Harry.

— Por que você fica lendo e relendo esse livro? - perguntou a morena entediada.

— Quando você lê algo e depois relê você sempre capta algo que não prestou atenção antes. - respondi deixando o livro de lado e a olhando jogada na poltrona. - Igual quando se vê um filme, você sempre vê algo “novo” - fiz aspas com a mão. - quando assiste de novo.

Pansy se sentou ereta, me olhou com o cenho franzido e me perguntou meio sem graça:

— O que é filme?

A olhei com os olhos um pouco arregalados, mas tentei espantar minha cara de choque quando me lembrei que ela pertencia a uma família de sangue puro e não tinha nenhum contato com o mundo trouxa.

— Hã... - tentei achar as palavras exatas para descrever, mas nada me vinha na cabeça. - Bem, é como uma foto bruxa, mas bem mais extensa e com efeitos sonoros e audiovisuais.

— Entendi. - respondeu, mas me olhava como se eu tivesse falado na língua das cobras.

— Me lembra de te apresentar a um filme um dia desses. - respondi rindo.

— Muito obrigada, Potter, mas acho melhor eu não me familiarizar com essas coisas trouxas. - ela disse com desdém e se levantou, se aproximando de mim e se sentando ao meu lado na mesa. - Achou alguma coisa interessante?

— Eu estou comparando as poções com esse livro. - ergui o livro do Príncipe Mestiço. - Tem muitas poções que são quase idênticas, que o que muda é um ingrediente ou outro.

— E você só me avisa agora? - ela perguntou irritada, tirando o livro da minha mão. - Eu estou entediada faz duas horas! - reclamou e leu a primeira página. - Quem é o Príncipe Mestiço?

— Era o Snape. - respondi. - Eu usei esse livro no sexto ano, ele dá ótimas dicas de como fazer com perfeição as poções.

— Por que nunca me mostrou? - ela perguntou atenta ao livro. - Preciso aumentar minhas notas em poções.

Eu ri.

— Achei que suas notas eram boas, Srta. Parkinson. - brinquei e ela riu.

— São excelentes, mas eu e Emília estamos apostando para ver quem tem a maior grade escolar até o fim do ano e em poções ela consegue ser um pouco melhor que eu. - ela bufou.

— Se usar isso vai ser trapaça. - respondi sorrindo de lado.

— No sexto ano, onde conseguiu o livro? - ela me olhou atenta.

— No armário de materiais do professor Slughorn.

— Se estava em uma sala de aula e em um armário onde era para os alunos usarem os materiais, então não é trapaça, é sorte. - ela respondeu e sorriu chacoalhando o livro em frente ao meu rosto. - É o famoso "quem pegar pegou"!

— Meus amigos discordavam disso. - respondi lembrando o fuzuê que foi para eles me fazerem concordar em me livrar do livro.

— Deixa eu adivinhar. - ela riu com escárnio. - Suas notas estavam maiores que as deles? - eu não respondi e ela soltou uma risada anasalada. - Típico e completamente normal. Se eu aparecesse com esse livro Draco faria eu me livrar dele, já que é a única matéria na qual ele é o melhor do nosso ano.

— É a cara do Malfoy fazer isso, também.

Nós rimos.

— Mas se você se livrou dele como o recuperou? - ela perguntou curiosa.

— Gina me levou até a sala precisa e o escondeu lá e foi a mesma sala em que o diadema de Rowena estava escondido. - respondi relembrando a pequena luta que travamos naquela sala. - Eu o encontrei enquanto brigávamos com Malfoy, Zabini e Crabbe, mas não deixei meus amigos saberem.

— Muito esperto, Potter. - ela disse e olhou no relógio que ficava na parede a nossa frente que marcava 7:00 p.m. - Caramba, passamos a tarde toda aqui! - exclamou. - Vamos ou nos atrasaremos para o jantar.

Eu assenti e me levantei, com ela, recolhendo meus materiais. Mesmo faltando uma hora para o jantar eu ainda queria deixar meu material no dormitório e tomar um belo banho antes.

— Nada disso! - ela disse movendo o dedo indicador para um lado e para o outro, em sinal de negação, na frente de meu rosto. - O combinado é deixar essa coisa aqui! - ela apontou para o livro de Voldemort que eu havia pego. - E aproveita e deixa o do Príncipe Mestiço também, não precisamos dos seus amiguinhos encrencando com isso de novo.

Eu bufei, mas fiz o que ela mandou. Confesso que ficar um pouco longe do livro me fazia bem, parecia que me tirava um grande peso das costas. Pansy e eu estávamos trabalhando nesse livro fazia quase uma semana, quando eu esbarrei com ela no corredor e ela se interessou por ele.

Nós havíamos pedido essa sala de estudos para a Sala Precisa e desde então nos encontrávamos aqui para aprender mais sobre as artes das trevas, Pansy se interessava muito pelo assunto e eu não o achei tão ruim desde que eu comecei a ler aquele livro.

Nos despedimos com um breve “até amanhã” e eu segui para a torre da Grifinória enquanto ela seguia para as masmorras. Deixei meus materiais em meu dormitório e fui tomar meu banho.

****

Cheguei na mesa da Grifinória e o jantar já havia sido servido, fiquei contente em ter perdido o discurso chato que Minerva insiste em fazer antes do jantar, não sei como ela arranja tanta coisa para falar.

Me sentei ao lado de Dino e Simas, com Hermione, Rony e Gina em minha frente.

Gina continuava sem olhar para a minha cara e ao que tudo indica ela não havia contado aos outros dois o que aconteceu entre nós. Não entendo o que me deu aquele dia para falar aquelas coisas para ela, apesar de eu ter dito tudo o que eu pensava, não fui nem um pouco justo com ela e com meus amigos e tudo o que ela havia me dito eu sabia que era a mais pura verdade. Eu precisava me desculpar com ela, mas eu não sabia como, principalmente agora que ela não largava aquele sonserino metido.

— Onde esteve Harry? - Ron perguntou abraçando Hermione e a puxando para mais perto. Esses dois estavam incrivelmente pegajosos hoje, isso me dava vontade de vomitar. – Te procurei a tarde toda.

— Fui estudar um pouco na sala precisa e perdi a noção do tempo. – respondi me servindo.

— Agora todo mundo resolveu me abandonar para ficar estudando. – o ruivo reclamou bufando e fazendo bico. Hermione o olhou fazendo uma carinha de dó, lhe deu um selinho e ficou dizendo que não era verdade e prometendo que ficaria mais com ele.

Olhei a cena enjoado e, a julgar pela cara da ruiva ao lado da castanha, que olhava a cena com a cara contorcida, eu não era o único com esse sentimento. Gina reparou que eu a olhava e fechou a cara voltando sua atenção ao prato a sua frente.

Passei o jantar inteiro conversando com Simas e Dino sobre Quadribol, até que Hermione e Rony se levantaram para ir embora e resolvi segui-los. A castanha tinha ronda em uma hora e o ruivo não queria deixá-la sozinha com Malfoy.

Os acompanhei até um certo ponto e os dois se despediram com a desculpa de que iam passar na biblioteca antes de irem para a torre dos monitores. Eles achavam que me enganavam.

Segui meu caminho para o salão comunal da Grfinória e fiquei lendo “Quadribol através dos séculos” o livro que Hermione me dera no natal passado.

Me senti sozinho novamente e isso era algo que havia se tornado muito frequente em minha vida logo depois da guerra. Eu sentia falta das pessoas que havíamos perdido e sentia falta de como as pessoas que ficaram eram antes das perdas. Eles haviam dado a vida por mim e esse peso acabava comigo.

Não consegui prestar atenção no livro, minha cabeça vagou para os anos antes da volta de Voldemort quando todos sorriam de verdade e não temiam um possível tirano. Lembrei de como eu me sentia livre e feliz em estar em Hogwarts, minha casa, mas que agora eu só sentia culpa e tristeza ao ver tantos rostos que sofreram com essa guerra, que sofreram por minha causa.

Gina entrou no salão comunal acompanhada de Neville e Parvati, essa era a minha chance de tentar resolver as coisas entre nós.

— Gina. – a chamei antes que subisse com a outra garota para seu dormitório. Ela me olhou com cara de poucos amigos e eu engoli em seco antes de continuar. – Posso falar com você a sós?

Patil a olhou, assentiu apertando sua mão e subiu para o quarto, enquanto Gina me acompanhava, bufando, até um sofá que ficava mais no canto do salão.

— O que você quer? – ela perguntou cruzando os braços?

— Quero resolver as coisas. – suspirei. – Não quero continuar assim.

— Se espera que eu peça desculpa… - ela começou, mas eu me adiantei:

— Não espero, na verdade não tem o porquê de você me pedir desculpas. – ela assentiu e ergueu as sobrancelhas, esperando que eu continuasse. – Eu te devo desculpas pelo modo que falei com você aquele dia e por como venho me comportando ultimamente. É que as coisas estão meio difíceis.

— Não só para você, Harry. – ela disse dura. – Estão difíceis para todos, é só você parar de olhar o próprio umbigo.

— Eu sei. – suspirei sem saber como continuar.

— Não posso dizer que está tudo bem entre a gente, o que você me disse aquele dia não se diz para ninguém. – ela respondeu. – Mas eu te desculpo e espero que tenha um choque de realidade para essa nova pessoa que você se tornou, essa pessoa que não é o nosso Harry.

Ela terminou e saiu em direção ao seu dormitório. Fiquei estático tentando assimilar o que ela me dissera.

Eu não tinha mudado tanto assim, tinha? Todos depois da guerra mudaram, mas só porque eu disse o que eu pensava agora eu era uma pessoa ruim?

Estava pensando nessa minha conversa com a ruiva, quando um outro furacão ruivo entrou bufando e batendo os pés.

— Se ela prefere ser a boazinha da história e dar uma segunda chance a um comensal de quinta, que ela fique lá com ele. – ele passou por mim reclamando. Estava tão nervoso que nem prestava atenção nas pessoas com que esbarrava pelo caminho.

— Rony! – o chamei meio alto e ele pareceu se assustar. Se voltou para mim e pude ver seu rosto mais vermelho que o normal.

— Ah, oi Harry. – ele disse de mau-humor e veio se sentar ao meu lado.

— Aconteceu alguma coisa? – perguntei curioso e ele bufou, o gene Weasley se mostrando bem fiel.

— Nada de mais, - ele disse irônico. – só a Hermione que resolveu que dar uma segunda chance a comensais inúteis é algo legal de se fazer.

— Sabe, isso não é uma má ideia. – respondi lembrando-me de quando eu havia visto uma pequena parte da marca negra no braço de Pansy e ela parecia querer esconde-la a todo custo.

Ron me olhou com irritação.

— Até você vai vir com essas coisas, Harry?

— Pensa bem, Ron. - disse calmamente. - Muitos se arrependeram do que fizeram.

Ele pareceu pensativo, mas sua carranca logo voltou.

— Duvido! - ele cruzou os braços. - Pelo menos da parte do Malfoy.

Então, esse era o prolema! Hermione devia ter defendido Malfoy dos ataques dele e agora ele estava todo revoltado. Até onde eu sabia Rony não ainda sabia sobre os dois e eu fico imaginando o que ele faria se um dia descobrisse.

— Ele não vai machuca-la, se é isso que te deixa com medo. - eu disse tentando acalma-lo. - Ele não seria louco de fazer isso.

— Mesmo assim, é bom mantermos um pé atrás com ele. Não só com ele como com todos.

****

Fiquei um bom empo ouvindo Rony reclamar dos comensais e dei graças a Merlin quando com um bocejo ele se despediu e foi dormir. Eu estava sem sono, então, continuei no sofá com a cabeça a mil, até que resolvi dar uma volta.

Andando absorto em pansamentos, pelos corredores mais escuros e pelas passagens secretas que os gêmeos haviam me mostrado, acabei parando, inconscientemente, em frente a sala precisa. A porta da sala que eu divda com Pansy apareceu e eu entrei, encontrando a morena entada na mesa de costas para mim.

Fechei a porta silenciosamente e me aproximei dela, mas ela nem se quer moveu um dedo, parecia estar muito concentrada. Olhei por cima de seu ombro para ver o que atraia tanto sua atenção e vi dois livros abertos, o livro de Voldemort e o livro de Snape.

— O que você está fazendo? - pergutei em seu ouvido e ela deu um pulo de susto.

— Qual o seu problema, Potter? - ela perguntou irada e pegou um dos livvros, me batendo com ele enquanto dizia pausadamente: - Nunca. Assuste. Alguém. Assim.

Tirei o livro de suas mãos rindo.

— Não vai me responder? – perguntei quando ela se acalmou e se sentou.

— Perdi o sono e vim dar uma volta. - ela disse desviando os olhos.

Apesar de fazer tão pouco tempo que nos encontrávamos, eu aprendera a ler direitinho aquela morena e sabia que não era verdade. Olhei fundo em seus olhos verdes, com minhas sobrancelhas erguidas, demonstrando que eu sabia que era mentira.

— Está bem! - disse irritada. - Eu vim roubar o livro do Principe Mestiço, mas juro que eu ia devolver amanhã.

— E por que não pegou e foi embora? - perguntei rindo e me sentei ao seu lado.

— Eu parei para comparar os dois livros e achei várias poções de Voldemort que podem ser combatidas ou modificadas para o bem com as poções que conhcemos se acrecentarmos ou tirarmos alguns ingredientes. - ela respondeu e começou a me mostrar as poções que ela havia achado e os ingredientes que anulavam as poções de Voldemort. - Mas essa poção me deixou intrigada.

Pansy abriu os dois livros em uma poção que tinha o mesmo nome.

O do Principe Mestiço:

"Poção do Morto Vivo.

Faz com que aquele que a beber mergulhe num sono profundo que pode durar indefinidamente.

Ingredientes:

Losna

Raízes de valeriana

Raiz de asfódelo em pó

Vagem sudorífera"

E o de Voldemort:

"Poção dos Mortos Vivos.

Traz de volta aqueles que já se foram.

Ingredientes:

Sangue de unicórnio

Mandrágora adulta

Raiz de asfódelo em pó

Vagem sudorífera"

— Isso não bate, Harry. - ela disse como cenho franzido. - Esse livro só tem coisa ruim e de repente promete algo bom? - ela disse apontando para o livro de Voldemort. - E outra, os ingredientes também não batem. Sangue de unicórnio mantém a pessoa viva e uma dose grande de Mandrágora causa overdose e é fatal. É como se ele quisesse trazer as pessoas dos mortos, mas mantendo-as mortas.

Eu arregalei os olhos e comecei a rir com o que instantaneamente me veio na cabeça, algo insano, mas que só poderia ser isso, não tem outra explicação.

— Um zumbi. – eu disse e ela me olhou sem entender.

— O que é um zumbi?

— Um morto vivo. – respondi e comecei a gargalhar.

— Do que está rindo?

— Um zumbi é algo fictício do mundo trouxa. - eu disse quando parei de rir. - São cadáveres reanimados que se alimentam de carne humana e com uma mordia infecta outras pessoas e no fim temos um apocalipse.

— Isso é horrivel! - ela disse horrorizada.

— Pansy, não se preocupe. - eu disse. - Isso é uma bobagem.

— Espero que tenha razão. - ela disse bocejando. - Se alguém vier tentar me comer no sentido literal da coisa, eu te mato. - eu ri e ela se levantou. - Vou para o meu salão comunal, já está tarde.

— Já estou indo também. - respondi e ela pegou o livro de Snape.

— Prometo que devolvo amanhã. - eu ri e assenti, vendo-a sair pela porta logo depois de se despedir.

Fiquei olhando aquela poção totalmente insana. Se Voldemort queria criar mortos vivos, ele estava bem perto. Naquele livro tinha toda a teoria, passo a passo de como fazer a poção e de como deixa-la eficaz.

Olhando aquilo tudo, algo me veio na cabeça, algo que Pansy havia me dito: "achei várias poções de Voldemort que podem ser combatidas ou modificadas para o bem com as poções que conhecemos...".

E se isso fosse possível e se trazer as pessoas de volta fosse possível? Eu teria minha família de volta e nunca mais estaria sozinho.