A temperatura havia caído bruscamente, voltar para casa de moto havia sido de congelar. Não conseguia nem mesmo fechar sua mão com força. Não sentia seus lábios. Precisava de um banho quente. Ia abrir a porta de seu apartamento quando notou luz vinda por debaixo da porta de Hinata. Estranhou. A pequena nunca ficava acordada até tarde. Usou sua chave e destrancou a fechadura, entrando na residência da Hyuuga. Ela estava jogada no sofá comendo uma grande variedade de doces e chocolates. Sasuke se aproximou e sentou-se ao lado da amiga.

–O que aconteceu? – pegou um pedaço de um dos doces.

–Deixe-me ver... Ah, claro! Eu fui ver o Naruto-kun e o encontrei beijando a namorada... – o nariz de Hinata estava vermelho, seus lábios estavam inchados e seus olhos estavam perdidos na televisão.

–Droga... – o Uchiha deixou a cabeça cair nas costas do sofá e encarou o teto. Sua pequena estava tão decidida, cheia de coragem. Por que algo como aquilo tinha que ter acontecido? Naruto, seu idiota! Amaldiçoou.

–Antes que eu me esqueça... – pegou um envelope que repousava ao lado do sofá e estendeu a seu vizinho. – Aqui, o convite para a festa de aniversário dele.

Sasuke pegou o convite e o analisou. Não queria ir, mas iria, pois sabia que era o único jeito de fazer a azulada ir. Não deixaria que sua amiga desistisse.

–Você vai. – falou.

–Acho que não...

–Não foi um pergunta. – encarou Hinata e a mesma encolheu no sofá. Estava com muito medo. Medo da rejeição. Medo do sofrimento. Medo de se desapontar. Medo de lutar. Medo de amar.

Eles ficaram em silêncio por alguns minutos.

–E você? Por que está irritado? – o moreno se surpreendeu com a pergunta de Hinata e a olhou em questionamento. – Você não me engana Saki-chan... Está estranho desde aquela mulher de cabelos róseos. – a voz da azulada estava arrastada, como se ela estivesse muito cansada ou triste para falar. Era uma voz chorosa.

–Af. – revirou os olhos. – Você anda imaginando coisas...

–Anda, desembucha.

O jovem Uchiha encarou sua vizinha. Havia sido pego em flagrante e achava que estava cobrindo sua frustração com maestria. Hinata o conhecia melhor do que imaginava. Desistiu de tentar encobrir seus sentimentos, exalou o ar com tensão e voltou o olhar para a televisão.

–Eu senti... – tentou procurar uma palavra adequada. - Coisas estranhas em meu corpo quando estava com ela. – passou as mãos pelos cabelos. Era humilhante falar a respeito daquilo.

–Que tipo de coisas? – a morena enfiou um alcaçuz na boca.

–Er, bem... Ah, sei lá! – Sasuke descabelou-se. Não sabia conversar a respeito de seus sentimentos. Hinata apenas o olhou com uma sobrancelha arqueada. – Tá bom... – fez bico – Minha pele ardia e parecia que eu podia ouvir as batidas do meu coração... Ai, isso é tão não masculino!

–Parábens, você teve sua primeira menstruação. – disse a azulada com a voz mais tediosa possível.

–O quê? – o moreno quase pulou para fora do sofá. Sua amiga comia batatinhas agora.

–Ou você menstruou e está experimentando os hormônios, ou está se apaixonando. Em seu caso acho mais possível que seja menstruação.

O Uchiha voltou a afundar no sofá, seu queixo havia caído e seus braços estavam desmaiados ao longo do corpo.

–É, acho que menstruei.

–Maravilha... Agora, junte-se a mim, comece a comer e termine de assistir o diário de Bridget Jones comigo.

Então Sasuke pegou um pacote de jujubas e juntou-se a Hinata em baixo das cobertas.



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Já estava provando a terceira roupa. Por que o traje não podia ser social? Seria tão mais fácil, pensava consigo. Suspirou cansado.

–Itachi-san, posso entrar? – a voz de Ayame soou atrás da porta.

–Ah, claro!

A morena entrou no quarto segurando lençóis limpos para trocar a roupa de cama de Itachi. Olhou para o moreno dos pés à cabeça e não conseguiu conter um leve riso.

–Está rindo? – perguntou o Uchiha a fazendo dar um pulo. Sentiu suas bochechas ficarem quentes e seu coração pulou uma batida.

–Não... Eu só... – as palavras empacaram em sua garganta. Encarava o sedutor moreno, que a analisava com as sobrancelhas arqueadas. – Eu... Desculpe-me, mas Itachi-san, você está se arrumando para ir a uma festa de aniversário, certo?

–Certo...

As mãos de Ayame já suavam. Que droga! Por que não conseguia agir normalmente? Praguejava. Respirou fundo e umedeceu os lábios.

–Se for vestido assim vão colocá-lo com os maiores de cinquenta anos... – entortou a boca. Orava para não ter ofendido o filho gostoso de Fugaku-sama. Surpreendeu-se quando ele soltou uma risada tão descontraída que a fez descontrair.

–Você me pegou, não faço ideia do que vestir. Estou de terno em quase todas as horas do dia. – Itachi apoiou a mão na testa. Estava envergonhado. Não sabia por que, mas gostava de ter Ayame por perto.

–Posso ajudá-lo? – a empregada perguntou ainda com um pouco de receio.

–Isso seria maravilhoso! – riu.

A jovem foi até o guarda-roupa e começou a passar pelos cabides. Achou uma calça jeans perdida atrás de várias calças sociais e depois de muito procurar achou uma camisa mais descontraída, era preta, porém seu colarinho, punho e botões eram brancos. Separou as peças, aproximou-se de Itachi e entregou-as a ele. O moreno foi ao banheiro e trocou-se, voltando logo em seguida.

Ayame sorriu de novo e foi até ele. Desabotoou os punhos e dobrou-os uma vez, tirou a camisa de dentro da calça e desabotoou os dois primeiros botões da mesma. Escolheu um sapato e um casaco de gola preto, entregou ao seu patrão e o esperou vestir. Deu uma última olhada. Tirou o elástico branco que tinha no pulso e amarrou os cabelos médios de Itachi em um rabo solto.

–Perfeito. – sorriu orgulhosa. O jovem Uchiha estava de tirar o fôlego.

–Nossa! Você faz milagres! – o homem olhava-se no espelho e sentia-se bem com o que via.

–Disponha. – então a morena voltou-se para a cama para terminar o que havia ido fazer.

–Ayame-san... – Itachi começou, mas não sabia o que queria falar, por isso não continuou. – Não é nada... Obrigado pela ajuda, já vou indo.

–Boa festa, Itachi-san.

Antes de sair do quarto o moreno encarou Ayame, que retribuiu o olhar. Por segundos, ambos sentiram um frio no estômago.



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–Hinata, está pronta? – Sasuke ia entrando no apartamento da amiga e seguia para o quarto da mesma. Encontrou-a sentada na cama, fitando as mãos. – Hinata?

–Eu não quero ir.

–Você vai... E pelo amor de Deus, rabo de cavalo? – aproximou-se da azulada, pegou-a por baixo dos braços e a colocou de pé. Olhou-a. Estava com um vestido azul turquesa de renda, que delineava seu corpo perfeitamente. Usava meia-calça cor da pele e um scarpin prata fosco. – Contudo tenho que dizer que o vestido está de matar. Tirou do fundo do baú?

–Comprei... – direcionou os olhos perolados para um canto do quarto.

–Que orgulho. Agora vem aqui.

O moreno desamarrou os cabelos azulados da Hyuuga, separou apenas a parte de cima dos fios, puxou para a lateral e fez um coque frouxo. Procurou nas coisas da amiga e achou um enfeite prata, enfiou-o no coque da mesma. Foi até o banheiro e pegou brilho labial, lápis preto e rímel. Voltou à frente de Hinata e começou a trabalhar. A pequena nem protestava, sabia que não iria adiantar de nada.

O rímel e o lápis realçaram os olhos da azulada e o brilho labial chamou atenção para os belos lábios carnudos.

–Agora vai por sua lente de contato, por que eu não permitirei que estrague minha mágica com um óculo. – O Uchiha cruzou os braços e arqueou uma sobrancelha. A vizinha não tinha escolha se não obedecer.

–Sabe, Saki-chan, acho que sua alma é de mulher.

Um arrepiou percorreu a espinha do moreno.

–Conte para alguém que eu fiz sua maquiagem que eu a faço sofrer por sete dias e sete noites.

Hinata apenas riu. Sasuke sabia que ela nunca faria algo do tipo, podia confiar em sua pequena, tinha certeza.

–Vamos! Eu tenho um casal a juntar! – olhou para a amiga com malícia.

Ela apenas pegou seu sobretudo e suspirou. Não queria nem imaginar o que aconteceria na festa.



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A festa era na mansão Uzumaki. Não havia muitas famílias convidadas, contudo quase todas possuíam muitos membros. A sala de estar, um dos cômodos mais amplos da residência, tinha perdido os móveis e se transformado em uma pista de dança. Globo espelhado no meio da pista, piso iluminado, um DJ e dançarinos profissionais, que faziam até mesmo números com fogo, incendiavam a balada. O ambiente possuía um bar com barmen e bargirl preparando drinques com malabarismos. Da sala de estar, a porta balcão, que dava para o jardim e consequentemente para um caminho de madeira iluminado por tochas, guiava os convidados pelo exterior até o salão de festas da casa, onde estavam os “adultos” e o Buffet. Para chegar ao salão não era preciso passar pela pista de dança.

Garçons serviam comidas e bebidas. Uma banda tocava músicas mais calmas e graciosas de se ouvir. De volta ao jardim encontrava-se uma tenda lotada de todos os tipos de jogos de fliperamas, jogos de dança e videogames. A festa já estava a todo vapor.

Hinata e Sasuke chegaram à porta da frente e tocaram a campanhia. Um homem engravatado abriu-a e pediu pelos convites. Após a verificação eles puderam entrar. Outro homem recolheu o casaco da Hyuuga e do Uchiha e ambos seguiram caminho. Quando a azulada bateu os olhos na balada, virou seu corpo trezentos e sessenta graus, mas antes que pudesse dar o primeiro passo, o braço do Uchiha a impediu e a forçou a se voltar novamente para frente, empurrando-a adiante. Naruto os localizaram primeiro.

–Sasuke! Hinata-chan! – o loiro já estava um pouco suado. Usava uma regata branca com uma jaqueta jeans clara com as mangas dobradas e só alguns botões abotoados. Estava de calça também jeans e um all star preto. Seu cabelo estava bagunçado e sexy. A respiração de Hinata se descompassou ao se deparar com tanta perfeição. – Já estava pensado que vocês não vinham!

–Pois é, acabamos vindo. – Sasuke deu de ombros. O moreno não ficava para trás no quesito perfeição. Vestia uma calça jeans preta, uma camiseta de manga comprida cinza de três botões, um all star também cinza, uma munhequeira de couro preta e um colar de prata com um pingente de cruz. – Aqui, o seu presente. – retirou um pequeno envelope do bolso e entregou ao loiro.

–Hã? O que isso? – o aniversariante não enxergava devido à falta de luz suficiente.

–Três cortesias para o bar onde trabalho. Aprecie com moderação.

–Oh! Obrigado, teme! – então o jovem Uzumaki voltou os olhos à Hinata. Ela estava tão linda que ele quase perdeu o fôlego. Seu coração parecia querer atravessar seu peito. – Fico feliz que tenha vindo, Hinata-chan. – deu um de seus famosos sorrisos.

–É, eu também... Bela festa, Naruto-kun. – o loiro coçou a nuca em embaraço. Nem ele estava acreditando no tamanho de sua festa. – Ah, aqui está, antes que eu me esqueça. – a morena estendeu um saquinho para Naruto, que o pegou com cuidado. Ao abrir o embrulho, tirou de dentro um pequeno chaveiro de prata com um pingente de moeda em que havia gravado o desenho de um anjo.

–Nossa, é lindo... – ergueu o chaveiro na frente dos olhos para observar melhor. – Obrigado, Hinata-chan. – ela apenas sorriu com timidez. Queria ter dado algo melhor, mas não tinha dinheiro suficiente. – Esperem aqui, é rápido. – então o jovem sumiu da vista dos dois por alguns instantes, mas logo retornou. – Certo, venham comigo. Meus pais querem conhecê-los.

–C-como? – Hinata sentiu o sangue subir.

–Não se preocupem, eles são legais.

Naruto arrastou os convidados recém-chegados até o salão de festa, guiando-os diretamente até a mesa de sua família, onde estavam Minato, Kushina, Jiraya, Tsunade e Itachi. Os olhos dos dois Uchihas se arregalaram logo que viram um ao outro.

–Mãe, estes são Hinata e Sasuke! – apresentou os amigos escandalosamente.

–Sasuke? Itachi-san, é o seu irmão? – Minato questionou o amigo.

–Sim. Esse é o meu irmãozinho. – Itachi levantou-se da cadeira, aproximou-se do irmão e deu um peteleco em sua testa.

–Ai! Pare com isso. – o caçula esfregou a testa e fez bico.

–Mas que moça mais linda, meu filho! – Kushina já circulava Hinata, que se encolhia assustada. –Tão meiga! Meus netinhos vão ser tão lindos, tebane! – Ambos, Hinata e Naruto, coraram feitos tomates.

–Mãe! – repreendeu o loiro.

–O que foi? – a ruiva deu de ombros. Os presentes riam da situação. – Obrigada por ter cuidado tão bem da minha cria, Hinata-chan! – então abraçou a já considerada futura nora com entusiasmo.

–N-não foi nada...

–Kushina, pare de envergonhar a menina, ela está quase explodindo de tão vermelha. – O marido tentava conter a empolgação da esposa.

Tsunade deu uma tapa forte na cabeça do marido, que quase babava encarando os seios da jovem.

–Jiraya! Tome vergonha nessa cara!

–Ai, ai! O que eu fiz? Só estou admirando a bela escolha do meu afilhado. Totalmente inofensivo! – tentava se inocentar perante a fúria da esposa.

–Sei bem...

Alheios à cena, Itachi e Sasuke conversavam.

–O que aconteceu com você? Voltou a ter vinte e sete? – Sasuke olhava o irmão dos pés à cabeça.

–Cale a boca. Vem, vou te apresentar minha namorada e logo em seguida vou te forçar a ver mamãe e papai. – então o mais velho passou o braço pelo pescoço do irmão e o arrastou até uma mesa cheia de meninas.

Logo que o olhar da namorada de Itachi e olhar de Sasuke se encontraram ambos paralisaram e ficaram tão brancos que poderia se desconfiar a fuga de seus espíritos de seus corpos. Em uníssono, gritaram:

–Maníaco do bar!

–Louca do vômito!

Itachi alternou o olhar de um a outro não entendendo absolutamente nada, todavia pode perceber a enorme tensão criada entre os dois.

–Creio que vocês já se conhecem? – perguntou com lentidão.

–O que? Ela é a sua namorada? Essa criatura rósea? – O Uchiha mais novo estava indignado. A garota que vomitara em seu tênis havia traído seu irmão com ele. Aquilo não podia estar acontecendo.

–Sim. Problema?

–Não, nenhum. – o moreno apressou-se em dizer. Sakura estava hiperventilando. Suas mãos tremiam e suas pernas estavam bambas. Havia se lembrado de por que o rosto de Sasuke fora familiar, já o havia visto em fotografias, quando ainda criança, ao lado de seu namorado.

–Sakura, você está bem? – O Uchiha mais velho estava começando a achar tudo aquilo muito suspeito. A rosada virou-se para ele ainda em choque e apenas afirmou com a cabeça de forma mecânica e frenética.

–Er... Bem, vou... Sasuke, vem, vamos ver a mamãe...

–Sim, vamos, agora mesmo. – Itachi nem precisou fazer esforço, seu irmão já estava a metros de distância.

A Haruno deixou-se despencar na cadeira, suas íris estavam quase descontroladas, ela não piscava. Suas amigas tentavam reavivá-la, porém a jovem já havia entrado em transe. Se já sentia culpada, ao descobrir que o maníaco do bar era também irmão de seu namorado, sua culpa aumentou vertiginosamente em progressão geométrica. Como ela deveria conviver com aquilo? Não conseguiria. Precisava revelar tudo a Itachi e explicar a situação, mas não tinha coragem. Estava tão envergonhada a respeito de seu erro, de ter quase transado com outro devido a sua embriaguês, que não havia se aberto nem mesmo com suas amigas. Sua maior vergonha era, contudo, o fato de ter se sentido tão viva e desejada quando estava tendo seu momento de promiscuidade com aquele barman que não conseguia parar de pensar a respeito e querer sentir tudo mais uma vez. Sua cabeça girava. Precisava de ar. Levantou e correu para o jardim deixando suas amigas com feições interrogativas.

Enquanto a Sasuke, este, logo que atingiu uma distância segura, recompôs-se com rapidez e esperou que seu irmão o alcançasse.

–O que foi tudo aquilo? – o moreno indagou a seu irmão.

–Eu acho melhor sua namorada explicar, não quero... Enfim, cadê mamãe? – mudou rapidamente de assunto, estava a uma pergunta de começar a suar frio. Itachi o encarou com suspeita, mas resolveu deixar o assunto quieto por enquanto.

–Siga-me...