Gina.

Acordei com minha cabeça estourando e com o que pareciamm ser mil vozes gritando em meus ouvidos. Tentei me mexer, mas algo me prendia. Abri os olhos para tentar ver o que me segurava, mas me arrependi no momento em que o fiz. A claridade me cegou e fez minha cabeça piorar, gemi de dor e tudo o que eu queria agora era arrancar minha cabeça e meus olhos fora.

— Parece que não é o único passando mal. - Luna disse rindo e me olhando.

Aparentemente eram apenas ela e Blás que estavam gritando.

— Ei, Ruivinha, está com dor de cabeça? - o moreno perguntou rindo.

— Por que vocês estão gritando? - perguntei resmungando e enfiando a cabeça no travesseiro. Os dois riram mais uma vez.

— Não estamos gritando, isso se chama ressaca. - ele respondeu divertido.

Meus olhos finalmente se acostumaram com a claridade, mas continuaram a doer junto com minha cabeça que latejava. Olhei ao redor e de primeira não reconheci o lugar em que eu estava, mas aí algumas memórias da noite anterior me atingiram com tudo.

Flashes de um monte de adolescentes com hormônios a flor da pele enchendo a cara foi a primeira coisa que me lembrei, logo em seguida o jogo e depois eu com a cara enfiada na privada. As lembranças eram vagas e confusas, mas foi o suficiente para eu ficar vermelha de vergonha.

Meu estômago embrulhou e eu tentei me levantar, mas tinha um braço em minha cintura que continuava a me segurar. O dono do braço era ninguém mais ninguém menos que Theodore Nott, um dos sonserinos mais gatos, o dono da maioria dos meus sorrisos e suspiros e o pior: o cara que segurou meus cabelos enquanto eu vomitava tudo o que eu tinha e não tinha no estômago.

Ele estava em um sono extremamente pesado, com o rosto enfiado em meus cabelos, e me abraçava como se eu fosse seu ursinho de pelúcia. Mais flashes vieram em minha cabeça, me lembrei dos beijos que trocamos na noite anterior e mais uma vez a vergonha tomou conta de mim. Empurrei seu braço e corri para o banheiro.

****

— Já disse que não precisa ficar aqui comigo. - eu disse bufando para o sonserino sentado ao lado da maca em que eu estava.

A noite havia sido ótima, porém o resultado dela não foi dos melhores. Eu bebi tanto que nada parava em meu estômago e até quando eu não ingeria nada eu queria vomitar, então Theo insistiu em me trazer na enfermaria já que eu estava desidratada.

— Mas eu vou ficar aqui. - ele deu de ombros. - Alguém tem que cuidar de você.

Okay, isso foi muito fofo.

— Tem a madame Pomfrey para isso.

— Ela não está aqui agora, está? - perguntou com as sobrancelhas erguidas e um sorrisinho convencido. - E ela tem muita coisa para fazer, já eu não.

— O senhor tem aula, Sr. Nott! - a enfermeira apareceu, vindo de sua sala e o encarando com severidade e eu segurei uma risada. - Saia, saia. - ela balançou a mão como se o espantasse.

— Não tenho, fui liberado. - ele disse com a maior cara de pau e falta de vergonha.

— E onde está o pergaminho com sua autorização? - ela o olhou por cima dos óculos.

— Fui liberado verbalmente. - ele sorriu amarelo e mais uma vez segurei a risada.

Madame Pomfrey suspirou e pressionou os lábios até eles se tornarem uma linha.

— Saia daqui, Sr. Nott, ou o senhor vai ficar em detenção o resto do mês.

— Tudo bem, então. - ele respondeu se recostando na cadeira e colocando os pés em minha maca. - Está melhor, Ruivinha?

— Sr. Nott! - a enfermeira o chamou irritada. - Por caso o senhor é surdo?

— Não, eu aceito a detenção, então eu posso ficar. - ele sorriu de forma encantadora para ela.

— Dois meses, Sr. Nott! - ela disse arrancando o sorrisinho dele e, bufando, foi para sua sala com a carranca do tamanho do mundo.

Theo passou o dia inteiro comigo na enfermaria e Madame Pomfrey, finalmente, me liberou depois do jantar. O moreno me acompanhou até a torre da Grifinória e depois de muito eu insistir que estava bem ele aceitou e foi para as masmorras. Me joguei no sofá do meu salão comunal, por mais que eu tenha passado o dia todo deitada em uma maca sendo mimada por Nott eu me sentia mais cansada que tudo e meu estomago doía.

— Como você está? - Harry apareceu feito um fantasma me assustando.

— Por Merlin, Harry! De onde você surgiu?

— Eu estava aqui, você que não me viu. - ele se defendeu rindo. - Mas então, como você está? Soube que passou o dia na enfermaria.

— Resultado de uma noite de porre, meu caro. - respondi fazendo uma careta ao lembrar do tanto de álcool que eu ingeri. - Eu nunca mais bebo na minha vida.

Ele gargalhou.

— Nós dois sabemos como essa frase termina. - ele me olhou divertido e nós rimos.

Ter esses momentos com ele era estranho e muito bom ao mesmo tempo, fazia tempo que não tínhamos uma conversa assim e eu sentia muita falta disso. Afinal, acima de tudo Harry era meu amigo antes de ser meu namorado.

— Você está diferente. - comentei olhando a lareira crepitar.

— Como assim?

— Você está melhor, mais sociável.

Ele riu.

— Tive meu momento ruim e fiz merda, mas estou tentando deixar isso para trás. - ele disse suspirando.

— Pansy tem ajudado, não? - me atrevi a perguntar e ele ficou sem jeito. - Eu vejo o jeito que você age quando está com ela.

— Não ajo diferente.

— Age sim, com ela você parece mais leve.

Não pude deixar de sentir uma pontinha de ciúmes com isso. Ele parecia outra pessoa perto dela e eu não entendia como ela tinha conseguido isso, fazia tempo que estávamos tentando trazer o velho Harry de volta e então pouco tempo ela o traz de volta sem nem o conhecer direito.

— Você ri com ela. - continuei quando ele não respondeu. - Uma risada que nem com o Rony, seu melhor amigo, você dá.

— Ela me entende e com ela não tenho esse sentimento de morte. - ele disse e suspirou. - Eu sei que isso parece muito egoísta da minha parte e sinto muito por isso, mas é a verdade.

— Ela não chora por alguém que perdeu, né? - perguntei amargurada.

— Os pais dela estão em Azkaban esperando a sentença do beijo do Dementador ser aprovada ou não e se não for aproada eles passaram o resto da vida presos. Ela já os perdeu, sabe disso, mas não é algo que eu causei. - ele baixou o olhar para suas mãos. - Não é como se morressem para salvar minha vida, então a sensação é diferente. Eu consigo consola-la sem me sentir culpado.

— Ninguém te culpa, Harry. - me apressei em dizer.

— Ninguém me culpa, mas não podem negar que a culpa foi minha. - ele me olhou e em seus olhos vi a sombra do menino que morava debaixo da escada de seus tios, o garoto perdido e sozinho. - Fred, Tonks e Remo morreram em uma guerra que eu poderia ter evitado se tivesse me entregado, meus pais deram a vida para que eu não morresse aquela noite, Sirius deu a vida para me salvar no Ministério, Hermione apagou a memória dos pais para me ajudar em uma batalha na qual ela não precisava estar.

— Harry, você tem razão. - suspirei. - Ninguém precisava dar a vida por você, mas escolheram fazer isso, nós escolhemos te ajudar até o fim. Tudo o que nós fizemos foi por nossa escolha, porque você é nosso amigo e nunca deixaríamos um amigo na mão. Eles terem morrido foi uma tragédia, mas não foi culpa sua e tenho certeza que todos fariam de novo. Eu faria.

— Achei que pensasse o contrário. - ele disse e eu me lembrei da nossa briga e das coisas horríveis que eu lhe disse.

— O que eu disse não era verdade, não cem por cento. - segurei sua mão. - Desculpe pelas palavras duras naquele dia, mas eu não te culpo e faria tudo de novo, porque você é um dos meus melhores amigos.

Harry me puxou para um abraço e finalmente eu senti que tínhamos nos acertado de verdade, mas ele ainda precisava de muita ajuda.

— O que eu perdi hoje? - resolvi mudar de assunto de assunto.

— Um monte de adolescente de ressaca. - ele respondeu rindo.

— Quero detalhes, Potter, e todas as fofocas do que aconteceram ontem depois que eu dei pt. - eu disse séria e ele começou a rir.

— Bom, ontem a Emília e o Goyle foram embora logo que você subiu para o banheiro. Blásio ficou morrendo no sofá e Luna organizando a sala. Cho e Zacharias sumiram. - ele me olhou sugestivamente. - Hermione e Draco ficaram se pegando e a Daphne ficou puta da vida vendo os dois.

Arregalei os olhos. Eu sei que combinamos que ninguém namorava por aquela noite, mas meu irmão deve ter ficado irado com isso.

— E o Rony?

— Ele não saiu do quarto com a Astória até hoje. - respondeu dando de ombros.

— Jura? Nunca imaginei. - o olhei chocada e Harry concordou. A ideia de meu irmão ter passado a noite toda com aquela garota não me agradava nem um pouco. - Mas e você, Harry Potter?

— Eu? Bem... Eu... Ãh... Pansy passou mal, eu a ajudei e depois desmaiei no quarto da Mione. - ele gaguejou. - Pelo menos foi o que eu me lembro.

Eu sabia que era mentira. Tenho a vaga lembrança de que quando Theo estava me levando para sala eu ouvi gemidos altos vindo do quarto de Hermione e alguém gritando o nome dele. Hermione não era e eu tenho certeza absoluta, já tinha escutado uma sessão de sexo entre ela e meu irmão e ela não era tão escandalosa, fora que ela e Harry, seu “irmão”, estava fora de cogitação. Então, a única pessoa que poderia ser era Parkinson, pois Luna é virgem, Cho estava flertando descaradamente com o lufano e Daphne fez uma cara de nojo quando foi desafiada a beijar o garoto a minha frente.

O olhei intensamente, mas ele não conseguiu sustentar meu olhar. Se tinha uma coisa que Harry Potter não sabia fazer era mentir.

— Ela ficou bem depois? - perguntei e ele assentiu.

Resolvi não o desmascarar, afinal isso não era da minha conta.

— Fui a única que continuou passando mal?

— Apesar de todo mundo estar morrendo de ressaca, Hermione arrastou a maioria de nós para as aulas hoje de manhã. - ele disse com uma careta e eu gargalhei.

— Graças a Merlin eu me livrei. - ergui as mãos para o alto em agradecimento.

— Você tinha que ver. - ele gargalhou. - Nas aulas que tivemos com os sonserinos a Sonserina perdeu vários pontos por Draco e Blásio terem dormido na aula.

— Que pena que eu não vi isso. - ri.

— Não se anime tanto, também perdemos pontos. - ele soltou uma risada anasalada. - Rony não aguentou um segundo da aula da Minerva e até roncou.

Eu gargalhei mais ainda e ficamos até tarde conversando sobre a festa, da qual precisei ser lembrada de muita coisa. Finalmente, eu estava vendo o nosso Harry Potter aparecendo.

****

No dia seguinte eu tinha muita coisa para assimilar, as coisas que Harry havia me dito martelavam em minha cabeça. Eu lembrava da noite anterior, mas não totalmente e conforme ele foi me contando as lembranças vieram.

O que Harry falou sobre Hermione e Draco me fez pensar em meu irmão. Já fazia um tempo que eu vinha desconfiando das fugas que minha amiga dava durante o dia e de ela sempre ir cedo para seu salão comunal com a desculpa de estar muito cansada. Essas coisas com o fato de a cada dia que passa ela estar mais e mais grudada com Ron me fazia ter certeza de que ele estava sendo corno. E a pergunta que eu me fazia era: ele continua lerdo ao ponto de não se tocar disso ou está sendo um corno manso?

— Ruiva! - Theo falou em minha orelha tão de repente que dei um pulo com o susto que levei.

— Que inferno, Nott! - o olhei irritada. - Agora virou um hobby todo mundo me assustar?

Ele riu e sentou ao meu lado no banco, no jardim.

— Você que anda muito avoada. - ele respondeu. - Como você está?

— Eu estou bem.

— Está me evitando, por acaso? - ele perguntou.

— Não. - respondi desviando o olhar fingindo prestar atenção em outra coisa.

— Não mesmo? - ele se aproximou e começou a brincar com a mecha de cabelo atrás da minha orelha.

— Por que eu estaria te evitando? - perguntei me fazendo de desentendida.

— Talvez por causa do que aconteceu na festa. - ele sussurrou no meu ouvido e me arrepiei.

— N.não sei do que você está falando. - dei de ombros.

Eu sabia o que ele estava falando, passei o dia todo tentando não pensar no ocorrido e evita-lo foi o único jeito que achei de fingir que nada havia acontecido. A lembrança estava nítida em minha mente e a vergonha era inevitável.

Eu lembrava claramente de mim em cima de Theo o beijando loucamente e tentando tirar sua roupa a qualquer custo antes do meu estomago não colaborar com a situação e eu ter que correr para o banheiro. Ele tentou falar comigo sobre o assunto enquanto eu estava de repouso na enfermaria, mas eu dei um jeito de fugir dessa conversa e aparentemente ele ainda quer ter essa conversa.

— Você não se lembra da festa? - ele me olhou curioso.

— Só me lembro algumas coisas. - menti. - Minha última lembrança é do meu irmão indo para o quarto com a Greengass. - fiz uma careta e ele riu.

— Não se lembra de nada mais? - seus dedos, que ainda brincavam com o meu cabelo, passaram para minha bochecha acariciando meu rosto.

— Lembro um pouco da cena do banheiro. - ele soltou uma risadinha e aproximou seu rosto do meu.

— Só isso? - sussurrou.

Eu conseguia sentir seu hálito quente e seus olhos se mantinham presos aos meus. Engoli em seco e concordei com a cabeça, pois nada saia pela minha boca.

— Então, acho melhor eu te lembrar. - ele disse sorrindo sedutoramente e me puxou pelo queixo para um beijo de tirar o folego.

Uma de minhas mãos se enroscou em seu cabelo, enquanto a outra segurava sua nuca, o puxando para mais perto e arranhando o local. O beijo foi diferente tanto do nosso primeiro beijo quanto do beijo da noite da festa, foi um beijo calmo e lento, sem nenhuma intenção de apressar as coisas.

— Se lembrou agora? - ele perguntou quando nos separamos, roçando os lábios nos meus.

— Não. - respondi em um sussurro e o puxei para mais um beijo.