente pudesse fazê-las desistir de algo.

—Pelo menos não é trabalho de campo. –Melinda se vê dizendo e observa o sorriso nervoso surgir no rosto da filha.

Após uma pausa Jemma diz na tentativa de acalmar a mãe:

—Daisy sabe se cuidar mãe.

Melinda então suspira quase que em derrota, óbvio que Daisy sabe se cuidar, ela tem duas faixas pretas no fim das contas, mas ainda sim é a sua garotinha e ela sabe que lá fora há perigos que ela não está preparada.

—As vezes eu só queria voltar no tempo quando minha maior preocupação era quando seu pai dava doces para vocês depois do jantar. –Melinda se vê confessando à filha.

Jemma sorri quase que melancolicamente, tendo vagas lembranças do que a mãe dizia.

—Eu sinto falta dele. –Jemma diz quebrando o silêncio que havia se instaurado há poucos minutos.

—Eu também, mas onde quer que ele esteja, ele está cuidando de nós. –Melinda se vê dizendo sinceramente, enquanto a filha assente com os olhos marejados.

—Boa noite Jemma. –Melinda diz dando um beijo nos cabelos castanhos da filha, antes de se levantar e caminhar em direção ao seu quarto, sabendo que apesar da noite levemente tumultuada, ela ainda terá que contar as filhas que irá para o campo.

Sendo assim, na manhã seguinte, aproveitando que milagrosamente ambas as filhas estão tomando café da manhã, Melinda faz o grande anúncio:

—Estarei entrando em uma missão em breve, creio que nosso contato estará mais restrito.

—Hipócrita. –Daisy murmura, mas não baixo o suficiente para que seus ouvidos treinados não ouçam.

—Oh, pensei que estivesse aposentada... –Jemma diz suavemente e logo acrescenta preocupada –Você vai ficar bem, não vai?

—Eu sou apenas a motorista. –Melinda diz como se não fosse nada demais e tenta dar a Jemma um sorriso tranquilizador.

Poucos dias depois de contar as filhas sobre sua nova missão, Melinda estava fazendo as malas, não que ela fosse levar muita coisa, apenas o essencial como produtos de higiene, alguns ternos e roupas de ginastica para o Tai Chi.

No entanto, no fundo da sua gaveta ela viu seu velho traje de combate, ela o alisou ainda dobrado, ela não queria usá-lo, entretanto, a quem ela queria enganar? Ela sabe muito bem que não será apenas a piloto.

—Será que eu consigo desempenhar o papel exclusivo de piloto em ao menos uma missão? –Ela sussurra para si mesma, não que tenha necessidade de sussurrar, afinal de contas Jemma foi embora no dia anterior, enquanto Daisy decidiu visitar seus avós antes do bendito mochilão.

Pela primeira vez Melinda suspira resignada, pensando que não há nada que ela não faria por Phil, mas deixar as filhas irem sabendo que ela pode não ter a chance de vê-las novamente ainda causa um aperto no coração.

Dessa forma, quando ela fecha sua segunda mala, Melinda May deixa seu olhar recair sobre as fotografias em cima do móvel ao lado da sua cama, onde uma fotografia em polaroide da velha câmera de seus pais mostra uma pequena Daisy com orelhas de rena no jardim da casa de sua infância coberto por neve, enquanto encara suas mãozinhas minúsculas, ao mesmo tempo em que a pequena Jemma olha a câmera animada, afinal de contas ela estava atrás de Phil enquanto ele tirava a foto, por isso Jemma erguia o bracinho para chama-la para brincar. Melinda sorri quase que melancolicamente lembrando daquele Natal em que ela, Phil e as meninas passaram com seus pais.

Indo contra todos os seus instintos de autoproteção, Melinda pega o porta-retratos e o coloca com cuidado em sua mala, geralmente ela não leva nada de pessoal para suas missões, principalmente nada que possa chegar a sua filha, mas para qualquer um isso é apenas uma foto de duas crianças, já para ela é seu mundo todo.

No dia seguinte, Melinda coloca sua bolsa no ombro e arrasta sua mala de rodinhas enquanto caminha para o lado de fora de sua casa, dando uma última olhada na sala de estar, onde ela deixa o olhar repousar alguns segundos a mais nas fotografias da família em cima da lareira, ela suspira, não sabendo ao certo o porquê esse sentimento de despedida a incomoda tanto.

Enquanto digita a senha do alarme, Melinda não pode deixar de pensar que não está apenas deixando seu lar para trás, no fim das contas ela está adentrando em um terreno perigoso.

Ela respira fundo, enquanto caminha em direção ao SUV preto, a cada passo ela sabe que está deixando Melinda para trás, assim ao se sentar no banco do motorista e colocar seus óculos de sol a agente May assume seu papel.

Ela tem uma missão e ela vai fazer o possível e impossível para cumpri-la, afinal de contas ela sabia que não tinha opções, no fim das contas ela é a maldita Cavalaria, Fury não daria essa missão a ela, se não soubesse que ela é capaz.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.