Não estava com cabeça para ir as aulas hoje. Ponto.

Então eu não iria.

Estava jogado em minha cama, meus olhos estavam fechados e meus fones de ouvido estavam no máximo. A única coisa que preenchia minha cabeça no momento era o som de AC/DC High Voltage, pelo menos era o que eu esperava. Pra falar a verdade, Carrie preenchia a maior parte... para de viadagem Dean, você não se prende... nunca. Pegou praticamente toda ala feminina do campus e por que com ela seria diferente?

Sabe quando dizem que se repetir uma mentira em sua cabeça várias e várias vezes, ela começa a se tornar verdadeira? Como se fosse uma espécie de mantra? Pois é, não acredite é propaganda enganosa, por que já faz um tempo que tenho repetido este tipo de coisa a mim mesmo. Por que ela seria diferente? É só pegar e descartar, como você sempre fez... e blá blá blá. Essa porra não funciona.

Eu não posso fazer isso com ela... não com ela. Carrie se tornou minha amiga. Droga. E sei lá, ela é diferente. Claro eu não estou apaixonado, isso seria burrice... pelo menos no meu caso. Isso não é pra mim, nunca daria certo, mas eu não posso mentir, sinto algo por aquela garota. Por que se não sentisse, não estaria aqui pensando nela agora e sim convenceria alguma garota puta da faculdade pra matar aula comigo. Se é que você me entende.

Mas não, estou aqui na seca, pensando em uma garota que nem sequer fui pra cama, isso esta indo longe demais. Mas eu não consigo parar de pensar nela e nem quero, me surpreendo com que penso e me surpreendo ainda mais, pois tenho a plena certeza de que é verdade... fui retirado dos meus pensamentos, assim que meus fones de ouvido são arrancados de minhas orelhas.

–Foi mal cara, você não me escutava, essa foi a única maneira que encontrei – Henri falou levantando os braços como se estivesse se rendendo. Foi quando lembrei da conversa que aconteceu mais cedo no carro, levantei bruscamente e joguei Henri contra a parede -, relaxa Dean prometo não fazer mais isso –disse com um pequeno sorriso nos lábios, se referindo aos fones.

–Não estou nem ai pra porra dos fones de ouvido Henri –gritei -, mas que merda você esta fazendo, por que beijou a Carrie? Sabe que eu gosto dela... – o sorriso que estava em seu rosto aumenta – por que esta sorrindo imbecil?

–Você...

–O que é que tem eu?

–Finalmente –gritou -, finalmente você assumiu.

–Assumi o que panaca? –Perguntei o soltando e me virando para voltar pra cama.

–...que gosta dela – eu havia mesmo dito isso?

–Ficou louco Henri, cheirou crack ou algo parecido...? –Tentei amenizar.

–Você acabou de dizer... –o cortei.

–Deve ter ouvido errado, mas ainda não me disse o por que de ter beijado ela – me joguei na cama e coloquei um dos meus braços atrás da cabeça, erguendo uma sobrancelha logo em seguida.

–Como você sabe? –Perguntou se jogando em sua cama.

–Ela disse hoje mais cedo, enquanto víamos pro campus.

–Pera ai, quem mais estava no carro?

–M&Ms –falei o apelido que ela havia inventado para as amigas.

–Quem? –Meu amigo me perguntou confuso.

–Marie e Megan.

–Ata .

–Por que? –Perguntei.

–Nada.

–Desembucha Henri.

–Acho que sei do por que de Carrie ter falado que nos beijamos... –revirei os olhos.

–Pra me provocar, eu sei.

–Não babaca, cala a boca e me escuta... acho que ela queria provocar a sua irmã.

–Marie? –Perguntei confuso, ela só conseguiria isso se... – Não, ta de brincadeira?

–Carrie me disse que ela gostava de mim.

–Caralho meu amigo, então o que você sente por ela é recíproco?

–Segundo a Carrie sim, vou tomar coragem e hoje a chamo pra sair – finalmente, conheço Henri a três anos e nesses três anos, ele acabou se tornando meu melhor amigo. E durante esse tempo também se apaixonou pela minha irmã.

–Manda ver –observei o duplo sentindo nessa frase e me corrigi -... minto não mande ver com a minha irmã –ele apenas soltou uma gargalhada, joguei um travesseiro em sua cara.

–E você? Quando vai tomar juízo? –Ri alto.

–Acho que no dia que eu realmente estiver desesperado... –parei um pouco pra pensar - talvez nem assim.

–Não vai pra aula? –Ele perguntou.

–Não e você?

–Também não, to sem vontade... mas ai como estão as coisas com seu pai? –Fiz uma careta, não gostava de falar sobre meu pai.

–Sabe que não gosto de falar sobre ele –suspirei.

–Eu sei, mas sei também que você precisa falar o que anda acontecendo se não você pira... –ele parou um pouco e sua expressão dizia que ele estava pensando – lembra daquela vez que você brigou com o seu pai e acabou fugindo de casa? –Um sorriso de canto se abriu em meus lábios.

–Lembro.

–Pois é, você ficou na minha casa por três semanas, três semanas cara... e ainda me fez mentir pra Marie, sabe o quanto ela ficou preocupada com você?

–Eu sei cara, e pedi desculpas... ela ficou quase um mês sem falar comigo direito.

–Eu sei –ele riu -, mas foi bem feito... mas e ai o que o senhor Miller fez desta vez?

–Quer que eu troque de curso.

–Mas você ama fotografia cara.

–É, mas não é só isso... ele quer que eu vá para Nova York estudar direito.

–Nossa cara... e o que você vai fazer? – Fixei meu olhar no teto.

–Eu não tenho a mínima ideia –suspirei, o silêncio predominou por pouco tempo no ambiente, já que meu celular começou a vibrar. Era Marie.

Teste surpresa...

M.

–Puta merda –levantei em um pulo da cama.

–O que foi?

–Levanta sua bunda gorda daí, temos que ir pra classe agora... –murmurei com pressa, enquanto calçava meu tênis – rápido Henri, é teste surpresa cara –acho que só assim pra ele realmente se mexer.

Saímos do nosso dormitório correndo, empurrávamos praticamente todos que estavam em nossa frente. É azar de mais, teste surpresa é sério? Ainda bem que essa aula é com a Marie e com a... Carrie. Felizmente conseguimos chegar no momento em que o professor fechava a porta, e antes que ela fechasse totalmente coloquei meu pé.

Com uma expressão não muito boa ele liberou nossa entrada, acabamos sendo o assunto da classe, todos os olhares estavam dirigidos a nos dois, menos um... este se concentrava somente no teste, como se o resto do mundo não existisse. Peguei uma prova e me sentei ao lado dela, ela simplesmente nem pareceu perceber.

Era fascinante o modo como ela estava concentrada, ou como suas sobrancelhas se uniam como se a resposta para as perguntas fossem obvias demais, mesmo eu sabendo que não era exatamente assim. Me peguei admirando o sorriso que havia em seus lábios... o que? Mas que porra eu to fazendo? Meu debate comigo mesmo se foi assim que a vejo levantando, ela entrega o teste para o professor, mas assim que vai sair da sala, para. Logo em seguida abaixa e pega algo no chão, a vejo falar com o professor e depois sair da sala.

Confesso que fiquei de certo modo curioso, o que será que havia no chão? Deixei isso de lado, precisava me concentrar no teste.

***

Me sai bem no teste. Agora pra ser sincero as outras aulas foram um porre, não que eu não gostasse das matérias e tudo mais, mas como eu havia comentado, não queria vir a aula hoje e mesmo assim fui obrigado a vir, por causa da porcaria de um teste. Felizmente agora todos nos encaminhávamos para o refeitório. Estava zarado de fome.

Assim que cheguei, avistei meus amigos de longe. Me sentei na primeira cadeira vaga que vi, mentira me sentei ali mesmo por que era a cadeira de frente pra Carrie, mas é claro que eu nunca assumiria isso em voz alta. Cumprimentei a todos e ela apenas fez um aceno de cabeça.

Fiquei boa parte do tempo alheio as conversas, assim como Carrie, só prestei atenção mesmo quando a vi se levantar de uma vez. E logo em seguida observei Megan ir até ela. Megan tentava acalmar a amiga que estava com a expressão desesperada e que se eu reparei bem estava se segurando para não chorar. Me peguei querendo ir conforta-la, não demorou para que a mesma saísse correndo para fora do refeitório, Meg (pois é meio que voltamos a ser amigos), apenas se deixou cair sobre a cadeira.

–O que aconteceu? –Perguntei.

–Carrie perdeu o colar que era da mãe dela.

–Ele significa muito pra ela não significa? –Perguntei e Megan assentiu.

–Muito, nossa quando eu conheci a Carrie a mãe dela ainda estava viva... a conheci quando me mudei e tals, Carrie era muito animada era uma ótima garota, mas quando a mãe morreu ela se afastou de tudo e de todos, ela tem essa mania sabe?- Meg sorri de canto – depois de Lena eu havia sido a única que conseguiu quebrar essa barreira, minto eu e o Josh –fechei a cara, não gostava quando esse idiota era sitado -, viramos melhores amigos, aprontamos pra caramba, mesmo assim Carrie nunca voltou a ser a mesma. Acho que uma parte dela se culpa pela morte da mãe.

–Por que? –Perguntei interessado.

–Não sei. Ela não gosta muito de falar sobre isso e eu não insisto- assenti.

–Vou ajuda-la a procurar –me pronunciei, mas Megan me impediu.

–Não Dean, não precisa ela praticamente já deve estar olhando em todas as salas, quando o refeitório esvaziar eu dou uma olhada aqui.

–Tem certeza?

–Claro, pode ir.

Apesar de Megan ter afirmado que não precisava de ajuda, hesitei em sair. Estava com uma sensação ruim, por isso entrei no banheiro mais próximo. Lavei meu rosto com água gelada e fiquei um tempo olhando o meu reflexo no espelho. Não devia ser nada de mais, saí do banheiro e novamente segui para meu dormitório.

Deitado na minha cama tentei dormir um pouco, mas como eu disse... tentei. Acabou que os acontecimentos recentes voltaram com tudo em minha mente, eu tinha que falar com a Carrie... mas pra ser sincero eu ia dizer o que? Não me lembrava bulhufas do que havia acontecido no final de semana. E a última coisa que me lembro era de termos brigado... fiquei irritado, como ela podia não ver o quanto a vida dela era ótima? Quando saí, parei no primeiro bar que avistei e depois de ter ficado lá um bom tempo... não sei. Começa a me dar um branco. Quer dizer me lembro de algumas coisas, como ter falado com Marie pelo telefone, ou o fato de não ter voltado a casa da Carrie no domingo... mas o resto esta meio que nublado.

Só sei de uma coisa, fiz burrada. Isso explica o fato de que hoje Carrie mal falou comigo, e quando falou foi meio que obrigada. Mesmo não me lembrando de muita coisa, algo não deixava meus pensamentos. O fato de ter gostado de acordar com Carrie em meus braços sábado de manha, sim eu lembro. Fingi que não, pelo fato daquilo ter me assustado um pouco.

Saí de meus devaneios quando escuto meu celular tocar, me apoio em um dos meus cotovelos e me inclino um pouco para pegá-lo em cima do criado mudo. Olho para a tela e suspiro.

Pai.

Não queria falar com ele, então apenas ignorei a chamada. Meu celular tocou várias vezes, e quando digo várias não estou brincando. Cansado dessa situação frustrante, finalmente atendi.

–Por que não atendeu a merda desse telefone Dean? –Meu pai praticamente berrou do outro lado.

–Desculpe pai, estava ocupado –menti.

–Ocupado? E isso é desculpas para me deixar esperando? –Esbravejou – Te liguei várias... –disse e parou um pouco, como se isso não importasse de fato, por isso foi mais direto – Onde diabos você se meteu nesse final de semana?

–Fiquei na casa de uma amiga –falei, me levantando.

–Você não tem amigas Dean, diz onde você estava. –Repetiu autoritário.

–Eu já falei que estava na casa de uma amiga pai.

–Não minta pra mim garoto, sabe que não gosto de brincadeiras...

–Eu não menti –disse irritado.

–Olha como você fala comigo, eu sou o seu pai... então agora me diga aonde você estava?

–Eu estava na casa da Carrie pai, satisfeito?

–O que fazia na casa daquela putinha? –Meu pai gritou, foi a gota d’água.

–Não fala assim dela –gritei -, você não tem esse direito...

–Ah não? –Falou com deboche – Eu havia falado para ficar longe dela, não quero que meu filho se envolva com uma vadia...

–Eu disse para não falar assim da Carrie –murmurei baixo, porém cortante -, você não sabe nada sobre ela, não irei me afastar, não me afastaria nem se ela pedisse... e não vai ser você que me fará mudar de ideia –terminei e desliguei o telefone, por impulso taquei com toda a minha força meu celular contra a parede, nem isso serviu para que eu me acalmasse.

–Calminha ai cara –me assustei ao ouvir a voz de Henri, não virei para encara-lo.

–A quanto tempo esta aqui?

–Cheguei por agora... –respirei fundo – mesmo assim ainda consegui ver seu celular virar pedaços, cara sabe quanto custa um celular daqueles? – Não, eu não sabia a resposta, Daniel havia me dado no final do ano passado, dei de ombros indiferente – Você não se importa por que seu pai é rico – talvez Carrie estivesse certa, talvez eu fosse um filhinho de papai...

–Como você mesmo acabou de dizer, meu pai... não eu.

–É mais um dia essa herança será sua, assim como da Marie...

–Eu não quero esse dinheiro Henri –falei, eu queria subir na vida por mim mesmo, e não queria depender do meu pai pra sempre... e se Carrie não acreditasse nisso eu iria lhe provar -, e também não quero tomar a frente dos negócios da família. Daniel sempre achou que com esse dinheiro ele poderia comprar o amor de seus filhos – falei, e me virei para encarar meu amigo -, você não sabe o quanto isso é frustrante.

–Tem razão eu não sei... –valeu Henri pelo apoio moral, pensei. Brincadeira eu gostava dessa qualidade dele, Henri era sempre honesto não importava em qual situação, se bem que... ele não foi honesto com a minha irmã em relação ao que sentia por ela... mas isso é outro caso – mas eu te conheço Dean, você não deixara que nada lhe impeça de fazer algo que quer.

–Eu sei mas...

–Mas nada cara, faça o que realmente quer fazer e pronto.

–Você esta certo –lhe disse, e me sentei na cadeira que ficava de frente para o computador.

–Mas agora me diga, o que te levou atacar o celular na parede? –perguntou enquanto pegava alguns de seus livros e os espalhava sobre a própria cama.

–Daniel –falei e o vi revirar os olhos -, dessa vez ele passou longe demais.

–O que ele te disse? –perguntou.

–Ele chamou a Carrie de puta cara –falei , pude ver que Henri se segurava para não quebrar alguma coisa -, sem contar os outros palavrões que ele usou... nossa cara nunca fiquei com tanta raiva do Daniel, como fiquei hoje. Superou até o dia em que ele me deu a pior surra da minha vida, a que eu tive que faltar a escola por duas semanas, pois mal conseguia me levantar da cama...

–Caralho Dean, mas se aquele desgraçado ousar dizer mais alguma coisa sobre ela, vou fazer dele meu saco de pancadas – Henri não estava brincando, ele estava com tanta raiva quanto eu, e eu não duvidava nada, nada que ele realmente partisse pra cima do Daniel.

–Se quiser bater nele... é só me chamar que eu ajudo – eu sei que muita pessoas diriam "nossa Dean, mas ele é o seu pai... e blá blá blá", mas qual é? Ele deixou de ser um pai a muito tempo.

–Eu sei, e apesar de querer acabar com a raça dele... não posso – olhei com o cenho franzido e perguntei.

–Por que não?

–Não seria legal da minha parte, bater no meu futuro sogro.

–Não –falei-, ta de brincadeira? – Um sorriso brotou em meu lábios – Eu não acredito cara, finalmente criou coragem de chama-la pra sair seu babaca de merda?

–Yeep.

–E ela aceitou?

–Acertou de novo... agora só falta você assumir –ele disse.

–Assumir o que?

–Que você gosta da Car... –o interrompi.

–Não começa com essa porra de novo, Henri –falei – que esse assunto já deu.

–Se você insiste... –suspirei, finalmente ele iria parar de falar sobre isso- mas antes te digo uma coisa – é acho que não -, não minta pra si mesmo, cara. A Carrie é diferente você sabe disso, e se sua ficha não cair logo... –ele balançou a cabeça de uma lado para o outro – pode acabar perdendo-a .

–Não se pode perder o que nunca teve Henri –lhe disse.

–Você é um tremendo de um cabeça dura.

–Eu já assumi Henri, eu te disse hoje que gostava dela –falei não entendendo o que de fato ele queria que eu fizesse.

–Você disse pra mim cara, mais eu não sou a Carrie... –ele falou o obvio – e quando você esta com ela, age como se estivesse em um jogo, você a provoca e até mesmo diz que gosta dela, mas ambos sabemos que é de boca pra fora. Você não disse a ela o que realmente sente, por que é covarde demais para se abrir com alguém de verdade.

–Para com isso Henri, sabe que eu nunca me prendi.

–A uma primeira vez pra tudo. Mas olha Dean, Carrie é minha amiga e nesse meio tempo ela se tornou minha melhor amiga e farei de tudo para que ela não se magoei...

–Eu sei Henri, Carrie também se tornou minha amiga e eu não quero que ela se magoe –suspirei.

–Então pare de brincar com os sentimentos dela.

–Eu não estou brincando Henri. –Disse voltando a ficar irritado.

–O que você esta fazendo então Dean?

–Eu não sei ok –levantei o tom de voz-, é diferente quando estou perto dela... é espontâneo, eu consigo ser eu mesmo quando estamos sozinhos. Eu fico transparente, todos os meus medos e temores são visíveis e eu nunca me senti tão exposto antes –disse -, antes eu confesso era algo como "só quero conquista-la, eu só quero usa-la como fiz com todas as outras e logo depois eu a jogaria fora... –suspirei pesadamente - eu queria me vingar da Carrie pela humilhação que ela havia me feito passar no primeiro dia em que teve aula aqui." Sim, eu sei. Sou um grande idiota, mas então a gente começou a conversar, e eu percebi que ela era diferente, eu gostei dela... ela é divertida, engraçada e a pessoa mais complicada que já conheci, mas eu não ligo. Acho que me apaixonei por ela desde do dia em que nos encontramos pela primeira vez na biblioteca... –parei de falar e olhei fixamente para Henri, o mesmo me olhava com um sorriso sacana nos lábios – isso não sai daqui, idiota –ele levantou as mãos como se estivesse se rendendo.

–E ai? Se sente melhor? – O fuzilei com o olhar.

–Cala a boca, será que podemos mudar de assunto?

–Que horas são? –Perguntou e o agradeci mentalmente, fiz menção de pegar meu celular...

–Desgraçado – murmurei e ele riu, puxou o próprio celular do bolso e vi seus olhos se arregalarem -, o que foi? –Perguntei.

–Caralho já tá tarde pra caramba –ele disse.

–Sério? Nem parece –murmurei dando de ombros.

–Pois é, quando o papo ta bom o tempo passa rápido - ele disse e revirei os olhos, o deus tenho que parar de ficar muito tempo com a Carrie, como se isso realmente fosse acontecer né? Sejamos realistas. Henri se levantou da cama, se espreguiçando logo em seguida -, ai ai... vou da uma esticada nas pernas –falou.

–Achei que você fosse estudar –apontei para seus livros, que ainda se encontravam em cima da cama, ele fez uma careta e um gesto de indiferença com as mãos.

–Depois eu faço isso cara –disse e se direcionou para a porta, mas assim que a abriu pude ver que alguns garotos corriam, me levantei e me juntei a Henri na porta, olhei para o corredor e minhas sobrancelhas se uniram ao notar o alvoroço, o que será que estava acontecendo? -, ei o que esta havendo? –meu amigo questionou em voz alta para um dos garotos que havia acabado de passar por nos, também correndo. Ele não parou apenas virou um pouco a cabeça e pronunciou em voz alta para que entendêssemos.

–Precisamos sair daqui agora, esta acontecendo um incêndio... –apenas olhei para Henri no mesmo instante que seu olhar havia se direcionado para mim.

–Vamos sair daqui cara –disse apenas e eu assenti.

Seu tom estava calmo, mas eu o conhecia bem e sabia que aquilo era apenas fachada, ele estava tão preocupado quanto eu. Nos dirigimos o mais rápido possível para fora da ala masculina e assim que estávamos fora, podemos realmente ver o que estava acontecendo. Algumas salas de aula pegavam fogo, este parecia se espalhar rapidamente. Pessoas corriam de um lado para o outro, algumas garotas se encontravam sentadas no chão chorando, o desespero era evidente. Será que alguém realmente havia se machucado? Foi ai que minha mente entrou em pane.

–Marie? –Gritei, já que ainda não havia visto minha irmã no meio daquelas pessoas, torcia para que ela estivesse bem. – Marie? - Ela não respondeu, olhava de um lado para o outro, Deus por favor toma conta da minha irmã...

–Dean? – Ouvi meu nome ser chamado, procurei pela dona daquela voz, e soltei a respiração de imediato, mal havia reparado que estava a prendendo. Corri em direção a Marie e a abracei, era visível o alivio que ambos demonstrávamos. Assim que nos soltamos abracei Megan que estava ao seu lado.

–Que bom que as duas estão bem –eu disse, ela apenas retribuiu o abraço, assim que nos soltamos pude ver a angustia em seus olhos, mas logo ela tratou de disfarçar -, onde estão os outros? –Perguntei.

–Encontramos com Matt, ele disse que depois nos achava mas antes tinha que fazer uma coisa – minha irmã se pronunciou -... – sua expressão estava tão angustiada quanto a da Megan, não...

–Cadê a Carrie? –Perguntei, nenhuma das duas me respondeu olhei para meu amigo que agora não conseguia mais disfarçar o quanto estava preocupado – Onde esta a Carrie? –Repeti.

–A procuramos a tarde inteira até mesmo antes do incêndio começar, mas não a encontramos... – disse Megan, mas a interrompo.

–A chances de que ela ainda esteja lá dentro? –Perguntei.

–Eu.. eu não sei, ela pode ter ido embora. Mesmo se ela estivesse aqui no campus ainda... a Carrie não é burra Dean, ela não ficaria, iria embora...

–Tem chances? –A pressionei.

–Eu realmente não sei –falou-, talvez.

–Se a Carrie tivesse ido embora ela ligaria pra você, não é Megan? – Minha irmã perguntou.

–Ligaria, mas não da pra saber ela esqueceu o celular no quarto –ela respondeu retirando o aparelho do bolso, passei a mão nervosamente no cabelo. E se ela ainda estivesse lá dentro?

–Megan em quais lugares vocês não a procurou? –Perguntei.

–Dean você não pode...

–Em quais lugares? –A cortei.

–Acho que não a procurei na sala da Srta. Patterson... na daquele professor barrigudo e no laboratório de química –assenti , e antes que meus amigos pudessem tentar me impedir, corri para dentro do prédio.

Ainda podia escutar meu nome ser chamado ao longe, mas isso era irrelevante no momento. A situação ainda era pior do lado de dentro. As chamas pareciam vir de todos os lados, o calor era quase insuportável, quase. Corri. Não havia ninguém lá dentro, as salas se encontravam vazias, coloquei meus braços para cima para proteger minha cabeça. Tentei olhar para todos os lados mas a fumaça era intensa, fazendo com que minha visão ficasse desfocada.

Eu. Não. Podia. Desistir. Agora.

Consegui dar alguns passos antes que uma boa quantidade de fumaça entrasse em meus pulmões, tossi, muito. Tanto que acabei sendo obrigado a inclinar mais do que deveria para frente, cai de joelhos com uma das mãos pressionando minha garganta, enquanto tossia compulsivamente. Eu não podia desistir, eu não queria desistir e o mais importante eu não iria...

Tentei normalizar minha respiração. Várias e várias vezes, por fim assim que consegui meus pulmões doíam, pediam cada vez mais por ar. Levantei com um pouco de dificuldade e cabaleeie um pouco para frente, firmei meus pés no chão e tentei me recompor. Assim que consegui realizar tal ato, pude escuta-la...

–ALGUÉM ME AJUDE... POR FAVOR – não estava longe, escuta-la fez de alguma forma, com que a energia do meu corpo retornasse, voltei a correr. Virei o mais rápido que consegui em mais um dos corredores - ALGUÉM ME AJUDE... SOCORRO... - , eu estava cada vez mais perto -SOCO... –, não, por favor não.

–CARRIE? –Gritei, não houve resposta – CARRIE? - Estava ficando desesperado, olhei para todos os lados e tentei mais uma vez – CARRIE...?

–Dean... – escutei sua voz baixa – por favor me ajude... –pediu, não dava mais para saber em qual sala ela se encontrava, pois já não dava mais para ver qual é o nome ou o número que fica em cada porta.

–Preciso que você faça algum barulho –lhe pedi -, pode fazer isso? –Não houve resposta, mas logo ouso como uma batida na porta, mesmo assim havia sido fraca o bastante – Tente mais uma vez Car, mas agora um pouco mais alto –pedi novamente e em pouco tempo a batida soou novamente só que agora mais alto, segui o som e logo já estava de frente para uma das salas -, Carrie? –A chamei.

–Estou aqui –disse -, a porta esta trancada –alertou.

–Tudo bem, só se afaste da porta –esperei para que ela se afastasse -, se afastou?

–Sim, mas o que você vai fa... – chutei a porta com força, fazendo com que a tranca se quebrasse, meu olhar por instinto procuraram pelos dela. Carrie se encontrava no canto, abraçando o próprio corpo para se proteger, assim que me aproximei mais dela, a mesma me abraçou fortemente.

–Temos que sair daqui –falei e a vi assenti de leve.

Segurei firmemente sua mão e a retirei da sala. Havia ainda mais fumaça no corredor, impedindo-nos de ver alguma saída.

–Dean? –A ouvi me chamar, virei meu rosto em sua direção – Eu estou com medo...

–Vai ficar tudo bem Carrie, não se preocupe ok? –A levei mais pra frente e com a ajuda das paredes virei em um corredor, as chamas brilhavam na escuridão.

Um barulho despertou minha atenção, olhei pra cima bem na hora em que partes do teto começou a desabar, por sorte consegui desviar, assim como Carrie, da maioria. Estreitei os olhos e ao fundo do corredor consegui ver a luz vermelha que indicava a saída. Puxei Carrie em direção a mesma. Já quando estávamos perto escutei novamente aquele barulho, olhei pra trás a tempo de ver que um pedaço pequeno do teto cairia em cima de Carrie, sem pensar duas vezes a joguei no chão ficando por cima dela. O impacto havia sido forte, minha visão havia ficado turva, mas eu me recusava a desistir agora.

Não quando a vida de Carrie estava correndo perigo.

A adrenalina ainda corria em minhas veias, por isso consegui levantar sem muita dificuldade, a puxei para perto de mim e me direcionei novamente a saída. Não houve algo que nos atrapalhasse dessa vez, e logo já nos encontrávamos do lado de fora.

–Conseguimos –ela disse, mas mal consegui ouvi-la, me inclinei pra frente e sangue saiu pela minha boca, tossi algumas vezes e me deixei cair no chão – Dean? –Carrie veio em minha direção preocupada, minha visão estava desfocada, pude sentir que minha cabeça havia sido levantada e logo mãos delicadas passaram levemente em minha cabeça –Por favor... Dean... -, agora nada mais importava, ela estava a salvo, meu desespero havia acabado. Senti minhas pálpebras pesarem e me deixei ser levado pela inconsciência.