Invisível

Orgulho e Humildade


-Que viagem mais cansativa! Quase um dia! – Fugaku já atravessou as portas de sua casa reclamando. – E onde está Ayame para nos ajudar com as bagagens? – e continuava reclamando. Mikoto apenas suspirava e tentava relevar esse lado irritante do marido.

-Não sei, querido. Ela é sempre muito atenciosa... Ayame-chan? – gritou o nome da empregada com suavidade, mas só obteve silêncio em resposta. – Itachi? – então tentou o filho, porém a resposta foi a mesma. – Que estranho.

-Eu que o diga! Agora terei que levar essas malas para cima eu mesmo... Só para piorar minha dor nas costas! – a senhora Uchiha revirou os olhos e exalou o ar com cansaço. Será que Fugaku só sabia reclamar? Indagava-se.

Quando se preparavam para pegar as coisa e subir para o quarto, ouviram o barulho de chave destrancando fechadura e, logo em seguida, Itachi e Ayame apareceram diante de seus olhos. Mikoto e Fugaku quase encostaram o queixo no chão ao ver o estado do filho, quem fez uma careta e murmurou alguma praga.

-Itachi, o que aconteceu com você? – a mãe já se aproximava da cria com mãos preparadas para investigar cada hematoma.

-Está tudo bem, mãe... – o moreno tentou fugir, enquanto Ayame mantinha o olhar baixo. Estava envergonhada e se sentia culpada por ter que fazer o patrão passar por tal situação. Sabia que ele assumiria toda a culpa com alguma mentira e isso a fazia se sentir extremamente péssima.

-É claro que não está bem, já se olhou no espelho? Diga-me, o que aconteceu? Alguém te atacou? Foi assaltado? Fale-me para que eu possa fazer tal pessoa pagar as consequências! – e o pai surtou como Itachi esperava. O jovem suspirou pesadamente. Pensava que teria mais algum tempo antes de ter que lidar com aquela situação.

-Olha, pai, não foi nada disso... – estava preparado para contar a primeira mentira que lhe viesse na cabeça, contudo foi interrompido pela namorada.

-Peço perdão, Fugaku-sama, Itachi-san está nesse estado por minha causa... – a morena estava com a cabeça inclinada em reverência e falava com uma voz baixa e contida. O Uchiha machucado paralisou ao perceber o que ela estava fazendo.

-O que quer dizer? – o tom do homem ficou ríspido e ele fuzilou Kurumizawa com os olhos.

-Eu fugia da perseguição de meu padrasto. Ele era um homem cruel e sádico. Pensei que o havia despistado, porém ele me achou. Ele não aceitava meu envolvimento com outros homens e sequestrou seu filho para me punir. – continuava olhando para o chão. O namorado sentiu o mundo rodar ao ouvir as palavras verbalizadas pela empregada.

-COMO É QUE É? – os olhos do Uchiha quase saltaram das órbitas – Mikoto, por acaso você contratou uma pessoa perigosa para trabalhar nessa casa? E quanto a você, menina, o que quer dizer com envolvimento? Itachi, você tem alguma coisa com essa... Essa... – o homem não sabia para onde atirar pedras primeiro. A esposa já havia começado a mutilar uma unha enquanto variava o olhar entre os presentes.

-ESSA O QUÊ? – o moreno sentiu o sangue ferver. Poderia aturar qualquer coisa, menos alguém inferiorizando Ayame, pois sabia do extremo valor da moça. – Não ouse diminuir minha namorada! – Fugaku deixou o queixo cair mais um pouco – Isso mesmo que você ouviu, MINHA NAMORADA! E se você quer saber, o que ela falou é verdade, mas foi ela quem me salvou também, até quebrou uma costela para fazer isso! Ah, e não podemos nos esquecer de quem foi responsável pelo seu acordo milionário com o Yamato! Se estiver pensando que fui eu, está enganado, porque foi só devido ao favor que ele devia a Ayame que ele deu alguma atenção para nós!

O moreno até perdeu o ar devido às palavras ditas apressada e furiosamente. O pai ficou estático, mexendo a boca como quem procura o que falar. A mãe tampava a boca com a mão e a cor de seu rosto já havia se esvaído.

-E o que quer que eu faça? Beije os pés dela e ignore o fato de que ela foi responsável por colocar meu filho na mira de um psicopata assassino? – o chefe da família se recusava a abaixar a crista. Não importava o que a empregada havia feito de bom, os seus olhos ficavam cegos com que ela havia feito de errado.

-Levante o rosto, Ayame, esse homem não merece seu respeito. – os olhos negros de Itachi atravessaram o semblante de Fugaku com desprezo. A namorada levantou o rosto, porém ainda continuou com o olhar baixo.

-Olha como fala comigo, Itachi! E está muito enganado se pensa que ela ainda continuará trabalhando aqui! – o rosto do Uchiha mais velho estava vermelho vivo. A esposa se aproximou e pousou a mão em seu ombro, tentando acalmá-lo.

-Fugaku, chega disso... Dá para ver que Ayame-chan está arrependida e ela arriscou a própria vida para salvar Itachi, acho que isso pelo menos prova o amor que ela tem pelo nosso filho... – tentou usar o bom senso, pois ao olhar para Kurumizawa podia sentir toda a dor escurecendo a aura da jovem. Podia sentir a culpa, a dor, a preocupação, o arrependimento e o amor tanto no olhar do filho como no de sua namorada.

-Pelo amor de Deus, Mikoto! Você realmente apoia esse relacionamento? Sabe que Itachi merece algo melhor!

-E o que é melhor? Uma mulher com carreira e uma família de nome, mas sem nem um pingo de caráter? – o filho atacou novamente. Trincava os dentes. Parecia ter imaginado certo cada palavra de seu pai. Por que o velho não podia simplesmente entender que ele não precisava mais de permissão? Por que não podia baixar o ego e julgar as pessoas pelo caráter e não currículo ou posses? Ficava possesso com tanto superficialismo. Será que o homem não tinha escutado ele dizendo o que Ayame havia feito? Agora entendia porque ele e Sasuke sempre brigaram.

-Ora... – já ia rebater, mas a mulher impediu.

-Pare com isso, Fugaku! Itachi é um homem e pode fazer o que bem entender, namorar quem bem entender! E você está certo, Ayame-chan não trabalhará mais aqui, porque agora ela é parte da família. E você trate de aceitar isso ou vai fazer com que seu segundo filho saia de casa também. Ele está são e salvo e você está mais rico por causa da namorada dele, por isso murche esse peito de pomba e ignore a situação, já que ela te irrita tanto. – Mikoto disse com firmeza e o marido torceu o nariz.

-Pois bem. – disse e deu alguns passos para frente. – Só saiba, Itachi, que esse relacionamento nunca irá ser abençoado por mim. E eu muito menos desejo sua felicidade com essa empregadazinha. – então ele olhou para Ayame com nojo. Itachi apertou a mão em punho, deixando os nós dos dedos extremamente brancos, para conter a vontade de esmurrar a cara do velho, que saiu andando soberbamente para o escritório.

A empregada apertava os braços. Já havia considerado umas vinte vezes sair correndo. Mais uma coisa que adicionava a sua lista: trazer discórdia entre namorado e pai. Amaldiçoava-se internamente por não conseguir ir embora e sumir da vida do moreno.

Mikoto se aproximou do filho e o abraçou ternamente. Podia imaginar como ele estava se sentindo. Além disso, sabia que ele estava a sério quanto ao que sentia pela moça, afinal nunca o vira atacar o pai de tal modo. A história toda deveria ser mais complexa do que estavam revelando. Seu instinto de mãe gritava isso.

-Querido, não ligue para seu pai, uma hora ele encontrará a razão... – Itachi passou a mão pelo rosto e suspirou pesadamente.

-Duvido muito... Aquele lá não muda.

-Só deixe para lá... Tire as coisas de Ayame do quarto de empregada e leve para o seu, tudo bem? – acariciou o rosto de sua cria e beijou-lhe a testa. Logo depois, o moreno saiu para fazer o que a mãe havia dito. Então a senhora Uchiha se aproximou da nora e pegou em sua mão. – Ayame-chan, vai ficar tudo bem, ok? Não precisa se preocupar com nada disso, você já pode se considerar da família e, se precisar de algo, não se acanhe em vim falar comigo, certo? – a jovem apenas concordou com a cabeça, seus olhos estavam um pouco marejados.

-Desculpe-me, Mikoto-sama...

-Oh, não, não precisa se desculpar. Você o salvou, não foi? Está tudo bem. Só o faça feliz. – abraçou-a.

-Eu não sei se posso... – murmurou a pequena já deixando algumas lágrimas rolarem.

-Você pode, acredite, você pode.

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Quando chegou a sua casa, Jason já veio se enlaçar no meio de suas pernas. Pegou a bola de pelos e o abraçou com força, fazendo cafuné em sua cabeça. O gato começou a ronronar e a se aninhar no colo de Hinata, que foi com ele até o sofá e ficou agradando-o por alguns minutos. Ele tinha tentado avisá-la, certo? Não era só um aproveitador como costumava pensar. Olhou para a vasilha de ração limpa de vazia e viu que o bichano deveria estar morrendo de fome. Foi até a cozinha, trocou a água e encheu o recipiente com ração e alguns pedaços de atum, afinal o animal merecia.

Deixou-o devorando a tigela e foi até o quarto para tomar banho. Livrou-se das roupas que usava com necessidade e estava decidida a queimá-las até cinzas. Não queria ter nada que relembrasse o fatídico sequestro. Quando estava só de roupa íntima, foi até a frente do espelho de corpo que tinha no quarto e começou a se analisar.

Procurou por gorduras sobressalientes e encontrou algumas próximas ao quadril. Fez bico ao notar a suave projeção de sua barriga. Apertou os seios e os achou grandes demais, sem contar que não estava nada feliz com tamanhos das coxas. Grunhiu. Por que nunca tinha percebido essas coisas? Amaldiçoou-se por todas as noites comendo besteiras e assistindo filmes ao lado de Sasuke. É, Sasuke era o culpado. Bufou. Agora tinha que começar um regime e de quebra ainda fazer uns exercícios, porque não podia ficar gorda e feia e acabar perdendo o Naruto para uma mulher mais bonita, confiante e esplêndida. Puxou os cabelos em revolta com ela mesma.

Por que não podia acreditar que era divina e fazer coisas ousadas? Indagava-se. Sempre fora uma medrosa. Revirou os olhos com o pensamento. Então bateu o pé no chão e foi se enfiar debaixo da água. Havia se decidido, daquele momento em diante, sempre que visse uma oportunidade de ousar, não daria um passo para trás, mas sim um para frente. Enfrentaria os medos e não deixaria ninguém roubar seu loiro.

Lavou os cabelos e sentiu o corpo finalmente relaxar por completo após tanto estresse. Ao terminar, enrolou-se na toalha e se jogou na cama. O lugar ia ficar úmido, mas não se importava. Pegou o celular e começou a digitar. “Onde está?”, enviou para o vizinho. A resposta chegou depois de alguns minutos: “Na casa da Sakura. Ainda está no hospital?”. Digitou novamente, “Não, vim para casa. Por que você sumiu ontem?”. Sasuke respondeu com mais rapidez: “Encontrei o Itachi e nós conversamos, depois te conto os detalhes.” Pela resposta conclusiva do amigo sabia que ele não queria continuar com a troca de mensagens, por isso mandou a última só para encerrar o assunto: “Ok, te vejo mais tarde.”.

Jogou o aparelho para o lado e acabou se concentrando nos dois porta-retratos em sua cabeceira. Em um ela estava com Sasuke, os dois jogados no tapete da sala, a foto tirada por cima mostrava Hinata tampando o rosto com as mãos e Sasuke mostrando a língua. Gostava daquela foto, tinha outras muito mais bonitas em seu álbum, mas aquela era a sua favorita e nem sabia bem o motivo, talvez por ser espontânea. No outro estava ela e o namorado. Naruto agarrava-a pelo pescoço e sorria abertamente, enquanto a Hyuuga tinha um sorriso tímido e estava um pouco corada. Aquela havia sido a primeira foto que haviam tirado juntos e os dois ainda nem estavam em um relacionamento.

Foi tirada do momento pelo toque do celular. Atendeu rapidamente, pois viu no visor que era sua mãe.

-Oi, mãe!

-Oi, querida! – podia sentir o sorriso pela voz de Harumi. – Mamãe ligou para saber se não quer vir almoçar aqui?

-Almoçar aí? Ah... Ok, acho que tudo bem. – disse olhando para o relógio. Já era quase onze horas.

-Que ótimo, querida! Estamos te esperando, não demore! Hanabi está louca para por a conversa em dia e sei lá mais o quê. – Hinata riu, podia até imaginar sobre o que a irmã queria falar.

-Tudo bem, não vou demorar, só tenho que me trocar. Até já, mãe!

-Até, querida!

Desligou o aparelho e foi procurar uma roupa para vestir. Sabia que sua tarde iria ser longa e cheia de agito, mas estava feliz, mais feliz do que jamais esteve.

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-Kushina, vamos ver o Naruto depois do almoço? – gritou do escritório para a mulher, que estava na cozinha.

-Sim! – ela gritou de volta.

Minato estava uma pilha, organizava papéis em um canto, destruía documentos em outro. Tinha três negociações pendentes para fazer e os clientes não paravam de ligar para irritá-lo. O pior de tudo era ter que cuidar de todos os papéis em cima de sua mesa, os quais não sabia mais dizer para que serviam. Quando queria uma caneta, o celular, ou um papel para escrever, não conseguia achar, tinha que revirar gavetas e toda a extensão de sua mesa para encontrar. Os problemas do filho o haviam enlouquecido. Desde quando era desorganizado? Perguntava-se. Sempre fora mais organizado que a esposa e nem gostava de empregadas limpando seu escritório de tanta neura que tinha. E agora, ali estava, perdido no meio de sua própria bagunça. Praguejou enquanto amassava furiosamente um pedaço de papel.

O barulho de algo batendo no vidro da janela chamou sua atenção. Ao olhar e ver Kakashi parado do lado de fora, sorrindo e portando a maior de todas as caras de pau, sentiu o sangue ferver até as pontas de suas orelhas. Abriu a janela e, antes que o investigador pudesse perceber, o loiro já o segurava pelo colarinho dentro do escritório.

-Oh, Minato, calma rapaz! – disse levantando as mãos frente ao rosto em um gesto de redenção.

-Calma? Eu não ando nada além de calmo nas últimas semanas, mas se você quer saber minha paciência acabou! – os olhos azuis faiscavam, fazendo Kakashi se encolher um pouco.

Kushina então chegou ao cômodo com uma feição furiosa e uma colher de pau na mão. Seus cabelos pareciam esvoaçar enquanto ela batia o objeto contra a palma.

-Ah, mas dê esse tratante aqui que vou escalpá-lo, tebane! – o homem dos cabelos platinados começou a suar. Balançava as mãos em frente ao rosto desesperadamente.

-Por Deus, o que eu fiz? – disse em um tom risonho e nervoso.

-O que fez? – Minato riu sarcasticamente e manteve o tom. – Ah, não sei... Será que deixar meu filho sozinho no covil de um psicopata conta?

-Eu vou acabar com você, seu traste! – a ruiva se aproximou e começou a bater na cabeça do homem com a colher. Ele se encolhia e tentava defender os golpes com as mãos.

-Ai, Espere! Ai. Será que posso me explicar pelo menos? AI!

O chefe da família encarou o investigador e arqueou uma sobrancelha. Ponderou por alguns instantes se deixava ou não a mulher matá-lo com a colher de pau, mas acabou soltando o homem e se afastando irritadiço.

-Kushina, pare. – a ruiva fuzilou seu alvo com os olhos e se afastou para perto da porta, ficando de guarda como um doberman, com sua arma em punho. – Certo, explique-se. E é melhor ser muito convincente.

Kakashi ajeitou a roupa e limpou o suor da testa. Gesticulou um pouco, parecia não saber como começar a explicação, então respirou e ajeitou a postura.

-Veja bem, a polícia chegou muito rápido e você sabe que minha profissão não é algo legal... – riu nervosamente ao ver a expressão nada convencida de seu contratador. – Se eu fosse pego, eu estaria enrascado, porém você estaria com problemas também... A polícia te encheria de perguntas, provavelmente te multaria e ainda teria o problema de sua imagem...

-Está querendo dizer que fez isso por mim? – o loiro sustentava uma cara irônica e divertida. O investigador coçou a nuca e deu de ombros. – Poupe-me, Kakashi! Quer saber, você é ótimo no que faz, mas suma de minha frente e não me procure de novo. Não confio mais em você. – desviou o olhar e voltou a se concentrar na organização.

-Mas... – tentou.

-Não. Retire-se, por favor. – Minato então apontou para a janela. O homem saiu por onde havia entrado um pouco cabisbaixo. Sabia que se pedisse pelo pagamento a senhora Uzumaki enfiaria a colher de pau por um de seus orifícios.

O loiro desabou no sofá assim que se encontrou sozinho com a esposa. Ela se sentou ao seu lado e ele deitou a cabeça em seu colo, deixando-se ser acalmado pelas maravilhosas carícias da ruiva em sua cabeça. Kushina sabia que o marido estava à beira de um ataque, afinal ele nunca perdia a cabeça com facilidade. Os esquentados da família era ela e Naruto.

-Acho que chega de organização por hora... – murmurou. Enrolava o dedo em uma mecha de cabelo loiro. Minato consentiu com a cabeça e voltou o olhar para a mulher. Olhou-a com ternura e repousou uma mão em sua bochecha, acariciando o local.

-É, tem razão. – colocou os fios vermelhos soltos atrás da orelha de Kushina para beijá-la com carinho. – Agora, vamos guardar essa colher, sim?

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Ayame via Itachi arrumar espaço para suas coisas no guarda-roupa em silêncio. Só conseguia pensar que era melhor deixá-las em malas para quando ela resolvesse fugir durante a madrugada. Suspirou. Via as costas grandiosas do moreno e o modo como ele estava se doando por ela, e tudo só a fazia se sentir ainda menor. Mikoto a havia pedido para fazê-lo feliz, mas a questão era se conseguiria tal façanha. Tinha pesadelos, era paranoica e tinha problemas para se relacionar. Por mais que tentasse disfarçar sendo simpática, distribuindo sorrisos e ajudando os outros, nada conseguia fazê-la esquecer da pessoa problemática que era. E agora ela era um fardo para o homem que amava. Sabia que era, pois ele teria que quebrar diversas muralhas até seu coração. Nem mesmo sabia se algum dia conseguiria se entregar para ele! Era apenas um fardo. Porém sabia que queria se entregar, amar profundamente e sentir o coração pulsar de felicidade. Sim, vontade não a faltava.

Itachi arrumava as roupas da namorada perdido em pensamentos. A maioria deles inconformados com a atitude do pai. Como o homem podia ser tão soberbo? Ele ao menos era capaz de amar intensamente? Porque um pai que deseja a infelicidade do filho só pode ser incapaz de amar. Trincou os dentes. Pelo menos tinha a mãe para pedir apoio e conselhos. O que seria dele sem ela? Provavelmente um homem revoltado e complexado. Estava pensando seriamente em tirar umas férias, coisa que adiava há uns dois anos. Precisava livrar seu cérebro de no mínimo uma preocupação ou perderia a cabeça e começaria a fazer coisas das quais se arrependeria. Havia decidido se dedicar essencialmente a Ayame por um tempo, queria ajudá-la a se livrar do medo, pois sabia que ela ainda temia Hiruzen. A morena havia olhado umas trinta vezes para trás durante o caminho no táxi, receosa de o padrasto ainda estar vivo e os estar perseguindo para atacar em um momento inesperado.

Terminou de organizar as roupas dela e passou a mão pelos cabelos um pouco desgrenhados. Seu moletom estava em farrapos, iria direto para o lixo. Retirou a parte de cima e jogou para porta. Precisava de um banho com urgência. Olhou para os curativos e ficou um pouco confuso, não sabia por onde começar a tirar. Então sentiu mãos geladas começarem a desfazê-los, enrolando as ataduras enquanto as desenrolava de sua cintura.

-Deixa que eu te ajudo... – ela murmurou. A respiração quente batia nas costas do Uchiha.

-Ayame... Você tinha dito que eu sou seu primeiro namorado. – aproveitou o momento para esclarecer algo que estava rebatendo em sua cabeça há algum tempo.

-Mas você é.

-E quanto ao comandante?

-Nós não passamos de um único beijo. Eu não contei nada de mim para ele, nem mesmo meu nome verdadeiro. O que tínhamos era mais como uma cumplicidade... – a voz dela saía baixa. Kurumizawa queria deslizar as mãos pelas costas largas do namorado. A pele alva parecia chamá-la. Convidá-la para beijar toda sua extensão.

-Entendi...

A pequena terminou de desfazer os curativos e Itachi virou de frente para ela. As mãos dele se aproximaram dos braços dela, porém tocaram com tanta suavidade que pareciam não tocar. Ela ficou encarando o grande corte no peito do homem. Todos os outros cortes cicatrizariam e desapareceriam, mas aquele deixaria sua cicatriz para sempre na bela pele do Uchiha. Era um lembrete para a vida toda do que ela havia causado ao entrar na vida dele. O jovem percebeu o olhar dela, e estava pronto para falar algo, quando Ayame virou as costas e se afastou.

-Vá tomar banho. Eu tomarei logo em seguida, depois de te ajudar com os curativos.

O moreno apenas suspirou e entrou no banheiro. Sabia que não adiantaria de nada força-la naquele momento. A pessoa quem amava precisava de tempo e ele a amava o suficiente para proporcioná-lo.

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Sasuke havia adormecido em seu sofá. Havia horas. Mas Sakura não conseguia parar de observá-lo dormir. A hora de almoço havia passado há tempos e ela podia sentir o estômago começar a ficar irritado. Só que não conseguia levantar a bunda da cadeira, pois ver o Uchiha tão sereno e belo era hipnotizante. A camiseta dele estava um pouco levantada e ela podia ver seu oblíquo bem desenhado. Como não tinha percebido aquilo antes? Devia ter ido com muita sede ao pote e não ter aproveitado tudo que deveria. Chacoalhou a cabeça para afastar os pensamentos pervertidos.

Levantou-se da cadeira e se aproximou do sofá. Queria tanto se aninhar no peito dele e dormir junto, embriagando-se em seu cheiro e perdendo os dedos por entre seus cabelos. Nunca imaginara passar seu dia livre observando o moreno dormir. Só podia pensar em uma palavra para se definir: patética. Suspirou. Olhou para baixo e não se conteve. Ajoelhou ao lado do sofá e encostou a cabeça no peito de pedra dele. As batidas fortes, ritmadas e calmas de seu coração acalmavam-na por completo. Aquele som poderia ser sua canção de ninar que não ligaria.

Teve seu momento interrompido quando Sasuke começou a se remexer. Ele iria acordar. Afastou-se rapidamente, sentou no tapete, pegou o controle e fingiu estar procurando alguma coisa para assistir. O jovem olhou para as costas de Sakura e sorriu, ele já havia acordado há um tempo, abrira os olhos e vira a rosada deitada em seu peito, ouvindo seu coração de olhos fechados. Corou um pouco ao ver a cena e decidiu fingir ainda estar dormindo.

-Sakura, que horas são? – perguntou.

-Hã? – ela se fez de desentendida, como quem é pega de surpresa. – São quase três horas.

-Merda. – o Uchiha começou a vestir os coturnos. Sakura o olhou com confusão.

-Está atrasado para algo?

-Tenho que ir conversar com meu pai, ele não marcou um horário, mas não queria ir muito tarde, porque não quero ficar pro jantar. – ele já vestia a jaqueta e pegava o capacete que estava na poltrona.

-Ah sim.

-Tchau. – e como se já fosse hábito, deu outro beijo na bochecha da Haruno, quem paralisou novamente, só sendo acordada pelo barulho da porta fechando.

Sasuke pegou sua moto e saiu a toda velocidade para a mansão Uchiha. Demorou um pouco para chegar, pois a casa não era exatamente perto do bairro onde estava. Na verdade era quase como se fosse à ponta oposta da cidade. Quando chegou, desceu da moto e tocou a campanhia apressadamente. Sua mãe abriu a porta, para logo depois abrir a boca e o pegar em um abraço mata leão.

-Mãe, tá me sufocando. – disse com dificuldade.

-Ah, desculpe-me, querido. Estava com saudades e preocupada para ver se estava inteiro. – investigava o corpo do filho para ter certeza que tudo estava no devido lugar.

-Também estava com saudades, mãe, mas preciso falar com o pai.

Mikoto arqueou uma sobrancelha. Será que deveria mandar Sasuke voltar em outra hora? Porque sabia que o marido estava matando cachorro a grito. Porém, e se o cabeça-dura havia tido um momento de fraqueza depois do que ela havia falado no hotel? Se ela mandasse sua cria embora, Fugaku poderia desistir de fazer o que quer que estivesse pensando em fazer. Suspirou. Teria que confiar que Sasuke saberia lidar com o homem.

-Ele está no escritório, querido. Depois que falar com ele, venha conversar um pouco comigo, ok? Se não vou ficar muito magoada. – a mulher fez um bico e o filho beijou-lhe a bochecha, dando um sorriso rápido em seguida.

O Uchiha foi a passos rápidos até o escritório do pai. A porta estava aberta, de forma que bateu para anunciar sua chegada. O homem virou na cadeira e ele já pode ver que era um mal dia. Na verdade, um péssimo dia. O rosto do velho estava mais do que amarrado e sua aura era titubeante. Sem contar que, pelo cheiro do cômodo, ele já deveria estar em outro planeta de tanta nicotina fumada.

-Queria me ver? – disse simplesmente. Nem perdeu tempo em sair da porta, apenas escorou-se no batente.

-Sim. E não estou com paciência hoje, por isso vou ser direto. Você está a alguns meses para acabar sua faculdade e sua mãe acha uma boa ideia se você trabalhar com a empresa. – Sasuke soltou uma gargalhada sonora e uma veia saltou da testa de Fugaku.

-Ah, sim. E o que eu vou fazer lá? Tirar vírus dos computadores? Poupe-me. – já se preparava para dar as costas e ir embora.

-Por que Deus me puniu com dois filhos estúpidos? – a praga do homem fez o jovem arquear uma sobrancelha e continuar no mesmo lugar. Desde quando seu pai insultava Itachi? O tão perfeito e maravilhoso Itachi? A não ser que... O pensamento deu um tapa na face do Uchiha. O ranzinza havia descoberto sobre a nova namorada de seu irmão, só podia.

-Eu acho que essa frase está errada, por que seriam dois contra um, então acho que o problema dessa família é você. – outra veia saltou da testa do homem, quem passou as mãos pelo rosto para tentar conter a fúria.

-Que seja. Termine a faculdade e continue a trabalhar naquele boteco! Eu cansei de tentar fazer algo por meus filhos ingratos! – berrou a plenos pulmões.

Sasuke fez um som de desprezo com a boca.

-Eu paro de trabalhar naquele “boteco” no momento em que pegar meu diploma, porque eu já recebi uma proposta para trabalhar na Google. E com meu salário eu nunca mais vou precisar te dever algum respeito. Por isso, passar bem.

Então o moreno virou as costas e saiu. Seria melhor se gastasse seu tempo antes de ir trabalhar com sua mãe, ela era melhor companhia. Quem sabe falaria um pouco com Itachi também. Deixou Fugaku para trás, rasgando folhas de ódio e começando a surtar. Ele, com certeza, destruiria o escritório. Devia estar possesso por cada vez mais perder o controle que exercia nas pessoas. Bem feito para ele, pensou.