Ironias do destino

Tecnicamente não foi invasão!!


Não demorou muito para estar na casa do meu pai. Na verdade não era muito longe do campus. Paguei o taxista, pois é, não acredito que não tenho um carro, bom não acredito que ainda não tirei carteira. Mas isso não importava muito, sabia que tiraria a minha por agora.

Logo me vi batendo na porta do meu pai. Não fazia muito tempo desde da última vez que nos vimos, mas confesso que neste curto período de tempo ele fez muita falta. Quando ele abriu a porta não pude evitar me jogar em seus braços, como é bom um abraço caloroso de um pai.

–Que bom que chegou querida –murmurou ele enquanto me retirava do chão, meu pai ainda estava em forma.

–Eu não deixaria de vir por nada –falei sorrindo.

–Vamos, entre preparei seu prato favorito.

–Pai, mas você só soube que eu viria por agora. –A não ser que... – Você sabia que eu viria o tempo todo não é? – O acuso e ele apenas retribuiu com um sorriso, meu pai era bonito, era alto e não tinha um porte atlético, sua barba era rala e seus olhos eram castanhos escuros, seus cabelos castanhos estavam ficando grisalhos mais isso o deixava ainda mais bonito.

–É claro que eu sabia querida, só liguei para confirma a sua vinda pro jantar. –Seu sorriso aumentou.

–Pois bem, cadê a pizza pai? – Cara a pizza do meu pai era a melhor, pelo menos a melhor que eu já comi, parte da família do meu pai era italiana e eu adorava isso, meu pai havia me ensinado algumas receitas de família, mas nem de perto a minha chegava a ser tão boa quanto a dele.

–Está na mesinha da sala. Junto com as caixas que guardam os pertences de sua mãe.

–Então vamos! –Falei e juntos seguimos em direção a sala, nos sentamos no chão mesmo.

–Um pedaço de calabresa pra você –murmurou colocando um pedaço de pizza no meu prato...

–Obrigado pai.

–... e uma de frango pra mim. –Dei a primeira mordida e realmente estava do jeito que eu lembrava, a coloquei de volta no meu prato e meu pai retirou algo de uma das caixas. Somente soube o que era quando o mesmo pois na minha frente, era o álbum de fotografias da mamãe, meu pai o abriu e me mostrou uma das fotos – Acho que você não vai se lembrar dessa – balancei a cabeça concordando, não me lembrava daquele foto, também eu era muito pequena -, você devia ter uns 5 anos, não desgrudava da Emma – disso eu me lembrava, era uma boneca de pano. Suas tranças eram bege e ela tinha um vestido azul com alguns detalhes brancos, andava com essa boneca pra todo lugar ate os meus doze anos.

–Eu me lembro dela –falei, ficamos um bom tempo somente olhando as fotos e comendo pizza.

–Sabe Carrie eu queria lhe entregar uma coisa –assenti, ele vasculhou em uma das caixas e logo se voltou pra mim, ele tinha uma caixinha de musica em suas mãos, ele levantou a parte de cima e a musica começou a soar enquanto uma pequena bailarina dançava, era simplesmente linda, acho que só retornei a realidade quando a musica acabou -, era da sua mãe, ela adorava ouvir antes de dormir, e tenho certeza que ela adoraria que ficasse com isso – disse e me entregou a caixinha, fiquei por um bom tempo a olhando encantada – e com isso. –quando levanto meu olhar vejo o colar que mamãe usava, ela quase nunca o tirava do pescoço, sua corrente era dourada e seu pingente eram pequenas asas de anjo também douradas, sem pensar duas vezes abracei meu pai, quando nos soltamos ele me fez ficar de costas e pediu que eu segurasse meu cabelo. Quando o fiz ele colocou o colar em meu pescoço, assim que ele terminou de colocar a peça, não pude evitar delinear com os dedos as pequenas asas de anjo.

–Obrigada pai, obrigada mesmo –ele enxugou uma das lágrimas silenciosas que haviam escorrido pelo meu rosto, sem mesmo que eu pudesse perceber.

–Vai passar a noite aqui, certo? – Assenti – que bom, seria muito perigoso voltar agora pro campus. Acho melhor eu ir dormir, esta tarde –olhei para a tela do meu celular e me espantei quando vi que já eram duas da manha.

–Será que eu poderia ficar mais um pouco? –Pedi – adoraria continuar olhando as fotos da mamãe.

–Tudo bem, só não esqueça que amanha você tem que voltar cedo para o campus.

–Obrigada –ele beijou o topo da minha cabeça e se retirou.

Fiquei por um bom tempo olhando as fotos da minha mãe, estava cansada mesmo assim não queria dormir, pelo menos não agora, novamente abri a caixinha de musica deixando que a bela melodia soasse no local. Mal percebi quando cai no sono.

–Carrie querida –acordei com meu pai me chamando.

–Só mais 5 min. –pedi.

–Querida, não era pra você esta no campus? –Abri meus olhos rapidamente.

–Droga, droga – corri para meu antigo quarto e escovei rapidamente os dentes, desci praticamente pulando os degraus, dei uma beijo em meu pai coloquei a caixinha de musica em minha bolsa -, tchau pai nos vemos depois.

–Tchau querida.

***

Cheguei atrasada, e bem meio que fui o assunto da sala, parecia ate o colegial. Pelo menos agora esse horário era com a Marie e com... Dean, ta ainda não sei por que continuo implicando com ele, dói admitir isso ( para de drama Carrie) mais ele é legal, um idiota, mais legal.

Me sentei ao lado de minha amiga, que me olhava de uma forma curiosa, mas bem, eu estava com a mesma roupa de ontem, com a cara amassada e uma tremenda dor de cabeça, parecia até que eu estava de ressaca. Olhei para frente esperando compreender o que meu professor falava, mas minha mente estava longe. Fui despertada assim que Marie deixou um bilhete em cima da minha mesa. Assim que o abri não pude evitar soltar um pequeno sorrisinho.

"Mesma roupa de ontem, cabelo desgrenhado, cara amassada e mesmo assim ainda continua gata... como consegue? Enfim, podia ter me chamado pra farra, em Carrie?"

Sorri. Cara eu só tenho amiga doida, pensando por esse lado eu seria a suja falando da mal lavada. Logo escrevi sua resposta.

"Se com farra você quer dizer ir visitar o seu pai, comer muita pizza e pegar no sono enquanto vê algumas fotos da sua mãe, com certeza vou te chamar na próxima :)"

Ps: se com gata você esta querendo dizer que estou parecendo com o burro do filme Shrek , concordo com você neste quesito...

Coloquei o papelzinho na mesa de Marie, e não demorou muito para a mesma lê-lo, Marie soltou uma gargalhada alta, chamando a atenção do professor para nos.

–Algum problema senhoritas? –Ele perguntou, com uma sobrancelha erguida.

–Não senhor –falei , e lancei um olhar reprovador para Marie que apenas retribuiu com um sorriso tímido, logo o mesmo papelzinho retornou a minha mesa.

"Desculpe, me empolguei, então o que foi fazer na casa do seu pai?"

Não pude responder, pelo menos não por bilhete já que o nosso professor nos liberou da aula. Arrumei o meu material que eu tinha pego no armário antes de entrar em sala e sai acompanhada por Marie.

–Meu pai me ligou ontem e pediu para que fosse em casa, olhar algumas coisas que pertenciam a minha mãe –lhe falei -, passamos a noite toda conversando e como já estava muito tarde nos achamos que seria melhor eu voltar ao campus de manha, depois que ele foi dormir fiquei mais um tempo olhando as fotos da minha mãe, e bem o resto acho que já da pra imaginar, dormi com a cara na mesinha da sala, acordei atrasada e por sorte conseguir entrar em sala –mal havia terminado e Marie já estava rindo da situação que me encontrei a algumas horas atrás.

–Ok ok –falou tentando parar de rir -, então Carrie, você já deve esta sabendo sobre o meu aniversario – a olhei desentendida -, não faça essa cara, que eu sei que provavelmente o Dean deve ter te falado algo.

–O que te leva a pensa nisso? –Perguntei curiosa.

–Por que bem, eu conheço o irmão que tenho Carrie –ela sorriu travessa -, já o vi fazendo várias coisas. Mas então, acho que ele não lhe contou que você ajudara na organização da minha festa.

–Sério Marie?

–Seríssimo –fiz biquinho -, nem tente Carrie, por favor –pediu – faz isso por mim.

–Ta ta, vou fazer. –comecei a rir quando Marie começou a fazer uma dança estranha da vitória.

–Então depois eu vou no seu dormitório, Megan também não me escapa, ai a gente faz uma lista do que vai precisar –voltamos a andar.

–Onde vai ser? –Perguntei.

–Na minha casa, acho que lá terá espaço.

–Bom, só pra adiantar. No que você esta pensando exatamente?

–Ainda não sei, estava pensando em ter algum tipo de show.

–Algum amigo seu vai tocar?

–Na verdade eu tava pensando em contratar o Bruno Mars...

–Serio? –Eu interrompi e ela assentiu – Ah meu deus.

–O que foi? –Dessa vez quem começou a dançar fui eu, chamando a atenção de algumas pessoas.

–Cara eu adoro Bruno Mars –falei.

–Eu também, e bem meu pai tem alguns contatos –piscou o olho-, bom Carrie agora eu tenho que ir, nos falamos depois? –Acenei com a cabeça.

Decidi que agora eu voltaria para o meu dormitório, queria descansar antes de você sabe... caminhei calmamente pelo campus, ate chegar a ala dos dormitórios. Era separado a ala dos garotos e das garotas, mas eu sabia que a maioria não se importava com essa regra. O corredor era extenso e no dia que eu e Megan havíamos chegado acabamos confundindo o numero dos quartos, foi uma tremenda confusão, acabamos no quarto de uma garota loira que se pegava com seu namorado. Foi uma cena extremamente hilária, assim que havíamos aberto a porta a loira tentou sair rapidamente de cima do garoto e acabou caindo no chão puxando ele junto. Claro que como uma pessoa educada pedimos desculpas, rindo histericamente, mas pedimos.

Não demorou muito e avistei a porta do meu quarto, entrei sem nenhuma cerimônia, bem de qualquer forma eu me encontrava sozinha, suspirei agradecida, queria realmente descansar. Coloquei minha bolsa no chão ao lado da minha cama e retirei com delicadeza a caixinha de musica que a um tempo era da minha mãe.

Coloquei a mesma em cima do meu criado mudo, e não pude evitar deixar de ver novamente os belos paços que a pequena bailarina dava de acordo com a musica. Meus olhos estavam realmente pesados, coloquei minha mão no colar que meu pai havia me dado, que também era da minha mãe, de alguma forma me sentia conectada com ela, o apertei gentilmente entre meus dedos antes de cair na inconsciência. Em um sono sem sonhos.

***

Fiquei um pouco desnorteada assim que abri os olhos. O quarto estava escuro. Me inclinei um pouco e alcancei meu celular que também colocara em cima do criado mudo antes de dormir, havia uma mensagem de Dean, como aquele cara conseguiu o meu numero? Me perguntei mentalmente antes de abrir a mensagem. Nela dizia que horas era pra eu esta no estacionamento, suspirei aliviada quando olhei para as horas, ainda faltava duas horas para o meu "encontro" com Dean.

Levantei rapidamente da cama, sabia que se não começasse a me arrumar agora iria me atrasar, principalmente pelo fato que demoro muito quando tomo banho. Caminhei até o banheiro que havia em nosso quarto, e logo tratei de me despi.

A água quente que caia em minha pele me ajudava um pouco com a tensão que eu sentia em meus ombros. Mais logo me deixei relaxar, pensei em como seria o encontro de hoje e em como eu faria para não demonstrar o medo que provavelmente sentiria, eu sabia disso, mas não pude evitar aceitar, Dean Miller havia me desafiado.

Sai do banheiro enrolada em uma toalha, avistei Megan deitada em sua cama, ela continha um livro em mãos mas não consegui identificar qual era, poderia até pedir a ela que me ajudasse a escolher uma roupa legal, mas eu sabia do gosto de Meg e como eu poderia dizer ela era um pouco... extravagante , pelo menos pra mim. E bem íamos apenas ao cinema certo? Pra que me preocupar demais e meu gosto por roupa não era de tão ruim.

Peguei uma calça jeans azul escuro e uma blusa que eu tinha dos EUA, minha roupa intima e novamente segui para o banheiro. Não demorei para me vesti e logo já estava secando meus cabelos. Quando terminei, antes de retornar ao quarto, coloquei o colar que meu pai havia me dado, com ele no pescoço segui para o quarto, peguei minhas botas preta, as calçando logo em seguida, elas não continham saltos e eu as escolhi justamente por causa disso. Meg já não lia mais, apenas me fitava com um sorriso em seus lábios.

–Ta gata em amiga –ela falou, se levantando e seguindo em minha direção -, só falta uma coisinha –ela me fez sentar em minha cama e pegou sua maleta de maquiagem, ela apenas fez uma maquiagem básica e eu agradeci por isso mentalmente -, prontinho agora sim.

–Obrigada Meg –agradeci.

–Não precisa agradecer Carrie, agora saia –falou e isso me fez rir.

–Esta me expulsando do meu próprio quarto? – Ela colocou as mãos em seus lábios e fez uma expressão ofendida.

–Eu? Te expulsando? –Perguntou ainda fingindo esta ofendida –Mas é claro que sim. Agora ande. –Ela empurrava minhas costas em direção a porta, não facilitei nada, nada.

–Isso é só por causa do meu encontro? –Perguntei sorrindo, ela não respondeu e eu sabia o por que – Sei Meg, podia ter me falado que iria pegar alguém e eu tinha me arrumado mais rápido – pude ver suas bochechas corarem.

–Eu não vou pegar ninguém –retrucou.

–Eu te conheço, minha querida Meg... bem como eu não quero atrapalhar, vou indo, já esta na minha hora –,retornei para o local onde ficava minha cama e peguei uma bolsa pequena colocando meu celular dentro e outras coisas, lhe dei um beijo na bochecha e sai.

Sinto que esqueci de alguma coisa, mas não tenho a mínima ideia do que seja. Olhei as horas no meu celular e me assustei ao perceber que realmente já havia dado minha hora, na mensagem dizia para nos encontrarmos as 20:30h e bem faltava apenas 15 minutos. Apesar da lerdeza , não demorou para que eu estivesse no estacionamento. O mesmo não estava vazio, havia pessoas andando de um lado para o outro. Bom era sexta-feira, todo mundo queria mesmo era curti.

Peguei meu celular, somente para me distrair. Como não tinha nada interessante no facebook, comecei a ver algumas fotos que eu continha no meu celular. Vi uma que estava eu e Meg abraçadas, outra havia Lena e assim que eu passei o dedo na tela para ver mais uma imagem, me surpreendi ao ver uma foto minha com James, franzi a testa, achei que tivesse apagado...

–Você ainda tem essa foto –levei um susto ao ouvir a voz de James tão próxima do meu ouvido.

–O que faz aqui James? –Perguntei me virando para encara-lo.

–O mesmo que todo mundo Carrie- sorriu debochadamente -, vou sair, e com isso tive o prazer de vê-la novamente... –fiz um gesto com a mão para que ele parasse de falar.

–Você me entendeu James, o que faz aqui no campus?

–Vim estudar Car, quero ter um ótimo futuro –assenti -, mas também vim recuperar o que é meu, no caso você.

–Eu não sou um objeto James –falei com os dentes trincados -, e se eu fosse você, desistia já segui em frente, faça o mesmo.

–Sério? Por que a foto que eu vi no seu celular, não queria dizer exatamente isso.

–Apenas esqueci de excluir –peguei meu celular, mostrei a foto pra ele e logo a exclui -, viu? Foi bem mais fácil excluir você da minha vida do que eu esperava, desista James já segui em frente –ele abriu a boca pra falar alguma coisa, porém foi interrompido por uma voz grossa.

–Algum problema? –Dean perguntou, se pondo ao meu lado.

–James eu queria te apresentar o Dean, meu namorado – olhei para o mesmo que me olhava com uma expressão maliciosa, e eu apenas revirei os olhos o abraçando de lado –e Dean esse James, pronto vocês já foram apresentados, até depois James vamos sair e estamos um pouco atrasados sabe como é né, que garota não fica doida para dar uns beijos no cinema – pude ser sentir que Dean estava rindo, me virei ainda abraçada de lado com ele e nos afastamos de James, assim que estávamos longe o suficiente me separei de Dean e suspirei aliviada.

Sabe como é né, que garota não fica doida para dar uns beijos no cinema – Dean me imitou, tentando fazer uma voz fina - ,serio Carrie? Se você topar eu topo –falou e piscou o olho, dei um leve soco em seu braço.

–Vai sonhando.

–Já sonhei –disse e pela primeira vez no dia realmente olhei para o seu rosto, havia um sorriso sincero em seus lábios, algo que eu não tinha visto em Dean desde do dia em que nos conhecemos.

–Sinto muito –falei somente.

–Pelo que? –perguntou confuso.

–Sonhar comigo deve ser mais um pesadelo – falei brincando-, então quem morre?

–Eu –respondeu entrando na minha brincadeira.

–Sério? –ele assentiu.

–Pelo menos... uma parte de mim morre.

–Como assim? –Perguntei curiosa, seu olhar parecia distante.

–Acho melhor irmos –ele me guiou em direção ao seu carro e bem fiquei boquiaberta quando ele destravou uma BMW 320 preta, ele abriu a porta do carona pra mim e logo seguiu para porta do motorista.

***

Assim que chegamos Dean novamente abriu a porta do carona para mim, agradeci e entramos no shopping. Logo já estávamos na parte onde se encontrava o cinema, ele havia comprado dois ingressos pela internet.

–Quer pipoca? –Perguntou.

–Pode ser –respondi gentilmente.

–O que vai querer beber?

–Um... um milk-shake de ovo matine –ele assentiu e soltou um breve sorrisinho – e Dean –gritei fazendo com que ele olhasse pra mim -, já que é você que vai pagar mesmo, traz o maior que tiver.

–Gulosa –gritou de volta.

–Eu só aproveito os prazeres da vida.

–Então depois do cinema sou todo seu –falou com uma voz sedutora, ele havia falado aquilo alto demais, tanto que pude sentir alguns olhares sendo dirigidos na minha direção, abaixei a cabeça para esconder o rubor que se espalhava pelas minhas bochechas.

Não demorou para que ele estivesse na minha frente me entregando meu milk-shake, apenas agradeci, entramos na sala onde assistiríamos o filme e nos sentamos em umas das fileiras do fundo. Estava ansiosa mas não de uma jeito positivo isso eu garanto. Assim que o filme começou me foquei em minha bebida, como eles conseguiam fazer algo tão bom? Sério era realmente um néctar dos deuses. Tentei focar no sabor da bebida deliciosa que estava tomando mais isso acabou não dando certo quando escutei o primeiro grito, meu corpo se tencionou e como uma garotinha curiosa olhei pra tela, essa cena com certeza ficaria marcada em minha mente para sempre, por sorte consegui evitar soltar um grito, logo pude sentir o gosto de sangue em minha boca já que eu havia mordido minha língua.

Eu prometo que quando eu sair daqui vou tentar, tentar não ser uma pessoa muito orgulhosa, cara mais que merda eu to fazendo? Eu não devia ter aceitado esse desafio imprudente, bom agora é meio tarde Carrie, vamos é só um filme, só um filme, repeti pra mim mentalmente.

Mesmo repetindo esse mantra não consegui evitar o medo que me consumia, me assustei quando sinto algo em minha mão, assim que olho suspiro aliviada ao ver que Dean havia entrelaçado nossos dedos, me passando de certa forma segurança. Olhei para ele e ele não tinha um sorriso debochado em seu rosto como eu achava que teria, não consegui descrever a maneira como ele me olhava, era... diferente. Dean se aproximou de mim e em tom calmo sussurrou em meu ouvido.

–Esta tudo bem Carrie, não precisa ter medo – acariciou levemente minha mão com o seu polegar – olha pra mim – pediu e assim eu o fiz -, é só um filme ok? Não aconteceu de verdade, e aquele sangue todo –disse – é mais falso do que nota de três reais –eu sabia que ele estava mentindo. Gostei do que ele estava tentando fazer, acabei soltando uma risada que soou mais alta do que eu esperava, chamando a atenção das pessoas que estavam em nossa frente.

–Shhhh – o cara a nossa frente pediu, sua expressão rabugenta foi tão engraçada que me fez explodir em uma gargalhada-, se eu fosse você parava mocinha ou terei que retira-la desta sala –ignorei o que ele havia falado e me foquei em como ele havia falado e isso fez com que uma nova onda de risos saíssem da minha boca.

–Caraca você fala que nem o meu avô.

***

Tive que apoiar em Dean para que não caísse no chão, por algum motivo ainda não conseguia parar de rir, mas acho que isso se desencadeou quando aquele carinha começou a dar chilique, até o Dean começou a rir e bem acho que isso foi a gota d’água ele se revoltou e fomos expulsos do cinema.

–Ainda não acredito que fomos expulsos -murmurou Dean ainda risonho.

–Como eu ia saber, que aquele cara iria se irritar tão fácil ou que ele é dono do shopping? – Pois é, acho que eu não tenho sorte, ele havia ido assistir um filme com o irmão, como sei disso? Simples ele não parava de gritar que era o único dia do ano que seu irmão voltava pra casa e que eu estava estragando uma parte dele, fazer o que né? Tenho esse dom.

Estávamos seguindo em direção ao carro de Dean, quando o mesmo para no meio do caminho e da uma olhada em seu celular, dando um sorriso travesso logo em seguida.

–Isso não importa agora, vem vou te levar em um lugar –ele falou e pegou a minha mão, me direcionando para aonde o carro estava, só que agora andávamos mais rápido.

Não demorou para que estivéssemos em sua BMW 320 preta, assim que já estávamos em movimento olhei para Dean e o mesmo me parecia concentrado, acabei reparando de novo em como ele estava vestido. Usava uma calça jeans preta, uma camiseta branca de botões deixando os primeiro botões abertos, e uma jaqueta preta por cima, já nos pés usava conturnos também pretos, seus cabelos loiro desgrenhado o deixando terrivelmente...sexy.

–O que esta olhando? –Perguntou sorrindo de canto, corei por ter sido pega.

–Nada –consegui dizer.

–Pode falar Carrie, sei que sou gostoso –falou olhando pra mim.

–Será que da pra ficar de olho na estrada? –Perguntei tentando mudar de assunto.

–Não minta pra si mesmo Carrie... sei que gosta de mim.

–Não estou mentindo e esta certo, gosto de você... esta se tornando um ótimo amigo –ele assentiu levemente com a cabeça -, então pra onde esta me levando? –Perguntei curiosa.

–Surpresa –falou.

–Que fiquei claro, não gosto muito de surpresas.

–Dessa eu acho que você vai gostar –disse somente.

***

–E então? –Ele perguntou.

–Esta fechado –falei simplesmente, Dean se infiltrou ainda mais para dentro do parque fazendo com que eu o perdesse de vista -, Dean? –chamei baixo, vai que né tem alguma coisa ali, não houve resposta, esperei por um momento e quando já estava pronta para ir embora os brinquedos do parque de diversão ligaram – Dean? –O chamei novamente porém desta vez um pouco mais alto, novamente não obtive resposta. Dei alguns passos hesitantes para trás e meu corpo acaba se chocando com o de alguém, pude sentir sua respiração no meu pescoço – Isso não tem graça –falei.

–Gostei de escuta-la chamando meu nome, gostaria de escutar mais vezes –sussurrou em meu ouvido, me fazendo arrepiar -, principalmente se estivermos nus na minha cama –me virei e dei um soco em seu braço – Ai!

–Tarado –ele apenas sorriu.

–Vamos? –perguntou.

–Pra onde?

–Nos divertir –falou abrindo os braços e me dando passagem para ter acesso aos brinquedos.

–Não sei se é uma boa ideia, não costumo invadir parques de diversão.

–Vamos Carrie, a tudo uma primeira vez - era uma péssima ideia, eu sei disso, mais alguma coisa no olhar de Dean me fez segurar a mão que ele havia estendido e segui-lo para um daqueles brinquedos.

Logo estávamos nos divertindo, batíamos um num outro com os carros, do bate-bate, riamos como duas crianças que iam ao parque pela primeira vez. Acabamos indo em quase todos os brinquedos e eu evitava ao máximo a roda gigante. Como Dean disse que estava com fome, tentamos fazer um pouco de algodão doce. Assim que conseguimos decidimos andar um pouco.

–Sabe –comecei -, eu imaginei todas as possibilidades possíveis em relação ao que aconteceria hoje, mas isso –falei e logo em seguida girei apreciando a vista – nem por um momento passou pela minha cabeça.

–Então quer dizer que a surpreendi? –Perguntou erguendo uma de suas sobrancelhas.

–É –balancei a cabeça positivamente, estava olhando para o céu quando o respondi, as estrelas pareciam cintilar ainda mais do que o normal, eu adorava isso. O céu. As estrelas. Assim que voltei minha atenção para Dean percebi que ele estava mais perto do que o normal, com certa dificuldade consegui me desviar -, acho melhor irmos.

–Serio Carrie? –Perguntou – Não podemos ir sem ao menos andar na roda gigante –falou decidido e engoli a seco.

–Dean... não acho que seja uma boa ideia.

–Por que não? –Perguntou ainda decidido.

–Eu meio que... –fiz uma careta, agora ele saberia de mais um dos meus medos, e eu não gostava nada, nada disso – meio que... tenho medo de altura –pois é, essa sou eu, uma garota que é fascinada pelo céu, e tem medo de altura.

–Do que mais sente medo Carrie? – Ele continha uma expressão curiosa ao mesmo tempo que divertida, apenas revirei os olhos.

–Não tem graça Dean, OK? É só que são traumas de infância, e isso é tudo o que precisa saber.

–Vamos lá Carrie, prometo que não vou deixa-la cair.

–Não. –Respondi com firmeza.

–Por favor –pediu novamente.

–Não.

–Por favor, vamos Car –falou se aproximando tanto que seu cheiro já me embriagava, calma ai, o que?

–N-Não – murmurei um pouco abalada. Que porra tava acontecendo comigo?

–Sabe Car, sou uma daquelas pessoas que não gosta de levar um não, então... –antes que eu pudesse dizer algo, num movimento rápido ele abraçou minhas pernas e me jogou por cima do seu ombro.

–DEAN –gritei enquanto socava as suas costas -, ME LARGA.

–Ah qual é Carrie? Vai ser divertido eu prometo –contrariada murmurei.

–Se eu disser que vou com você na porcaria daquele brinquedo, você me coloca no chão? – Ele parou de andar e ficou um tempo em silêncio, cogitando a ideia.

–Talvez –respondeu por fim.

–Eu vou com você na roda gigante –falei - , agora me ponha no chão –exigi.

–Como vou saber se assim que eu coloca-la no chão, você não ira sair correndo?

–Não vai.

–É melhor prevenir do que remediar –falou e voltou a andar, sem me colocar no chão.

Não demorou muito para que ele me colocasse sentada em um dos bancos, ele prendeu a trava de segurança e ligou o brinquedo, assim que a roda começou a se deslocar ele subiu em um dos bancos de trás e meio que escalando os outros bancos ate que chegasse onde eu me encontrava, passou por baixo da trava e se sentou normalmente ao meu lado, como se o que ele tivesse feito fosse algo normal do seu dia-a-dia.

–E então como se sente? –Perguntou, olhei para altura em que nos encontrávamos e novamente naquela noite forcei minha garganta a engolir a seco, pude sentir que minhas mãos suavam e meu estômago se retraia, fechei meus olhos com força para que não vomitasse.

–A verdade? Estou me controlando para não vomitar agora –apesar de esta com os olhos fechados sabia que Dean estava rindo de mim, dei um soco em seu braço -, não ria de mim.

–Não estava rindo de você –mentiu na maior cara de pau e nem fez questão de esconder o toque de humor que havia saído de sua voz.

–E eu sou a cara da Megan Fox –falei com ironia.

–Ok ok, também não precisamos exagerar né?

–Idiota.

–Agora é serio Carrie, abra os olhos você não sabe o que esta perdendo –balancei a cabeça negativamente -, vamos Car a visão daqui de cima é simplesmente incrível, você não vai cair eu prometo.

–Como se as suas palavras fossem de confiança Dean –soltei e me arrependi quase de imediato, ele não disse nada e o silêncio que estava presente era desconfortante -, olha Dean...

–Você nunca vai esquecer do que aconteceu com a Megan, não é? Quantas vezes vou ter que lhe dizer que eu mudei Carrie? O que terei que fazer para que você pare de jogar o meu passado na minha cara? – Suas palavras me fizeram abrir os olhos, não vi a raiva que achei que veria, a única coisa que estava presente era magoa.

–Dean eu...

–Quer saber Carrie? Acho que estava certa, acho que deveríamos ir embora –ele fez menção de levantar, mais em uma atitude não pensava o puxei de volta, fazendo com que ficássemos bem mais perto do que estavamos antes, fazendo com que nossos narizes se tocassem, o contato me fez fechar os olhos.

–Me desculpe ok? –Falei quando abri os olhos –Não sou acostumada a confiar fácil nas pessoas, não queria jogar em você o que fez a Megan é que ainda é difícil me acostumar, entende? Você não viu o estado em que ela ficou, eu vi, praticamente sentir a dor que a minha amiga sentiu.

–Eu já me desculp...

–Eu sei –o interrompi -, sei também que eu não deveria esta assim, afinal Megan o perdoou, mais a algo em mim que... –não consegui terminar, Dean se aproximava ainda mais e eu quase pude sentir seus lábios roçarem os meus.

–Ei vocês dois ai em cima –uma voz grossa soou, nos separamos rapidamente e olhamos para baixo, um guarda apontava uma lanterna em nossa direção-, desçam agora –Dean novamente fez menção de se levantar – o que esta fazendo rapazinho?

–Você disse que era para descermos e é isso que estou fazendo seu guarda – ele respondeu naturalmente.

–Fique onde esta garoto, eu mesmo farei com que desçam daí –não demorou muito para que a roda gigante novamente se movimentasse e ficarmos cara a cara com o policial -, gostaria que me acompanhassem até a delegacia por favor -sem dizer nada seguimos a viatura até a delegacia, assim que adentramos o local o policial logo foi nos abordando -, então o que vocês tem a dizer?

–O parque é propriedade do meu pai, senhor –Dean murmurou sem hesitar e isso acabou me pegando totalmente de surpresa.

–Oh sim claro, então vai me dizer que você é filho do famoso milionário Sr. Miller? –Pude ver o desconforto de Dean antes do mesmo assentir.

–Sim, eu sou.

–Sim você esta tão convicto disso garoto, ligarei para seu pai, mais até lá os dois ficaram atrás das grades – e ele não deixou de destacar "os dois", e isso apenas fez com que eu revirasse os olhos, o policial nos guiou até uma das selas e nos trancou lá.

Dean não falou nada, mesmo assim, eu podia notar o quanto seu corpo estava rígido. Como provavelmente passaríamos um longo tempo na delegacia, me sentei no chão me acomodando do melhor jeito possível. Os minutos iam se passando cada vez mais rápido, e quando dei por mim os ponteiros do relógio que ficava pregado na parede atrás das grades, mostrava que já havíamos ficado duas horas presos.

–Não fique nervosa, vou nos tirar dessa –ele se pronunciou pela primeira vez.

–Por que acha que eu estou nervosa? –Perguntei com calma.

–Bem invadimos um parque, acabamos presos e aparentemente meu pai não irá vir para nos tirar daqui.

–Você sempre dependeu assim do seu pai? –Perguntei um pouco incrédula.

–Não, se eu estivesse aqui sozinho não me importaria, mas como meti você nessa, o correto é que eu tire. Só não fique nervosa.

–Não estou nervosa –falei normalmente, mais simplesmente pareceu não me escutar.

–Ah meu deus e se eu não conseguir tirar a gente daqui? –Perguntou, eu sabia que essa pergunta não era pra mim, me levantei do chão e me aproximei dele, fiz com que ele se virasse pra mim e percebi que seus olhos estavam sem foco – E se ficarmos aqui pra sempre...?

–Dean? –O chamei mais ele apenas me ignorou.

–Não, não, não posso ficar preso...

–Dean? –Tentei mais um vez e nada.

–... de qualquer forma sei que meu pai não me deixaria preso, ou deixaria? –Impaciente levei minha mão com força em direção ao seu rosto – Ai, por que fez isso? –Perguntou passando a mão direita freneticamente pela sua face, revirei os olhos.

–Você pirou e bem o único jeito que eu conheço de despertar alguém, é assim – falei me distanciando e me joguei na cama, pois é tinha uma cama, mas pode acreditar o chão é bem mais confortável -, relaxa se seu pai não vier eu falo com o meu ok? Ele paga a fiança e depois eu dou o dinheiro pra ele.

–Simples assim? –Perguntou-me ele.

–Simples assim –repeti dando de ombros.

–Como pode ficar tão relaxada? –Perguntou, olhei para ele que agora se acomodava no chão e me olhava com uma expressão incrédula.

–Por que eu já passei por isso –novamente dei de ombros, enquanto fitava o teto.

–V-você já foi presa? –Assenti mesmo sabendo que na posição que eu me encontrava ele não poderia ver.

–Já –respondi somente.

–Por que? –Seu tom agora me parecia extremamente curioso.

–Adolescência difícil... –não pude terminar de falar, já que o mesmo policial que havia nos prendido surgiu do corredor e veio abrir nossa cela.

–Parece que você estava certo garoto, seu pai pediu para que o soltássemos, ele decidiu não dar queixa.

–E a Carrie? –Dean perguntou se levantando.

–A garota fica.

–O que? –Perguntou pasmo –Eu não vou se ela não for –falou logo em seguida decidido.

–A mas você vai sim –falei também me levantando -, não se preocupe comigo Dean, eu vou ficar bem.

–Carrie, não.

–Vai Dean.

–Eu vou falar com meu pai, ele vai tira-la daqui – e logo eu estava sozinha, não me importei e também não criei expectativas de que Dean fosse voltar. Pela segunda vez aquela noite me deitei naquela cama, que parecia mais que eu estava deitada em um pedaço de pedra.

Fiquei fitando o teto e apenas deixei que algumas lembranças inundassem a minha mente, sorri com algumas delas, já com outras eu deixava apenas uma ou duas lagrimas silenciosa rolarem pelo meu rosto. Quando menos esperei novamente a cela foi aberta, me levantei em um sobressalto e dei de cara com um Dean sorridente.

–Achou que eu tinha ido embora, certo? –Perguntou e pude sentir meu rosto corar quando eu disse:

–Pra ser sincera, eu achei –seu sorriso aumentou ainda mais e ele ergueu a mão para que eu a segurasse e assim o fiz.

–Vamos embora –seguimos pelo corredor e logo já estávamos na central, assim que estávamos prestes a sair, Dean acabou sendo chamado por um dos guardas para que assinasse alguns papeis, fiquei do lado de fora apenas o esperando.

–Você deve ser Carrie, não é? –Um homem de terno me abordou, ele era alto, tinha um porte atlético, seus cabelos loiros eram chamativos, dentes brancos, ele parecia ter em torno de uns 40 anos e mesmo assim era muito bonito, porém o que mais me chamou atenção foi a imensidão azulada que seus olhos transmitiam.

–Acho que estou em desvantagem aqui, sabe o meu nome, mas não tenho ideia de qual seja o seu –respondi.

–Desculpe-me os maus modos, sou Daniel Miller.